Anjo das Trevas escrita por Elvish Song


Capítulo 4
Na casa do Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Bom, terminei o último capítulo com Erik indo falar com Annika. Preparem-se para ver objetos voando, garotas! hahahaha! A "conversa" vai pegar fogo. Espero que gostem!
Agradecimentos especiais a Gato Cinza, Maísa Cullen, Dhampir e MissStorm, pelos comentários divos que me deixaram com um sorriso de orelha a orelha! Capítulo dedicado a vocês!



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Ao abrir a porta do quarto onde trancara sua prisioneira, Erik mal teve tempo de se abaixar, antes que um vaso de vidro se espatifasse contra a parede, na altura onde sua cabeça estivera, há poucos momentos. Mais objetos voaram em sua direção – um sapato, um espelho de mão, outro sapato... - obrigando-o a se esquivar, antes de cruzar o aposento na direção da raivosa mulher e segurá-la pelos pulsos, imobilizando-a contra a parede. Furiosa, a loura tentou se debater para escapar, o que apenas deixou o Fantasma mais irritado! Usando o próprio corpo para prendê-la contra a parede, ele lhe tolheu todos os movimentos, contendo-a totalmente.

– Solte-me! – gritou Annika, usando toda a sua força para tentar fugir de seu novo amo, sem sucesso. Ele a segurou com mais firmeza, e declarou:

– Você pode esgotar suas forças lutando contra mim, ou pode agir como uma pessoa sensata e ouvir o que tenho a dizer. – E continuou segurando-a firmemente, esforçando-se para ignorar o incômodo atrito entre seus corpos, até senti-la relaxar em suas mãos. Quando ela parou de lutar, exausta e conformada, obrigou-a a se sentar – Você agora me pertence, Annika. Compreende isso?

Os olhos azuis pareciam soltar farpas de gelo, cheios de ódio quando ela anuiu. Satisfeito ante a contrariedade e frustração de sua cativa, o Fantasma se aproximou dela, agigantando-se ao lado da moça, segurando-lhe o queixo com firmeza para obriga-la a encará-lo. Quanto mais a observava, mais percebia o quão linda ela era; linda e perigosa, poderia muito bem se passar por uma Valquíria vingadora em seus momentos de fúria. O rompante de raiva, porém, drenara as últimas energias da jovem, que agora só podia fita-lo, impotente. A palidez de sua face chegava a ser preocupante!

– Você não se comportou nada bem, desde que acordou – disse Erik, como se falasse com uma criança – E eu não gosto disso. Gritos, acessos de raiva... Eles me irritam. – os olhos dourados se cravaram nos de Annika, que viu ali toda a força e toda a crueldade de que o Fantasma era capaz, e temeu. Temeu nem tanto por si (já havia muito tempo que deixara de se preocupar com a própria sorte), mas sim, por sua irmãzinha; o que teria ele feito a Gabrielle?! Pois, com seu conhecimento do mundo, a ladra já percebera que o mascarado era um homem verdadeiramente perigoso, muito mais perigoso do que Lucian, com seus rompantes de raiva e violência gratuita. O temor dela não passou despercebido ao Fantasma – Você já compreendeu, não é? Não é bom me irritar. O último homem que me irritou, acabou morto.

– O que quer de mim? – perguntou ela, com ousadia, esforçando-se para não demonstrar o quão assustada estava.

– Não quero nada de você, mulher. O que eu quero é você, por si mesma.

– Por quê? Que motivos teria para querer-me? – ela não compreendia: se o que ele queria era vingança, então por que tirá-la do prostíbulo? Por que não usá-la, simplesmente, ou mata-la? A menos que ele pretendesse fazer algo muito pior...

– Você me humilhou, Annika – ele disse aquilo de modo perigosamente baixo, seus olhos dourados faiscando como os de um gato – feriu meu orgulho como homem e como indivíduo, e não deixarei isso passar sem consequências. Não vou feri-la fisicamente, mas você vai me pagar, e pagar bastante caro.

Annika riu. Não uma gargalhada falsa, ou irônica, mas uma risada pura e verdadeira, que confundiu o Fantasma por alguns segundos, antes que ela perguntasse:

– Pagar? Vai me punir, é isso? Caso não tenha percebido, não há nada que possa me tomar, messieur! Eu acabei de sair do inferno! – ela quase cuspiu as últimas palavras, levantando-se da cama. Era alta para uma mulher (da altura do queixo do Fantasma, que se destacava entre os homens por sua estatura elevada!) e, mesmo estando claramente debilitada, empertigou-se ao enfrentar seu novo amo – Não tenho nada a perder. Como acha que vai me punir?

