A Melodia do Princípio escrita por Ton D


Capítulo 13
Capítulo 12 - Quando o dia finalmente chega




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O tempo corre.  Nada normal sobrevive ao seu avanço. Civilizações poderosas ascendem e são esquecidas ao seu bel prazer. Com um simples sopro de seus incansáveis lábios, um sopro adocicado, como canela, um cheiro extremamente enjoativo, o cheiro de decomposição, tudo caí, todos sucumbem. Uma existência que não respeita essa regra antiga, única e primordial, não deveria existir. Nada pode se opor ao tempo. Não naturalmente.

O mundo seguiu adiante. A Europa seguiu adiante, com ou sem Alexander. As cortes vampiricas ribombavam com as fofocas, sussurros, oposições e comentário de escárnio e gozação. Um novo príncipe, ou melhor, um príncipe novo. Não mais do que um moleque comparado a tantos outros mais antigos. O mundo estava mesmo louco e os anciões caducos e esclerosados por permitir tal ofensa.

Os neófitos comemoravam. Um vampiro novo no poder. Não tão novo quanto eles, mas mesmo assim, era melhor se ter um vampiro de meia idade no poder do que um ancião de conceitos pré-estabelecidos sobre o que era digno e o que era baboseira dos jovens. As coisas estavam prestes a mudar, era isso o que tudo aquilo indicava, só poderia ser isto. Tanto a Alemanha quanto Londres tinham príncipes novos, conhecidos e apoiados, seja por pressão, oportunismo ou mesmo adoração. O que ninguém sabia era que tudo aquilo só vinha bem a calhar para que tudo desse terrivelmente errado. Na verdade uma pessoa sabia. Um mortal. Um nobre mortal chamado Jonas Pennington.

~~~

Quanto tempo ele havia esperado? Um ano? Dois? Não, há espera vinha desde quando se via como gente, desde seus seis anos quando conhecera a verdade sobre sua família. O tempo que havia passado entre a visita daquela coisa que se dizia chamar Baixinho e esta noite fora apenas um interlúdio de excitação e expectativa. Agora as coisas iriam finalmente acontecer. Ele ganharia o que merecia. Finalmente sua vez havia chego. Mas o que ele merecia?

Jonas Pennington havia saído da mansão da Duquesa ciente de que alguma coisa o seguia. Ele não sabia dizer como. Ele simplesmente sabia. Os pelos do seu pescoço estavam eriçados e aquela sensação gelada que não se aquietava em suas costas. Era como ter um cubo de gelo deslizando por sob a pele sem nunca derreter, esfriando, adormecendo e logo depois queimando a pele. Ele apressou o passo enquanto cruzava a longa escadaria que levava a saída onde sua carruagem deveria lhe esperar. Seus passos pareciam ser a única coisa a quebrar o silêncio da noite além dos raios.

Algo dizia a ele que seu misterioso e horrendo amigo estava de volta. Mas poderia mesmo ser verdade? Após seu encontro a cerca de um ano com a criatura asquerosa em seu quarto, Jonas havia se convencido que tudo não passará de uma ilusão, ou pelo menos assim pensava. Ele deveria ter sonhado ou imaginado aquela conversa. Sim, só podia ter sido isso mesmo. Ele mesmo não tinha acordado em sua cama cercado por empregadas preocupadas e com sua mulher, embriagada sobre seu peito? O que elas haviam mesmo dito naquele dia? Já fazia tanto tempo… E aquela sensação não desgrudava dele.

Sim! Ele havia sido encontrado em seu quarto, desmaiado um dia após o acidente com a Condessa Hardigan balbuciando e suando. Disseram-lhe que ele dizia coisas sem sentido e que estava com a pele ardendo em fogo. Por mais que se esforça-se no dia, O Lord não lembrava como e nem porque estava deitado em seu quarto, deitado no chão de pedra fria.

