As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 7
7- A lady gaga


Notas iniciais do capítulo

Olá olá olá! Chegamos com o capítulo da semana! Só digo uma coisa: vai ser impossível manter a Poker Face. Conversamos no final. Boa leitura! ;)



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somos todos monstros
nada mais que monstros
de máscaras e atuações
monstros de muitas caras

o mundo exige que o show não pare
e o que estaciona para sempre
é nosso resquício de humanidade

escondido atrás do palco
onde dançam nossos desejos
nosso quasímodo contrarregra
assiste as bizarrices
num ballet à fantasia

Sensei

***

Após uma longa caminhada de muito brilho glitterinado, Sensei chegou à terceira casa: A Casa das Duas Caras. Essa casa, porém, tinha algo de diferente das outras. Primeiro: havia duas portas. Segundo: ele não tinha muitas informações sobre o inimigo (ninguém tinha), e só percebeu isso agora. Havia passado pelas duas primeiras casas com um misto de sorte e algo que não sabia exatamente o que era. Parecia já haver experimentado, lembrava-se da sensação, mas não do que a provocava. Havia algo nele que explodia, brilhava, queimava, arrepiava, e lhe dava a sensação de que poderia fazer qualquer coisa, ou passar por qualquer obstáculo. A sensação era mais ou menos essa. Devia ser o tal do Gleeter. Parecia com algo que já havia sentido, realmente, mas por mais se esforçasse não sabia o quê. E se concentrando nessa sensação, respirou fundo e resolveu entrar na porta à esquerda.

E o que ele encontrou? Nada. Convenhamos: um corredor completamente vazio que terminava em um espelho não era bem o que ele esperava (nem vocês, né, mas é o que ele encontrou, eu sou apenas aquilo que conta, não crio nada). O curioso era que o espelho não refletia sua imagem, e sim a de alguém que Sensei imaginou ser uma divassa, pelo vestido dourado, se é que aquilo poderia ser chamado vestido. Parecia mais uma mistura de maiô e armadura futurista. Enquanto se aproximava lentamente, notou que o adereço da cabeça (algo parecido com uma mistura de tiara com tapa-ouvido) possuía um rosto de cada lado. Falando em rosto, o rosto estava protegido por uma máscara, metade preta, metade branca. A metade preta possuía um olho puxado verde, a metade branca possuía uma meia boca carnuda.

– M-me-menino.... num vem devagarinho assim que eu pi-pi-pi-piiiro...

– ...??

– Bem vindo à Casa das Duas Caras, mais conhecida como a casa da gaga. Isso, porque eu sou uma lady, mas uma lady gaga...bem, s-só q-q-quaaando eu to nervosa... triste, né... – disse a voz doce, bastante feminina, que parecia sair da imagem do espelho.

– Sim... – silêncio mútuo. – ...Ahn... Você é a divassa da casa das duas caras, certo?

– Sim... Em que posso ajudá-lo?

– Bem, eu preciso atravessar a sua casa para chegar na próxima... Você poderia me deixar passar? Você parece ser legal, não quero lutar contigo. Não quero machucá-la...

– ... Não. – disse a figura, num tom diferente, sério e grave – Você não me deu bom dia, não perguntou como estou, acredita ser mais forte que eu sem nem ter medido forças comigo e quer passar ileso pela minha casa? Não. Vou deixar você preso aqui... para sempre.

A porta se fechou atrás dele. E a figura sumiu. Tudo ficou escuro de repente. Apesar de tudo, Sensei não parecia assustado. Respirou fundo, coçou a barba e esperou um pouco. Viu que nada iria acontecer se ficasse apenas esperando, e não sabia se quebrar tudo era a melhor solução. Como havia ouvido há pouco, não sabia se a lady gaga era mais forte que ele ou não.

– ... Desculpa, moça... Eu, é... Dá pra voltar aqui? Eu sei que eu fui rude, mas... também não é meio rude você me receber em sua casa e me largar assim?

