Ambrya escrita por Hina


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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– Ai.- Julian reclamou quando Catherine pressionou um algodão no machucado em sua bochecha.

– Como isso aconteceu, doutor Suez?- A moça perguntou, terminando o curativo.

– Ah... Eu encontrei uma mulher muito bonita, mas parece que ela não apreciou meus flertes.- Olhou discretamente para Dante, sentado em uma cadeira próxima a porta. O garoto estava de braços cruzados e olhava para o outro lado, ignorando-o ferrenhamente.

– Tudo bem, já terminei. Vai ficar um pouco roxo, mas não é nada demais.

– Obrigado, sargento.- Levantou-se.- Vamos, tenente.

Dante se ergueu sem falar nada e seguiu Julian para fora da sala.

– Vou querer sair hoje à noite.- O moreno falou depois de saírem.- Estou cansado de ficar preso nesse lugar.

Dante assentiu rigidamente e Julian ergueu as sobrancelhas. Esperava algum protesto.

– Então primeiro precisamos de roupas adequadas.

– Aonde pretende ir?- Perguntou relutante e desconfiado.

– Você já vai descobrir.

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Dante olhava desgostoso para o jeans escuro e justo, com os joelhos rasgados. Julian ainda tentara enfia-lo em uma camiseta colada, mas ele recusara imediatamente. Não poderia levar suas armas usando aquilo.

O próprio Suez vestia uma blusa clara com as mangas dobradas até os cotovelos e calças riscadas. Parecia se divertir muito com toda a situação. A pequena mancha roxa em sua bochecha não era muito visível, mas fazia o sangue do loiro subir à cabeça toda vez que a via. De raiva e, um pouco, vergonha.

Chegaram à tal boate que o moreno mencionara - e Dante nem queria saber como um morador de Ambryader conhecia tão bem as casas noturnas de Breazinder. Havia uma fila relativamente longa até a entrada, mas Julian passou reto por ela, dirigindo-se ao segurança perto da porta.

– Boa noite, Hugo.

– Senhor Suez.- O homem assentiu respeitosamente. Então viu Dante.- Ele está com o senhor?

– Sim, Elliot é meu acompanhante esta noite.

Passou um braço pelos ombros do menor e sorriu quando o viu cerrar os punhos com força, mas sem reclamar. Hugo olhou de um para o outro, confuso, depois deu de ombros e os deixou entrar.

Não levou mais de dez minutos no interior da boate para Dante detestar aquele lugar. Para começo de conversa, eram pessoas demais ocupando um espaço muito pequeno: e pior, por vontade própria, não por alguma imposição ou treinamento. E havia a batida alta que parecia estar vindo de todos os lados. Estava acostumado ao som de tiros, mas aquilo de alguma forma conseguia ser pior, mais irritante. Com certeza era o pior lugar possível para se proteger uma pessoa.

Haviam se dirigido a uma área mais reservada, que Julian chamara de área VIP, após Elliot quase derrubar uma garota que havia se aproximado demais do doutor. Ela fora embora quase chorando.

– Já chega, vamos sair daqui.- O tenente disse pouco depois.

Julian terminou de beber o copo que tinha em mãos e deu um sorriso provocante.

– Nem pensar, nós acabamos de chegar. Sei que para você isso é quase impossível, mas pelo menos tente relaxar e se divertir. Pense que é um tipo de missão.

Dante se levantou, irritado. Tiraria o outro de lá a força, se fosse preciso.

– Fala sério, Elliot, não há perigo nenhum. Eu conheço esse lugar e Kamil não, ele jamais me procuraria aqui. É mais seguro do que a maior parte de Breazinder, incluindo a unidade leste, se quer saber.

– Já disse para não me chamar assim.- Reclamou, mais por hábito do que por realmente achar que Julian o ouviria.- E se for para ficar, não quero que se afaste de mim nem por um instante.

O garoto não entendeu o porquê, mas assim que as palavras saíram de sua boca os olhos de Suez brilharam, de uma forma que lhe causou arrepios.

– Pode deixar, vou ficar bem perto, o tempo todo. Vem, vamos dançar.- Abandonou o copo sobre a mesa e puxou o loiro pela mão.

