Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 6
Freedom Cry




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Jenny correu. Correu sem se importar com a roupa que trajava, com o cabelo ainda emaranhado do travesseiro, com os olhos inchados do sono e com os pés descalços. Ela partiu pela porta e tomou as ruas, de maneira ágil, corria por entre as pessoas, as vezes esbarrava em uma ou outra. Mesmo sem escalar nos últimos dois anos, ela manteve a prática da corrida, no fundo sabia que um dia voltaria precisar.

Em poucos minutos ela chegou a sua antiga casa, os guardas estavam por todo o lado e os vizinhos olhavam curiosos.

– Kenway devia estar bêbado e arranjou uma briga qualquer. – Comentou com desprezo uma mulher que Jenny sabia ter inveja da riqueza do pai.

– Ele era um pirata, o que podia se esperar? – Comentou um homem em outro canto.

– Um ladrão e assassino.

Ela ignorava as acusações do pai e transpôs a multidão que circundava a frente da casa e assim que ia adentrar um guarda a parou.

– Hey mocinha, fique onde está. Esta área está sob investigação e tem entrada proibida.

– Esta é a minha casa e é do meu pai que estão falando. – Ela inflou o peito e empurrou o homem baixinho para o lado. Ignorando qualquer advertência posterior.

No interior da mansão havia ainda mais guardas, alguns tentavam impedi-la de avançar, mas com maestria, a jovem os desvencilhava até que chegou ao cômodo favorito do seu pai. Um quarto com uma mesa no centro, grande e que era adornada por um mapa com diversas marcações. Marcações que indicavam onde Edward um dia pisou. Na parede oposta à porta um par de espadas ostentavam-se na parede, cruzadas na forma de um X. A direita uma miniatura do Gralha era iluminado pela luz matinal que aos poucos se prolongava pela janela aberta. E a esquerda uma cadeira confortável e um baú com pertences do pirata serviam de cenário para o corpo caído de Kenway. Ensanguentado, e perfurado no tronco, pela dimensão do ferimento ela sabia que havia sido uma espada. Na mão dele uma de suas pistolas ainda engatilhada apontava na direção da porta.

Jenny caiu de joelhos ao lado de seu pai, as lágrimas desceram sem permissão e suas saias se mancharam de sangue Kenway. Ela se debruçou sobre o corpo frio do homem a sua frente. Um corpo vazio. Seus soluços ecoavam pelo local e logo o chefe da investigação a encontrou.

– Com licença. - Ele pigarreou. – Presumo que seja Jennifer Scott Kenway. – Ela não lhe respondeu nada. – Sinto muito pelo seu pai. Ao menos sua mãe sobreviveu ao assalto.

– Ela não é a minha mãe. Minha mãe era Caroline Scott. – Ela disse ao reerguer o rosto sujo enquanto lágrimas serpenteavam até caírem.

– Entendo. Ao que parece, alguns assaltantes invadiram a casa a noite, seu pai matou um deles e seu irmão defendeu Tessa de outro.

– Quem eram os ladrões?

– Bandidos baratos.

– Meu pai não seria morto por bandidos baratos. Ele era um pirata.

– Ele devia estar um pouco alterado. – Jenny avaliou por um instante a face daquele homem e o ignorou depois. Já ouvira pessoas demais mentindo e não toleraria isso hoje. Não hoje, não naquele momento.

Outros homens entraram na sala, afastaram Jenny e envolveram o corpo de Edward em um manto branco que logo se tingia de vermelho.

– Seu pai será enterrado... – Mas Jenny o interrompeu.

– Aqui em Londres? – Ele acenou confirmando.

Jenny deixou seu pai e os homens para trás, ganhou o salão principal e subiu as escadas olhando cômodo por cômodo até achar Tessa e Haythan.

– Meu pai não pode ser enterrado aqui.

– Jenny... – Tessa se ergueu e aproximou da menina que estava imunda.

