Deep Six - Novos Horizontes escrita por Gothic Princess


Capítulo 16
Capítulo XVI - Aquela que foi esquecida


Notas iniciais do capítulo

Hello, heroes!! Esse capítulo foi escrito no dia 8 de Março desse ano, pra vocês verem a quanto tempo estou querendo introduzir a Nicolle e a Millennium kkkkk

Espero que gostem desse capítulo :)



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Da escada do canto do sobrado, vendo Carl Maroni atravessar a rua pouco movimentada e entrar no clube noturno Amnésia, Nicolle deu mais uma última tragada em seu cigarro enquanto olhava para o relógio em seu pulso. Se ela não recebesse a ligação de Illusion em trinta segundos, aquele cara estaria em sérios apuros. Ela adorava quando era mandada para fazer aquele tipo de serviço, pois apesar de ser uma mercenária, adorava espancar criminosos como fazia antigamente.

Seu relógio apitou e ela pressionou o botão na lateral do mesmo. Esperou mais dez segundos antes de colocar sua bandana de esqueleto sobre a parte inferior do seu rosto, deixando seus grandes olhos azuis brilharem na luz da lua. Pulou do alto da escada e caiu de pé no beco ao lado, em seguida andando para dentro do clube. O som extremamente alto e as pessoas que esbarravam nela na pista de dança não tiravam o foco de seu objetivo, assim que avistou Carl sentado no bar enquanto conversava com uma loira definitivamente nova demais para ele, Nicolle sorriu sob a bandana e se aproximou.

Pôs uma mão enluvada sobre o ombro dele e o virou em sua direção.

— Vai ter que entrar na fila, querida, sou um homem muito disputado — ele deu um sorriso depois de encará-la de cima a baixo, rapidamente voltando-se para a loira.

— Aposto que vai ser muito disputado quando meus colegas chegarem. Imagino quem vai querer ter o privilégio de te matar primeiro — ela deu uma risada baixa e Carl a encarou, agora sério e confuso. — Sua informação estava errada, Maroni, não haviam armas naquele navio e agora você vai pagar por nos fazer perder tempo. E quando a Millennium perde tempo, você perde sua cabeça.

O homem nem tentou argumentar, apenas saiu correndo e Nicolle achou que aquele era realmente seu dia de sorte. Pegou uma garrafa de vodca sobre o balcão e a lançou com toda a sua força, acertando em cheio Carl no meio da multidão de pessoas na pista de dança. Ela, então, andou até ele e viu que sua nuca estava sangrando e haviam vários cacos de vidro espalhados ao redor de seu corpo quase imóvel.

— Você me fez desperdiçar uma ótima vodca — ela o segurou pela parte de trás da camisa e o jogou para longe da pista, fazendo-o cambalear e cair sobre uma mesa. — Agora vai apanhar duas vezes mais.

— Eu contei o que eu sabia, eu juro! — ele gritou, porém não conseguiu falar mais, já que ela acertou uma joelhada forte em seu estômago e continuou a empurrá-lo até uma saída de emergência na lateral do clube.

— Acha que dou a mínima se você tentar se explicar agora? Você tá ferrado, babaca — ela era menor do que ele, mas era forte o suficiente para bater nos locais em que o deixariam fraco e desnorteado. Segurando-o pelo braço, Nicolle abriu a porta de emergência e o jogou para fora, ainda acertando um chute em suas costas e fazendo-o cair de cara no chão do beco. — Vamos ver…

Ela pegou um maço de cigarros de seu bolso e pôs um na boca, em seguida tirando um isqueiro de sua bota e o acendendo. Removeu a bandana para colocá-lo entre seus lábios e olhou para baixo com desdém.

— Por qual osso devo começar? — a morena o ouviu começar a choramingar e implorar para que ela não fizesse nada com ele. — Tenha um pouco de dignidade, se você mijar nas calças e sujar minhas botas vou ser obrigada a te matar.

Nicolle andou até ele e acertou um chute em suas costelas, ainda fumando tranquilamente enquanto continuava a chutá-lo. Viu o filho de um dos maiores mafiosos de Gotham começar a tentar se arrastar para longe dela e andou lentamente atrás dele, em seguida pisando com força em uma de suas mãos e o fazendo gritar de dor. Ela se abaixou e, com o isqueiro em uma das mãos, o acendeu e deixou a pequena chama bem próxima do olho esquerdo dele.