Naquela parte da boate havia bem menos pessoas, mas o suficiente para que Dante se sentisse desconfortável.

– Não há a mínima chance de eu fazer isso.- Falou com a voz fria.

– É mesmo? Pensei que precisasse disfarçar, se misturar ao ambiente. Assim vão descobrir que tem algo errado.- Sua voz era baixa e ele falava próximo ao ouvido do menor para que ele escutasse em meio à música. O tom também parecia mais rouco que o normal.

As mãos de Julian se fecharam em sua cintura e o puxaram para mais perto quando outra pessoa passou próxima a eles. Após um segundo, o loiro o empurrou de leve, soltando-se.

– Não me segure dessa forma.- Falou nervoso, o rosto vermelho. Sua voz tremeu e ele sentiu-se irritado consigo mesmo por isso. O que estava acontecendo com ele?

– Não tem problema, ninguém vai julgá-lo aqui.- Seus olhos verdes estavam mais brilhantes do que nunca e sua voz era firme, lenta.- Não precisa se conter, Elliot. Apenas aproveite.

Aproximou-se novamente, abraçando-o. As mãos do garoto seguraram seus braços com força, mas não o empurraram. Parecia confuso, desconfiado e hesitante, mas Julian via claramente o desejo em seus olhos escuros. Sua pele pálida estava corada e os lábios finos entreabertos. Era uma expressão adorável.

Encostou as testas e por alguns instantes apenas moveu os corpos juntos, em uma dança lenta. Então não pode mais esperar. Inclinou a cabeça e o beijou.

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“Não posso fazer isso.”- Pensou. Mas de alguma forma seu corpo descartou a censura. Sentia as mãos em sua cintura, apertando-o. Os lábios contra os seus de um jeito que nunca havia sentido antes. Era estranho, mas inebriante e perigosamente bom.

Então de novo. “Não posso fazer isso.” Com um gesto brusco, afastou-se do outro e levou uma mão aos lábios. Julian tropeçou alguns passos e depois parou, colocando as mãos nos bolsos e encarando-o, sério.

Nenhum dos dois falou nada.

Por fim o moreno desistiu e suspirou.

– Vou beber alguma coisa.

Caminhou até o balcão sem olhar para trás para ver se seria seguido. Era óbvio que o garoto viria atrás dele. Sentou-se em um dos bancos altos e Elliot sentou-se ao seu lado, sem encará-lo.

– Um sangue azul.- Pediu a bebida local, e deu uma olhadela rápida para Dante a seu lado, ainda com o rosto muito vermelho.- E um copo de água.

– E eu vou querer um Viagem à Lua completo.- Pediu uma voz em seu outro lado.

Julian virou-se e encontrou uma moça loira, de cabelos longos e olhos azuis. Tinha um sorriso travesso no rosto delicado. A ideia surgiu-lhe de imediato, uma luz acesa subitamente em sua cabeça. Com seu melhor sorriso aproximou-se do ouvido da moça.

Dante viu Julian sussurrando para uma mulher e estreitou os olhos. Rapidamente seu desapontamento foi substituído por desprezo. Não podia esperar algo diferente vindo de alguém como ele.

O barman trouxe as bebidas e Julian adiantou-se para segurar os copos. O moreno passou um copo de líquido transparente para a moça que dava irritantes risadinhas, pegou sua própria bebida azul e por fim depositou a restante, também transparente, em frente ao loiro.

– Ei, vamos nos divertir.- Disse a mulher com uma voz tão aguda que Elliot sentiu vontade de desacorda-la com um golpe bem aplicado, apenas para que calasse a boca.

Ela puxou Julian pela gola da camisa para o meio da multidão. Dante suspirou mentalmente, embora seu rosto permanecesse inexpressivo. Era claro que teria de segui-lo, de volta para aquele inferno de pessoas. Pegou o copo com água e virou-o em um único gole, para amenizar o calor.

O efeito foi imediato. Em vez de refresca-lo, o liquido desceu queimando por sua garganta e pelo peito, como se labaredas estivessem sendo acesas em seu interior. Ele engasgou e tentou cuspir aquela coisa, mas já havia engolido a maior parte. Ergueu a cabeça e viu ao longe os cabelos castanhos de Julian se perdendo na multidão, quase fora de vista.

