Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 3
Mudança de planos


Notas iniciais do capítulo

Então, meninas! Erik e Annika se encontraram outra vez, mas agora ela não está em sua melhor forma física... O que pode sair disso?
Ah, esse recado vai para quem lê e nunca comenta: meninas, não é porque se trata de uma fic sobre o Fantasma que vocês também precisam virar fantasminhas, ok? Eu gostaria muito de saber o que estão pensando. Pelo menos uma reviewzinha de vez em quando, pode ser? nos vemos nas notas finais.



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Erik passara as duas últimas semanas investigando o paradeiro da ladra que tivera a ousadia de desmaia-lo e roubá-lo; como o fantasma que fingia ser, espreitara nas sombras, ouvindo e observando, até encontrar o rastro de sua presa. Rastro este que o levara até o velho barracão, onde pudera ouvir a conversa da moça com os meninos de rua. Então, não era uma ladra, realmente, mas uma prostituta que roubava para complementar seus ganhos... Interessante.

Sem que arrefecesse seu desejo por vingança, ele seguiu a moça pelas ruas; quando ela cambaleou e se apoiou gemendo na parede, contudo, o Fantasma sentiu boa parte de sua ânsia em puni-la se esvair: machucar aquela mulher? Ela já estava muito ferida, mal aguentando consigo mesma! Que punição poderia haver para alguém que convivia diariamente com espancamentos e estupros? Feri-la fisicamente seria não apenas fácil demais, mas inócuo demais. Para alguém como ela, não fazia grande diferença, e isso frustrou Erik. Frustrou porque todos os seus planos de aterrorizá-la haviam sido inúteis; que desgraça maior poderia cair sobre alguém como a jovem Annika? Sua vida já era o inferno.

Foi só quando já estavam longe o bastante do beco que ele, enfim, se aproximou da mulher; empurrando-a contra a parede, arrancou-a do chão com surpreendente facilidade – por deus, a moça não devia pesar nem cinquenta quilos, apesar de ser bastante alta! – encarando aqueles olhos muito azuis. Neles, primeiro viu espanto, depois uma fria resignação quando a jovem falou:

– Se vai me matar, senhor, então faça-o de uma vez. – e mesmo fraca como estava, tentou golpear Erik com uma faca; o Fantasma, ágil, agarrou o pulso da garota e o torceu, fazendo-a gritar de dor. Num ato reflexo, ele a esbofeteou (NUNCA havia batido em uma mulher, antes!) e, debilitada como estava após o espancamento, Annika desfaleceu.

Cheio de culpa e espanto com a própria reação, o homem se abaixou ao lado da mulher inconsciente, observando-a detalhadamente: era ainda mais bonita do que se lembrava, embora seu rosto estivesse marcado por um enorme hematoma. As roupas surradas que vestia – uma calça e camisa grandes demais para ela – deixavam entrever mais hematomas nos ombros e braços, e marcas de corda mostravam que ela havia sido surrada com um chicote... Que tipo de monstro cometeria tal violência contra um ser tão frágil? Vendo o estado de fraqueza da ladra, Erik quase podia se esquecer de seus planos de vingança. Confuso por compadecer-se dela (como podia sentir pena de uma mulher que, há poucas horas, poderia mesmo matar sem remorso?!) o Fantasma meneou a cabeça, em dúvida:

– O que vou fazer com você? – pelo que ouvira da conversa no barracão, a única coisa que importava à jovem era sua irmãzinha, Gabrielle. A única vingança possível seria separar as duas, mas, por motivos bastante pessoais, ele jamais faria algo que pudesse ferir uma criança. O que fazer, então? Não perdoara a mulher por seus atos, mas tampouco pretendia, ou tinha meios, para atingi-la como fosse, sem fazê-lo também à menina sobre a qual ouvira.

Meditando sobre o que fazer, ele ficou por longos minutos ali, apenas contemplando a bela criminosa, fascinado por ela. Afinal uma ideia surgiu-lhe na mente; uma ideia completamente louca, mas que o agradava muito: levaria a mulher consigo. Uma vez que a tivesse, e à irmã, em seu poder, então poderia fazê-la pagar pelo vergonhoso atentado de semanas atrás.

