Resolvi explodir de medo, já que era mais fácil. Bill me vendou com um pano qualquer que ele achou na cozinha e lá fomos nós, rumo ao desconhecido. Percebi que o loiro não chega nem perto de ser um bom guia, já que para onde quer que esteja me levando, ele conseguiu me fazer bater em um poste e várias árvores. A única coisa que eu tinha certeza era que estávamos na floresta, e eu ainda esperava que fosse Bill me guiando e não uma besta de oito olhos, ou coisa do tipo.

—Bill, já estamos chegando? –fiz uma careta, não parávamos nem um segundo desde que saímos de casa.

—Quase, só mais um pouco, PineTree. –mesmo vendado, pude senti-lo sorrir. Eu não acredito que fui tão tolo em deixar Bill me levar para algum lugar, ainda ais eu estando vendado! –E... chegamos.

Eu estava exausto, subimos um terreno íngreme por algum tempo, antes de chegarmos. Tirei a venda dos meus olhos, a vista foi estonteante. Estávamos em uma das montanhas, no meio da floresta, o sol nascia naquela mesma hora, era incrivelmente lindo.

—Wow... –deixei escapar enquanto sentia meus olhos lacrimejando por tamanha beleza. Tá, a luz direta também ardia, vamos ser sinceros.

—O que você achou? –ele perguntou pressentindo minha resposta. Eu não tinha palavras para expressar o que eu estava sentindo. Era como se minha vida tivesse acabado de começar naquele segundo. Eu sorri, abria a boca umas três vezes, mas nenhuma palavra saiu. –Era o que eu esperava. Ahm, tem mais uma coisa.

O loiro tirou uma pequena caixa do bolso de seu moletom. Arregalei os olhos. Bill olhou-me com um sorriso galanteador e me entregou o pequeno embrulho.

—Se não quiser, pode trocar por outro modelo e tals, mas o que vale é a intenção e o caralho de dinheiro que eu gastei com isso. Mas quando você é um demônio com metade de seus poderes, isso não é um grande problema. –Juro que não entendi merda nenhuma que ele disse então apenas abri a caixa.

E lá estava, com todo o seu esplendor, um relógio de ouro, couro e ei lá mais o que, que deveria ser mais caro que meu cu.

—Puta que pariu, Cipher. Isso é muito, eu não posso aceitar. –falei boquiaberto.

—Ah, então me devolve que eu dou pra Mabel. –ele esticou a mãe e revirou os olhos.

—Espera, não. Eu fico com ele. –sorri de lado. Será que ele ia mesmo dar pra Mabel se eu não quisesse? Que cara de pau. Bill deu uma risadinha e sentou-se na beirada da montanha. –Juro que, por um momento eu jurava que você ia me pedir em casamento.

—Cenas para os próximos capítulos. –ele falou indiferente e eu me assustei. –Estou brincando, seu idiota. Imagina se eu, Bill Cipher, ia pedir você em casamento? Tenho mais é o que fazer, ué.

Revirei os olhos e, por um momento, quis jogar aquele relógio montanha abaixo. Mas tenho bom senso e não vou jogar uma beldade dessas fora. Bill nunca mudaria seu sarcasmo e mau-humor exagerado.

—Se eu não aceitasse, você ia mesmo dar pra Mabel? –perguntei por perguntar.

—Quem sabe, mas acho que não. –ele olhou para as próprias mãos. Vi que em seu pulso, descoberto pela manga do moletom, tinha um símbolo estranho. Algo como uma runa, só que mais complicado. Assim que percebeu meu olhar, ele baixou mais ainda a manga. E eu deixei só por isso mesmo.

Ficamos ainda na montanha por um tempo, até o sol nascer por completo. Eu estava morto, acabado, parecendo um morto-vivo e tudo o que queria era minha cama. Mas, como eu sou um cara de sorte, mal cheguei na cabana que Ti-Vô Stan já arranja uma tarefa pra mim.

—Hey, bro bro! –Mabel cantarolou enquanto eu arrumava umas caixas na loja.

—Oi Mabel. –respondi entre um bocejo e outro.

—Parece que alguém dormiu mal. –ela deu uma risada enquanto Waddles passava lentamente por nós- Opa, que relógio é esse no teu pulso?

—Relógio, ahn? –Percebi nesse momento que eu havia colocado o relógio. –Ah, esse. Foi Bill que me deu como um agradecimento ou algo do tipo. Tanto faz.

—Bill? Tem certeza que essa coisa é segura, Dipper? Bill não é, assim, sei lá, a pessoa mais confiável do mundo. Pode ser alguma armadilha ou máquina de controle mental. –Mabs falou coçando a cabeça, parecendo raciocinar.

—Meh, não sei. Mas que é bonito, é. Essa coisa deve ter custado o meu rim, do jeito que as coisas estão hoje em dia. –dei de ombros e coloquei uma estatua de um gnomo na prateleira de cima.

—E como ele conseguiu todo esse dinheiro? Quero dizer, nós dois juntos mal temos dinheiro pra comprar aquele colar de melhores amigos para sempre que queremos. –ela fez biquinho.

—Tecnicamente, você quer. Eu não faço questão nenhuma. E não importa como ele arranjou dinheiro, ele é um demônio, tem uns poderes bem cabulosos dos paranauês, deve ter conjurado o dinheiro e proto, boom, kaboia! Comprou o relógio.

—Kaboia? –Mabel riu.

—Tanto faz. Tudo o que eu sei agora é que eu terminei por aqui, tenho um relógio maravilindo que me faz parecer mais descolado e que estou com um puta sono e vou dormir. Então, tchau linda. –Abracei minha gêmea e fui para o quarto.

Vi Bill sentado em sua cama, falando em algum tipo de aparelho. Ele estava quase sussurrando, e eu apenas ouvi palavras como ’’tá, certo’’ ‘’beleza, pode deixar’’ e o ‘’tchau’’ então estava completamente alheio a isso. Ele que se foda.

—Hum, oi. Com quem estava falando? –perguntei sentando-me em minha cama.

—Só com uma amiga, nada importante. –Amiga? Bill tem amigos desde quando?

—Ah, sim. Se não se importa, eu vou dormir, já que alguém me acordou de madrugada, né não? –falei sarcástico.

—Isso é uma pergunta? –ele levantou uma de suas sobrancelhas.

—Tanto faz. Mas qual o nome dessa sua amiga?

—Melissa. Por acaso, tu tá com ciúmes, PineTree? –Bill pareceu estar se divertindo com aquela situação.

—Eu? Com ciúmes? De você? Me, se, nos poupe, Cipher. Vai arranjar quem perturbar, que eu to muito cansado pra isso. –me virei para a parede, deitando-me.

—Já achei, no caso, você. –o loiro riu e eu revirei os olhos novamente.

—Se foder, Bill!

Passaram-se alguns minutos, nos quais eu apenas fiquei me revirando na cama. Parecia que agora todo o sono que eu tive tinha sumido, do nada. O que é impossível, já que não passei o dia parecendo um zumbi a toa.

—PineTree? –ouvi a voz de Bill me chamando.

—Hum? –murmurei.

—Você fica lindo com ciúmes. –ele falou e, por algum motivo, eu sorri.