As Crônicas dos Três Reinos: Ciandail escrita por JojoKaestle


Capítulo 9
Noite prateada




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“O chuto na barriga e sinto a sua carne afundar debaixo da pressão da minha bota. Quando penso que está vencido se levanta e antes que consiga reagir me derruba e encosta uma faca em meu pescoço. Sinto o aço frio em minha garganta e sorrio. Forço a cabeça para cima para olhá-lo, nossos rostos separados pela distância da grossura de uma de suas adagas. Quando vê o sangue se afasta com a mesma expressão de todos os dias. É pena e é também o único lembrete de que costumava odiá-lo.”


A neve queimava as suas mãos enquanto Lyvlin tentava achar uma posição melhor. Cada centímetro de seu corpo esperava o sinal para agir, para levantar-se e correr ainda que não soubesse ao certo para onde. Raoul se acocorava ao seu lado sem emitir som algum, como um cão de caça que espera o comando para atacar. Mantinha uma mão no braço da garota para impedir que fugisse, guardando com a outra o mapa no pesado casaco de peles. Botas esmagavam a neve não muito distante do esconderijo e Lyvlin ergueu a cabeça para os telhados, nada. Com um último aperto em seu braço Raoul se afastou, o dedo indicador passando dela para o lugar onde estava sentada e a garota anuiu, ficaria ali até que o perigo passasse ou ao menos pretendia fazê-lo. Pensou ouvir o suave som de tecido ondulando com o dançar dos ventos e de repente Raoul estava de pé, as mãos desaparecendo pelo tempo que uma víbora dá o bote e depois lâminas rasgavam o ar. Estava voltado para a entrada da viela, deixando a parte dos fundos desprotegida, o que os nirnailas usaram bem. O primeiro deles saltou do balcão de uma hospedaria cercando a dupla, o rapaz lhe virava as costas e encarava mais dois que se aproximavam fazendo Lyvlin fechar a mão sadia sobre a espada e usar o apoio de uma parede para se erguer. “Casimir uma ova” pensou rangendo os dentes.

– Raoul – começou a dizer, mas então uma muralha de luz prateada explodiu entre ela e o nirnaila. A criatura hesitou e tentou dar meia volta, mas a energia apenas se expandiu e a transpassou por completo. Onde um segundo antes estivera seu potencial assassino apenas alguns fiapos de roupa negra jaziam na neve. A muralha de luz cresceu em volta de Lyvlin e Raoul, separando-os dos outros dois nirnailas que estiveram investindo contra o rapaz. A garota se retraiu e encarou com olhos arregalados a barreira que os protegia. Quando olhava melhor parecia ser constituída de uma névoa prateada, parecida o bastante com vapor para ser transparente e sólida o bastante para erguer-se diante deles como se fosse constituída de pedras. E matava, esse era o ponto principal que fez com que fosse tomada pelo medo. Não conseguia compreender o que se materializava diante de si. – Raoul?

Mas o jovem nem sequer a ouvia. Olhava para os nirnailas que, conscientes do que acontecia, tentavam correr para fora da viela, fazendo com que feixes prateados se desprendessem da barreira luminosa e os alcançassem quase em sequência.

– Sem exteriorizações! – gritou Raoul contra o escuro, em resposta os feixes de luz prateada apenas se amontoaram em uma grande onda e atingiram o último nirnaila que sobrara em cheio, por final se dissiparam em uma nuvem luminosa que clareou todo o quarteirão – CASIMIR!

Lyvlin olhou ao redor, mas agora a viela era ocupada apenas por ela e o rapaz que estava claramente delirando. Arrastou Arcturus atrás de si e começou a se afastar, ignorando ao máximo a dor que passado o momento de luta voltava a corroê-la.

– Eu não faria isso. – disse uma voz ao seu lado – Não chegaria ao final da viela antes de desfalecer.

Girou o corpo em direção da voz, mas novamente encarava as sombras.

– Mostre-se!- exigiu, erguendo Arcturus. A espada pesava de um modo estranho em sua mão.

– Não há necessidade de estender a sua magia para os aliados em uma batalha Casimir. – falou Raoul por cima do ombro recolhendo as lâminas que jogara – Já foi dito muitas vezes.

