Colors escrita por IVY


Capítulo 8
Chapter eigth: Only you




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Nascer dentro do espelho é como acordar em um local completamente estranho. Você está dentro de uma concha e não pode sair. A garota podia confirmar isto. Nós temos aparências diferentes, apenas nos vestimos, modificamos como tal. É complicado de entender, mas fácil na pratica, afinal, você não tem escolha. No espelho, assim que você nasce, ou você é um diabo- branco, independente. Ou você é um reflexo, uma cópia. Eles lhe dão uma única escolha, no momento em que você nasce, e esta escolha determina o que você será pela eternidade. É um sistema injusto, mas o que podemos fazer? Nascemos perdidos, assustados, escolhemos o que nos parece melhor. Eu escolhi ser um diabo branco.

Ninguém nasce um diabo branco, a não ser o próprio Diabo Branco. Ele é um tipo de líder, onde se esconde em seu próprio caco, apenas mostrando-se ao receber um novo diabo. Quando fiz minha escolha, ele apareceu e cortou a própria mão e me fez beber o seu sangue. Ele me olhou com seus olhos prateados e me disse, nessas exatas palavras: - Você é meu filho agora, Hunter será seu nome, e assim como o seu nome, você será o caçador daqueles com a alma impura. Indomável mas leal, eles o moldarão e tentarão torná-lo em algo ou alguém – e então ele me disse a coisa mais significativa para mim, o que levei comigo durante anos – Mas apenas você pode dizer o que você realmente se tornará.

Depois disso, eles me levaram para o centro de treinamento. Eles enfiam coisas na sua mente, torturam você até o seu limite, eles fazem de você um soldado. Mais que isso: um assassino. Aprendi técnicas de como seduzir as pessoas ao espelho, como enganá-las, matá-las sem remorso. Mas nunca esqueci o que o Diabo Branco havia me dito. Meus chifres cresceram em uma semana, minha pele ficou esbranquiçada no dia seguinte. Eles, de fato, haviam me transformado em um deles. Estava orgulhoso de mim, me tornei o que meu pai sempre quis e proferiu que eu me tornasse. Isso era o bastante para mim.

No ritual de iniciação, quando eu e mais outros diabos brancos estavam presentes, prontos para a nossa primeira missão, o Diabo Branco apareceu, nosso pai. Ele era maior que todos nós, mais forte, mais poderoso. Passou por cada um, nos liberando para ir. Quando chegou a minha vez... Ele disse que não estava pronto. Isso me quebrou por dentro, literalmente. Outro fato sobre nós, habitantes do espelho: nós somos parte do espelho, nós quebramos como o mesmo. E naquele momento, eu estava em mil pedaços.

Ele se retirou após o ritual acabar, e eu fiquei ali. Ninguém me ordenou para sair, ninguém apareceu e me disse nada. Simplesmente fiquei ali. Observando meu orgulho se esvair, pensando no que faria a seguir. Eu tive uma escolha e naquele momento, sentia que havia feito a escolha errada. Sabe o que é isso? Não há volta. Você está condenado.

Jovem como eu era, voltei para a rachadura onde haviam me treinado, mas ninguém me via mais. Eu era um intruso. Não tinha para onde ir, por isso resolvi seguir um caminho diferente. Eu iria ser um diabo-branco assim como os outros, por bem ou por mal. Não precisava de um ritual, não havia nada a perder. Tomei forma humana e sai do espelho. Como fui estúpido... O que eu esperava encontrar do outro lado? Em todo o caso, eu atravessei o espelho. Espatifando-me no chão com os cacos restantes do espelho já quebrado por mim. Levantei-me rapidamente e utilizei minhas habilidades para consertá-lo rapidamente, mas ainda havia uma pequena rachadura nele. Eu.

Olhei ao redor e vi que estava em um quarto simples, mas grande. O piso era de madeira, as paredes de concreto. Tudo era mais real e menos refletido, tudo muito nítido. As janelas brancas e as paredes em um tom muito claro de amarelo. Os móveis eram todos feitos de madeira, a cama era de casal, mas apenas um travesseiro encontrava-se no centro. Os lençóis eram brancos, perfeitamente arrumados. Ao redor, na parede eu via pinturas em tela, a grande maioria eram flores – uma mais bela que a outra. Um armário também estava rente a parede, o restante do espaço estava livre.

