''E, ao invés de me matar, esquartejar, torturar ou qualquer coisa do tipo, ele me beijou.''

Poderiam me dizer que o mundo estava acabando, eu acreditaria. Que Mabel arranjou um namorado, tudo bem. Que Tivô Stan ficou trilionário, que o autor dos diários tinha aparecido, que o Robbie e a Wendy voltaram a todo vapor. Tudo bem, eu acreditaria fácil, fácil. Mas nunca em mil anos me passaria pela mente que, nesse momento Bill Cipher poderia estar me beijando.

Cadê a lógica nisso? Um minuto atrás estávamos quase nos matando e agora estamos nos abraçando com a língua. Como assim? O loiro estava com as mãos em minha cabeça, os olhos fechados. E eu estava retribuindo o beijou. EU ESTAVA GOSTANDO! Como assim? Alguém me dá um tiro na cara.

Assim que nos separamos, infelizmente, ele me olhou assustado.

—O-olha, isso não poderia ter acontecido. E-eu... Me desculpe! –Bill falou alarmado e saiu andando rápido.

—Ei, ei, espera! –gritei e fui atrás dele, mas ele era rápido demais.

Quando menos percebi, estávamos fora da cabana, ele basicamente correndo, e eu, trouxa, correndo atrás. Então ele desapareceu. Assim, do nada. Bem, não necessariamente desapareceu, apenas andou numa velocidade muito sobre-humana. Deixando um rastro de árvores destruídas a e animais mortos na floresta. Parece que Bill era destrutivo até quando não queria.

Como não pude fazer mais nada, apenas voltei para dentro da cabana. Vi Stan assistindo um programa aleatório e percebi que eu ainda não havia contado a ele que eu iria passar o ano em Gravity Falls.

—Tivô Stan? –chamei-o meio receoso com sua reação.

—O que é, garoto? –respondeu indiferente com os olhos ainda na televisão.

—Sabe, meus pais me ligaram hoje e... –comecei, mas fui interrompido.

—Já to percebendo que não é boa coisa, já que Margaret ligou para cá. Desembucha logo. –Stan finalmente prestou atenção em mim com uma cara de quem estava prendendo o riso.

—É, parece que você vai ter que aturar eu e a Mabel até o final do verão. –falei de uma vez ao mesmo tempo em que Mabel aparecia, completa e aleatoriamente.

—Surpresa! –ela falou rindo um pouco.

A cara de Stan foi engraçada e assustadora ao mesmo tempo, era como se aquela tia que você odeia pra caramba tivesse acabado de se mudar para bem longe de você. Você fica mais ou menos triste, mas uns 90% de você está comemorando até o último fio de cabelo. Bem, com o Stan foi ao contrário.

—Não acredito! Eu não mereço isso. Droga, lá se vai minha viagem para a Rússia em outubro! Argh, de todos os lugares do mundo, porque logo aqui? Eles podiam ir com a Mareena para a Califórnia, sei lá. Teriam uma vida muito feliz lá. Não teriam crianças? –ele nos perguntou com um olhar, no mínimo, insano.

Balançamos a cabeça e ele continuou resmungando para si mesmo e praguejando nossos pais. Ótimo, meu dia está indo às mil maravilhas. Primeiro descubro que passarei o resto do ano em Gravity Falls, depois beijo Bill Cipher e por fim percebo claramente que eu e Mabel não passamos de um incômodo na vida do Stan.

Maravilhoso.

Subi de volta para o meu quarto e olhei para a metade em que Bill ocupava que no momento estava vazia. Por que ele havia me beijado? Será que ele gosta de mim ou algo do tipo? E porque eu havia retribuído? Será que eu gostava dele? Não, não, impossível.

Eu gosto da Wendy. Da Wendy. Certo?

Talvez.

Será que eu gosto mesmo da Wendy? Quero dizer, faz um bom tempo que eu não converso realmente com ela e só a vejo em momentos extremamente aleatórios na loja. Eu gosto mesmo dela ou é só uma desculpa para ter alguém para gostar? A essa altura eu já não sei mais.

E quanto a Bill, eu não faço ideia do pensar. Minha cabeça está uma confusão de sentimentos e outras coisas embaralhadas. Eu devia contar para alguém? Não lembro em momento nenhum ele falando que não podia.

''-Mas não tinha porque falar, Dipper, foi só um beijo!'' - gritou o lado estranho da minha consciência.

Foi só um beijo. Apenas, só isso, nada mais.

Eu tenho que tirar da minha cabeça esses pensamentos, sentimentos e confusões, porque só está me dando dor de cabeça. Deitei-me em minha cama e, sem querer peguei no sono.

''Ouvi uma risada não conhecida encher toda a sala. Onde eu estava? Tentei me mexer, mas não consegui e logo percebi que eu estava preso em um porão ou algo do tipo. Meus pulsos estavam em carne viva assim como meus tornozelos. Na verdade, meu corpo todo doía.

—Dipper... Dipper, eu n-não queria... Eu só... Me desculpe! –Vi Bill a minha frente, ainda em sua forma humana. E ele estava... Chorando? Sim, Bill estava chorando. Pela primeira vez eu estava vendo Bill Cipher chorando. Ele tentou se aproximar.

—Fique longe de mim, seu monstro! –me ouvi gritando, mas senti que aquelas palavras não eram minhas e logo ele se afastou assustado –Você foi quem causou tudo isso! Você destruiu tudo. Eu te odeio.

—Mas... Foi ele Dipper, a culpa de tudo foi dele. –ele tentou se explicar, mas eu não dei ouvidos.

—Ah, e você como o cãozinho de estimação que é seguiu tudo cegamente não é? Não me venha com essa história, Cipher.

—Eu não tinha escolha, Pines! Ele me obrigou! –ele gritou começando a ficar com raiva, mas eu continuei do mesmo jeito.

—Só saia daqui, Bill. Saia! Saia, me deixe sozinho. Vá embora! –comecei a gritar mais alto e a me debater, senti o sangue percorrendo pelo meu corpo e as lágrimas em meu rosto.

Bill olhou para mim mais uma vez antes de fechar a porta atrás de si.''

Acordei e dei de cara com o loiro me observando em cima de mim. Antes que eu pudesse tomar um devido susto e gritar desesperadamente, ele pós a mão na minha boca.

—Fique quieto. Veja, eu só quero conversar. –falou simplesmente e saiu de cima de mim. Parecia abalado e tinha alguns cortes no rosto e nos braços.

—Precisava me acordar desse jeito? Era só me cutucar e falar ''Ei, cara! Acorda.'' Eu acordava de boa. –falei enquanto coçava a cabeça.

—É importante. Eu só queria dizer que... O que aconteceu antes, é melhor você esquecer. –sentou-se em sua cama e passou as encarar as mãos. Ainda fiquei esperando ele falar alguma coisa, mas apenas havia silêncio.

—Só isso? Não vou receber uma explicação? Fale algo, Bill. –insisti.

—Foi apenas um impulso, eu acho. Esqueça isso ou ambos vamos ter problemas. –ele me olhou de relance. –Mas agora vamos, eu tenho que te apresentar a uma pessoa!

Ele levantou-se na velocidade da luz e saiu me arrastando pela casa até sairmos dela. Parada em frente a cabana, estava a garota mais linda que eu já havia visto na vida. Alta, um tanto magra, com cabelos castanhos cacheados e olhos âmbar. Não aparentava ter mais de 20 anos. Assim que viu Bill, sorriu e acenou.

—Dipper, essa é Jasmine, minha namorada.