– E o ignorarei quantas vezes for preciso. – disse a voz acompanhada pela figura de um homem que saia das sombras – Porque simplesmente estragaria tudo. Ou acha que sua postura e olhares não entregariam a minha localização para nossos oponentes? Eu sei a resposta. Está enferrujado Raoul, todos estes meses entre livros e poções o deixaram descuidado. Se estas criaturas não fossem tão lentas seriam capazes de esquivar das facas e fazê-las passar a meio metro de distância. Acredite, foi melhor terminar logo com tudo o mais rápido possível.

– Caso demorássemos o tumulto atrairia Neera, mas mesmo ela não representaria um problema para nós.

– Não representaria um problema para mim. – concordou, erguendo os olhos para o céu noturno como se esperasse que a adversária ainda aparecesse. Ao longe um cachorro latia e uma coruja fez um voo rasante sobre as suas cabeças, nem isto nem o barulho abafado do tumulto parecia afetá-lo. Voltou os olhos para o companheiro. – Mas se viesse a mataria e jamais descobriríamos o que trama. Dei-lhe um aviso bastante claro e ela foi inteligente o bastante para compreender.

– Isso não justifica passar por cima de ordens expressas. – censurou Raoul. Lyvlin estava prestes a pedir uma explicação quando o recém-chegado estendeu a mão em sua direção e a ergueu pelo braço que segurava Arcturus.

– E o que é isso? - perguntou calmamente, como se a garota fosse um acessório de péssimo gosto que o rapaz decidira ostentar.

– Apenas uma garota da cidade que estava no lugar errado na hora errada. – disse Raoul só agora percebendo que Lyvlin continuava ali – Devemos deixá-la partir para casa.

“Não tenho casa” quase falou, mas sua curiosidade desabrochara. Desvencilhou-se de Casimir e ignorou o mal-estar que o esforço provocara. Por debaixo da luz tênue da lua e das construções vizinhas pôde o homem era alto, a pele alva e os modos frios contrastavam com Raoul ao seu lado como se fossem constituídos de essências totalmente diferentes. O cabelo negro estava preso em um rabo de cavalo revelando um rosto de semblante sério e que mostrava pouca simpatia, os lábios finos não pareciam ser tocados por um sorriso há tempos. Lyvlin percebeu que estava diante de um homem que odiaria se passasse tempo suficiente por perto. Ainda assim suas habilidades a interessavam mais que a antipatia imediata que sentira.

– Como consegue fazer aquela luz prateada e ficar invisível?

O nariz reto de Casimir se torceu de forma semelhante que se torceria se estivessem esfregando peixe podre debaixo dele. Olhou para ela de uma forma que denunciava que a mostraria exatamente como queima pessoas com sua magia.

– Casimir possui uma série de... Talentos. – interveio Raoul – E é o que chamamos de ilusionista. Ele esteve diante dos nossos olhos durante todo o tempo, apenas conseguiu fazer com que não os percebêssemos.

– Parece um truque barato. – retrucou a garota encarando Casimir desafiadoramente. Algo no olhar dele mudou e Lyvlin sentiu como se a analisasse de cima a baixo e a fez pensar que seus talentos incluíam farejar o que as pessoas tentavam esconder. E foi então que soube que estava melhor fugindo do nirnaila em meio a uma multidão que se matava do que ali cercada por aqueles dois desconhecidos. Não era para os homens do sul estarem aqui. As palavras do nirnaila ricocheteavam em sua cabeça exatamente quando Casimir tirou os olhos dela. Tentou ver em sua postura qualquer sinal de que desconfiava de quem ela era, mas o homem parecia ter acabado de colocar de lado um livro excepcionalmente entediante.

– Precisamos partir. – disse Raoul e sorriu para Lyvlin – Acha que consegue encontrar a sua família no meio de toda essa confusão?

– Ela não pode partir. – falou Casimir simplesmente antes que pudesse responder.

– Bem, eu realmente pediria para que você curasse ao menos as lesões mais profundas antes que fôssemos, mas nunca imaginaria vê-lo se voluntariar. – Raoul aproximou-se de Lyvlin para apoiá-la – Quem acreditará ao ouvir que o grande Casimir ainda é capaz de atos de bondade?

– Afaste-se.

A postura do rapaz tornou-se rígida como se a palavra o tivesse estapeado.

– Casimir ela é uma criança, certamente não há motivos para...

– Eu falei para se afastar – por um momento parecia que o ar ao redor da dupla se tornava mais pesado, até que feixes tênues prateados começaram a flutuar em círculo, a luz refletia nos olhos de Casimir fazendo com que também parecessem constituídos de pura prata. Raoul empurrou Lyvlin para trás de si.