Com a facilidade de quem ergue um bebê, Erik tomou a moça nos braços; estava muito gelada, e estava bem claro que ficaria doente em breve; o próximo passo era comprar a “liberdade” da jovem e de sua irmã, com o dinheiro que recuperara no esconderijo da ladra. De certa forma, era o primeiro passo de sua vingança: estando tão perto de obter a tão sonhada liberdade, a ladina se veria nas mãos de um novo senhor, sobre o qual nada sabia, outra vez distanciada da liberdade que desejava. Isso certamente a afetaria, mas não machucaria ainda mais seu combalido corpo. Pois, para vingar-se dela, o Fantasma teria primeiro de garantir que a jovem Annika sobreviveria, o que não era totalmente certo.

*

Como uma mulher tão debilitada podia dar tanto trabalho?! Erik se surpreendera com o despertar da moça, pouco depois de tê-la colocado com a irmãzinha no coche que os levaria até sua casa. A fúria que ela manifestara, tentando fugir e se debatendo quando ele a contivera, fora realmente inesperada. Ele tivera de arrastá-la para dentro da casa, e trancá-la no quarto do pavimento inferior! Enquanto esperava que sua violenta prisioneira se acalmasse, ocupou-se de lidar com a criança, que parecia aterrorizada, e não sem motivos.

Dirigindo-se à menina encolhida contra a parede da sala, Erik perguntou:

– Tem medo de mim? – como resposta, recebeu um aceno de cabeça assustado – Não devia. Não machuco crianças, Gabrielle. – e ante o modo como ela apenas se encolhia ainda mais – Eu a tirei daquele lugar, não tirei? – ela assentiu, mas não se moveu, o que irritou o Fantasma: não machucava crianças, mas isso não significava que tivesse paciência com elas – então pare de agir deste modo, e converse comigo.

A menina apenas meneou a cabeça negativamente, tocando a própria garganta; confuso, Erik perguntou:

– Você é muda? – um aceno de cabeça confirmou, fazendo-o bufar; por que se metera em tal situação, mesmo?! Ah, sim, uma ideia estúpida de vingança! Por que não matara Annika, simplesmente, em vez de se colocar naquele dilema? Por que não facilitara a própria vida, em vez de complica-la?

Aproximando-se de Gabrielle, ele a segurou pelos ombros e avaliou a menina: não aparentava os doze anos que tinha, sendo baixa para a idade, bastante magra e franzina, e muito pálida. Os cabelos compridos e louros estavam presos em duas tranças, e o vestido que usava certamente vira dias melhores; a única coisa que havia de maduro naquela menina eram os olhos azuis: olhos que nenhuma criança devia ter... Olhos de quem já vira o pior do mundo, e que se toldavam de medo, naquele momento.

– Não tenha medo de mim, pequenina. Como já lhe disse, não machuco crianças. Se teme que eu a moleste, digo que seu medo é infundado; você não tem nada a temer de mim.

Varrendo a sala com os olhos, a menina viu pena, tinta e papéis sobre a mesa, e lançou-se a eles; com letra rápida e caligrafia clara e fluente, escreveu:

O que o senhor fará com minha irmã?

Surpreso por uma garota de prostíbulo saber ler e escrever – e escrever com tão fluente caligrafia, ainda por cima! – Erik respondeu:

– Sua irmã me roubou. Deixou-me inconsciente, ferindo minha dignidade; ela deve me compensar por isso, de algum modo. Mas não agora: Annika está doente, e precisa se recuperar. Quando estiver saudável novamente, então deverá ser minha criada, até pagar o que me deve: o valor que paguei por ambas – ele não falaria à criança sobre vingança ou coisa parecida. – Mas não farei mal a ela – pelo menos nenhum mal físico, mas isso a pequena não precisava saber. – Não farei mal a nenhuma de vocês.

