As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 8
8- Nicky Quase-cem-cabeças


Notas iniciais do capítulo

E chegamos com um mais um capítulo das Divassas! Esse vai mexer com a cabeça de vocês... Boa leitura!



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DE PERDER AS CABEÇAS

curtição constante
com as cabeças dos caras:
cafuné, café na cama

corte, careta,
carranca

Sensei

***

Sensei continuou seu caminho para a próxima casa, sem pressa. Na verdade, bastante dolorido da sequência de lutas sem descanso, não conseguia andar muito rápido. Descanso, porém, era algo que ele não iria ver por um bom tempo. E pelo que vocês viram até agora devem estar se questionando “o cara é bom, o cara é show de bola, mas será que ele aguenta tantas de uma vez?”. Bem, ele precisava aguentar. Precisava, senão não ia descobrir quem diabos era a mulher que tentou matar seu “chefe”, e pior: não iria descobrir porque diabos estava fazendo tudo aquilo. Seria tudo em vão. Esta pensando nisso tudo enquanto arrastava preguiçosamente seus coturnos personalizados, até que um sério problema o acometeu novamente. Na verdade, dois problemas. O primeiro problema que tinha era pensar demais. O segundo era que nunca conseguia completar seus raciocínios insanamente complexos. Sempre era interrompido.

Dessa vez, no meio do caminho (na verdade, na frente da casa) não tinha uma pedra. Nem um Kruba. Nem um bicho. Tinha uma divassa, que apesar de parecer ser bem mais velha que as outras, se vestia tão ou mais bizarramente.

– Finalmente, bofe! Achei que fosse passar a vida toda lá na casa da Duas Caras. O que você ficou fazendo naquela casa vazia, olhando a decoração?

– Vazia? Mas... tinha gente lá. Ageminotta e...

– Essa daí eu não vejo faz tempo...ela sumiu. E o irmão sumiu junto com ela.

– Ela... é ela mesmo? Não perguntei se ela era uma mulher ou não...

– Ih, nem se preocupe de perguntar isso aqui, tem uns casos muito difíceis, tipo o... Bem, não adianta contar, você não vai chegar lá pra conferir mesmo.

– Por que não?

– Porque a Grande Bicha gritou ordens: “não sobe ninguém! Não sobe nin-guém!”. Então não posso te deixar subir. A não ser que você derrote Cheerna, a divassa da Anaconda!

– Ok então... então ela não quer me ver. Mais um motivo pra ir até lá. Agora é que eu vou mesmo. Manda vir a Cheerna e seja lá mais quem diabos tiver na fila. Vou passar por todas e bater um papo com essa tal de Grande Bicha. Palavra de Sensei, e Sensei quando fala, faz.

– Eu sou Cheerna, a divassa da Anaconda!!!

– Tá, legal. Olha, podemos terminar isso logo? Eu preciso ir pra próxima casa logo, sabe. Eu tô cansado, eu tô com fome...

– Bem, você é uma raposa, né... Eu soube que raposas comem carne... Cobras tem carne... Uma anaconda tem carne pra uma raposa se fartar pela vida. E comem ovos também, não?

– Ahn... Legal da sua parte me oferecer comida, mas... Sabe o que que é? É que eu tô de dieta, olha só como tá apertada essa calça...

– Ah, só uma escapadinha não vai fazer mal... – disse a diva velha, se aproximando de Sensei, aproximando-se perigosamente... Até cair como uma cobra derrubada do galho no chão. De lado dela, caiu um salto que, além de grande, parecia bem pesado.

– Rapa peito, bicha velha, que esse aí tem dona! E essa dona sou eu! – disse uma voz vinda de dentro da próxima casa. – E você, é melhor entrar... Essa é a sua nova casa.

Sem perceber, ele havia chegado na próxima Casa Noturna. E antes de obedecer, Sensei leu no letreiro: A Casa das Pinçonhentas.

Sentiu um arrepio estranho quando colocou o pé dentro do lugar, e um calafrio que subiu pela coluna e parou na nuca quando as portas se fecharam atrás de si. Mas a sensação mais estranha veio quando observou melhor o lugar. Tentou se decidir entre chamar aquilo de “grotesco” ou “sombrio”, mas não conseguiu escolher uma definição única. Decidiu que era grotesco, sombrio, e MUITO BIZARRO. A decoração era sombria, as cortinas eram pretas, as colunas eram góticas, e as paredes eram decoradas com cabeças de animais. Isso já seria estranho o suficiente pra você? E se o animal em questão fosse o bicho-homem? Exatamente... Haviam cabeças humanas nas paredes.

– Seja bem vindo à sua nova casa, meu divasso...

