O Caso das Meninas Jantzen escrita por Laís


Capítulo 1
I - Papéis esquecidos


Notas iniciais do capítulo

Então, vamos lá. Esse é só um prólogo curtinho, mas acho que carece de algumas explicações. Vejo vocês lá no finalzinho para alguns esclarecimentos?
Boa leitura!



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(...) Para a compreensão de estranhos acontecimentos e combinações extraordinárias, nós devemos voltar-nos para a vida real, que é sempre de longe mais desafiadora do que qualquer manifestação da imaginação.

Sir Arthur Conan Doyle

CADERNOS DE JOHN WATSON

Londres - 1893

Ao organizar o escritório, acabei por deixar escorregar das mãos uma caixa de velhos papéis amarelados. Em suma, resquícios dos estudos da faculdade de medicina, no entanto, anotações de natureza completamente diferente atraíram minha atenção.

Sherlock Holmes. Já fazia um tempo que evitava trazer à tona memórias tão dolorosas de meu falecido melhor amigo, mas ainda posso entrever todos os seus trejeitos faciais tão claramente como se ele ainda caminhasse por esse mundo.

Talvez aquele fosse o momento de, ao invés de sepultá-lo junto às águas, relembrá-lo. Recordar de sua vivacidade sempre que um caso repleto de estranhezas chegava até Baker Street, naqueles anos.

Ah... E aquele foi o caso que mais testou as crenças – ou falta delas – de meu amigo. O caso que ameaçou arruinar seu palácio mental coberto de regras regidas pela lógica. O caso que Sherlock Holmes não pôde explicar integramente. O caso das meninas Jantzen. O caso Drácula.

Tudo começou com uma carta...

DIÁRIO DE ANNE JANTZEN

Era a noite mais fria do ano. Ocasionalmente, o clima parece compactar-se com o ânimo das pessoas. Inspira, mantém dentro de si tempo o suficiente para discernir todos os nuances, exala. Naquele agosto de 1889, a escuridão degustou medo. Saboreou e decidiu que a noite seria tão fria quantos as mãos daqueles que se escondiam nos túmulos-habitáculos. Adormecidos somente, aguardando que algo os despertasse.

Na cama ao meu lado, Alienor ressonava, há muito tempo adormecera, mas mantivera o castiçal com as velas acesas. Cobria as peles pálidas com mantas, na tentativa falha de espantar o frio dos ossos. Pela janela ao lado de minha própria cama, avistei a silhueta de um lobo longe da matilha através do nevoeiro. Ele mira o alto e uiva. Um som cortante, ao mesmo tempo áspero e melancólico. Alienor remexe-se descuidadamente, estremece, mas não desperta. Imagino que no quarto ao lado, Haleth esteja duplicando o gesto. Cerrei os olhos, aguardando até que a lúgubre canção findasse.

Na janela, o bater rítmico de asas.

Ele chegara.

Escrevo essas espaçadas e displicentes letras enquanto tal ruído apodera-se de meus ouvidos, consumindo e aniquilando a quietude da noite. Olhos na escuridão devolvem meu olhar assustado e, apesar da agitação causada pelo pânico, sinto uma dormência em meus sentidos. Desejo dormir, nada mais.

Para quem dedico tais relatos? Minha sanidade. Caso não escrevesse, juro que enlouqueceria neste castelo tão lúgubre.

Sua Anne. 8 de agosto de 1889.

CARTA DE HARALD JANTZEN AO DETETIVE SHERLOCK HOLMES

Prezado Sr. Holmes, perdoe-me por esta missiva curta e privada das cortesias necessárias. A situação exige que tudo isso seja dispensado e, através deste envelope que espero chegar em suas mãos o quanto antes, peço encarecidamente que venha depressa para Stoke Moran e procure pela propriedade Jantzen. Qualquer passante estará apto para lhe indicar o caminho. Dinheiro não é, de forma alguma, um empecilho e qualquer custo adicional da viagem também me disponibilizo em quitar. Entenda que estas são as palavras de um homem temeroso pela vida de suas filhas. Imploro, Sr. Holmes, por tudo que lhe é sagrado, venha depressa. Pense naqueles que mais lhe são queridos e imagine vê-los escorregando por entre seus dedos. Sua ajuda tornou-se caso de vida ou morte.

Tentarei resumir para o senhor tudo que vem acontecendo neste castelo e faça o possível para não crer que sou um lunático.

Tudo começou com algumas batidas rítmicas na janela...


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Notas finais do capítulo

-1893 é o ano da queda de Sherlock e Professor Moriarty.
—Stoke Moran é uma cidade fictícia do conto A Faixa Malhada. Usei porque sou péssima em criar ambientações e nomes de lugares.
—A forma desse primeiro capítulo fiz ao estilo da organização de Drácula (através de cartas e diários), mas a narrativa vai ocorrendo normalmente com o passar da história (com algumas cartas e diários por ali e acolá).
Acho que por enquanto é só.
Milhões de beijos!