– É, você tem razão nessa... – disse a voz, sem aparecer. As paredes do corredor caíram, revelando uma sala redonda cheia de espelhos. No meio da sala havia um sofá sem ninguém. No reflexo, a anfitriã aparecia no assento da direita. – venha, sente.

– É... Brigado... E... Bom dia...

– Estamos progredindo. Boa noite, na verdade. Então, você está bem? Deve ter sido difícil chegar até aqui.

– Não muito... Acho que eu já passei por coisas piores.

– É? O que, por exemplo?

– Ah... Longa história... Memórias de um aprendiz maluco. Não sei se você iria acreditar também. Nem eu sei se acredito...

– Complicado dizer, né... Entendo. Todas nós do Santuário também temos longas e complicadas histórias para contar... E qual o seu nome? – disse ela, cruzando as pernas. Ambos olhavam para frente naquela conversa estranha, até porque não havia ninguém ao lado para Sensei olhar. Ele cruzou a perna para o lado oposto, se apoiando no braço do sofá, como que pensando na resposta. Por fim, disse:

– Eu não sei se tenho algo do tipo... Há muito tempo, tive, eu acho. E depois fui chamado de várias coisas. Padawan, Aprendiz, Tuntun, Raitun... agora eles costumam me chamar de Sensei...

– Sensei... é um nome bonito. Significa “mestre”, “doutor”, “professor”, “escritor”, correto? Talvez você tenha vindo aqui me dar uma lição então?

–Talvez. Mas um professor mais aprende do que ensina.

– Eu sou Ageminotta, a divassa dourada da Casa das Duas Caras, também conhecida como a lady gaga.

– Prefiro Ageminotta. É bem diferente, mas é bonito.

– Preciso te contar uma coisa. Você vai me ouvir?

– Sim.

– Primeiro, preciso perguntar uma coisa: essas roupas que a Mulan te deu, elas incomodam você, não é?

– ... Sim...

– Então porque você continua as vestindo?

– Porque são confortáveis, e não tenho outras...

– Eee...?!

– ... E não seria legal recusar. Ela parece ter realmente se empenhado nisso... O olho dela até brilhou falando dos detalhes lá...

– Você parece bruto, e é um pouco mal educado e impulsivo às vezes, mas tem um bom coração. Deve ser difícil mostrar isso aos outros...

– Um pouco.

– É difícil aceitar o que se é. É difícil mostrar aos outros o que nós somos. Porque somos julgados a todo momento. Ainda mais nós, que somos divassos. Nós, que somos considerados “diferentes”. E dentre todos, acredito que é particularmente complicado estar onde estou...

– Porque duas caras remete a uma pessoa falsa...

– Exatamente. Parece que você também é bom em pensar. Os outros olham nossas roupas. Os olhos olham nosso título: divasso. Pensam muito em devasso e pouco em divo. Os outros olham “duas caras” e lembram automaticamente da falsidade. Os outros olham que sou uma lady gaga, e não o que eu digo com a minha voz.

– E o que você fez pra suportar tudo isso?

– Aceitei o que eu sou.

– Aceitar o que sou...

– Eu sou divassa. Bizarra. Um monstro. Sim, sou, em todos os sentidos. Mas acredito que minhas duas caras signifiquem outra coisa: que eu sou múltipla. Que eu posso ser o que eu quiser. Que eu nasci desse jeito.

E Sensei sentiu aquela sensação novamente. Como se pudesse sentir a beleza do brilho do próprio universo. Era uma sensação boa, e vinha dela. E vinha de si próprio. E vinha de um terceiro lugar, se aproximando tão brutal e rapidamente que a única coisa que ele pôde fazer foi se jogar para o lado antes de ver o sofá partido ao meio.

– Tsc... Errei. – disse o responsável por aquilo. Sensei levantou-se e olhou para a criatura. Ao contrário da outra figura, pequena e delicada, muito feminina, esse parecia um homem, se vestia como um e não usava máscara nenhuma.