– Encontrarei um meio – respondeu ele, perigoso, aceitando o desafio da mulher – para começar, eu tenho sua querida Gabrielle em meu poder. Faça alguma besteira, como tentar fugir de mim, e eu a devolverei a Lucian – a pouca cor que havia no rosto de Annika esvaiu-se de uma só vez, e ela caiu sentada na cama. Aquilo agradou ao Fantasma, vê-la impotente e assustada, então ele continuou – Parece que estamos começando a nos entender. Então, vamos fazer um acordo – ele se sentou ao lado da prisioneira, que lhe lançava um olhar fulminante – Você não me causa problemas, e sua irmã fica a salvo de todo mal. Aqui, nesta casa, Gabrielle está segura, e continuará a estar, enquanto você decidir que assim deve ser. O bem estar dela depende apenas de você se comportar. Fui claro? – ele jamais devolveria Gabrielle ao asqueroso Lucian, mas Annika não tinha como saber disso. Se a mulher lhe desse muito trabalho, ele enviaria a criança aos alojamentos do teatro, e diria a sua prisioneira que devolvera a pequena a seu antigo dono.

– Você é um monstro. – acusou a moça, desprezando o ser diante de si, vendo-o como apenas outro daqueles que a teriam usado, no passado. Ele apenas sorriu, e respondeu com um toque de maldade:

– Que bom que compreendeu. Você é inteligente. – ele lhe segurou o rosto, olhando pela décima vez o hematoma – Vamos nos entender muito bem, enquanto se lembrar disso, mademoiselle: sua vida passada podia ser o inferno, mas, se me irritar, farei com que os dias no prostíbulo se tornem uma saudosa lembrança de tempos felizes, em comparação a sua condição atual. Comporte-se, compreenda que pertence a mim, agora, e tudo ficará bem, para você e para sua irmã. Não sou um molestador, nem tenho propensões a agredir mulheres fisicamente.

– Fala como se isso o tornasse mais humano. Não torna.

– Não é para me tornar mais humano, criança – havia ironia na voz do Fantasma – é apenas para que compreenda as regras do jogo. Agora, você é minha. – ela ia se levantar outra vez, furiosa ante a própria impotência, quando sua vista escureceu e uma forte tontura a acometeu; antes que pudesse perceber, estava nos braços de seu patrão.

– largue-me! – gritou ela, tentando fugir ao homem, que apenas a segurou com mais força. Não havia maldade no rosto dele quando declarou, carregando-a através da sala:

– Agora você me pertence, e eu cuido do que é meu. – ele bateu com os dedos numa porta de madeira, a qual foi aberta por uma surpresa Gabrielle – Gabrielle, vou deitar sua irmã na cama. Ela está doente, e precisa de um médico. Faça-a ficar deitada, até que o médico venha, está bem?

A criança anuiu, enquanto o mascarado carregava sua presa para a cama larga e a deitava cuidadosamente; num ato impensado, tocou com delicadeza a face marcada da mais velha. Nem parecia que há pouco ela tentara acertá-lo com um vaso, e que se haviam seguido palavras tão ácidas. Na verdade, ele parecia quase... Carinhoso? Isso não fazia sentido!

Ignorando a confusão de Annika, ele foi até a porta do quarto, onde voltou-se para a menina:

– Providenciarei roupas limpas para vocês, até amanhã. Se quiser se banhar, e ajudar sua irmã a fazê-lo, saiba que eu não entrarei no quarto, a menos que uma de vocês me abra a porta. – e assim dizendo, deixou o aposento. Por sorte, hoje era dia de Madame Tremain (a criada mandada semanalmente por Antoinette) vir ao sobrado; mandaria que a senhora fosse buscar um médico, e que trouxesse roupas femininas na manhã seguinte.

*

– Eu não sei de onde veio essa mulher, nem quem a agrediu desse modo – começou o Dr. François, após ter examinado Annika cuidadosamente – mas a surra quase a matou. Além disso, está desnutrida e anêmica: fico surpreso que demonstre tanto vigor. Outra dama não se ergueria do leito.

– Imagino que sim – respondeu Erik – eu a encontrei em condições... Desfavoráveis. O que se pode fazer?

– Felizmente não há ossos quebrados, então, as feridas irão se curar sozinhas. Mas preocupa-me a desnutrição: ela precisa ser bem alimentada; está muito magra, e não terá forças de se recuperar, se não ganhar peso. Passarei alguns remédios para dor, e outro que a fortalecerá, mas o ponto chave para a recuperação dela é uma alimentação reforçada.

Anuindo, Erik aceitou os frascos de medicação que o médico lhe estendeu, deixando-os sobre a mesinha de cabeceira. Annika estava silenciosa, apenas ouvindo, extremamente confusa com seu novo amo: num segundo ele a ameaçava, e logo depois chamava um médico para ela? Aquele homem era totalmente louco!

– Está me ouvindo, Annika? – perguntou o doutor – Precisa colaborar, e se esforçar para comer. E tem de tomar os remédios na hora certa.

