As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 17
17- Kamizaki Frost


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! E chegamos com um capítulo gelaaado... mas a chapa tá esquentando!

Boa leitura!



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A última luta tinha custado mais do que Sensei havia calculado. Depois de sobreviver ao que posteriormente seria chamado “a melhor briga de espadas da história do santuário vermelho”, Sensei andou até a casa correspondente a Aquário. “Finalmente terminando isso”, pensou. Nem lembrava mais o que ia fazer depois de passar por tanta coisa, mas continuava andando assim mesmo. Bem, dizer que ele continuava “andando” é uma forma exageradamente otimista de dizer, na verdade ele se arrastou como podia até lá. Estava cheio de dores, uma especialmente forte e incômoda no ombro direito, roxo e inchado. Seu ombro havia sido deslocado com as pancadas de La Cindy, e só agora, passado o calor da batalha, ele tinha sentido. Como ainda estava no espírito “macho man”, respirou fundo, juntou o que ainda lhe restava de masculinidade e resolveu a dor do ombro da forma mais bruta possível no momento: correu e se jogou de ombro na porta da próxima casa. Conseguiu arrombar a porta e caiu no chão, gritando para o santuário inteiro ouvir com a dor do ombro, que de alguma forma havia voltado pro lugar.

– Aff, que macho barulhento. Eu nem encostei e já tá urrando, imagina só quando... enfim... Quem é você mesmo? – disse uma pessoa que Sensei nem viu direito, estava com os olhos fechados e muita dor pra prestar atenção em qualquer coisa.

– Sensei... só... Sensei... – disse, rolando de dor no chão e tentando respirar – mas... por aqui eu tenho a infame alcunha de “divasso bronzeado de nove rabos”... talvez você...tenha ouvido falar. E você é a divassa da casa de aquário, suponho...

– Ah... ah, sim. Ouvi por aí. Não prestei muita atenção, mas ouvi que tinha alguém passando pelas casas noturnas. Então era você? E bem, seja lá quem você for, por que eu deveria te dizer quem sou eu?

– Sim. Era eu... Por que? E bem, não diga então... Não vai fazer muita diferença mesmo... – respondeu Sensei, tentando (em vão) se levantar.

– Por nada não. E meu nome é Kamizaki Frost, sou a divassa dourada que protege a casa do Gelo Seco. Mas... peraí... então você passou por todas até aqui?? Como assim? Deu o golpe do “Boa noite Divarela” em geral? Porque só com todo mundo dormindo pra um homem sozinho passar por tantas douradas... Era pra supostamente ninguém conseguir passar até aqui (o que, por sinal, torna a minha vida um saco). Que loucura... Isso é contra qualquer lógica. Você tem certeza que não é nenhum doido, bêbado ou drogado ou qualquer coisa assim que se perdeu por aí e agora jura que passou por isso tudo?

– Bem, talvez eu seja mesmo e tudo seja um delírio... Mas e se eu não for?

– Então você operou um milagre sozinho. Se bem que... bem, isso é interessante...

– Bem, desculpe acabar com a sua lógica ou seja lá o que, mas sim, eu passei, e vou passar pela sua casa e pela próxima pra... Bem, nem sei mais pra quê, mas vou assim mesmo. E se duvidar mais passo duas vezes indo e voltando!

– Bicha, tu tá com um braço todo fodido e acha mesmo que vai conseguir passar por mim? Há! Vou nem rir que a piada foi horrível – respondeu Kamizaki, mudando totalmente o tom da voz no final.

– Rapariga, eu sei que tu é arrombada, mas com a dor e a raiva que eu tô sentindo por ter que passar por essa merda toda pra fazer uma maldita pergunta, eu só preciso de um braço pra te torar no meio! E vai ser sem lubrificante!

