O Caso das Meninas Jantzen escrita por Laís


Capítulo 2
II - Antagonistas


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo...
Gostaria de deixar meus agradecimentos a Janice Nagell pelo comentário gentil. Muito obrigada!
Ao capítulo...



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Sherlock Holmes e o Dr. John Watson aguardavam, em Waterloo, um trem que os levasse até Leatherhead. Ao convocar Watson para mais uma investigação, o detetive economizara palavras e explicações, contudo, ao notar algo diferente no semblante do amigo, John decidira não fazer perguntas e somente aquiescer ao pedido de companhia.

–Sherlock, você parece um tanto perturbado. Isso significa que esse é um daqueles casos que você tanto adora, não? – comentou, mas não obteve resposta. Holmes aparentava nem mesmo tê-lo escutado.

–Você acredita em Deus, John? – a pergunta viera subitamente, causando grande surpresa.

–Nunca imaginei que você se interessasse por questões teológicas. – admirou-se.

–Não me interesso. Crenças envolvem fé e fé, por sua vez, envolve acreditar naquilo que não se pode provar. Naquilo que não se pode ver ou sentir. Deve imaginar o quanto isso é desconcertante para um homem como eu.

–Claro... Mas por que pergunta isso?

–Pelo motivo óbvio! Pois quero saber a resposta – retrucou com repreensão evidente na voz.

John ponderou por alguns instantes.

–Nunca fui um homem religioso, mas... – respirou fundo – descobri que homens moribundos, mesmo o mais cético deles, querem acreditar em algo divino. O mundo é cruel e nunca há recompensa suficiente para os bons ou punição para os maus. Isso me faz ter vontade de acreditar...

–Se acredita nisso – interrompeu Sherlock – provavelmente deve acreditar em uma antítese, pois toda história deve possuir um antagonista.

–Você está falando de...

–Nem eu mesmo sei do que estou falando, John.

Algo na forma como aquela sentença fora proferida deixara John ansioso, mas seus receios foram interrompidos pela chegada do trem.

Seguiram até Leartherhead, onde aguardaram uma charrete que os levaria ao castelo Jantzen no albergue da estação. A dona da pousada lançou-lhes um olhar simpático e perguntou se gostariam de alguma coisa.

–Boa tarde, madame. Talvez um chá quente para espantar a frieza? – Sherlock respondera enquanto sorria animadamente para a mulher. John muitas vezes ficava abismado com a capacidade do amigo de transmutar suas feições e tornar-se a pessoa mais agradável do mundo, contudo, sabia que esse carisma surgia somente quando necessitava de algo.

A mulher viera da cozinha com duas xícaras fumegantes e as depositara em uma mesa perto do balcão. Eles sentaram, agradeceram e, surpreendentemente, Sherlock convidou a senhora para acompanhá-los.

–Faz bem para o espírito conversar com as pessoas, a senhora não concorda? Principalmente quando se está em um lugar novo. Acho que a melhor maneira de conhecer uma cidade é se familiarizando com seus habitantes.

–Pois não, senhor...

–Holmes. Sherlock Holmes – apresentou-se enquanto a mulher sentava – E esse é meu amigo, Dr. John Watson.

John fez um meneio com a cabeça, recebendo um sorriso em resposta.

–Vocês estão vindo de Londres, não?

–Impressionante, John, temos aqui a detetive do Condado – brincou Sherlock. – Como devo chamá-la, madame?

–Somente Godiva, por favor.

–Godiva? Como a lenda?

Sherlock se referia a Lady Godiva, conhecida por ter cavalgado nua em protesto aos altos impostos cobrados.

–A grafia e pronúncia são as mesmas – ela confirmou, com um risinho – É uma pena que tenham vindo para cá nesse período.

Pude perceber meu amigo levantando uma sobrancelha. Finalmente os rodeios haviam acabado.

–É mesmo?

–Sim, Sr. Holmes. Stoke Moran é uma cidade pacífica e de belas paisagens. Muito diferente da sua Londres... Tão suja e apinhada de gente. Não, aqui temos famílias muito antigas e quase nunca há discórdias entre elas. Alguns camponeses arranjam discussão por ovelhas roubadas de vez em quando, mas nada que não se resolva...

Sherlock inclinou-se na mesa, como a mostrar interesse na narrativa.

–Mas ultimamente... Bom, coisas estranhas andam acontecendo.

A mulher subitamente interrompeu a história.

–Estranhas de que forma? – incentivou John Watson, genuinamente interessado no que lhe era dito.

–Ah, não gostaria de falar, os senhores irão achar que sou uma velha louca!

–De forma alguma, Sra. Godiva. – o tom de Sherlock era tranquilizador e convenceu a Sra. Godiva a prosseguir.

