As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 18
18- Hermaphodite


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Infelizmente estamos na reta final. Essa é a última das doze casas noturnas e faltam poucos capítulos para o fim. Mas não se desesperem: ainda temos babados fortíssimos. Boa leitura!



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A última casa noturna. Depois de sofrer como o pão mofado que o estagiário do rei demônio amassou com raiva de seu senhor, finalmente havia chegado até ali: estava de frente a Casa das Peixiguetes. Pelo menos, é o que dizia a placa.

Sensei entrou (melhor dizendo, se arrastou pra dentro), e ouviu as portas fecharam atrás de si. Sua espinha gelou como o ombro dormente. A dormência no ombro só iria durar por mais uma luta, e olhe lá.

– Parabéns. Você é o primeiro homem a chegar até aqui vivo. Ou quase isso, né, querido... – disse o próximo desafio, olhando Sensei da cabeça aos pés com um misto de desdém e pena.

– Obrigado pela parte que me toca?

– De nada.

E ficaram em silêncio. Era gritante a diferença de ambos. Ela, impecável. Ele, mais acabado impossível.

Ela: um pouco mais de 1,80m (desconsiderando os saltos, que de tão naturais pareciam uma parte de seu corpo), pele negra, tão brilhante que parecia banhada no glitter. Olhos verdes, destacados por uma sombra dourada. Cabelos muito bem cacheados acima do ombro, bem cuidados, negros, brilhantes. Não era possível definir sua idade, muito menos sua identidade. Era de longe a diva mais andrógina de todas as doze douradas. A roupa não cooperava: um blazer curtinho branco com detalhes dourados, calça também bem ajustada, ambos de seda. Salto 15 fechado, com detalhes dourados. Plataforma. Nenhuma dobra na roupa. Em suma: impecável.

Ele: um pouco mais de 1,80m (desconsiderando os saltos, que não estava mais conseguindo usar), pele morena, brilhante de suor. Olhos variando do castanho para o prateado, irritados e destacados pela maquiagem borrada. Cabelos bagunçados na altura do ombro, tão mal cuidados quanto a barba, denunciando a idade. De longe o mais macho de todo o santuário. A roupa não cooperava: o sobretudo que usava estava rasgado, suado e cheio de sangue. A calça colada idem. As botas de salto estavam em uma das mãos, a outra, livre, estava praticamente inutilizada. Nada ficou ileso. Em suma: destruído.

Continuaram se encarando por algum tempo. Pareciam entender o momento, e ao mesmo tempo não querer que tudo acabasse de forma tão rápida e humilhante.

Suspiraram juntos. Pesado. Estavam um com pena do outro. Ela por ter de acabar com aquilo que foi tão longe e iria morrer ali, a um passo de dar certo. Ele por não poder dar àquela guerreira uma luta digna, nem ao menos se apresentar decentemente.

Mas aquilo tinha que acabar em algum momento. Ele tinha feito muito e praticamente sozinho, e tinha tido muita sorte até ali. “Quem sabe isso não seja digno de uma nota de rodapé, pelo menos...”, pensou ele. Ainda bem que ele se enganou e mereceu uma história completa, né?

– Meu nome é Hermaphrodite Flowerence, divassa dourada da casa das Peixiguetes, considerada por todos a mais andrógina do santuário vermelho. No entando, não se engane pela minha aparência. A sua jornada, a sua boa intenção, por mais bonita que seja, não chega no solado do meu salto. E ela vai acabar aqui, bem debaixo do meu sétimo samba. – disse a diva, com a voz mais andrógina (se é que podemos atribuir isso a uma voz) que se poderia escutar. Cruzou os braços e fechou a expressão, esperando que o outro ao menos tivesse forças para lhe responder antes de cair morto.

– Eu sou apenas um Sensei... Você já deve saber como me chamam por aqui. Não se engane pela minha aparência. Estou quase morto, sim, mas ainda quero lhe dar um pouco de trabalho. Enquanto houver brilho em mim, seja o dos olhos, o do glitter, o do suor, ou o do sangue... eu me recuso a desistir de seguir em frente. – respondeu o professor, depois de juntar os cacos de confiança que ainda possuía.

