As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 6
6- Queen Ladibah


Notas iniciais do capítulo

No santuário vermelho dizem que um copo de água e um banquete (um banquete, viu?) não se nega a ninguém. Eu não nego a ninguém: esse capítulo tá delicioso. E o melhor: vem com tudooo!!!

No capítulo dessa semana vocês vão conhecer a segunda divassa de ouro: QUEEEEEEEEEEEEEN LAAAADIBAAAAAH!!!!

Boa leitura, depois conversamos! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/605371/chapter/6


Querido diário, realmente me pergunto o que está havendo aqui. Misturam-se as lembranças de agora com as de outros tempos, quem sabe outras vidas. Lembro-me neste exato momento de um famoso poema que muitos professores adoram usar e outros muitos alunos odeiam ler, que fala sobre ter uma pedra no meio do caminho... e sobre no meio do caminho ter uma pedra.... e... bem, basicamente não fala muito mais que isso. Me pergunto se aquele poeta fumou alguma dessas pedras para ter tal ideia. Me pergunto se eu não fiz o mesmo para estar exatamente onde estou agora. Se é que estou... Espero esquecer desse momento que presencio com minhas retinas fatigadas.

Sensei

***

E no meio do caminho... tinha um Kruba. Estava fumando (um cigarro, nada mais que um cigarro comum) encostado na parede.

– Visual novo, hein. Resolveu se assumir de uma vez?

– Tive a “grande honra” de ter as roupas consertadas pela Mulan. Tá com inveja, é? Pior que apesar de ridículas, tenho que confessar que são mais confortáveis que as que eu usava. Aliás, você deveria ir lá. Uma coleira de lacinhos ia combinar contigo, cão. Veio dar algum recado do seu dono?

– Vim esperar você morrer pra levar o que sobrar de volta pro horizonte.

– Então pode ir colocando o rabinho entre as pernas. Vai me seguir eternamente ou até cansar, cão? Você que sabe.

– VAMO LÁ RAITUNDOOOO!!!!! – disse uma Kane que surgiu de algum lugar e pousou no ombro de Sensei.

E Sensei foi.

Prestou atenção em um ou outro letreiro mais cheio de luzes que a maioria. A maioria parecia igual. As fachadas eram parecidas. Até mesmo as poucas pessoas que ainda andavam por ali eram parecidas Aquilo tudo lhe parecia muito igual e descolorido. Não era à toa que apelidara aquele lugar de “mundo cinza”. Talvez por isso estivesse ainda mais espantado em perceber que havia cor naquele mundo, mesmo que pouca. Apesar de pouco e escondido, existia brilho, ao menos parte naquela parte do mundo. Ao menos naquele santuário esquisito. E de repente, seu cérebro se calou, sem nem avisar que os pés haviam chegado onde Sensei queria. Estava cansado demais para perder tempo alfinetando as eternas distrações dos olhos.

Não andou muito dessa vez, talvez porque Kane deu menos instruções de onde virar. Parou na frente da segunda casa, A Casa das Bovinas. Respirou fundo antes de entrar, analisando rapidamente as portas escancaradas. Assim que colocou o pé dentro do lugar, ouviu uma voz tão grave e poderosa que fez com que travasse imediatamente.

– Seja bem vindo! Eu sou La Dibarán, a divassa dourada da Casa das Bovinas. Tenha modos e apresente-se antes de entrar, bezerro.

Olhando para frente, Sensei entendeu o porquê de estar sendo chamado de “bezerro”. Era exatamente o que parecia se comparado ao dono da voz, que estava sentado no palco da casa. Era um homem imenso, realmente imenso. Tinha mais de dois metros pra cima e parecia ter quase isso pros lados. Uma montanha de músculos equilibrada em um par de saltos-agulha que o deixava ainda maior, tudo espremido em um vestido minúsculo, muito apertado. Tudo dourado. Usava uma tiara com dois chifrinhos. Dourados, claro. E pra terminar, havia um óbvio e gritante contraste entre a pele negra opaca e a peruca dourada e brilhante.