– Ui, parece que a dor te deixou com um bocão hein... mas duvido que a garganta seja profunda assim. Você é um reles aprendiz perto de nós, divas de ouro. Você talvez faça algo com esse bração forte aí que você tem. Talvez, quem sabe... Mas querer comparar? Aí é foda, né? Minha filha, nós só precisamos de um dedo. Um dedo só e nós acabamos contigo. Qualquer uma de nós. Com certeza elas passaram esse tempo todo brincando com você, bicha burra. Não tem como alguém passar sozinho até aqui. Nem um exército passaria. Nem que metade ficasse aqui e a outra metade tentasse ajudar alguém a passar alguém passaria. Boto um dedo só contra esse teu bração, tá bom?

– ... Um dedo? Ok. Então se o meu braço ganhar do seu dedo você me deixa passar?

– E quem disse que estamos competindo? Desde quando eu disse que em algum momento eu vou te deixar passar seja lá como for, rapariga?

– Bem... então não deixe. Eu passo à força. Não sei como e talvez meu corpo não aguente, mas vou te ensinar uma lição, Kamizaki.

Só depois desse tempo todo, com a dor um pouco (só um pouco) menos pior, Sensei conseguiu prestar atenção na divassa do Gelo Seco e no lugar. O nome era bem óbvio, já que a fumaça do gelo seco tomava o lugar e não deixava ninguém ver quase nada. A dona do lugar possuía uma expressão tão fria quanto tudo ali, mas como as outras, muito andrógina. Nesse caso, androginamente bela, loira, e exótica. Na verdade, loira não, branca, quase albina. A pele era quase cor de neve. Os cabelos também eram esbranquiçados, espetados em um penteado estranho que parecia uma mistura propositalmente mal feita de uma trança francesa invertida com um toque punk, pois em vez de um coque terminava em um monte de cabelos espetados para cima. Os olhos prateados enormes eram claramente lentes. Os outros traços de androginia e estranheza harmonizavam naturalmente, de alguma forma. Usava um vestido curto e preto de renda, com a parte de cima transparente, forros só na saia curta (bem curta) para deixá-la redonda e volumosa. O vestido possuía mais detalhes do que Sensei conseguiria captar naquele estado, mas prestou atenção que era uma mescla de gothic lolita e burlesque, com vários detalhes em tons escuros de lilás e alguns fios dourados na borda da saia e das mangas longas.

Sensei congelou diante da visão de Kamizaki. Ela parecia um iceberg vivo, emanava uma aura que parecia lhe congelar até o pensamento. Ele não podia vencê-la batendo de frente com ela naquele estado. Talvez, se tivesse os dois braços e umas nove caudas... Mas naquele estado, nunca. Era como correr pelado de encontro a uma muralha de gelo eterno esperando derrubá-la com um murro. Algo que ele só poderia realizar em outro mundo. Tratou então de esfregar os neurônios um no outro o mais rápido possível para tentar esquentá-los e pensar em algo antes que virasse apenas uma estátua de gelo a mais para compor a decoração do lugar.

– Então...?

– Então... Eu lembrei de uma coisa. Posso fazer uma ligação?

– Suas últimas palavras antes de virar picolé e ser jogado lá fora pra ser chupado pelas cachorras? Tudo bem. Meus bônus congelaram, mas tem um telefone ali, – respondeu a diva, apontando para um balcão no canto – acho que tá funcionando. Não sei, nunca usei...

“Bem, pelo menos vou ter algum tempo pra pensar em algo e respirar...” – pensei Sensei, se dirigindo ao balcão.

“Hm gato, tá enrolando heim... mas também heim, cê tá todo acabado, parece até que passou uma noite no cafofo da Shakeella com o terceiro olho aberto...” – disse uma voz conhecida na sua cabeça

“Mulan?!”

“Ui, seria um sonho viu amiga, um sonho! O olho até brilha só de imaginar...”

“Shakeella?”

“Eu sei bem qual olho que brilha...”

“Ain, paraaaammm”

“É, bichas, parem, pelo amor dos deuses. Porque diabos vocês estão falando na minha cabeça DE NOVO? É outra armação?”

Sensei começou a digitar um número qualquer.

“Hm... pior que não, viu. E bem, estamos falando porque... ai, saudade, né, gato?”

“Néé?! Volta logo pra gente, viu, com essa aí cê não vai conseguir nada. É gelaaaada...”