Já mais calma e confiante, Gabrielle parecia ter chegado á conclusão de que podia acreditar, ao menos parcialmente, nas palavras daquele homem. Não que tivesse muita escolha, afinal, mas sua experiência com os homens dizia que aquele era um refinado cavalheiro, e não outro dos porcos imundos que teriam abusado dela sem hesitar. Embora não soubesse exatamente o que ele pretendia – pois estava bem claro, para ela, que ele não revelara todas as suas intenções – sabia que, pelo menos por hora, estavam à salvo. Mais uma vez ele se dirigiu à garota:

– Parece cansada. Pode descansar neste quarto – ele conduziu Gabrielle com gentileza, sentindo a tensão dela à visão de um quarto de dormir. Compreendendo o medo da jovem, o Fantasma se afastou um passo, para deixar claro que não tinha tais intenções – sua irmã parece mais calma. Vou falar com ela, e depois tentarei encontrar roupas limpas para vocês. Vão precisar. Enquanto isso, descanse. Sua irmã virá ficar com você, depois que conversarmos.

Assentindo, a pequena entrou no quarto e fechou a porta; ao Fantasma, restava lidar com a instável criatura que deixara trancada no quarto de hóspedes. Outra vez ele censurou a si mesmo pela decisão absurda, antes de seguir para falar com a raivosa Annika. Pela primeira vez em anos, ele não pensava em Christine.

POV Gabrielle

Ver aquele homem entrar no prostíbulo, com minha irmã desfalecida nos braços, deixou-me em pânico: o que acontecera a Annika? O que ele fizera à minha Annika, à minha irmã?! Deixei a mesa onde servia bebidas e corri para ela, sem ligar para as reprimendas das outras prostitutas, avisando-me que Lucian me puniria. Que punisse! Que me estuprasse de novo, se quisesse! Minha irmã era mais importante!

O estranho usava roupas pretas e uma máscara branca sobre a metade direita do rosto; o que estava exposto de suas feições possuía uma beleza exótica e intrigante, e senti-me intimidada por aqueles olhos dourados que mais pareciam duas velas na escuridão. Seu olhar era o de um assassino... Ele certamente já matara, e mais de uma vez. Meu Deus, o que fizera com Annika?! Maldição, eu sequer podia perguntar alguma coisa! Ninguém compreendia minha linguagem de sinais! Ao ver-me, porém, ele se abaixou e deixou-me ver melhor o rosto dela; sua voz era grave, suave e impregnada de poder quando perguntou:

– Você é Gabrielle? – como ele sabia meu nome?! Espantada, sem querer deixar o lado de Annika, anuí. Neste momento fomos encontrados por Lucian, com seu passo de elefante fazendo tremer o chão da sala principal:

– O que está acontecendo aqui?! – ele viu minha irmã, desacordada nos braços do estranho – O que esta puta aprontou, para estar assim?

– Ela desfaleceu de fraqueza, messieur – a voz do estranho era aveludada e contida, sonora e encantadora. Uma voz que poderia render qualquer pessoa, convencer qualquer um... Seria aquele homem um dos feiticeiros, como os dos livros? Seus olhos dourados, o modo como sua voz parecia penetrar minha alma... Ah, bobagem! Era apenas mais um cafajeste disposto a abusar de minha irmãzinha! E não havia NADA que eu pudesse fazer, além de ficar ali! – precisei trazê-la.

– Deixe-a num canto qualquer. Vou mandar uma das outras cuidar dela. – respondeu Lucian, e ia saindo quando o estranho se manifestou novamente – messieur, eu desejo compra-la.

– O quê?! – Meu carcereiro se voltou, em seu rosto se estampando a mesma surpresa que eu sentia – Comprar essa vadia?

