45% escrita por SobPoesia


Capítulo 12
Easy Come, Easy Go




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—Achei que você fosse morrer, seu idiota. – saí do seu abraço, me sentando ao seu lado.

—Eu também achei que fosse morrer, vi a luz. – Evans sorriu enquanto dizia aquelas palavras em um tom sarcástico, então começou a tentar se sentar na cama – O que aconteceu enquanto estava fora?

—Essa vou deixar você descobrir sozinho, ok? Então me espere que vou buscar alguém especial. – segurei sua mão.

—Claro que sim. – seu aberto sorriso me entristeceu.

Aquela felicidade sairia de seu rosto tão rapidamente quanto havia chegado ao mesmo. Saber da morte, do futuro término e de como eu não estava aguentando tudo iria acabar com ele.

Segui para o quarto de Julieta, esperando que ela ainda estivesse viva. Seria tarde demais?

Bati na porta e ela demorou para ser aberta, demorou um tempo maçante, o tempo para que ela em sua cadeira de rodas pudesse chegar até a porta e abrir a mesma com um sorriso no rosto e um pijama de flanela que me alegrou.

—Ele acordou. – suspirei, em alivio.

—Posso vê-lo? – ela mal se conteve em sua cadeira.

—Claro que sim, passe o dia com ele.

Caminhamos até o quarto. Peguei as minhas roupas e entrei no banheiro, tomei um rápido banho e me vesti. Não queria ficar ali, os atrapalhando. Fui então para a cafeteria com a minha mochila cheia e pesada.

Era estranho estar sozinha. Ninguém se sentou a minha mesa, então fiquei comendo, sentada, sozinha. Sem conversar com ninguém, acabei de comer extremamente rápido e resolvi subir ao telhado e fumar um pouco antes das aulas começarem.

Peguei o elevador e fiquei observando as luzes se ascendendo até que o quarto andar apagasse todos os botões e abrisse as portas. Lá estava 45%, sentada no parapeito, observando o parque.

—Não há lugares bons para se esconder nesse hospital. – sem que eu falasse uma palavra ela me ouviu chegar e me identificou.

—Honestamente não sei se há, nunca quis me esconder. – sentei-me ao seu lado.

—Então estou te contando, não há lugares para se esconder nesse hospital. – Bruni começou a pegar todas as suas coisas do chão.

Sabia que ela queria ir embora, mas a sua presença ainda me fazia bem, me acalmava.

—Interessante. – peguei meus cigarros na mochila e acendi um, tragando profundamente.

—Vai ficar com raiva de mim para sempre? – ela se levantou, colocando sua mochila nas costas, mas não parecia querer ir.

—Acho que devíamos conversar antes que você assuma esse tipo de coisa. Vai querer conversar sobre isso? - não a observei, continuei concentrada em meu cigarro.

—Não sei... – ela se sentou novamente ao meu lado.

—Você poderia começar me explicando porque resolveu se transformar em uma criança egoísta.

—Violet, você não entende. Não tenho problemas com estar cuidando do seu melhor amigo, ele estava quase morrendo! Eu não sei o que estava pensando, acho que perder uma das minhas amigas e estar quase perdendo mais um... Queria você cuidando de mim, me abraçando e me impedindo de chorar. – ela segurou sua mochila, a abraçando.

Pensei. As suas reclamações não eram exorbitantes, eram só razoáveis. Ela estava me pedindo algo completamente aceitável, mas que não poderia provir.

—Eu não sou essa pessoa. Não porque estava cuidando de Evans, mas porque simplesmente não sou. Não vou segurar sua mão ou te abraçar quando algo ruim acontecer, mas caso você realmente precise de mim, sabe que estarei lá. – virei-me, olhando para ela.

—Eu sei disso. – ela abaixou a cabeça.

—Então porque esperou algo diferente do que conhece ser a realidade? – me irritei.

—Porque eu queria que essa fosse a realidade, que você fosse diferente. – seus olhos se encheram de água e isso me fuzilou.

—Então você não me quer, não quer isso? – apaguei o cigarro, queria me concentrar apenas nela.

Aquele seria o nosso fim?

—Não sei o que quero.

Bruni fez que ia se levantar, então em um ato desesperado segurei ambas suas mãos. Nunca tinha passado por aquilo, não sabia como sobreviver a uma situação dessas.

—Você quer ou não? – juntei as sobrancelhas.

—Eu não quero, Violet. – ela soltou suas mãos das minhas, uma de cada vez, indo embora em seguida.

Assim que chegou a porta, seus olhos encontraram os meus e ela seguiu seu caminho.

Fui dominada por uma dor no peito que não havia sentido antes. Era diferente de quando sufocava por meus falhos pulmões. A dor grave parecia um buraco crescente em meu peito.

Fumei mais um cigarro e a dor parecia ter sido preenchida por gases tóxicos e nicotina.

Desci para as salas de aula. Sentei-me em minha cadeira comum e passei por mais um dia maçante de aula, sem reclamou de ficar sozinha ou de estar longe de Evans, havia algo além daquilo me incomodando.

Toda a briga com 45% e aquela historia do loiro estar e não estar bem havia acabado comigo, não apenas psicologicamente, me deixando cansada, mas me fazendo sentir fisicamente mal. O problema é que eu só comecei a notar isso quando queria ir embora das aulas para o almoço.

Meu corpo pesou assim que levantei da cadeira, me fazendo cair automaticamente, com um barulho estrondoso. Assim que atingi o chão alguns alunos que ainda estavam na sala pararam para me notar, o que incluía Bruni.

Sentei-me a mesa, tonta. Peguei minhas coisas e segurei meu peito. Não sentia falta de ar como normalmente, apenas uma insana sensação de que ia desmaiar.

45% caminhou até mim, preocupada. Tomou as coisas de minha mão e me olhou com seus defeituosos olhos preocupados.

—Você está bem?

—Eu não me sinto muito...

A sala começou a girar e a única coisa que se mantinha parada era sua mão segurando a minha. Meu corpo tombou para frente, sem que eu pudesse o controlar. Então uma câimbra horrível tomou conta de todos os meus membros.

Senti a famosa pontada aguda em meus pulmões.

Assim que notei, já estava de joelhos no chão. Bruni então me abraçou e gritou para que chamassem alguém, e esse foi o ultimo som que ouvi antes de toda a sala de aula ficar preta e a minha consciência ir embora.


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