Os dias assim se passaram, sem ele de nada se lembrar. Se ele não tinha do que lembrar, aquilo nada tinha de importante, ou ele teria lembrado. Mas algo mudará em Jonas Pennington. Antes ele não passava de um tolo Lord inglês, fútil e inútil. Após sua recuperação ele parecia ser outra pessoa. Começara a se interessar em comércio. Fez amizades, melhorou seus cálculos. Comprou propriedades e navios, financiou explorações e travou alianças. Quase triplicou sua já antiga fortuna. Porque fizera isso? Simplesmente algo lhe dizia que era o certo a ser feito. Como ele costumava dizer nas festas e banquetes? Ele se estufava o peito e repetia: Era como se uma voz lhe sussurrasse: “Jonas, você sabe o que tem de fazer. Se esforce e tudo que quiser será seu. O comércio é a chave. A Alemanha pode lhe ajudar”, e logo todos riam e o cumprimentaram. E a voz se provará certa. Com o tempo, ele fez aliados naquelas terras como um importante nobre, Von Bismarck, este era seu sobrenome.

O que era mais curioso não fora essa ascensão no comércio, e sim o declínio em seu interesse pela Condessa e seus amigos estranhos. Pois era isso que eles eram não era? Apenas estranhos… Diferentes ao seu modo. Às vezes parecia que algo estava lhe escapando, um pensamento, uma ideia, um conceito a muito entendido e invejado… Ele se pegava pensando sobre isso, mas estão a voz, que ele agora associava, não sabia por que, a um homem alto de olhos de um lindo verde, cabelos negros grandes e revoltos e barba leve, como que se não feita a poucos dias, lhe dizia em um tom doce: “ Eles não são importantes. No tempo certo pensaremos neles. O importante agora é sua missão.” Sim, sua missão. Mas qual era mesmo sua missão? Ele não sabia, mas estava tudo bem, a voz o ajudaria a lembrar, no momento certo.

Mas foi então que os pesadelos começaram, e as coisas mudaram. Ele sonhava com um encontro com uma criatura terrível chamada Baixinho. Ela lhe fazia uma proposta, algo ligado ao mordomo-mor, que de uns tempos para cá estava se comportando de maneira estranha, e a Condessa que estava se mostrando cada dia menos (Muito bem observado meu caro, não esperávamos menos de você). Ele aceitava a proposta, pois queria muito aquilo que o outro tinha a lhe oferecer. Em seus sonhos o rosto da criatura era estranho, disforme… Mas algo lhe dizia que era melhor assim. A criatura o levava através de um estranho túnel na própria parede de seu quarto que não estava lá antes. Nesta hora as coisas começavam a ficar confusas. Ele estava em um quarto mal iluminado com mais dois homens. Um era careca e com uma barba loira ao estilo saxônico e o outro era o dono da voz em sua cabeça. Eles lhe sorriam e ele sorria em resposta. Então ele estava em seu quarto novamente e logo depois desmaiava. E só. Mas havia algo a mais não havia (No momento certo…)? Era isso que a coisa atrás dele viera lhe relembrar (No momento certo…), mas ele não queria lembrar, mesmo que a voz lhe dissesse que ele TINHA de lembrar. Não havia? Havia não é? NÃO É?!