– Como seu superior nesta missão eu ordeno que pare.

Os feixes se agitaram em fúria, mas o homem permaneceu contido.

– E eu como seu subordinado digo que está escondendo atrás de suas costas o alvo da nossa busca, senhor. Minhas palavras são verdadeiras, não são Lyvlin Tessart?

– O duvido, mas tocam a verdade no que diz respeito ao meu nome. - respondeu a garota com toda a dignidade que conseguiu reunir, sentia frio e irritação. Se fossem matá-la desejou que não perdessem tempo com conversas inúteis. – Mas de sua busca nada sei, acho que esse seria o momento ideal para me pôr a par dela se pretendem me fazer mais perguntas.

– Fala com muita firmeza para alguém que está na sua posição. Espero que tenha muita dela guardada para o que virá.

– Não recebemos ordens para ofendê-la. – Raoul tomava as rédeas da situação novamente – Casimir a não ser que esteja disposto a curá-la -

– Não serei curada por ele. – sibilou Lyvlin fulminando-o com os olhos – Seria um gasto de energia, se pretendem me matar logo depois.

– Não vamos matá-la. – Raoul parecia escandalizado com a sugestão.

– Não vamos matá-la. – reforçou Casimir, mais frustrado que tocado pelo que falara – Certamente há lugares melhores para darmos continuidade a esta formidável discussão.

– Certamente. Mas que bagunça esta cidade, e justamente hoje... – por um momento Raoul perdeu-se em pensamentos que pareciam intrigá-lo - Espero que o nosso lugar não tenha sido queimado ou saqueado ou coisa pior.

– Não foi. – afirmou Casimir com simplicidade determinada – E o norte nunca foi conhecido por sua civilidade. Agora imagino que queira reencontrar seu avô. – as últimas palavras foram dirigidas a Lyvlin que estivera ocupada ponderando se alcançaria a esquina antes que a magia de Casimir a tocasse. A menção ao seu avô a arrancou do devaneio e fez com que uma sensação fria se instalasse em sua barriga.

– Gilbert?

– Se é este o nome que ele gosta de usar agora, sim.

– Mas ele-

Raoul intensificou o apoio quando a vertigem a atingiu. Casimir resmungou reprovando a sua fraqueza e virou-se para mostrar o caminho, as passadas longas criando rapidamente distância entre ele e a dupla.

– É um bom rapaz. – disse Raoul, parecendo distante enquanto observava a figura alta afastar-se – E normalmente comporta-se melhor, mas isso você perceberá com o tempo. E imagino que queira agradecê-lo depois.

– Por conseguir me ameaçar de três maneiras diferentes?

– Por salvar Gilbert.


A caminhada curta expulsou todo o ar de seus pulmões nos primeiros passos, mas recusou-se a parecer fraca. O fato de não a matarem agora não significava que estaria segura e disso ela bem sabia. Por isso sempre que a dor parecia insuportável e o desmaio certo fechava a mão esquerda sob o punho da espada e mordia os lábios para distrair-se, atenta aos barulhos que os cercavam. Os gritos haviam cessado, indicando que os guardas da cidade ou os homens de lorde Ruthven que governava a região com punho de ferro conseguiram conter a multidão revoltosa e organizar as pessoas para combater o incêndio. Olhando para o céu azul-escuro o clarão do fogo parecia perder a sua força, mas ainda assim com o raiar do dia um terço de Perth estaria reduzido a brasas, fumaça e madeira enegrecida. Com o amanhecer os homens derrubariam as casas que conseguiram manter-se de pé diante do fogo e cujos esqueletos de madeira receberam danos demais para continuarem abrigando famílias. Ninguém viveria sob um teto que a qualquer momento poderia desabar sobre sua cabeça e era exatamente assim que a garota se sentia. Como se todo o firmamento, junto com a lua, estrelas e cometas pudesse desprender-se e esmagá-la debaixo de si. O braço de Raoul a apoiava e não tinha escolha, talvez uma vez que estivesse com Gilbert o avô pensasse em uma maneira para tirá-los daquela situação. Casimir adentrou em uma das casas que como todas as demais daquela rua parecia espremer-se entre as vizinhas, deveria ser velha e apodrecida e de repente o receio de Raoul fez sentindo. Se apenas uma pequena chama tivesse tocado aquela construção não demoraria muito tempo para que ruísse. E ainda assim através das pequenas janelas revestidas com couro fino era possível ver uma fonte de luz, os tênues feixes alcançavam a neve aos seus pés e a fez desejar que fosse uma lareira.