— Não vou mentir, vai doer mais em você do que em mim.

— Nicolle, pare com isso agora! — ela ouviu uma voz atrás de si e congelou por alguns segundos. A voz era familiar, principalmente aquele tom de irritação, e não a ouvia há anos.

Sem querer demonstrar sua surpresa e leve nervosismo, Nic se levantou e guardou seu isqueiro novamente.

— Meu nome é Wicked agora — a morena se virou para confirmar suas suspeitas, o que a fez dar um sorriso falso na direção da sua ex parceira. — O que te trás para essa parte tão humilde e apodrecida de Gotham, Mel?

Melissa não estava vestindo seu uniforme, então não se importou quando a ouviu falar seu nome. A Wayne entrou no beco e foi com toda vontade para cima de Nicolle, a empurrando para longe de Carl até que ela batesse com as costas na parede de tijolos mais próxima. Só naquele momento percebeu que a garota que ela conhecia desde pequena parecia uma completa estranha. Seu rosto antes cheio de vida agora tinha algumas cicatrizes, uma tatuagem que dizia “Devilish” acima de sua sobrancelha esquerda, assim como muitas outras espalhadas por seus braços e pescoço. A surpresa em seus olhos azuis logo foi substituída por uma expressão de tédio total.

O que mais irritou a heroína, porém, foi o cigarro que a outra ainda tinha nos lábios.

— Qual é o seu problema?! Como chegou a esse ponto depois de todo o treinamento que te demos? Tratando seu corpo como lixo? — Melissa gritou, arrancando o cigarro da boca da jovem. Nicolle fez questão de assoprar uma boa quantidade de fumaça no rosto da mais velha. — Se tornou uma criminosa medíocre que trabalha para algum mafioso rico agora?!

— Por que se importa? — Nicolle se desvencilhou da outra, a empurrando com violência, e andou para longe da Wayne. Viu que Carl tentava se arrastar para fora do beco e acabou por acertar um chute tão forte no rosto dele que o homem desmaiou.

— Nicolle!

— Qual é o meu problema, você perguntou, — ela berrou, virando-se para a outra. — Vocês são o meu problema! Me tratam como se eu fosse um cachorrinho que poderia ser abandonado a qualquer momento e simplesmente me deixaram para me virar sozinha nessa cidade de merda! E agora você reaparece, depois de três anos, e espera que eu seja a mesma?! Queria poder viver nesse mundo de fantasias que você vive, Melissa, mas infelizmente essa é a realidade.

Mel pensou em retrucar, mas sabia que se fizesse isso, continuaria sendo culpada. Além do mais, não estava ali para brigar com a mais nova e não tinha tempo para deixar que seu orgulho atrapalhasse.

— Faz o seguinte, volta para a sua família e diz que eu mandei todos irem se foder, pelos velhos tempos!

— Nic, por favor, precisamos conversar — o tom da mais velha agora estava menos irritado.

— Nem vai rolar, estou ocupada — a morena andou até Carl e se ajoelhou ao lado dele, pegando seu telefone e vasculhando suas mensagens.

— Você quer saber porque te abandonamos e eu quero saber como se tornou uma criminosa, — Mel se ajoelhou ao lado dela. — Por favor, me dá um hora e eu prometo que vou esclarecer tudo se concordar em me ouvir.

Alguns segundos de silêncio se passaram e Nicolle jogou o celular em cima do rosto de Carl, que continuava desacordado. Aparentemente ele havia mesmo recebido a informação de que o navio com armas chegaria naquela noite na cidade, sendo assim o contato dele é quem iria apanhar bastante mais tarde. Ela se levantou e limpou um pouco de sujeira de sua calça jeans rasgada antes de olhar para a ex parceira.

— Vai me pagar um Big Mac. Quando eu acabar de comer, você acaba de falar e eu vou embora, já que, pelo visto, ainda tenho um serviço para terminar.