– Eu sou Sensei. Apenas... Um Sensei.

– Agora sim você pode entrar. Sim, você é o tal do divasso bronzeado que resolveu nos desafiar. Tô sabendo... Pelo menos se vestiu a caráter, né gato? Ai, isso é coisa da Mulan, né? – disse, quebrando qualquer imagem de brutalidade que havia passado, e com isso passando uma imagem ainda mais perigosa e brutal para Sensei. – Pra mim ela num faz, essa rapariga! Essa plataforma exótica brilhosa, esse pelo de raposa prateado combinando com o focinho no chapéu, esse detalhezinho aí nas mangas, um luxoooo! Ai, inveja rolando aqui. Menino, que se cê fosse um prato de comida eu não deixava nada!

“Ainda bem que não sou, né...”, disse a mente de Sensei, aliviada. O corpo concordou, engolindo seco. A boca finalmente resolveu tentar tomar conta da situação:

– Ahn... obrigado pela parte que me toca, mas... eu preciso passar pra próxima casa, sabe... e se você não se importa...

– Ai, me importo sim, tá? Você vai ter de ser aprovado por euzinha antes de passar! Mas antes bicha, já comeu? Não, né... Vamo comer? Eu tô com uma fome danada! – e virou pra uma das bichas que estava ali perto – Traz o rango pra gente se fartar que se eu num comer agora eu morro! Até porque um copo de água e um banquete não se nega a ninguém (um banquete, viu...). Provérbio divasso, aprendi com a Mulan, sabe?

“Um banquete, né... né??? Você ouviu um banquete, não ouviu?” perguntou a mente de Sensei, desesperada. O corpo concordou engolindo seco pela segunda vez.

E em poucos instantes Sensei estava sentado com suas roupas exóticas na cabeceira de uma mesa, rodeado de pessoas de todos os tipos. Na outra ponta, Queen Ladibah (era assim que as outras a chamavam) comia como um touro. Literalmente. Sensei nunca viu alguém comer tanto e tão rápido em todas suas (supostas) várias vidas. Fez sua refeição sem dizer uma única palavra, e durante o banquete não ouviu muita coisa além de barulho de gente comendo, risadas escrachadas e cochichos. O ponto alto do banquete foi quando a dourada o elogiou por comer quase tanto ela, e afirmou que ele poderia até mesmo comer uma vaca inteira se quisesse, sempre mantendo um sorriso largo no rosto e gargalhando muito alto a cada recusa de Sensei. Ele fez questão de continuar negando o fato durante todo o jantar, apesar de estar realmente apreciando aquele monte de comida e bebida, comendo uma porção extra de cada coisa por causa do nervosismo. Após todos estarem satisfeitos (Ladibah confirmou pessoalmente com cada uma se todos haviam se fartado, “porque comer é vida”), a Vaca das Vacas (também era chamada assim) se levantou, sentou na borda do palco, cruzou as pernas e disse:

– E então, que tal um exercício leve pra ajudar na digestão? Preciso ruminar aqui se você é um bezerro desmamado ou um reprodutor de primeira antes de te deixar passar, sabe... Vem com tudoooo!!!!! – disse Ladibah, cruzando os braços e virando a cabeça pro lado. Começou a mexer o pé, como que com raiva ou ansiosa. As pessoas que estavam em volta da mesa se afastaram para as laterais da mesa, algumas cochichando, outras atentas aos combatentes.

Raitun suspirou, coçou a cabeça e foi. Desconfiado com aquela pose indiferente, mas ainda assim, foi. Percebeu no meio da corrida que não tinha dificuldade para se mexer naquelas plataformas. Começou a entender um pouco do que Mulan havia falado sobre as roupas: apesar do design pra lá de exótico, tudo era bastante confortável e leve, assim como um collant se ajusta ao corpo de uma bailarina. A diferença é que por algum motivo desconhecido ele levou uma queda muito mais feia que qualquer bailarina poderia levar. Ou melhor dizendo, foi derrubado, jogado pra trás ou qualquer coisa do tipo por uma rajada de vento e energia que revirou tudo ali, virando até mesmo a gigantesca mesa de jantar.