Não era. Uma única vela tremeluzia sobre a mesa que junto com umas poucas cadeiras era o único móvel que preenchia a sala. O que talvez não fosse de todo o mal, porque era tão pequena que uma lareira ocuparia metade de seu espaço. Casimir puxou as luvas negras de seus dedos e as atirou ao lado de um homem que parecia cochilar com o rosto enterrado sobre os braços cruzados sobre a mesa.

– A encontramos. – anunciou.

O homem grisalho levantou a cabeça de sobressalto e imediatamente seus olhos foram dele para a porta. Lyvlin reconheceu Gilbert e soltou um pequeno grito de alegria, tentou correr até ele, mas toda a sala começou a escurecer com o esforço.

– Casimir, por favor. – era Raoul quem a impedia de cair, mas antes que o outro respondesse Gilbert o empurrou para o lado e segurou firme a sua neta.

– O que aconteceu? - sua pergunta era voltada para os dois homens, mas era para a garota que olhava – Seu rosto está coberto por sangue, como deixaram isso acontecer?

- Está tudo bem Gilbert – mentiu Lyvlin, dando tapinhas em seu braço. A fraqueza as transformou em um leve afago.

– A criança está bem. – disse Raoul se erguendo. Era, como Casimir, mais alto que Gilbert em pelo menos duas cabeças e ainda assim parecia murchar na presença do velho. A Lyvlin não escapou o detalhe de que ao cair puxara uma das suas pequenas adagas – Os nirnailas a encontraram, mas conseguimos intervir a tempo e nenhum maior dano foi feito. – guardou a lâmina e aproximou-se – Não pode intervir, estava combinado.

– Estava combinado. – concordou o avô – Mas a situação mudou.

– Mudou, e como haveria de não mudar? Os anos passam, alianças são feitas, amigos se voltam contra amigos e guerras são travadas. Em um ano temos colheita farta, no outro enfrentamos pragas e no seguinte a seca açoita as nossas plantações. Os meninos que brincam na rua são os homens que defenderão a mesma terra sobre a qual se rolam hoje daqui a algumas primaveras, crescerão com o mudar das estações e a vida há de transformá-los. Fala que a situação mudou e é bem verdade, mas a única coisa que não pode se levantar contra um homem é uma promessa feita. Nossos juramentos devem conservar a sua essência e compromisso, mesmo, e talvez especialmente quando nos encontramos diante de grandes mudanças.

– Não gaste a sua lábia conosco, Língua de prata. – cortou Gilbert, usando as últimas palavras como insulto – Ah, sim. Eu sei quem você é mesmo com a pouca idade que carrega nas costas. Dizem que é capaz de evitar uma batalha apenas com o dom de suas palavras, está aí algo que jamais vi e que desperta a minha curiosidade.

– Como me chamam pelas minhas costas não é do meu interesse. – olhou para Lyvlin largada em uma das cadeiras e sua testa se enrugou. Dirigiu suas palavras seguintes a Casimir - Proporcione um alívio às dores dela e a leve para descansar no aposento ao lado, claramente esta conversa apenas a desgastará mais.

– Se pensa que eu o deixarei tocar em minha –

– Ela não é a sua neta. – Casimir estivera encostado na parede mais distante do grupo durante toda a conversa e parecia farto de tudo aquilo – E também não a levarei daqui. Não tenho dúvidas que a verdade não lhe fará bem, mas não há pessoa mais interessada nesta conversa do que ela. Se o desespero for grande demais e ela quebrar-se diante de algo simplório assim não precisaremos nos preocupar que seja forte o suficiente para causar problemas.

– Vocês prometeram... – começou Gilbert, evitando o olhar da garota – Vocês prometeram que me deixariam contar.

– Promessas são a sua maneira de garantir que as coisas sejam cumpridas. – disse Casimir indicando Raoul com a cabeça – Não a minha.

– Gilbert do que ele está falando? - a confusão nos olhos do velho a cortou fundo.

Vendo que nenhum dos outros tomava a palavra Raoul pousou as mãos nos ombros da garota.

– O homem que a criou não partilha laços de sangue com você Lyvlin, mas tenho certeza de que o seu amor não foi afetado.

– Isso se ele é capaz de amar uma mortal.