– Droga...- Limpou a boca com o dorso da mão e se levantou para ir atrás dele. Porém, assim que seu peso estava sobre os próprios pés, sentiu-se tonto e precisou dar alguns passos em falso para não cair. Que raios estava acontecendo consigo? Seus companheiros da academia ririam dele se o vissem com um equilíbrio daqueles.

Ignorando a tontura, jogou-se entre as pessoas que dançavam incrivelmente próximas, empurrando-as com menos gentileza do que normalmente faria para obter passagem. Quando enfim voltou a ver Julian, ele e a mulher loira entravam em uma das várias cabines coladas às paredes, fechando a porta atrás de si.

– Droga.- Falou mais uma vez, encarando a porta fechada e xingando a mulher e, principalmente, Julian, várias vezes em sua mente.

Os sintomas estavam piorando. Agora sentia-se incrivelmente leve e perigosamente pouco consciente das coisas que aconteciam ao redor. Os sons pareciam mais altos, as luzes mais fortes, embaçando sua noção dos fatos. Sentiu algumas pessoas esbarrando em si e quase o derrubando no chão. Outras apareceram constantemente, tentando leva-lo de volta à pista de dança ou para outro daqueles quartos fechados.

Em certo momento ele desistiu e apoiou as costas na parede da boate, ao lado da porta por onde Julian havia entrado. Enterrou as mãos nos fios pálidos, segurando com força a cabeça.

– Ei cara... Você tá legal?

Um homem de moicano e roupas coloridas colocou a mão em seu ombro. Parecia preocupado. Mas bastou que Dante erguesse a cabeça e o encarasse, toda a raiva que sentia naquele momento queimando em seu olhar, para que o homem arregalasse os olhos e se afastasse rapidamente.

Não era a primeira vez na noite que algo do tipo acontecia. Já havia feito mais duas ou três mulheres que tentaram se aproximar saírem chorando e tinha quase certeza de que havia socado um cara também, embora a lembrança fosse confusa. Voltou a se apoiar na parede, concentrando-se no pensamento de todas as torturas que conhecia e que poderia treinar em Suez para fazê-lo pagar por aquilo.

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Assim que terminaram, a bela loira, que descobrira chamar-se Seraphina, vestiu-se e deixou o quarto. Melhor assim. Julian levou alguns momentos para se recuperar antes de colocar as roupas, arrumar o cabelo e abrir a porta.

Já era tarde e àquela altura a boate estava bem mais vazia, as pessoas que sobraram parecendo verdadeiramente alteradas. Estava na hora de ir embora, só precisava catar Dante primeiro. Surpreendera-se por o loiro tê-lo deixado em paz durante toda a noite, mas provavelmente fora por causa da Viagem à Lua que dera a ele secretamente no lugar da água. Esperava que ele tivesse se divertido.

Assim que deu o primeiro passo, congelou ao ver um garoto magro sentado no chão ao lado da porta.

– Elliot!- Correu até ele e segurou-o pelos ombros, o rosto franzido de ansiedade.

Os olhos do loiro estavam fechados e ele usava a parede de apoio, a cabeça pendendo nos ombros. Abriu lentamente as pálpebras, mas assim que viu Julian foi como se parte de sua energia voltasse e ele soltou-se.

– O que você tem na cabeça?- Reclamou, a voz mais lenta que o normal.

– Achei que seria bom para você parar de bancar o soldado perfeito por uma noite.- Ergueu as sobrancelhas, considerando se a raiva do outro indicava que ele estava bem.

– Eu quase quero que aquele cara consiga pegar você, exceto porque aí eu teria falhado e isso nunca vai acontecer.

Ergueu-se devagar e Julian estendeu a mão para ajudar, mas recebeu um tapa e acabou se afastando.

– Acho que agora deveríamos voltar.

– Ah, você acha? Que bom, que você acha.- Disse um pouco enrolado.

O loiro saiu cruzando com raiva pelas pessoas que ainda dançavam, mal dando a chance de que elas saíssem da frente. Julian se apressou em acompanha-lo, antes que algum inocente resolvesse cruzar o caminho do tenente. Ao menos esse novo Elliot era mais expressivo que o anterior.