“Tô vendo. E sentindo, tô quase virando sorvete aqui.”

“Sorvete? Nada... tá virando pavê querido. E pacumê, óbvio!” – soltou Shakeella

“Gulosa essa bicha viu...cuidado. E também né, claro que tá passando frio, acabou com o look divoso que eu te fiz...”

– Hm, não é esse. – disse, desligando e digitando outro número qualquer.

“Como você sabe?”

“Helooow, somos as douradas meu amor, a gente sempre descobre os babados todos”.

– Horizonte 37, onde você se farta à vontade do que quiser, boa noite. O que deseja? – disse uma voz conhecida do outro lado. Era o bartender.

– Alô? É da liga da vingança? – disse Sensei pra ninguém do outro lado da linha.

“Hm, vingança, adoro. Quero ver quanto tempo ela vai cair nessa, viu...”

“Ih Lorde. Ela é inteligente, vai demorar não. Mas ela é muito estranha, viu...e pra quem ele ligou? Adorei o slogan”

– Vocês tão aceitando trabalhos?

– Hm gato, aí depende né... é coisa amorosa ou só uma inimiga mesmo? Tá, parei. A coisa tá difícil aí pra você estar falando em código, hein. Já conseguiu a informação ou ainda tá preso aí? Tá né? Tadinho, gente, mas isso tudo aí tá inteiro, né? – disse Stradomus, ignorando completamente o resto do bar.

“Ai, eu acho que num é bem esse tipo de trabalho que ele precisa não heim...”

“Eu tô aceitando... só chegar aqui pra gente meditar a noite toda!”

– Mais ou menos. Ah, entendo. Hm. Eu queria falar com o supermacho então, por favor? Ele está?

– Supermacho? Você tá falando do negão? Assim... melhorou, mas tá descansando.

“Hm, supermacho? Como assim você tem um supermacho? E eu aqui achando que você que era o supermacho da relação... Shakeella Shakeella, me amarrota, mas me amarrota muito que eu tô passada com goma!”

“Mulaaaaan Mulady Mulorde... tô no chão, viu. Chocada com essa agora. Pode me conjugar que eu tô pretérita. Aparências enganam, hein...”

“Dá pra vocês calarem a boca?” – Pensou ele.

– Entendi. E o incrível cookie e a mulher picuinha, estão disponíveis?

“Incrível coo...kie está sempre disponível, meu amor!” – Soltou Mulan

– Ah, você fala o Kruba e a Aikane?

“Ai, adoro... apesar de que vamo ser sincera, né... Essa coisa de coo..kie é gourmet, chique demais. Somos douradas e tops mas nossa coisa é mais de rosca, né amiga?” – completou Shakeella

– Isso, isso...

“Tá difícil vocês hein... Nem pra não atrapalhar já que não ajudam?”

“Pior que nem dá pra te ajudar, bofe. A gente não pode sair se metendo assim e brigando com as outras, apesar da vontade enorme de ir aí cuidar de você...”

“É, eu tô doida pra poder arrumar essa roupa aí (e te dar um trato, que cê deve tar um horror e bem tenso), mas só posso quando você ou desistir ou terminar seu processo aí.”

– Hm... bicha, tu tá num azar danado heim...

“Desde que me meti com vocês, tô mesmo.”

“Uhh....”

– Eles acabaram de sair. – completou Stradomus - Então daqui pra eles voltarem e irem aí... Uma hora, talvez duas. Era coisa pequena. Se vira aí que eu vou fazer o que puder. Pode ser?

– Ok. Obrigado... – disse, tomando notas. Depois suspirou e desligou o telefone.

“Hm, ai que drama hein... Pensou em algo bom, né? Quantos golpes especiais você ainda tem?

“Não. Pensei em algo, mas não é nada bom. E nessas condições? Um golpe só, e olhe lá...”

“Boa sorte, gato. Volta inteiro, tá? Vamo desligar pra você se concentrar...”

“Vou precisar mesmo... Bem, não tem o que concentrar. Eu só tenho um golpe... preciso distraí-la o máximo possível para não errar. Se eu errar...ferrou. Ferrou muito.”