“Há algo de bonito nele, pelo menos...” pensou ela. E teve pena de ser quem deveria acabar com aquilo. E pensou duas vezes antes de engolir seco e falar:

– Então, “apenas um Sensei”... Eu estou olhando aqui, e vi que você tá um pouquinho fora de forma... Eu vou te mandar pro outro mundo com uma dietinha especial, ok? Assim você reencarna com um tanquinho melhor que esse. Foi um prazer lhe conhecer. – e dizendo isso, fez brotar de não se sabe onde uma couve-flor violeta. – MORRA, SENSEI! CHOU-FLEUR VIOLENT!!!

Hermaphodite atirou com toda a sua força a couve-flor em Sensei, que já sabia que não iria conseguir desviar naquele estado. Ouviu-se uma explosão, e tudo voltou ao silêncio de antes.

...

Pelo menos, até uma voz conhecida quebrar o silêncio, depois de já ter quebrado a porta da frente e toda e qualquer expectativa.

– Porra, couve-flor que explode? Uma dieta dessa nem pra quem tem barriga de ferro, hein... – disse.

– É verdade... – respondeu Sensei – e... eita, eu ainda tô vivo! Eita! É você!?

– Claro né, quem mais ia vir até aqui só pra salvar teu cu?

E bem, pelo vocabulário, vocês já imaginam de quem estamos tratando, não? Sim, Darukane apareceu e salvou o Sensei de última hora, quebrando a porta da casa noturna e desviando o ataque da diva com seu guarda-chuva.

Darukane realmente parecia uma oponente à altura de Hermaphrodite, tanto em termos de força quanto de estilo. Sensei teve vontade de desmaiar. De chorar. Se se jogar em Darukane. Mas não podia fazer nada daquilo. Ainda tinha uma missão a cumprir, mesmo sem saber se iria aguentar continuar de pé por muito tempo. Com enorme esforço, finalmente Sensei pôde se equilibrar e ver os detalhes da outra face daquela criatura estranha, já que na última vez tudo foi muito de repente e ela apareceu pulando com os dois pés nas suas costas. Darukane era um palmo mais alta que ele, e seus cabelos, antes castanhos e lisos, agora estavam mais escuros, quase pretos, levemente cacheados e presos em um rabo de cavalo lateral. Do outro lado da cabeça, um chapéu preto minúsculo com uma cruz prateada incrustrada de pedras roxas. Olhando bem, Sensei também percebeu que a cor dos olhos também havia mudado. Antes eram um verde, outro azul, agora eram um violeta, outro prateado. O vestido havia mudado completamente. Estava mais curto (um palmo acima do joelho), era praticamente inteiro preto, só um detalhe ou outro em roxo, e estava ainda mais cheio de babados e volumes, principalmente na saia. A parte de cima era bem composta, sustentada por um falso espartilho que fazia parte do vestido, também preto, com detalhes cinza. Usava ainda luvas pretas de renda, meias pretas com um bordado em tons de cinza, preto e roxo e botas de cano curto. Fora isso, estava acompanhada da bolsinha minúscula de onde tirava tudo (agora preta com morceguinhos estilizados, combinando com o resto da roupa) e do guarda chuva transparente de sempre. Não, ele não mudou nem um pouco. Só parecia maior e muito mais perigoso do que antes.

O rosto era o mesmo, a cor da pele era a mesma, mas a expressão era totalmente diferente. Se Aikane era amável e parecia uma boneca de porcelana, Darukane parecia um androide psicopata. E do vocabulário, nem precisamos comentar...

– Porra professor, cada vez que eu te encontro tu tá mais fodido, hein... Desse jeito é melhor eu nunca mais te ver, senão vai acabar sendo no teu velório...

– Quem é essa aí? E porque interrompeu a nossa luta? – perguntou a diva dourada.

– Bem, não te importa nem um pouco, mas... Sou Darukane. Eu interrompi porque eu quis, e porque esse viado aí ficou não aguentou o tranco e pediu ajuda lá na outra casa, mas eu tava ocupada e só cheguei agora. Pelo menos ele é cagado e sobreviveu até eu chegar. O foda é que eu ia lutar com duas, mas já que cheguei atrasada vou ter que compensar a surra que ia dar na outra em você mesmo, né, é o jeito...