A heroína assentiu e ignorou o homem no chão, sabendo que ele iria sobreviver e que realmente não estava merecendo sua ajuda se estava envolvido nos esquemas de seu pai. Pelo menos a personalidade e a força de Nic não haviam mudado, ainda havia esperança de que sua velha parceira não estivesse completamente perdida.

Assim que acharam um McDonald aberto àquela hora da noite, Melissa pediu o lanche de Nicolle e as duas se sentaram perto de uma janela, ambas sozinhas na lanchonete, sem contar os funcionários.

— O que aconteceu com você há três anos atrás… — Melissa começou a falar, sentindo um nó em seu estômago só de se lembrar da cena.

— Quer dizer quando fui espancada e tive quase todos os ossos do meu corpo quebrados? E depois fiquei sangrando no chão enquanto aqueles caras decidiam como iriam me matar? — Nic deu uma bela mordida em seu sanduíche, dando de ombros. — Estávamos em menor número, você foi obrigada a assistir enquanto eles me batiam e o seu pai chegou bem na hora para salvar a minha vida. Nessa parte específica devo um agradecimento a ele, mas nunca te culpei pelo que aconteceu.

— Nunca achei que me culpasse.

— Não a culpo por isso, querida, agora te culpo por me largar em um hospital e depois fingir que eu nunca existi — ela bebeu um gole do seu refrigerante, então voltou a comer e falar ao mesmo tempo. — Nem todos os psicólogos do mundo, nem aquele casal que seu pai provavelmente contratou para me adotar, nem aquele tratamento super caro que sei que ele pagou eram o que eu queria. Eu queria ser parte da Bat família e lutar contra criminosos ao lado da minha parceira, mas vocês preferiram evitar o drama. Preferiram só me esquecer.

— Isso não foi o que aconteceu! — Melissa bateu na mesa com seu punho fechado. Ter aquilo jogado em sua cara era realmente mais difícil do que ela pensou que seria.

— Então me explica, sou toda ouvidos — a criminosa já lambia os dedos depois de terminar seu hambúrguer e começava a comer suas batatas.

— Depois do que aconteceu, pedi ao meu pai que te ajudasse de todas as formas possíveis… E então pedi para que todos a deixassem em paz para que tivesse uma vida normal e não corresse mais o risco de ser morta. Eu te conhecia, Nic, sabia que nunca desistiria da vida de vigilante por vontade própria, foi por isso que te obriguei a se afastar.

O silêncio reinou na mesa por quase dez minutos, com Nicolle encarando a mais velha o tempo todo até finalmente falar.

— Em qual parte você achou que esse esclarecimento me faria te odiar menos?

— Você tem uma doença que te impede de sentir dor! — Mel suspirou, tentando não se exaltar. — Sempre tentou ir mais além do que podia e aquela foi a gota d’água. Enquanto aqueles homens te espancavam e te mutilavam, você só ria da cara deles e ficava zombando de como estavam fazendo aquilo errado.

— Me divirto zombando da cara de idiotas, e daí?

— Você não é imortal por não poder sentir dor! Eles teriam te matado e você não parecia ligar, não calava a boca!

— Estava ganhando tempo para você agir, mas só ficou lá me encarando sem reagir! Você foi a idiota por ficar assustada tão facilmente.

— Realmente, eu estava horrorizada. Não é tão fácil assistir enquanto sua parceira é espancada e fica com os ossos a amostra bem na sua frente — a Wayne sentiu um gosto amargo na boca só de se lembrar da cena.

— Então espera que eu acredite que fez tudo aquilo para me proteger de mim mesma? — Nic deu uma risada sem humor.

— Você sempre foi como uma irmã para mim, todos te adoravam! Não entende a gravidade da sua situação depois do acidente, os médicos disseram que você nunca mais iria andar ou sequer acordar. Só queríamos evitar que acontecesse novamente.

— Não vem com esse papo de irmã, superei isso há muito tempo — Nicolle empurrou a bandeja para o outro lado da mesa, parecendo ter perdido a fome. — Quer ouvir agora como cheguei até aqui sem vocês?

Uma parte dela queria, mas outra estava com medo de descobrir.