– Meu pai era galês. Ele devia ser enterrado em sua terra natal. – Ela esbravejou, no fundo queria que ele fosse enterrado ao lado de sua mãe, sua verdadeira mãe.

– Ele gostaria de ficar perto da família não acha? – Tessa parou e a olhou a poucos centímetros uma das outra, o olhar de Janny era duro e impassível.

– Então é melhor jogá-lo ao mar, lá era a casa dele.

Jenny deu as costas para a mulher e se retirou, voltando a chorar enquanto descia as escadas. Retornou a sala onde encontrou o pirata assassinado, vislumbrou a poça de sangue no chão e tentou preservar todas as memórias de que tinha do pai. Ela se aproximou e sentou-se no solado ao lado da cadeira usada por seu pai tantas vezes antes. Porém a cadeira cedeu alguns centímetros quando a jovem se acomodara fazendo a menina quase cair. Ela praguejou qualquer coisa de maneira inaudível enquanto se recompunha, porém ao fitar o chão notou algo peculiar. Entre as tabuas de madeiras havia uma brecha mais espaçosa do que as outras por onde estava escorrendo o sangue. Uma festa larga o bastante para dedos adultos se infiltrarem através desta. Curiosa, Jenny empurrou mais a cadeira e notou que a falha se estendia por quase um metro. E não só isso, o contorno formava um quadrado simetricamente perfeito, esquecendo-se por um instante do luto e sendo tomada pela curiosidade típica de jovens ela colocou a mão na passagem e para sua surpresa, sua mão passão livre para um local onde devia ter terra e pedras. Kenway tateou ao redor, a procura de qualquer coisa até que encontrou uma espécie de corda, ela a agarrou bem e a puxou por fim. Algo similar a um poço se abriu diante dos seus olhos, a luz da janela apenas era capaz de mostrar uma escada vertical presa à parede do buraco e não o seu fim. A menina olhou a seu redor e constatou que estava completamente sozinha, ergueu-se até uma mesa no canto da parede e próxima a um candelabro coletou uma caixa de fósforos e uma vela solta, jogou os objetos pelo buraco e depois de verificar mais uma vez se estava sozinha se pôs a descer, puxando o alçapão para fechar-se ali, sozinha e no escuro. Era difícil palpitar sobre o tamanho daquele local, até que ela enfim alcançou o chão e acidentalmente pisou na vela que jogara um pouco antes, a fazendo cair no chão duro. Ainda sentada ela palpou ao seu redor a procura da caixa de fósforos, não demorou a encontrar e fazer uma pequena chama na vela. Ao se redor ela via vigas de madeira que sustentavam o solo da casa e entre elas um corredor íngreme que descia, ela caminhou com cautela com o intuito de evitar novas quedas, mas uma dúzia de passos foram o suficiente para leva-la até um espaço mais amplo. Um local semelhante a um buraco escavada na terra, fixa por madeiras e toras escoradas em suas “paredes”, estas que sustentava duas tochas, uma do lado leste outra no leste, ou assim ela acreditava ser. Não havia uma mínima chance da luza solar adentar o local ou mesmo uma brisa qualquer e por isso ela ascendeu ambas as tochas..