– Ok... alguém anotou a placa? – disse ele, tentando se levantar, meio zonzo com a pancada.

– Vamo lá, menino, assim você não vai nem encostar em mim. Eu tô me fazendo de difícil pra você chegar com tudo, tendeu? Tá vendo não? Vai lá, menino, tenta de novo. Com força, que eu gosto forte! – gritou a dourada, e voltou pra posição de antes.

Sensei se recuperou, e quando tentou de novo, viu. Viu de relance, mas viu. Não queria ter visto exatamente aquilo, mas viu, sem querer querendo. E então entendeu da forma mais dura possível o enorme significado de querer “desver” algo. E quando digno enorme, era realmente enorme. Grande como a vaca das vacas. E o pior: entendeu que um lance de querer desver jamais abolirá o visto, infelizmente.

Queria ter visto o golpe, e conseguiu. De alguma forma, naquela posição de pernas cruzadas, a divassa guardava energia que liberava em uma espécie de chute, ou de cruzada muito rápida de pernas, gerando algo como uma onda de choque que derrubava qualquer coisa. Só que quando abria as pernas para cruzá-las pro outro lado, Ladibah deixava uma pequena brecha em que podia ser atacado. Sensei gostou de ter visto isso. Porém viu outra coisa. E não queria ter visto aquilo de maneira nenhuma. Queen Ladibah não usava calcinha, e vendo isso havia acabado de entender o significado de “cuidado com o terceiro chifre”. Por isso mesmo teve a reação instintiva de fechar os olhos e atacar com tudo o que tinha, como se aquele soco pudesse tapar aquilo. Como se pudesse fazê-lo desver aquilo. Como se aquele soco destruísse toda possível referência ao que havia acabado de presenciar com suas retinas fatigadas. E apesar de não ter nenhum dos efeitos desejados, aquele soco concentrado criou uma onda de choque suficiente pra atingir de raspão sua inimiga.

– Uii!!! Que isso, heim! Arrancou meu chifrinho e meu cabelo de uma vez só. Nossa que potencial! Se fosse mais forte arrancava o resto! – disse a diva malhada, passando a mão na careca, depois se abanando com as mãos imensas. Suspirou, recuperou o fôlego e disse, com um sorriso muito branco e entusiasmado – Pode passar, Zebu! Uh, que isso... e psiu, se bater uma fome no meio do caminho, lembre que aqui tem carne de sobra te esperando, tá?

Sensei fingiu não ter nem ouvido aquilo nem visto a última piscada de Queen Ladibah. Resolveu para si que não tinha visto nada, e que apenas precisava chegar na próxima casa noturna. Foi embora o mais rápido possível para a próxima Casa Noturna, supostamente chamada “Casa das Duas Caras”, segundo fofocas que captou no meio do burburinho dos presentes.

* * *

Em algum lugar do Santuário que ainda não vou lhes contar qual é (eu sou aquilo que conta, mas não tudo de uma vez, né?), existia uma sala muito ampla e importante. Não havia muito mais que um tapete e um trono nessa sala. Bem, haviam outras coisas, mas ainda não vou lhes contar o quê. E também haviam pessoas, mas não são móveis, por isso ainda não estavam sendo incluídas nessa descrição imprecisa, e... Bem, eu sou aquilo que conta, afinal das contas, e não aquilo que divaga sobre salas imprecisas e seus ocupantes. O que preciso lhes contar por hora é que a pessoa que sentava no trono naquele momento sorriu e murmurou algo. Uma outra presença do local respondeu:

– Então esse tal de “divasso bronzeado” já conseguiu subir até a terceira casa? Não pode ser, isso é impossível! Como ele passou por aquele touro?

– Hm, ele é um estouro? Adooooroooo... – respondeu outra.