– O que diabos é você? – Perguntou Sensei

– Eu que pergunto: o que diabos é você que chega aqui e acha que já pode ir puxando conversa com minha maninha?

– Peraí... Vocês são...

– Gêmeos. – disse Ageminotta – Não idênticos, mas gêmeos.

– Eu sou Deft Kalderón. Sabe o que eu gosto de fazer com quem se insinua demais pro lado dela? Botar pra ferver... – disse o outro, estalando os dedos.

– Ka-ka-ka-kalderón! Eu que chamei ele pra con-cooonversar...

– Ah, é...? Botar pra ferver, né... Então eu vou ter apagar seu foguinho. Vou te ensinar uma lição, Kalderón.. – disse Sensei, com as unhas já enormes e em posição de combate, quase rosnando.

– S-se-ense-!!!

Tarde demais. Os dois começaram um combate feroz, se golpeando ao mesmo tempo. Chutavam baixo canela com canela, e chutavam alto com a outra perna, trocavam socos como se não fosse nada, e nenhum dos dois parecia recuar, mesmo que por vezes Sensei fizesse as unhas crescer para usá-la de espada, ou Kalderón desferisse socos tão potentes que pareciam pegar fogo, e ele estava armando mais um, quando...

– CHEGA!!!!! – disse um tom sério e profundo da voz da gêmea que a cinco minutos atrás parecia a pessoa mais doce do mundo. Todos os espelhos que ainda estavam inteiros se estilhaçaram. Sensei teve a sensação de estar sufocando. Sentiu o peso de uma galáxia nas costas, e temeu muito aquilo. Kalderón parecia sentir o mesmo, ficou parado por um tempo com o soco armado, até que abaixou o braço e foi embora, resmugando:

– Você e eu, baby, você e eu... Um dia resolveremos isso.

– Com cinco minutos de briga você destruiu minha sala, lutando de igual para igual com meu irmão. Você também é um monstro, assim como eu. Assim como nós. Você é mesmo um divasso, Sensei... Você nasceu desse jeito. Não se incomode com isso. Essa aparência não diz nada sobre você. O que acham de você não diz nada sobre você, e sim sobre o que os outros acham de você. Não se importe. Você nasceu desse jeito, com essa coisa que não muda, não importando qual roupa você vista. E-eu, eu aaacho que... Eu gosto dessa coisa. Você é tão...interessante, tão... Não sei! Ai, s-s-sei lá! Não tenho mais o que dizer. Não morra, tá? Não desista dos seus objetivos e dos seus sonhos até terminar o que veio para fazer aqui. Boa sorte com a próxima casa. Agora as coisas vão ficar mais difíceis. Beeeem mais difíceis...

Sem saber o que responder, Sensei agradeceu e saiu andando pela porta que se abriu entre dois espelhos.

“Aquele garoto é um monstro... comeu meu coração sem nem encostar um dedo em mim!”, pensou uma divassa jogada no sofá.

***

Querido diário,

Talvez você seja um folgário ou momentário, dependendo da sua frequência de uso. Peço-lhe perdão por não saber nomeá-lo corretamente, meu nobre companheiro de confissões. Mas como poderia saber seu nome, se nem ao menos sei o meu? Falando (digo, escrevendo) em não saber, continuo não sabendo por que diabos me meti nessa jornada, ou qual o motivo de empreendê-la por um desconhecido (um des-co-nhe-ci-do) para obter uma informação qualquer que nem sei se irá se provar ou não útil, seja para mim ou para ele ou para qualquer outro. Parte de mim diz que isso não importa, já que não sei nem meu nome mesmo. Outra parte diz que se não presto nem para saber meu nome, não deveria ficar querendo saber outras coisas. Uma terceira parte me pergunta como me sinto em relação a isso. Outras (sim, ainda existem outras) riem da minha cara ou dizem outras coisas quaisquer, e uma parte acaba sempre discutindo com a outra e as partes restantes acabam tendo que tomar parte das brigas para apartá-las. Pelo menos uma delas fala para eu não ligar para as palavras advindas de parte alguma, e que o importante é seguir em frente. Tudo a seu tempo se revelará, repete sempre. Eu digo a mim e a todas as minhas partes que elas estão em parte certas, e não posso ignorar parte alguma, já que elas parecem fazer parte dessa quimera louca que sou. O que aprendi hoje, e no momento sei com muita certeza é que todos somos monstros, em todos os sentidos, em todas as nossas partes, em todas as partes do universo. E embora uns sejam mais monstruosos, outros menos, uns mais entocados, outros menos, uns mais disfarçados, outros menos, todos merecem ter um lugar garantido e respeitado por todos no bestiário do mundo.