–Ovelhas não estão sumindo, mas morrendo. Comentam de alguma doença que esteja afetando os animais, pois os cachorros passam a noite inteira latindo... Sons excruciantes, como se eles estivessem sofrendo. Alguns amanhecem mortos – ela engoliu em seco – Com o sangue drenado. O que é muito estranho já que ninguém avistou nenhum morcego-vampiro por essas redondezas. Que tipo de doença pode fazer isso com os animais? E... Bom, essa é a pior parte. Não é relacionado com a doença dos animais, porém foi a coisa mais tenebrosa que já nos ocorreu. O bebê da sra. Dowich, somente com 6 meses, desapareceu. A pobre criança... A moça jura que o colocou para dormir, fechou das janelas e caiu no sono ao lado da filha. Quando acordou, ela não estava mais lá. Os homens procuraram em cada casa da redondeza, em todos os lugares, mas não encontraram nada. Absolutamente nada. A pobre mulher enlouqueceu depois disso, não come ou dorme. Somente chora.

John Watson estava completamente consternado com o relato ao passo que Sherlock mantinha-se com o cenho carismático de um bom ouvinte.

–Lamento muito ouvir isso, madame Godiva.

–Eu também, Sr. Holmes, mas acho que não é causa de preocupação. Logo as coisas voltam aos seus eixos habituais.

John ouviu uma porta ser batida na área atrás do balcão no exato instante em que anunciaram que a charrete que os levaria ao castelo do Sr. Jantzen já estava pronta. Pagaram pelas bebidas e seguiram em frente.

Madame Godiva não estava mentindo, Stoke Moran era um dos lugares de natureza mais exuberante que ele já vira. Morros estendiam-se até onde a vista alcançava, campos de plantações demarcavam os territórios dos camponeses e as flores começavam a exibir suas cores. Já na metade do caminho, Sherlock quebrou o silêncio da viagem.

–Notou a moça que entreouvia nossa conversa?

–Moça?

–Imaginei que não a tivesse visto, mas provavelmente a ouviu fechando a porta por trás do balcão que dá acesso à cozinha, certo?

John somente assentiu, embasbacado por não ter notado uma quarta presença.

–O que tem ela?

–Parecia um tanto quanto... Diferente.

Sherlock Holmes resolvera não informar o amigo sobre a tonalidade dos olhos da moça. Vermelhos. Não a íris, mas a parte branca.

–Uma moça bonita, você quer dizer?

O detetive ignorou a provocação e olhou pela janela. Nuvens escuras acumulavam-se no céu que, minutos antes, estava límpido.

~x~

–Estou cansada disso.

–De que, minha adorada?

Lucy Westenra tinha uma postura altiva e o queixo erguido de maneira desafiadora.

–Cansada de me alimentar de animais nojentos. Isso não está me fazendo bem. Sinto como se estivesse...

–Morrendo? – a voz era zombeteira e repleta de escárnio.

–Um pouco tarde para isso, não?

–Minha querida – o homem levantou-se da cadeira em que estava sentado e segurou o rosto de Lucy com as duas mãos – Você lembra o que aconteceu quando se alimentou de crianças? Ainda é muito nova para saber se controlar. O incidente do bebê já foi o suficiente. Não sabemos se ainda temos perseguidores procurando por nossas pegadas.

–Você disse que Van Helsing estava morto – contestou.

–E ele está – respondeu peremptório.

–Está falando de Mina.

–A única sobrevivente – confirmou.

–Por sua causa – acusou Lucy. – Conde Drácula.

Sibilou o nome com desprezo. O homem ergueu a mão e fez menção de dar uma tapa na moça, porém ela desviou-se hábil e facilmente.

–Alexander. É assim que deve me chamar.

Lucy o encarou demoradamente antes de anunciar o que era de seu intento desde o início da conversa.

–Uns estranhos chegaram por aqui hoje.

Ela trabalhava para madame Godiva desde o dia em que a dupla chegara a Stoke Moran, precisava ter o conhecimento de quem visitava ao povoado. Principalmente, aqueles que faziam perguntas.

–Algo com que devamos nos preocupar?

–Você já ouviu falar em Sherlock Holmes e um sujeito chamado John Watson?


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Notas finais do capítulo

-A forma de chegar a Stoke Moran foi baseada na própria trajetória que Sherlock e Watson fazem p chegar lá em A Faixa Malhada, mas a descrição da cidade é completamente independente.
—Eu sei que nos livros Sherlock só chama o John de Watson e vice-versa, mas gosto de usar os primeiros nomes e me inspiro um pouco na série também, então...
—Lucy Westenra, a melhor amiga da Mina, morre no livro (opa, spoiler), mas, se você tiver lido, aqui o Van Helsing nunca chegou a matá-la (jura, Laís? obrigada por confirmar o óbvio)
—Usei Alexander como codinome do Conde meio inspirada na série Drácula (infelizmente, cancelada).
Acho que é isso.
Até o próximo o/



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