– Então o divasso dá mesmo no couro, heim. Quero testá-lo melhor... – disse uma terceira

– Calem a boca, suas surdas! – disse a que estava no trono. – Vocês nunca deixam de maliciar as coisas, suas taradas dos infernos! Ele passou pela segunda casa! Só isso! Mas será que ele vai passar da próxima...? E o que aquelas incompetentes estavam fazendo pra deixar ele passar assim? Elas são boazinhas demais, é só alguém pedir uma mãozinha e elas dão até o...

– Aff! E nem chamaram a gente... – comentou uma delas, em tom de lamento.

– Ah, relaxa o pipiu aí, mona! Se ele chegar em mim, eu te chamo e a gente acaba com ele to-di-nho. Vou lá esperar na minha casa, sabe, que essa Duas Caras pode acabar traindo o movimento, né, beijos... – disse outra voz.

– Espera morta feat. enterrada, viada, que da minha casa com certeza ele não passa. Eu quero ele pra mim. E quando eu quero, bee, eu pego e não largo... – disse uma terceira voz.

– Cuidado, heim, Nicky... – interrompeu a figura no trono, com um tom debochado. – Você pode acabar pegando, se apegando e sendo largada dessa vez. Ele não é normal... Ele é... Um monstro. E vocês todas, chega de fofoca! Vamo lá, né? Quero cada uma no seu quadrado, bandirapariga! Ninguém sai dessa zona! E ninguém sobe! NIN-GUÉM SO-BE! TÃO OUVINDO? E calada! – apontou pra uma, que parecia querer retrucar – Quem manda nessa porra aqui sou eu... tá entendendo? QUEM MANDA NESSA PORRA AQUI SOU EU! Aos seus trabalhos, que tem um intruso no santuário querendo comer tooodo mundo no pau (e o pior, sem pagar nada por isso!).


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vamos às notas:

— Queen Ladibah é uma mistura do Aldebaran com a Queen Latifah, uma cantora, atriz e rapper norte-americana.
— Queen Latifah é uma mistura diva e gueto. Ela é pisciana.
— Touro tem uma ligação forte com comida, por isso o banquete. Por isso também que no filme (Legend of Sanctuary) o Aldebaran tá deboas comendo até ser interrompido pelos bronze boys. Touro é o comilão do zodíaco. Conheço de perto, é o signo da minha mãe/da minha vó. A frase mais dita aqui em casa é "fulano/você já comeu?" ou "tem o que pra comer?" (essa última dita por mim, que não tenho touro no mapa mas acabei meio taurino por convivência, já que minha mãe não resolve a questão da comida comendo, mas sim fazendo os outros comerem).
— Preciso fazer notas menores, mas não consigo. Espero que sejam úteis, ou ao menos não incomodem.
— Preciso fazer capítulos maiores(?) talvez, mas acredite, eu ainda aumentei na revisão por ter achado mirrado demais. Até tô enrolando nas notas pra aumentar (abafa, gente). A Ladibah iria me convidar pra um banquete se lesse o próprio capítulo. Seria algo tipo "tá com fome, né, por isso escreveu pouquinho assim!". Escrevi pouco, mas escrevi tudo o que queria e um pouco mais. Touro já cumpriu seu papel na trama (por enquanto), então não vejo necessidade de me alongar e correr o risco de piorar a qualidade. Pls, não fiquem com raiva ❤❤❤❤❤❤

É curioso notar que a Latifah é pisciana mas serviu de base pra Touro, porque (pelo menos aqui nas Divassas) Touro e Peixes são totalmente opostos em um certo aspecto que vocês vão perceber lá na frente (não estou falando só de aparência física). Infelizmente a diva que inspirou peixes não é taurina, pra completar a ironia. Pesquisei e descobri que é virginiana (outra do meu signo? Olha, eu juro que não foi combinado! Sério!). Quem é? Vocês vão descobrir quando chegarmos lá, rsrs

E então, curtiram a Queen Ladibah? Alguma sugestão, comentário ou algo confuso? Quer fazer uma análise psicoliterosemiótica do capítulo? Quer só dizer que amou ou odiou? Pode deixar nos reviews! Eu agradeço muito, principalmente pela sua leitura!

Até segunda que vem! ❤



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Divassas do Zodíaco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.