Ele logo avistou a carruagem quando alcançou o exterior da mansão e se pois a correr. Agora nada mais fazia sentido, a não ser chegar à carruagem. O que quer que estivesse atrás dele, sonho ou realidade, monstro ou humano, amigo ou inimigo, não queria seu bem. Viera lhe cobrar algo que não lhe traria bem, não senhor. Aquilo viera lhe cobrar o preço do favor que lhe fizera e lhe entregar o restante do seu pagamento, mas ele não queria mais, estava feliz como estava. Sua mulher até estava melhor, menos beberrona. Seu filho começara a lhe prestar mais atenção agora que o mordomo-mor havia se tornado mais importante (Como? Você sempre esteve de olho neles por nós, não esteve Pennington?). Ele gostava de ser mortal. Não queria ser um... um…(Vampiro? Não quer ser como eles Pennington? Não concordou com nosso termos?) assassino. Aquilo custaria uma vida que ele não queria ter de entregar de modo algum, pois agora era importante para ele e além do mais fizera amizade com Von Bismarck, então para que usá-lo assim? E como ele sabia de tudo aquilo? De onde saiam essas ideias? Usar Von Bismarck? Por quê? (Porque estava planejado Jonas, desde o início e você sabia). Era a voz. A voz lhe dava as respostas e lhe respondia as perguntas que ele fazia a si mesmo. Ele já estava chorando quando alcançou a carruagem. Desesperado tropeçou nos degraus que levavam a porta da carruagem e se estatelou na terra, sujando suas roupas de lama. Trovões ribombavam ao longe, anunciando a chuva eminente e iluminando a noite.

- Está bem meu senhor?

Aquela voz… ERA ELE! A COISA!

Ele olhou para cima e viu o condutor da carruagem. Mas não era o seu condutor. Era a criatura. Baixo, com braços anormalmente longos e musculosos, pernas curtas e com joelhos ossudos, na cabeça estranhamente disforme, um chapéu preto de abas largas. E o rosto, oh meu Deus, aquele mesmo rosto! Um sorriso largo e perverso, olhos cheios de malícia… Não havia nariz.

- Quanto tempo Jonas Pennington, espero que não tenha se esquecido de mim. Vim lhe buscar.

Os cavalos relinchavam e se empinavam nas patas dianteiras. Olhando rapidamente para eles, Jonas Pennington prendeu a respiração. A pele dos animais estava derretendo como se eles estivessem em chamas! A cabeça de um deles se voltou para ele e o cavalo pareceu lhe sorrir com seus músculos se retesando e os nervos se esticando e contraindo, no esforço de fazer o rosto se mover. Os olhos pareciam murchar e afundar para dentro das órbitas enquanto o líquido vazava da parte branca dos olhos e escorria pelos dentes do animal e gotejava perto das pernas de Pennington.

Desesperado e sabendo que perdera a sanidade, ele tentou se afastar se arrastando pela lama sem tirar os olhos da carruagem negra. Um trovão cortou o céu, iluminando a cena e assustando os cavalos que se ergueram novamente nas pernas traseiras e uivaram, sim uivaram! Ele não resistiu, preparou-se para levantar e correr desesperado a gritar, quando a porta a sua frente lentamente se abriu.

Havia apenas trevas ali dentro. A mais profunda escuridão. Ele sentiu-se gelar, como se todo calor fosse expulso de seu corpo e substituído por gelo. O corpo todo pareceu perder as forças e travar no local. Lentamente, dois pares de olhos se abriram, um par vermelhos rubro, da cor de um rubi e o outro par verdes como uma esmeralda. Então duas vozes falaram em uníssono em um tom gélido e convidativo, enquanto os olhos vermelhos se tornavam verdes com o do companheiro.

- Viemos lhe cobrar o preço Jonas Pennington e cumprir o restante de nossa promessa. Venha… Seu dia finalmente chegou.

E assim, Jonas Pennington se encaminhou para a carruagem e condenou a si mesmo e a seu filho, Dave Pennington.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo.Bem, achei que esta capítulo apesar de não ser tão grande e nem ter diálogos ficou bastante diferente e macabro. Experimentei um tipo diferente de escrita em algumas partes e achei o resultado até que bastante satisfatório.Como deve ter ficado claro, algum tempo se passou entre este capítulo e seu antecessor. Nos próximos capítulos farei uma ponte sobre o que ocorreu, nada muito longo para não enrolar muito.Não espero reviews, pois acho que apenas três pessoas leem esta história, sendo que somente uma tem conta aqui, então...Até a próxima madrugada inspirativa, que deve demorar um pouco a ocorrer, visto que as minhas aulas logo devem começar...



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