Sensei


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Notas finais do capítulo

Então, já sabem o esqueminha, né?

— Ageminotta é inspirada no Saga/Aspros de Gêmeos junto com a Lady Gaga (o sobrenome de batismo dela é Germanotta, então daí pra Ageminotta foi um pulo. Ainda pensei em "La Geminotta", mas acabou assim mesmo. Acho que ficou melhor. E vocês?)
— Deft Kalderón é inspirado no Defteros, irmão gêmeo do Aspros e em Jo Calderone, alter-ego/personagem que a Gaga faz quando se veste de homem no clipe de 'You and I'. Acho que combinou bem o nome Kalderón com os ataques e a história dele. Como vimos, ele é bem esquentadinho, né?
— Lady Gaga é de Áries.
— Não sei o signo do Jo Calderone, ou se ele tem signo.
— Acabaram as notinhas, agora vamos aos comentários:

Acho que não tenho muito o que dizer sobre esse capítulo. Foi um dos mais fáceis, porque minha namorada é muito fã da Gaga e sempre me mostra muita coisa dela. Então acabei começando a gostar, querendo ou não, rs. A Gaga acabou se tornando a inspiração master pra todo o clima da história, na verdade (vocês acham que a ideia dos saltos enormes do Sensei surgiu de onde? shaushaushaushua).

Escutei muita Gaga pra destravar, ter ideias ou simplesmente pra escrever os capítulos mesmo (além de escutar um pouco das músicas da homenageada de cada capítulo). Ah sim, eu não sei de onde diabos veio a ideia da máscara exótica, ou porque a Ageminotta a usa, quem sabe a gente descubra daqui pro fim da história? Mistééério~~;)

Eu acho que a Gaga, mesmo sendo de Áries, acaba ilustrando um pouco das facetas múltiplas de Gêmeos. Canta em vários estilos, sempre aparece com um look diferente... e é uma das mais poderosas e influentes do cenário pop, apesar das críticas todas. Além disso, a carreira dela ilustra bem dualidade do signo: ela foi considerada demoníaca e chegou a ser proibida de fazer shows em certos lugares por causa de algumas músicas/clipes, faz algumas coisas bem estranhas, sempre foi considerada esquisita, apesar de no momento estar mais "quieta"; por outro lado, sempre é super legal com os fãs, faz vários atos de caridade e é cristã, acreditem ou não. Ela tem todo um trabalho e cuidado em passar mensagens de aceitação a si mesmo/ao outro nas letras dela que é bastante incompreendido pela maioria das pessoas, e até mesmo entre alguns fãs, que exigem respeito para eles, mas atacam fandoms alheios e criando rivalidades desnecessárias.

Enfim, acredito que é isso. E aí, gostaram da Ageminotta? Será que ela xonou no Sensei? Se sim, será que um dia ela será correspondida ou vai acabar sendo um "Bad Romance"? E o capítulo, tirou ou não a "Poker Face" de vocês? Se sentir que não pode ficar "Speechless", comenta aí qualquer resposta a essas perguntas, outras perguntas, suas dúvidas e sugestões, ou qualquer coisa que sentir vontade mesmo. Ficaremos muito felizes em responder, mais do que já estamos com a sua leitura! :3

Segunda que vem tem mais uma divassa esperando vocês e o Sensei na casa dela! Não percam!

Próximo capítulo: Nicky Quase-cem-cabeças.



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