A sensação ruim se intensificou. E o que ele viu não ajudou muito: alguém descia os degraus pela lateral do palco. Usava um maiô dourado com estampa de caranguejos, peruca nas cores do arco íris, tinha peitos enormes que claramente eram implantados no corpo magro. O problema em si não era a aparência bizarra, já havia se preparado pra ver de tudo. Algo ali lhe incomodava. Aquela pessoa não emanava uma sensação agradável. Após descer, a diva parou de lado, ajeitou as pulseiras nos braços negros desnudos e disse:

– MeunoméNickysoucheiadenicksesouadivassadacasadaspinçonhentas.

Ou algo do tipo. Foi rápido demais até para um ouvido treinado como o dele.

– Desculpe pela falta de educação, mas a senhorita poderia repetir mais devagar, por favor?

– Meu nome é Nicky. Vou falar beeem devagar, meu lindo... pra você entendeeer... sou Nickyy... a divassaa...da casaa... das pinçonheentas...

– Ok. Menos mal. Então, Nicky, muito bom te conhecer, mas você poderia me deixar passar para a próxima casa? Eu não quero ter de machucar você...

– ... há! Vocêmemachucar?Vocêachamesmoquevaimemachucar? há! – e soltou uma gargalhada escandalosa.

“Delicadas o caramba... elas realmente gostam de pau em todos os sentidos” pensou Sensei, suspirando. Enquanto isso, a outra ainda gargalhava. Esperou ela finalmente terminar para poder dizer:

– Olha, eu não entendi nada do que você disse, mas eu simplesmente preciso passar, nem que eu tenha que passar por cima de você pra sair dessa casa.

– Hm, boy, boy, boy... Você não entendeu mesmo o que que tá pegando aqui, né baby? Seguinte. Eu vou falar devagar só mais uma vez, e não vou repetir, então escute bem. Eu sou Nicky, a divassa dourada da casa das Pinçonhentas. O que eu pego com a minha pinça, eu não solto. Por sinal, me chamam de Nicky por que nunca larguei os nicks que me deram: Deathblush, Many Many Gold, Money Hold, Nicky Ménage, Nicky Peruqueira, Fastongue Nicky... Mas tem um em especial que eu amo acima de todos os outros...

E então Sensei finalmente entendeu porque se sentia mal naquele lugar.

De repente, não mais que de repente, se viu cercado por corpos de todos os tipos, formas e tamanhos, vestidos de todos os jeitos imagináveis. E isso até seria normal, se algum deles estivesse inteiro.

– Eles costumam me chamar de Nicky Quase-cem-cabeças. Quando eu pego com a minha pinça, eu não largo. E aqui – apontou para as cabeças nas paredes, depois para os corpos de onde elas vieram – está a prova. Desculpa aí, neném, mas daqui você não sai, daqui ninguém te tira. A casa tá trancada, e a chave tá aqui co-mi-go, beeem segura – e mostrou uma chave, que acabou sumindo no meio de dois peitos imensos.

Sensei não disse nada, apenas engoliu seco e encarou Nicky por longos instantes de silêncio.

– Que foi? São naturais, ok? Nasceram com-

– Você... Todos eles... Você...

– Não, eles estão vivos. Bem, tecnicamente. Eles só perderam a cabeça com a mamãe aqui, e agora estão nas minhas mãos. Ou melhor, nas minhas pinças. Você consegue aguentar tudo isso, boni-

– Calada. Olha só, você vai calar a essa boca agora mesmo, parar de falar essa língua de modo avançar 3x e me escutar – interrompeu o professor, com o corpo tremendo e um tom de autoridade que só os professores irritados tinham. – Você é simplesmente a criatura mais bizarra que eu já vi na vida.

– Sounatur-

– Calada! Não estou falando de aparências. Eu entendi que o que menos aqui importa são aparências. E mesmo que você fosse um ícone sexual, o que definitivamente não parece com esse look e esse sorriso tão falso e mal montado quanto seus peitos, você ainda seria a mais bizarra. A podridão está aí dentro. Eu vou fazer jus ao seu apelido, e deixar você mais que sem cabeças. Você não merece ter nada.

E então Sensei se colocou em combate. E os corpos, que já estavam em volta dele avançaram com tudo. E Sensei bateu neles como bateu em poucos: com pura raiva. Teve um pouco de trabalho para se acostumar a não tentar chutar a cabeça inexistente, mas logo adaptou os golpes e começou a surrar os corpos como se estivesse dançando sua música preferida. A diferença era que estava repetindo a mesma coreografia. Os corpos que caíam se levantavam infinitamente e voltavam a cair, como não tivessem sofrido nada. Como queria salvar aquelas pessoas, e não matá-las, Sensei tentava pensar em algo enquanto batia nos corpos sem vida. Por sorte ou ajuda do inevitável, uma dica para a resolução de seu caso apareceu. Sensei jogou um dos corpos na parede no meio da bagunça. O corpo derrubou algumas cabeças, e então... Alguns dos corpos pararam de se mexer.