– Sim, doutor. – respondeu a moça. Ainda não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia de uma coisa: o médico tinha razão. Ela mal aguentava consigo mesma e, se quisesse estar em condições de proteger Gabrielle, ou mesmo de fugir com a menina, precisava se recompor fisicamente. – eu o farei.

Enquanto Erik e o médico deixavam o quarto, Gabrielle se dirigiu à irmã:

Ele não é tão mau assim, afinal.

– É o que parece. – concordou a mais velha. Não contaria a Gabrielle nada sobre as ameaças do amo; a pequena não precisava de mais esta preocupação em sua vida. Agora, teria condições de manter sua irmãzinha a salvo, longe dos abusos que haviam sofrido por toda uma vida. Não importava o preço que ela, Annika, teria de pagar: nunca mais sua Gabrielle seria vendida como prostituta, espancada ou ferida de qualquer forma! Enquanto não pudessem fugir, ela serviria fielmente ao monstro que a comprara; e quando surgisse a oportunidade, levaria sua irmã para bem longe de tudo aquilo. Poderiam até sair da França, se fosse o caso. Mas primeiro precisava se recuperar e, depois, ir atrás do dinheiro que juntara ao longo dos anos. Seria mais do que suficiente para saírem do país, mas este plano teria de esperar um pouco.

Ouvindo passos no corredor, imaginou que se tratasse de Erik voltando, mas, para sua surpresa, quem entrou no quarto foi uma senhora de alguma idade, com cabelos grisalhos, umas poucas rugas no rosto rechonchudo e de expressão gentil, vestida com roupas formais. Trazia uma bandeja com dois pratos fundos cheios de um caldo espesso e perfumado, que fez roncar o estômago das duas irmãs. Com um sorriso, a senhora se aproximou e pousou a bandeja no criado-mudo:

– Parecem famintas, crianças. – Ela entregou um prato a cada jovem, e então dirigiu-se a Annika – o patrão mandou que eu passe a vir todos os dias, para garantir que você irá se alimentar bem. Ele parece preocupado com você.

– Sou só a nova serva. Não sei porque ele se importa comigo.

– Então, posso dizer que tirou a sorte grande. – respondeu a senhora – Messieur Destler é um bom homem, embora goste de fingir o contrário. É um bom patrão. Aprenderá depressa a gostar dele.

– Não creio nisso, senhora...

– Tremain. Marguerite Tremain. – Marguerite respondeu com outro sorriso, e acariciou os cabelos de Annika – Imagino que ele deva ter sido grosseiro com você. Não se deixe intimidar por isso, criança: ele se faz parecer pior do que realmente é. – e meneando a cabeça – mas agora, trate de comer, ou não irá ter forças para se recuperar.

Obedecendo, a jovem voltou sua atenção à deliciosa sopa em seu prato; fazia tanto tempo, desde que alguém fizera algo para ela! A sensação do caldo aquecendo-a lembrou-a de um tempo muito antigo, onde ela ainda era apenas uma menina amada e cuidada pela mãe, que não conhecia a dor, o medo e a vergonha. Um tempo onde ainda tinha sonhos e esperanças que não se resumiam a recuperar a liberdade. Esses pensamentos, porém, não duraram mais que um segundo, antes que ela os banisse: pensar no passado não lhe daria um futuro. Sua mãe estava morta e, com ela, a garotinha que Annika fora um dia. Precisava manter-se focada no presente, e cuidar de Gabrielle. Afinal, o passado era apenas um fantasma, e fantasmas não protegiam ninguém. Serviam apenas para assombrar os vivos, e nada além disso.

Depois de as irmãs terem terminado de comer, Madame Tremain obrigou a mais velha a tomar o remédio para as dores, por mais que ela insistisse que não havia necessidade. Uma vez que o medicamento fez efeito, o sono começou a pesar nas pálpebras da mulher. Vendo aquilo, Gabrielle provocou:

Você está até vesga de sono! Pare de lutar e durma de vez!

– Não vou deixar você sozinha.

Então, eu fico bem aqui, com você. – respondeu a menina, deitando-se do lado da irmã e abraçando-a com amor.

Deitada naquele leito macio, tendo em seu abraço a irmãzinha caçula, a moça quase podia esquecer que era apenas uma escrava, submetida à vontade de seu amo e senhor; sem forças para lutar contra o sono, acabou por adormecer, ainda preocupada e receosa do que seu patrão poderia fazer a Gabrielle, enquanto dormia. Pois ela já não compreendia mais as intenções daquele homem; seria ele louco, ou estaria tentando enlouquece-la? Foi essa a pergunta que ficou em sua mente, enquanto mergulhava num sono profundo.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí consegue entender o Erik? Ou só eu é que sou louca, mesmo, e entendo as ações do meu Fantasma querido, que age de modos tão tortuosos?
Espero mesmo que tenham gostado, e que não tenha ficado muito forçado - escrevi esse capítulo madrugada adentro, caindo de sono, então, me avisem de qualquer inconsistência na história, ok?
beijos!