– Eu... Eu a amo como se fosse minha filha. – Gilbert apressou-se em se abaixar em frente à garota – A criei com toda a minha dedicação e afeição.

– Você a criou servindo-lhe mentiras em todas as refeições, talvez devêssemos aceitar que quebrar promessas e dizer inverdades são componentes de sua natureza?

– Não iria querer ver a minha verdadeira forma, linair, porque depois imploraria por uma morte rápida.

– Vamos testá-lo? – ainda agora a postura do homem era contida, o que contrastava com os feixes luminosos que dançavam ao redor de seus dedos com uma intensidade cada vez maior.

– NÃO. – Lyvlin agarrou-se ao velho e lágrimas limpavam o sangue de seu rosto – Por favor, por favor pare. Eu quero ouvir a verdade de sua boca. – segurou o rosto do desconhecido que a olhava com os olhos de seu avô com os dedos trêmulos – Eles estão mentindo, vamos para casa Gilbert, vamos para casa e preparar lenha para a nossa lareira, vamos cuidar para que o feno dos cavalos não fique molhado, temos que concertar as janelas e o telhado também. Por favor, diga que é mentira.

– Não posso. – deixou as mãos dela caírem em seu colo e levantou-se – Muito bem, não a colocarei em risco para colocá-los em seus devidos lugares. Ela partirá com vocês e não causará problemas.

– O nosso intuito é apenas levá-la para Ciandail. – disse Raoul – Nenhuma das nossas ordens o proibiu de se juntar a nós. Seria uma honra tê-lo ao nosso lado durante a jornada.

– Não gaste seu mel comigo. – resmungou Gilbert – E jurei que meus pés jamais tocarão o solo fértil de Ciandail novamente.

– Tiadelik o perdoaria.

Os lábios de Gilbert se curvaram, mas o sorriso carregava tristeza.

– Vocês jamais compreenderão, o amor que desabrocha entre vocês possui a mesma intensidade do amor que os imortais sentem, mas por serem moldadas por milhares de anos as nossas desavenças duram eras para serem esquecidas. Não, eu nunca poderei voltar para casa.

– Então apenas a deixará para trás e se esconderá. Isso realmente resolverá tudo. – falou Casimir.

– Não resolverá, mas é o melhor que posso fazer agora. – Gilbert olhou para Lyvlin – Adeus, minha querida.

“Não me deixe” tentou dizer, mas as palavras ficaram amarradas em sua garganta. Quando viu que passava pela porta sem mais nenhuma palavra, nenhuma explicação ou desculpas a agonia se transformou em raiva. Tentou segui-lo, mas na primeira passada caiu violentamente contra o chão, sentiu o gosto férreo de sangue em sua boca.

– O QUE VOCÊ É? - gritou contra a porta fechada, o coração prestes a explodir de dor em seu peito – QUAL O GRANDE MAL QUE FIZ PARA QUE ME DEIXASSE PARA TRÁS?

Ouviu passos atrás de si e braços a levantaram do chão.

– Lyvlin, ele é uma das crias de Tiadelik. – disse Raoul – Isone, o mais forte e temido entre todas as criaturas –

– EU O ODEIO! – urrou sentindo lágrimas queimarem seus olhos. Tremia e a ira preenchia todo o seu corpo – EU O ODEIO – repetiu cuspindo as palavras. O barulho ao seu redor tornou-se insuportável e quando abriu os olhos viu que a mesa jazia tombada contra a parede. Raoul não se encontrava segurando-a, mas inconsciente do outro lado do aposento. Os cachos outrora dourados estavam manchados de sangue. As cadeiras zumbiam como um enxame furioso e Lyvlin arregalou os olhos e sentiu o medo a abraçar com força imobilizando todos os seus músculos.

Foi neste momento que Casimir a alcançou.

– Eu – começou a dizer, mas o rapaz jogou-se por cima dela e antes que conseguisse fazer qualquer movimento pousou a mão sobre a sua testa como se fosse checar se estava com febre. Sentiu a sua respiração quente contra o seu rosto e mechas negras roçavam as suas bochechas.

E então o mundo explodiu em um clarão de luz prateada.



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Notas finais do capítulo

So, neste ponto preciso saber como os novos personagens são aos olhos de vocês e são odiáveis ou adoráveis ou uma mistura dos dois. E sobre os recortes do começo de todos os capítulos, ainda nenhuma idéia de quem seja o autor ou autora deles? Às vezes acho que posso estar entregando demais...



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