E bem, envolvido nesse monte de pensamentos, vocês já devem imaginar o que aconteceu com Sensei. Sim, sim. Exatamente. Ele foi parar direto na parede com um chute no peito. Para sua sorte, não bateu com nenhum dos ombros (o que não torna ser jogado na parede por um chute potente menos dolorido)

– Você é muito fraco. Achou que podia me derrotar me dando um gelo desse nível, se fingindo de indiferente? Eu sou a mestra do ge- hm... O que é isso aqui? – disse Kamizaki, se abaixando pra pegar um caderno. Era o caderno de Sensei, que havia escorregado de sua mão com a potência do chute.

– Isso... não mexa nisso...

– É um caderno de anotações? Vamos ver...

Depois de folhear um pouco, ela acabou encontrando uma anotação que Sensei havia rabiscado quase aleatoriamente enquanto estava ligando. A diva gelada leu o seguinte:

“era mais que fria
gelada de doer os dentes
da boca do estômago

o pior de tudo:
seu gelo era seco

no primeiro momento mais quente
não se derreteu por mim
virou fumaça e saiu por aí
foi se misturar com outros
de sua statusfera

Sensei”

– Devolve...meu...caderno.

– Bicha, então primeiro tu pede ajuda pra sei lá quem... E aí além disso tem um diário em que escreve poemas de amor pra quem acaba de conhecer. Você é estranho.

– E quem disse que isso é pra você? Já ouviu falar em “eu-lírico”? Ser inspirado em algo não quer dizer corresponda à realidade. Você é fria demais. É realmente muito bela, branca e exótica e diferente, mas... É um gelo só.

– Claro que sou um gelo. Você que é fraco, eu sou uma geleira polar eterna, beijos. Você precisa esquecer isso aqui e atingir o gelo absoluto se quiser me superar.

– Rapariga... Devolve meu caderno ou você vai se arrepender...

–Você não vai passar por mim se não for mais frio que eu. Ou seja, para de ser esquentadinho. Esquece isso aqui ó – disse ela, passando o caderno em uma bolsinha que carregava. O caderno congelou imediatamente, depois foi jogado pra longe. – nunca mais, e pode esquecer também aqueles amiguinhos que você chamou. Seja frio com todos, viado. Dê um gelo em qualquer um. Ninguém merece sua atenção. Dar atenção para alguém, de qualquer maneira é a forma que o sistema tem de nos aprisionar nessas relações idiotas que só causam desavenças e fofocas e babados. É expor suas fraquezas.

– Rapariga... RA-PA-RI-GA. Rapariga rapariga rapariga...

– Hm... O cérebro tá começando a congelar. Também, fraco desse jei-

– EU VOU TE MATAR, RAPARIGA! – disse, partindo pra cima da divassa – AQUELE CADERNO ERA A MINHA VIDA! OU PELO MENOS O POUCO QUE EU LEMBRAVA DELA! EU NÃO LEMBRO BEM, MAS ACHO QUE QUEM ME DEU FOI... sim... foi...aquela pessoa que eu me lembro quando chove... foi ela. RAPARIGA! DESCONGELA MEU CADERNO! AGORA! VOU TE TORAR NO MEIO! MAS VOU TE TORAR MESMO!

Enquanto falava, Sensei atacava com uma sequência interminável de chutes com os dois pés e murros e tentativas de arranhões com a mão esquerda. De onde tirava tanta força? Bem, ninguém mexe no bem mais precioso de alguém e sai ileso, sai?

“Mas...ele tá todo acabado, quase morrendo congelado, e com um braço fodido... Como ele tá me atacando assim a ponto de eu ter de me desviar e me defender pra não me machucar? Isso tudo é ódio no coração? Só por causa de um caderno? Ele se importa tanto assim com aquilo? Mas...era só um caderno com um monte de rabisco estranho...”