— Depois que acordei num hospital em outra cidade, com um casal alegando que seriam meus novos pais adotivos, esperei até estar recuperada e fugi de casa. Voltei para Gotham e tentei de todas as formas falar com vocês, mas fui ignorada, e só percebi que estavam me tratando como morta depois de algumas semanas — ela pegou seu isqueiro e começou a incendiar os guardanapos sobre a bandeja. — Alguns meses se passaram, morei na rua por um tempo até que conheci um cara, um alienígena como algumas outras aberrações da sua nova equipe, o Deep Shit.

— Deep Six — Melissa corrigiu e fez um sinal com a mão para ela continuar.

— Tanto faz… Ele me disse que eu tinha potencial depois que meti a porrada em um membro do time dele e perguntou se eu não queria substituir o incompetente que eu tinha espancado. Aceitei com uma condição, a de que eles me ajudassem a me vingar dos homens que ferraram comigo e quase me mataram — quando ficou sem guardanapos, começou a queimar as batatas fritas que sobraram, uma a uma. — Foi um trabalho de equipe que nunca tinha visto antes, acabamos com eles em questão de minutos e agora sou uma membro oficial do time Millennium.

— Você os matou?

— Não, mas eles estão em coma há um ano. Tá rolando uma aposta na equipe de quando eu vou lá desligar as máquinas que os mantém vivos, e eu ainda tô pensando no assunto.

— Apesar de tudo, fico feliz por saber que não está matando. Pelo menos não tiraram isso de você.

— Nossa, o que tá rolando aqui? Sentimentalismo nunca foi o seu forte e agora você tá toda… Sentimental.

— Estou sendo amigável.

— Tá me assustando, para com isso — Nicolle tinha uma sobrancelha arqueada. — Você tá com alguma doença terminal ou algo do tipo? Usou drogas pesadas?

— O quê? Não! Nada a ver com isso.

— Então me fala logo o motivo de você ter vindo me procurar se não é para me prender! — Nic bateu ambas as mãos na mesa, quase quebrando seu isqueiro no processo.

Melissa soltou um longo suspiro e massageou a têmpora direita com dois dedos. Nic falava alto demais, quase tanto quanto Grace, e isso deixava a Wayne com dor de cabeça, outra coisa que não havia mudado.

— Estou aqui porque quero que volte a ser minha parceira. Quero que seja parte do Deep Six comigo e os outros — ela observou enquanto um turbilhão de emoções passava pelo rosto da mais nova. Surpresa, dúvida, irritação, hesitação e, finalmente, ela começou a rir de forma escandalosa.

— Você sempre teve um péssimo gosto para piadas, Mel, mas nunca pensei que chegaria tão longe — Nic sentiu que estava chorando de tanto rir, porém não tinha certeza se as lágrimas eram por causa do riso. — Ok, eu já vou indo agora, mas obrigada pela comida e pela boa risada. Não fico mais em Gotham, então a gente se vê pela vida.

— Não é piada, — a seriedade da Wayne mostrava que suas palavras eram bem verdadeiras. — Você é uma garota rebelde que se não for colocada no caminho certo vai acabar ferrando com a própria vida. Tentei te deixar livre para ter uma vida normal, mas depois de ver o caminho que escolheu, vou ter que interferir antes que seja tarde demais para você.

— É ainda mais engraçado te ouvir dizer isso depois do que me fez passar. Quase me engana fingindo que se importa.

— Eu me importo, Nic! Que droga, pode jogar na minha cara que fui uma péssima amiga, uma péssima parceira, pode me lembrar disso todos os dias se isso fizer você se sentir melhor, só não diga que não me importo com você! — Mel gritou dessa vez, nem percebendo que havia se levantado e olhava para a morena ainda sentada. — Estou te oferecendo a chance de voltar a fazer algo bom, de usar sua força e suas habilidades para ajudar os outros e eu sei, com toda certeza, que você adoraria isso.

— Já faz muito tempo, você só acha que me conhece. Eu mudei — Nic se levantou e deixou a lanchonete.

Melissa, porém, não aceitou aquilo como sendo o final da conversa.

— Quando a conheci, você salvou minha irmã, uma garota que nunca tinha visto na vida, de ser sequestrada. Você treinou por anos enquanto eu ficava presa num colégio interno na Inglaterra e ajudou a Cassy mais do que pode imaginar — quando a mais nova apertou o passo, Melissa segurou seu braço e a puxou para que parasse de andar. — Você é a heroína mais competente, habilidosa e incrível que eu já conheci. Nunca admiti isso antes porque tinha inveja de como sempre lidava com qualquer situação melhor do que eu!