No centro daquele cômodo primitivo uma mesa solitária e robusta se apresentava, Jenny se aproximou e para seu espanto encontrou um mapa muito similar ao que seu pai tinha no “andar” superior, porém com anotações feitas a mão em vários pontos e um detalhamento melhor do continente africano. Jenny estava abismada, não imaginava o porquê de o seu pai manter aquilo escondido, ela abriu as gavetas da mesa e encontrou papéis e mais papeis todas com a letra de seu pai. Dando alguns passos para trás, a menina esbarrou em algo e se virando descobriu que estava errado sobre a mesa ser a única mobília do local. Um armário baixo sustentava uma pilha de livros, ela correu os olhos pelos títulos e tudo lhe pareceu um pouco sem sentido, coisa do tipo: primeira civilização, cruzadas, renascimento, Leonardo Da Vinci etc... Jenny se abaixou e abriu as portas do armário, foi quando a jovem encontrou um tipo de equipamento não muito pesado preso a uma lâmina não muito maior que sua mão, um par deste equipamento. Além disso, encontrou um utensílio de madeira, cilíndrico a qual vira antes pendurada as vestesdo pai, muitos anos atrás, a bordo do Gralha. Sustentando esses objetos esquisitos haviam roupas dobradas de cores escuras. Ela as pegou e as esticou, eram do seu pai sem dúvida. Em uma ultima olhada dentro do armário ela vislumbrou algo negro e sem demora a pegou. Um tecido pequeno e gasto exibia a caveira cruzada por um par de espadas, era a bandeira do seu pai, do Gralha. Um sorriso acompanhado de lágrimas tomaram seu rosto e de maneira terna ela acolheu aquele bandeira velha em seus braços. Kenway guardou a bandeira dentro das próprias vestes, voltou-se para mesa e dobrou o mapa até poder escondê-lo por debaixo das saias. Vislumbrou os papeis dentro das gavetas e leu a primeira linha de uma folha qualquer: Querida Caroline... Sem pensar duas vezes tomou aquilo para si e em uma leitura superficial concluiu que eram cartas do seu pai para a sua mãe, sua verdadeira mãe. Jenny pegou todos aqueles manuscritos e concluiu que não conseguiria esconder sob seu vestido. Ao fitar as vestes do seu pai ela pegou uma peça qualquer, algo que parecia ser feito de pele de animais e tratou de fazer uma trouxa com todos aqueles papeis. Por algum motivo aqueles itens que ela não sabia o que eram lhe chamavam a atenção e ponderou se devia leva-los consigo ou não. Pegou o menor e mais leve, o que era feito de madeira semelhante bambu, juntou aos papeis e fechou a bolsa improvisada que fizera.

Com um pouco de dificuldade, ela subiu os degraus de madeira carregando aquela pele cheia de papéis velhos, abriu lentamente o alçapão, apenas o suficiente para seus olhos confirmarem se a sala estava fazia. Com tudo tranquilo, ela saiu e querendo evitar qualquer questionamento fugiu pela janela, como um ladrão foge da polícia. Rumou para a casa de Ana, evitando esbarrar nas pessoas pela rua e ignorando aqueles que a xingavam. Bateu na porta da frente e logo uma empregada a abriu e devido sua aparência tenebrosa se assustou, mas Jenny simplesmente a ultrapassou sem pedir licença ou qualquer coisa do gênero, a menina visou as escadas e as ganhou em instantes através de passadas largas até o quarto de sua amiga. Quando encontrou Ana, vestida de preto e a fitando espantada se permitiu relaxar e respirar profundamente.

– Jenny! – Ela se aproximou da amiga suada e suja de sangue ainda. – O que houve com você? – Winsdor observou aquele bolo de peles ao lado da menina. – O que é isso?

– São coisas do meu pai. – Kenway desfez o laço no topo e deixou as pontas despencaram no chão com o movimento dos papéis se espalhando pelo quarto.

Ana se abaixou e pegou um pedaço pequeno com poucas palavras escrita a lendo logo em seguida.

“De todo o dinheiro que eu já tive,
Gastei todo em boa companhia.
E todo o mal que já causei,
Ai de mim! Não era para ninguém, mas pra mim.
E tudo que eu fiz pra tentar ser esperto e
Pra lembrar, agora não me lembro
Então, encha esta taça de despedida
Boa noite e foi muito bom estar com todos vocês”

A jovem Kenway gritou, gritou em desespero e de tristeza, as lágrimas tomaram seu rosto enquanto sua amiga vinha ao seu encontrou para abraça-la enquanto soluçava. Seu pai estava mesmo morto afinal e agora ela não tinha ninguém.


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Notas finais do capítulo

Esse "versinho" pertence do The Parting Glass, e achei por aí enquanto pesquisava sobre o Edward ;)



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