Entrei em desespero! Havia duas opções: ou ele era um bom homem, e comprava Annika por piedade (o que eu muito duvidava), ou a estava comprando para fazer dela sua escrava... Em ambos os casos, isso nos separava! Não! Annika era tudo o que eu tinha, minha única família, minha única alegria! É claro que, se eu pudesse ter certeza de que ela estaria em boas mãos, não hesitaria em deixa-la partir... Mas não era este o caso. E eu não queria, eu não podia ser separada dela! Havíamos prometido ficar sempre juntas, não importava o que acontecesse! Não podiam nos separar! Sem pensar no que fazia, agarrei-me a Annika com toda a minha força.

– Sim. Quero comprar a mulher – então aqueles assustadores olhos dourados se cravaram em mim, e o mundo pareceu encolher até se resumir apenas naquele ouro gelado que tanto me apavorava – E a menina.

Eu estava tão trêmula e apavorada que não ouvi direito a conversa que se seguiu. O homem sentou minha irmã nas escadas, e eu me agarrei a ela como se minha vida dependesse disso; o estranho e Lucian conversavam algo, e de repente percebi algo que apenas eu estava próxima o bastante para ver: uma faca brilhante encostada à barriga de meu dono, que tremia e suava como o porco que parecia. O homem de negro sussurrou-lhe algo, e o medo estava bem claro no olhar de meu patrão... Meu Deus! Que tipo de pessoa poderia pôr medo em meu amo? Que tipo de criatura poderia dobrá-lo à sua vontade, e força-lo a algo que não queria?!

Só despertei de meu estupor quando senti a mão fria do estranho segurar-me pelo braço. Ele ergueu Annika nos braços, e eu compreendi que não havia escolha: podia segui-lo, e ficar junto de minha irmã, que não tinha condições de proteger nem a si própria, ou podia tentar ficar, e ser arrastada à força. Lamentando apenas pelos livros que não teria chance de recuperar, segui nosso novo amo para fora, até um coche que o aguardava. Estava realmente apavorada: o que ele pretendia fazer conosco? Não que a vida pudesse realmente piorar, para nós, mas algo no mascarado me dizia que, de algum modo, ele poderia ser muito pior do que Lucian.

Ele não disse nada enquanto o coche se movia; foi só quando Annika despertou que, zangado, ele a imobilizou, forçando-a a ficar sentada ao seu lado, as mãos torcidas para trás. A condução parou diante de um sobrado alto, ainda nos subúrbios de Paris, e o mascarado obrigou minha irmã a descer e seguir para dentro da casa; tentei pará-lo, fazê-lo soltar minha Annika, mas ele apenas a jogou sobre o ombro e a carregou para dentro, puxando-me consigo pelo pulso; havia em suas mãos uma força enorme, que o aspecto esguio dele não fazia aparentar. Sem conseguir lutar, fui arrastada até uma sala grande, mobiliada com refinamento, e ele seguiu adiante com minha irmã, carregando-a até um quarto. Temi por ela, mas tudo o que ele fez foi trancá-la no aposento, antes de se dirigir a mim.

Após nossa conversa, eu já estava bem mais tranquila; não que confiasse naquele novo patrão, mas ele certamente não seria pior do que nosso antigo dono. É claro que a tão sonhada liberdade, para nós duas, estava outra vez a quilômetros de distância – ah, Annika ia sofrer tanto, com isso! - mas pelo menos estávamos juntas. E, por algum motivo nada racional, a verdade é que eu sentia que as coisas podiam mudar para melhor... Que aquele estranho de máscara e olhos dourados, por mais perigoso que fosse, realmente não nos faria mal. Enquanto me deitava na cama larga e macia do quarto que me fora destinado, após ter chaveado a porta, experimentei uma sensação totalmente nova: paz.


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Notas finais do capítulo

Bom, os planos de Erik realmente mudaram... E agora ele e Annika vão "conversar". Quem aposta que ela vai tentar matá-lo? Essa vai ser, realmente, uma conversa bastante tensa; esperem muitos gritos e coisas voando, da parte de Annika. E Erik... Bom, Erik sendo Erik é sempre ótimo! ele não precisa de violência para assustar as pessoas. Um confronto Annika x Erik, quem vocês acham que ganha?
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beijos