– Tá se achando demais, hein, rapariga... Você acha que tá falando com quem?

– Sei lá! Faz diferença se tu vai morrer daqui a pouco?

– ...

Não sei se por causa da insegurança que o ombro em péssimo estado lhe dava, ou pela expressão de nenhum amigo (poucos é pouco) no belo rosto da diva, mas uma coisa é certa: Sensei teve muito medo. E não sabia se tinha mais medo dela, que era inimiga, ou de Darukane, que estava do seu lado. Descobriu logo.

– Ei, porra, tu vai ficar aí parado olhando a banda passar? Vai logo pra sala da bicha mestra! – disse, dando um tapa em Sensei – Aff, tu é mesmo professor? Porra, tu é burro pra caralho! Já devia ter aproveitado e corrido faz tempo, né?

E Sensei, sem pensar duas vezes, atravessou a última casa. Hermaphrodite tentou impedi-lo, mas foi barrada por Darukane, que tentou acertá-la com seu guarda-chuva. Errou por pouco, mas quebrou boa parte do chão do lugar.

– Ok, rapariga, já que vamos lutar, primeira coisa: minha casa, minhas regras. Pode largar esse treco aí. Nada de armas no santuário vermelho.

– E tu acha mesmo que vai fazer diferença eu estar desarmada? Se vacilar eu te mato no cuspe, porra!

E dizendo isso, cuspiu no chão. A diva, pra lá de irritada, começou a atirar mais couves-flores explosivas em Darukane. A lolita gigante jogou o guarda-chuva no chão e rebateu todos os ataques com socos. Depois, sorrindo de deboche e estalando os dedos, disse:

– Vem na mão se tu é macho, porra! Não, peraí... Tu é macho mesmo? Enfim, tu entendeu! Vem!

– Bem, realmente não vale a pena gastar meus lindos choux-fleur com você. Prefiro usá-los para minha dieta da diva.

– Tu come esses trecos?

– Sim, eu como isso. E só. E estou perfeita, como você pode ver.

– Tem certeza? Tu não bate bem da cabeça, não, cara. Só espero que isso não tenha te deixado fracote, vim pra me divertir. Mas quero saber se tu é forte mesmo. Vem, bate aqui ó! – provocou a lolita, batendo no próprio rosto.

Hermaphrodite mostrou que só tinha de leve a dieta: mandou Darukane pro outro lado da casa com um murro. A mulher bateu na parede, caiu sorrindo e revidou na mesma medida. Começaram uma troca de golpes digna de um show temático de artes marciais (só precisavam se coreografar melhor e fazer cair menos sangue). Mas aquilo não era combinado. Era sério. Muito sério. Pelo menos, foi o que achou um Kruba, quando finalmente chegou correndo e esbarrou com a cena.

Kruba, sem reação, parou por alguns instantes para admirar a mulher mais macho e o homem (se assim o fosse) mais feminino que já havia visto em sua vida lutando como os dois animais mais selvagens do mundo. Até que as duas lutadoras finalmente notaram sua presença e se deram um pequeno descanso.

– Que é, tá olhando o quê? Não estou atendendo agora, tenho uns assuntos pra resolver com essa ogra. Volta mais tarde, ok?

– Kruba, caralho, eu aqui segurando a... a... o... bem, essa porra aí, e tu aí olhando? Se fuder, né! Passa logo pra ajudar o professor que ele tá todo fodido, cara, se soprar um vento mais forte ele morre!

E depois disso, um quase silêncio: as duas, ao se encararem novamente, rangeram dentes e voltaram a se bater. Tudo que se ouvia era o barulho daquele combate. Sem pensar duas vezes, Kruba resolveu seguir em frente, mas antes ainda disse:

– Ei mulher, vê se lembra de voltar pro negão antes de matar ela, ok?

– Vou tentar! – respondeu Darukane.

– Sei... – disse Kruba. E pra se certificar do cumprimento “promessa”, atirou dois dardos no pescoço de Darukane.

– Que merda é essa, Kruba?

– Tranquilizantes. Senão tu vai matar a outra.