Um grito me fez parar de prestar atenção ao redor do cômodo, corri até a janela, seguindo o som. Olhei para baixo e vi que havia duas pessoas lá embaixo: um garoto que aparentava ter a mesma idade que eu e uma garota um pouco mais nova. Eles corriam um atrás do outro na grama muito verde, sorriam, alegres. Franzi o cenho, desconhecendo tal sentimento e estranhando a brincadeira. O garoto vestia azul, uma bermuda azul marinho e uma camiseta larga azul claro, seus pés descalço estavam a vontade na grama. Seu cabelo era cacheado e bem aparado, sua pele era escura e se destacava no sol. A garota não era tão diferente, possuía o mesmo tom de pele, a cor do cabelo – negro -, porém mais comprido, vestia um vestido rodado amarelo claro, também estava descalça. E parecia muito confortável com isto.

Senti um arrepio estranho e em um piscar de olhos notei que ambos me encaravam, o garoto estava irritado, a garota demonstrava apreensão e medo. Pensavam que eu era um invasor? Um criminoso? De fato, eu era. Mas eu não estava ali para roubar, estava para fazer algo muito pior. Eu precisava matar alguém como um diabo-branco. Olhei para o espelho e notei que eu não possuía reflexo algum, isto seria um problema para mais tarde.

Não demorou muito para a porta se abrir e os dois entrarem no cômodo em que eu estava. Fiquei em silencio, notei que o homem me encarava, me analisando. A garota parecia tentar acalmá-lo. – Quem é você? Como entrou aqui? – a voz dele era ameaçadora, estranhamente calma, já que ele parecia tão nervoso.

Levantei as mãos, o cenho ainda franzido – eu vim do espelho – apontei, o garoto pareceu querer rir de mim – estou dizendo, por onde mais eu entraria? – minha pergunta pareceu perturbá-lo. Após isso, a garota se pôs em frente ao garoto e aproximou-se de mim, ela não riu de mim, apenas me pediu com gentileza para sentar e contar tudo. Eu o fiz, enquanto ela assentia, compreendendo cada palavra que eu dizia. O garoto não parava de me questionar, e eu respondia o que eu podia o mais rápido que eu podia.

Não sabia por que estava nervoso, eu estava ali para matar alguém, mas ao desabafar com eles... Senti que não queria matar ninguém. Eu tinha a minha chance de provar para o Diabo-Branco que ele estava errado, que eu estava pronto. E estava jogando esta chance fora, e naquele momento eu não me importava. - Qual o seu nome? – a garota me perguntou.

— Que nome acha que eu tenho? – a questionei, confiando nela o bastante para brincar, mesmo não entendendo como isto funcionava.

Ela pensou um pouco, sorria de um jeito que eu não conseguia decifrar o motivo – Caleb, combina com você.

 Senti meu rosto esquentar e ela riu. – Pois bem, eu me chamo Iris e este é meu irmão Colin – e apontou para o garoto, que acenou sem vontade alguma. Tentei sorrir, ser simpático como eles estavam sendo. Não era fácil, era confuso no começo. Mas eles me ajudaram, com o tempo Colin acabou se tornando meu amigo, assim como Iris.

Porém, com Iris era diferente, eu gostava mais da companhia dela por ela me compreender tanto e sempre me incentivar a melhorar. Sua voz era doce e ela era bela. No fim do dia, eles pediram para os seus pais me acolherem, inventando uma história sobre meus pais terem falecido em um acidente trágico e eu pude ficar ali. Passei a ajudar na casa, para não ser completamente inútil. Cuidava dos cavalos, das plantas na estufa, recolhia lenha para o fogão... E o tempo passou.

Eu passei a usar o nome ‘Caleb Hunter’ e continuei a manter meu disfarce humano, meus chifres estavam escondidos assim como minha pele branca. Eles sabiam de onde eu vim, mas eu fiz questão de ocultar uma boa parte, como a parte do assassinato ou dos diabos-brancos. Anos se passaram e eu achei que podia ser feliz, eu e Iris estávamos casa vez mais próximos, logo estávamos juntos e logo mais nos casamos. Colin se tornou meu melhor amigo e estávamos bem, a vida nunca fora tão perfeita. Colin conheceu Amora, que passou a morar conosco e era o bastante, todos estavam felizes e eu diria que se a vida fosse o que nós queremos e não o que precisamos, teríamos vivido e morrido com um sorriso bobo no rosto.