Pela primeira vez naquele lugar, Sensei sorriu.

Desviou de um corpo, pulou por cima do segundo e chutou o terceiro para longe. Passou por baixo de mais um e chegou de surpresa em Nicky, que apenas observava tudo às gargalhadas. Sem esperar por aquilo, Nicky foi pega por trás, desprevenida. Sensei agarrou-a pela cintura, logo abaixo dos peitos imensos. Com um movimento, jogou sua inimiga para trás. E enquanto Nicky caiu de cabeça e apagou com a queda, Sensei pulou por cima dela e esmurrou a parede com tudo o que tinha. Foi o suficiente para abrir um buraco na parede e abalar a estrutura da casa inteira. As cabeças penduradas caíram junto com os corpos. Sensei quase caiu junto, mas conseguiu continuar de pé, respirando pesado, encostado na parede, observando aquela situação bizarra. Foi então que percebeu (com um alívio no peito) que com o tempo os corpos voltavam ao normal. A cabeça pendurada sumia e reaparecia no lugar de origem, e os primeiros corpos, se levantando como se estivessem desmaiados por um longo tempo, saíam o mais rápido possível daquele lugar. Sensei resolveu fazer o mesmo. E como não queria tocar em Nicky para procurar a chave, estava se preparando para abrir o caminho a porradas, quando ouviu uma voz chorosa.

– Espere... não...não vão embora...eu... eu não quero ficar sozinho...de novo não...

– ... Então você achou que podia curar sua solidão obrigando eles a ficar contigo?

– Eu..eu... sempre fui apegada a tudo... e tive coisas, amigos... mas quando eu assumi quem eu era e fui me tornando mais apegada a meu eu todos começaram a fugir de mim...então...eu...

– Então você os obrigou a ficar aqui. Vou te ensinar uma lição, Nicky. Se você quiser que as pessoas se preocupem contigo, e estejam do seu lado, simplesmente esteja lá quando elas precisarem, e se preocupe de verdade com elas. Nunca as force a nada. As cative mostrando o que você é, e que você estará sempre por perto quando ela precisar. Isso é construído com os outros, não implantado neles, porque se você obrigá-los, vai perdê-los, assim como perdeu todos hoje. Algumas pessoas me ajudaram, simplesmente estando lá, e me incentivando a continuar minha jornada. Me deram essas roupas resistentes. Bizarras, mas resistentes e confortáveis... Me deram lições, me deram conselhos. Você simplesmente queria me obrigar a ficar aqui. E eu não posso ficar parado aqui agora, Nicky. Eu preciso continuar andando. Não sei para onde, mas preciso. Se algum dia você precisar, eu, e com certeza as outras divassas irão ajudá-lo. Mas não hoje, não agora. Agora é hora de você se recuperar... Sozinho.

– Como você pretende chegar até a Grande Bicha? Você ainda está na quarta casa e já tá todo ferrado? Fica aqui...pra...descansar! É...

– Não. Não sei pra onde, por onde, nem como vou. Sei que não ficarei aqui. – disse Sensei, se preparando para chutar a porta, quando algo duro bateu em sua cabeça. Era a chave da Nicky, que havia desmaiado de vez. Sensei abriu a porta, suspirou, e continuou seu caminho a passos lentos para a próxima casa. Sentia-se como se tivesse fechado um ciclo ali. E sabia que haveria ainda muito mais, mas não se importava, desde que conseguisse continuar seu caminho, seja lá qual fosse.


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Notas finais do capítulo

- Nicki Minaj é Sagitariana, o que explica muito dela ser porraloka daquele jeito (ou não)

A ideia foi misturar um monte de referências e deixar Câncer ainda mais bizarro do que é. A Nicki já deu material suficiente, joguei um Nick quase-sem-cabeça maroto ali, Manigold, Deathmask e fim. Ela não deu muito trabalho, no fim das contas. A ideia foi mostrar uma espécie de "lado negativo" do carinho e apego sentimental que Câncer possui, afinal nem tudo é glitter na pista. Acabou que o coitado do MdM que foi o zoado novamente até aqui, mas foi a melhor ideia que tive para trabalhar. Espero que vocês tenham gostado do capítulo e continuem lendo, pois teremos uma pequena grande surpresa no próximo capítulo. Juro que vocês não vão se arrepender. Enfim, qualquer coisa que quiserem comentar, sugerir ou que mereça correção, deixem nos comentários. Se não, relaxem, ninguém vai arrancar a cabeça de vocês apenas por estarem lendo (eu acho... muahaha). ;)


Agradeço muito pelas leituras e pre-para que segunda que vem tem mais!

Próximo capítulo: As três cachorras



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