— Para de falar! — Nicolle puxou seu braço de volta, não olhando para a mais velha e usando uma mão para cobrir seus olhos. — Que merda, Melissa, por que está me falando isso?! Eu não quero ouvir nada sobre o passado, só quero que me deixe em paz!

— Estou falando isso porque é a verdade. Porque eu quero te ajudar e porque preciso de você agora mais do que nunca — a Wayne pôs uma mão no ombro da jovem e a virou para si, vendo que lágrimas caíam dos olhos dela. — Você é única pessoa em quem posso confiar nesse momento com um assunto sério.

Nicolle estava mesmo tentando não ouvi-la, apesar de serem as palavras que ela sempre quis ouvir. Pensou que Melissa provavelmente sabia disso e só estava falando para que ela concordasse em voltar a ser sua parceira. Se fosse verdade, estava dando certo, mas ela não poderia simplesmente esquecer que já estava em uma equipe.

— Não vai rolar — a morena limpou as lágrimas e deu um leve sorriso de canto. — Eu gosto do pessoal da Millennium e eles também gostam de mim. Eles ficaram do meu lado quando ninguém mais ficou, quando vocês me largaram, e são minha família agora.

Mel arqueou uma sobrancelha e ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse pensando.

— Se eu fosse uma criminosa, não confiaria em uma ex heroína que se recusa a matar por ainda ter crise de consciência. Os últimos que fizeram isso se ferraram e eu sei porque eu estava lá — a mais velha viu que Nic estava prestes a se afastar novamente, então decidiu que já tinha ido longe demais. — Só pensa no assunto, pelos velhos tempos. Entrarei em contato com você daqui há alguns dias.

— Não vou voltar para Gotham nunca mais, então vai ser meio difícil me encontrar de novo, parceira — Nicolle não economizou no veneno ao dizer a última palavra e pôs sua bandana de caveira no lugar.

Ela lançou um último olhar para Melissa e desviou os olhos para o chão antes de correr para longe. Parou ao chegar em uma rua deserta e escura o mais longe que conseguiu dali, não conseguindo mais se conter e começando a chorar. Alguns soluços escapavam por entre sua respiração acelerada e ela precisou pressionar suas costas contra a parede do prédio para se estabilizar.

Nic, por ser incapaz de sentir dor física, sentia que o universo gostava de fazê-la sofrer com dores emocionais, já que estava fazendo isso há um bom tempo com ela. A jovem se virou para a parede e começou a socá-la o mais forte que conseguiu, não sentindo nada além de dormência, o que só a fez socar ainda mais os tijolos enquanto xingava Melissa. Só parou quando foi obrigada, por uma mão grande que segurou seu pulso quando ele estava a centímetros de acertar outro soco.

— Não deveria chorar, princesa, só está ridicularizando a si mesma — ela virou o rosto na direção da voz, encarando o humanoide alto trajando uma armadura prateada, que possuía vários arranhões e amassados, quando ele falou.

— Glad, vocês… — Nicolle limpou as lágrimas rapidamente, sendo interrompida por ele.

— Os outros voltaram para a base e eu vim aqui te buscar. Fiquei surpreso de ver que já estava muito bem acompanhada — Gladiador olhou na direção de onde ela havia vindo e sorriu com o canto dos lábios. — Quem era sua amiga?

— Alguém do meu passado que pretendo nunca mais encontrar.

— Ah, sim. Quer que eu dê um jeito nela? — ele descansou a mão sobre o cabo da espada presa em seu cinto e Nic sentiu o ar ficando preso em sua garganta por um momento.

— Não! Quero dizer, ela não vai mais aparecer, prefiro deixar de lado.

— E o que era esse Deep Six que ela falou? — ele inclinou levemente a cabeça para o lado, parecendo, como sempre, estar se divertindo por saber algo que ela não sabia.

— Um grupo de heróis mais novos, um tipo de extensão da Liga da Justiça. Quake e eu sempre os vemos no noticiário ou nos jornais — a morena o viu fazer um som de aprovação com a garganta e começar a andar.