Depois de tantos anos, eles voltaram a me assombrar. Eu os via nas janelas a noite, o cheiro adocicado me deixava apavorado. Eles voltaram por mim? Por quê? Eu não sabia, e quando descobri, preferi não ter sabido de nada. Em uma noite tranquila e fria, ouvi a voz de meu pai, o Diabo-Branco, me chamar. Ele me chamou até o espelho e me seduziu a entrar no mesmo, e eu o fiz.

Dentro do espelho, em frente ao meu pai, eu havia voltado a minha forma normal. Ele estava como sempre: alto, forte, com seus chifres brancos afiados e dando voltas no ar. Vestia uma capa que cobria o corpo inteiro, desde o pescoço, com mangas compridas e largas, tudo em branco. – Você está pronto, finalmente pronto – ele disse – Volte lá e mate a mulher.

Eu franzi o cenho imediatamente, inconformado. – Eu nunca mataria Iris, eu a amo. – confessei, sem me importar o quão idiota soaria – Eu estou pronto para viver a minha vida, do meu jeito, eu finalmente me encaixei!

— Exatamente, meu filho – ele soava gentil, assim como foi na primeira vez que o vi – Ninguém esperaria isso de você, é o que um diabo-branco faria. Vá lá e deixe seu pai orgulhoso.

— Você não entende, eu a amo, pai, eu a amo! Por que eu mataria alguém que eu amo? Eu morreria por ela! – isso o fez se espantar. Eu vi a decepção em seus olhos esbranquiçados.

— Você vai até lá e irá matá-la, ou eu o farei.

Franzi o cenho com mais força.

— Por quê? Ela é apenas uma humana! – Eu mesmo podia ouvir o desespero em minha voz, minhas mãos eram fortes, mas tremiam só de imaginar Iria morta. Não podia, eu não iria deixar...

— Você, Hunter – seus olhos se tornaram pretos, hipnóticos – Irá matar aquela mulher... Não, melhor! Você a trará para mim. Pegue-a e a jogue no espelho, o manterei aberto para você.

Assenti, como um fantoche. Eu não queria, estava gritando por dentro, mas minha voz saiu calma: - Sou um diabo-branco, eu mesmo posso abrir o espelho.

Meu pai... O Diabo-Branco sorriu, mostrando seus dentes afiados e brancos.

— Não, você não é. – ele levantou seu braço e fez um rápido movimento horizontal em cima da minha cabeça. Eu não senti nada, mas vi algo cair de cima. Olhei de soslaio para baixo e os vi: meus chifres. Eu gritava em minha mente, minha consciência estava tentando quebrar aquela hipnose, mas era impossível. Ele era mais poderoso.

Assenti novamente e segui para fora do espelho, não comandando mais meu corpo. Cai em meu quarto, quebrando o espelho novamente. Isso fez com que Iris acordasse de seu sono e viesse até mim, preocupada. Levantei sem sua ajuda e consertei o espelho antes de pegá-la pela cintura e atirá-la contra o espelho. Observei ela atravessar, lagrimas escorriam pelo meu rosto sem expressão. – As cores, meu amor, eu consigo vê-las – ela sussurrou, ela também chorava antes de ir embora. E ela se foi segundos depois.

E então eu desmaiei. Quando acordei, Colin Franco estava ao meu lado no chão frio de madeira. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Minha cabeça doía, mas sentia que não estava mais sob controle de meu pai. Ah, meu pai. Lembrei do que havia acontecido de repente, ficando tonto com muita informação. Colin me ajudou a levantar e eu o agradeci, mas ele não queria saber de mim.

— Onde está Iris? O que aconteceu? – ele questionou, preocupado. Eu o ignorei, olhei para o espelho e o fitei por um bom tempo. Fora por este mesmo espelho que eu havia entrado naquela casa pela primeira vez, havia deixado uma pequena rachadura no canto... A rachadura. Eu procurei por ela, mas ela havia sumido.

Depois do ocorrido, eu contei para Colin o que aconteceu e ele me proibiu de voltar para aquela casa. Não era mais bem vindo lá, nem no espelho. Quebrado por dentro, me retirei sem argumentar. De fato, eu havia causado aquilo. A culpa era completamente minha. Meu coração doía, e ainda dói.

Eles o moldarão e tentarão torná-lo em algo ou alguém... Mas apenas você pode dizer o que você realmente se tornará. A menos, é claro, se você for forçado por um Diabo-Branco. Neste caso, você nunca terá escolha.

 


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