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Catherine estava de plantão naquele dia e seu primeiro turno havia acabado de terminar. Estava pronta para ir ao dormitório descansar um pouco antes do próximo horário, quando um pensamento passou por sua mente.

Esse pensamento envolvia um rapaz de cabelos cor de trigo e olhos como buracos negros. Quando soubera que o famoso tenente Dante, filho do comandante general Ventura e agente condecorado da unidade especial, iria para sua unidade ela se sentira extremamente nervosa. Já ouvira histórias sobre o tenente, todas elas muito assustadoras e intimidantes.

Mas Dante não era assim. Certo, ele realmente era bastante assustador às vezes, mas apesar de toda sua rigidez e disciplina ele era gentil e a tratara com educação. E também, era muito mais bonito do que imaginara. Catherine sempre gostou mais de homens com rostos bonitos e corpos flexíveis do que aqueles musculosos de traços fortes.

E o tenente havia se machucado naquele dia, cumprindo seu dever de proteger o doutor Suez. Com o doutor Cat não simpatizara, tinha de admitir, embora não coubesse a ela julgá-lo. Também não tinha ilusões quanto ao fato de que Dante, ou Elliot, como gostava de chama-lo secretamente, jamais a veria como nada além da sargento da seção de saúde. Mesmo assim, talvez pudesse fazer uma última visita ao quarto que ele dividia com Suez, para checar se eles estavam bem e se os ferimentos estavam melhores. Valeria a pena, só para vê-lo mais uma vez.

Então Catherine passou direto pelo dormitório feminino da unidade e encaminhou-se para o extremo oposto. É claro que os dormitórios de sexos opostos ficariam o mais distante possível no quartel.

Chegando ao portão da ala masculina teve o primeiro indício de que algo estava errado. Não havia ninguém na guarda, nenhum plantão. Tentou se lembrar quem havia sido escalado para aquele dia, mas o nome não lhe veio à mente. Provavelmente era alguém que não levava o trabalho muito a sério e estava dormindo em vez de guardar seu posto.

Bem, para ela isso até que era conveniente. Tornaria as coisas mais fáceis, poderia entrar diretamente no alojamento masculino sem ter que explicar os motivos. Atravessou o portão e se viu em um longo corredor, com alguns corredores adjacentes logo no início e diversas portas mais ao final. Os corredores levavam aos alojamentos dos oficiais e as portas aos quartos coletivos, onde dormiam os soldados, cabos e sargentos.

Entrou no corredor destinado aos convidados da unidade, logo ao lado daquele reservado aos oficiais das mais altas patentes. Era a honra devida, destinar aos convidados o lugar mais próximo dos militares superiores.

Havia pouco menos de uma dezena de quartos no corredor, mais Cat sabia que apenas um estaria ocupado. Bateu à porta.

– Tenente Dante, doutor Suez. É a sargento Catherine, da divisão de saúde.

Aguardou. A princípio ninguém respondeu e a moça se perguntou se eles já teriam ido dormir. Então veio o som de passos muito suaves e de algo metálico. A porta se abriu e logo depois uma expressão de horror dominou o belo rosto da jovem.

Lá dentro havia vários homens, vestidos com roupas pretas que cobriam quase todo o corpo e portando armas brancas, principalmente espadas e adagas. No meio deles, um homem com aparência nobre, porte elegante e traços marcantes. Seus cabelos e olhos eram muito negros, chegando a aparentar um tom azulado, e os fios lisos e longos chegavam-lhe até os ombros. Ele vestia um terno de aparência cara e seu rosto era tranquilo.

– Não era você que esperávamos.- O homem falou. Sua voz era muito bonita, mas a forma natural com que falava em uma situação daquelas provocou arrepios em Catherine. Tentou correr, mas os homens vestidos de preto a seguraram.- Pelo jeito o Julian continua com os mesmos maus costumes de convidar mulheres para seu quarto a noite. Acho que terei de ensinar uma lição a ele.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal! Espero que tenham gostado e, como sempre, comentários, elogios, críticas, dúvidas e sugestões serão muito bem-vindos!



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