– Como assim? Tá me chamando de fraca? – perguntou a diva, visivelmente indignada com a suposta ofensa. Aliás, ela acabou levando um murro por causa do descuido.

– Não, só tô salvando sua pele. Nunca quisemos mortes, e Darukane é uma máquina de matar com poder virtualmente infinito. Quanto mais tempo ela luta mais ela se empolga, e quanto mais se empolga mais forte ela fica. Enfim, boa sorte aí. Qualquer coisa, implore para ela procurar o negão. Fui!

Depois disso, Kruba saiu correndo e as duas continuaram a luta. Ou eu deveria dizer “começaram o massacre”? As palavras de Kruba fizeram efeito. Aos poucos Darukane começou a bater cada vez mais pesado, mesmo sob o efeito dos dardos de Kruba. A diva esquivou e jogou mais de suas hortaliças demoníacas, mas não tiveram efeito. Os golpes, mesmo encaixando com mais frequência, pareciam não surtir tanto efeito quanto antes. Ou era isso, ou Darukane já estava completamente dormente, coisa que era impossível de definir, já que ela nunca tirava a expressão perturbada do rosto.

Até que, finalmente, a lolita parou de revidar para bocejar lentamente.

– Cara, cansei. Tava até legal no começo, mas....aaaah...agora tu tá me dando sono. Vem pra cima que quero terminar essa merda logo e ir ver o negão. Tá sem graça já essa merda.

Literalmente bufando de cansaço, com o orgulho ferido e desabrochando de ódio, Hermaphrodite juntou tudo o que lhe restava de força e socou a barriga de Darukane. Era um soco potente o suficiente para derrubar qualquer um. Mas Darukane não era “qualquer um”. Era um monstro, em todos os sentidos. Para aquela mulher, acostumada a esmagar crânios, não havia diferença entre destroçar membros, rosas ou couves-flores. O soco que poderia matar muitas pessoas não moveu a lolita nem um pouco. Mas fez as duas sorrirem, e Darukane revidar na mesma medida, como questão de honra.

– BURANDO KEN! – gritou Kane, e juntando toda a sua força em um soco de cima pra baixo, “brando” só no nome, nocauteou sua inimiga. Hermaphrodite também resistiu ao soco que mataria imediatamente muitos inimigos. Também era um monstro. Um dos mais belos de todos os monstros. Não morreu, apenas foi colocado em hibernação forçada. Depois, como que lhe acompanhando, Darukane fechou os olhos em um misto de cansaço (se é que ela conhecia aquilo) e sono. Foi nocauteada pela gravidade, caindo ao lado de Hermaphrodite. O expediente da última casa noturna havia acabado mais cedo naquela noite.


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Notas finais do capítulo

- Hermaphrodite Flowerence foi inspirada em Afrodite de Peixes e Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine
— Florence Welch é virginiana (juro que não é de propósito)

Então. Essa foi a última das doze divassas. E meu deus, deu um trabalho gigantesco. Primeiro: como tornar "glitter" o Afrodite, que já é glitter puro? Depois: como parodiar um ataque que se baseia em FLORES? Foi tudo muito difícil e eu não queria fazer ele machão. Passei um dia inteiro pesquisando sobre couve-flor e em qual língua ficaria legal o nome do ataque, mas valeu a pena. kkkkk
Acabei voltando pro francês, porque é a língua mais fresca que eu conheço. E sim, a divassa mais andrógina de todas é afro, porque quis sair um pouco do padrão europeu (acho que deu pra perceber ao longo das casas) e minha amiga pisciana me deu essa ótima ideia de visual. E por fim, ainda bem que criei a Darukane, ou o Sensei não iria resistir a essa luta. Ela é bonita, parece inofensiva, mas tem a mão pesada!

Mas e aí, gentes? Gostaram da divassa das peixiguetes? E do conjunto das douradas? Qual a sua preferida? O que acharam da Darukane mitando? Pois deixem suas impressões, reclamações, sugestões e comentários aí que eu leio tudo! E fiquem de olho, porque a história ainda não acabou!

No próximo capítulo, ela, a mais lacradora de todas.

A bicha mestra.

Semana que vem, não percam!

Até lá o/



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