Agora ela já sabia que ele, de algum jeito, ouviu toda a conversa que teve com Melissa. Sabia que a Wayne a havia convidado para fazer parte do DS e que ela havia sido emocionalmente afetada pela conversa. Conhecendo o alienígena, ele provavelmente nunca mais tocaria no assunto e ela ficava encucada com o fato de ele saber sobre isso e não dizer nada.

— É melhor ficarmos de olho neles. Sabe como odeio surpresas — Gladiador olhou por cima do ombro para que ela o seguisse.

— Vou falar com o Carabin para pesquisar mais sobre eles, então — ela acelerou o passo para ficar ao lado do maior.

— Deixa que eu cuido disso. Deve estar cansada e precisa cuidar dessa mão, afinal de contas ainda temos que achar aquelas armas — ele deu um tapinha afetuoso nas costas dela e Nic quase caiu para frente com o exagero de força. — Wicked, sabe porque te escolhi para a minha equipe?

Ela sabia muito bem. Ele não se cansava de dizer que a jovem era o ser humano mais incrível que já conheceu por não poder sentir dor alguma, mesmo que seu braço lhe fosse arrancado. Assim como Carabin havia escolhido Illusion por ela ser uma hacker excepcional, Gladiador a havia escolhido por ter uma doença que poderia matá-la algum dia.

— Sim.

— Talvez seja parte de algo muito maior algum dia, então não me decepcione — o alienígena piscou para ela e a segurou no colo antes de levantar voo.

Nicolle não queria deixar a Millennium, porém estaria mentindo se dissesse que não sente falta de ir em missões com Melissa ou Cassandra. Por hora ela só se concentraria em cuidar dos seus assuntos e tentar entender o motivo para Gladiador nunca parecer ligar para nada que acontecia ao seu redor.


§

Quando chegou em casa, Melissa estacionou sua moto na garagem e andou para dentro exausta. Aquele dia havia sido estressante, tanto emocional quanto fisicamente, ela só queria relaxar pelo resto da noite e ter um pouco de sossego agora que estava de férias do DS. No momento em que pensou em ir para o seu quarto assistir um filme, no entanto, sentiu algo gelado tocar em seu pulso e ouviu um “click” alto. Olhou para o lado e viu Cassy sorrindo. Desceu os olhos para seu braço e viu que estava algemada à sua irmã.

— Cassandra… O que é isso?

— Já que você está se afastando de mim, decidi que não vou sair do seu lado até que me fale o que há de errado com você para eu poder te ajudar — a mais nova sorriu mais abertamente. — Isso é o que uma boa irmã faria!

— Isso é o que uma psicopata faria! — Mel gritou e tentou tirar seu pulso da algema.

— Pode tentar, maninha, sei de todos os seus truques, então não vai se livrar de mim tão fácil. Sério, essas são as algemas especiais do papai e meu gato comeu a chave, vamos ter que esperar elas saírem pelo outro lado para ficarmos livres... Essa parte foi um acidente, na verdade.

— Por que o universo me odeia?!

— Podemos usar esse tempo para… Ahhh, Mel, espera aí! — Cassy foi arrastada para o andar de cima e quase rolou pelas escadas. — Ok, sem conversar, vou esperar até estar pronta. Temos todo o tempo do mundo.

— Se eu ficar até amanhã sem cortar a minha mão fora ou te matar, Cassy, aí poderemos começar a conversar!

— Viu? Já estamos progredindo, adoro quando estou certa — a mais nova abraçou a irmã e Melissa a empurrou para continuar andando.

As duas iam na direção do quarto da Wayne mais velha, quando viram Damian sair do dele e olhar confuso para as duas.

— Não diga uma palavra! — Mel rosnou e bateu a porta do quarto depois de puxar a irmã para dentro sem a menor delicadeza.


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Notas finais do capítulo

Cassy é o tipo de irmã que eu sou, que se algemaria a irmã quando percebesse que algo está incomodando ela até descobrir o que é kkkkk

As asks para o pessoal da Millennium estão abertas, ok?? E as fichas deles estão nesse link: http://deepsixfanfic.tumblr.com/millennium

Un beso mis amores :*