– VOCÊ É GELADA, NÉ? VEM CÁ QUE EU VOU FRITAR ESSE TEU CU É AGORA, RAPARIGAAAA! - de alguma forma, Sensei conseguiu derrubar Kamizaki e sentar em cima dela. Os olhos, prateados e cheios de ódio. O braço esquerdo tremendo e a mão brilhando, cheia de raios. A oportunidade perfeita para usar o seu – RAGING THUNDERFOOORCE!!!!!

“Acabou”, você deve estar pensando. Afinal, o golpe dele é de raio, e o ambiente é de gelo. Bem, teria dado tudo certo e até mesmo proporcionando um dano extra, um curto circuito total... Se o golpe tivesse acertado. O único “problema” é que o golpe parou no meio do caminho. Uma segunda divassa apareceu na hora certa (para estragar o plano) e desviou o braço de Sensei. Depois puxou uma garrafa de algum lugar, levantou Sensei no impulso e o jogou pra longe com uma garrafada. Por incrível que pareça, a garrafa não quebrou. Estava completamente congelada.

– Esfria as cabeças, papi... eu sei que a mami é fria, mas... não é por mal...

Sensei não sabia mais o que fazer. Além de ter desperdiçado seu último golpe, ainda havia agora mais um inimigo, e não parecia tão fraco assim. Depois que o cérebro voltou a funcionar, começou a sentir a dor da garrafada. Era muita, e gelada, mas ao menos tinha feito ele esquecer do ombro por alguns instantes.

– Au... Nossa, isso é mesmo uma garrafa? Parece um porrete de aço. E... Quem é você?

– Eu sou Hiyannoga, a divassa de Cisne Afro. Então, papi... gostou da minha Ice Black Diamonds Premium Edition? Mami sempre dá um jeito de me dar um gelo, mas eu achei muito preconceito o gelo ser sempre branco, então inventei minha versão. – disse, mostrando as garrafas congeladas. Realmente, pareciam conter um líquido escuro, tão congelado quanto as garrafas.

Quando Sensei olhou melhor para Hiyannoga, seu primeiro pensamento foi “Hm, acho que o negão fez umas visitinhas mais demoradas por aqui hein...”. E teve vontade de rir, mas a dor não permitiu. O tom de pele da Cisne Afro fez Sensei lembrar-se de chocolate congelado. Apesar do nome, o cabelo era curto, prateado e estava bem escondido embaixo de um chapéu transparente. Feliz e infelizmente a transparência não ficava só na cabeça. Os olhos eram de um curioso azul quase translúcido, mas o corpo estava coberto por algo que deveria ser um vestido clássico e simples (parecia uma tela brilhante feita de fios de gelo) que deixava a mostra a pele, uma calcinha branca e dois adesivos em forma de cristal de gelo cobrindo os mamilos da inimiga. Apesar de tudo isso, era difícil ver alguém bela, negra e étnica como ela por aí.

Depois de olhar tudo isso e manter os olhos fixos na garrafa, ouviu a voz da outra bicha, que estava no chão com uma cara de desprezo durante esse tempo todo.

– Rapariga, quem mandou tu se intrometer na minha luta?

– Mas mami, o papi ia te matar logo agora que vocês se encontraram...

– Ahn... Só por curiosidade, moça... mas quantas garrafas dessa Diamond Dust Black Supreme sei lá o que das quantas você bebeu?

– Cala a boca, Hiyannoga, e você, calado também. É uma longa história que não lhe interessa nem um pouco.

– Mas mami...

– Calada.

– Mas...

– Xiu.

– Ai papi! A mami é muito gelada! – disse a outra, depois de correr pra Sensei e agarrá-lo forte o suficiente pra Sensei relembrar de todas as dores que estava sentindo. Ao mesmo tempo, servia de anestésico, sua pele estava gelada. – mas um dia ela provou a Black Diamond, e me contou tu-di-nho. Eu sei de tudo.

– HIYANNOGA!

– Mami me contou de como finalmente encontrou o amor em um lugar sem esperança e de como vocês ficavam bem juntos debaixo da sombrinha dela e de como um dia meu papi viria pra brincar na neve comigo de montaria. Mas nunca veio ninguém... só que agora você finalmente chegou, papi!!!

– Ahn...

– Então papi, você quer brincar na neve?

– Bicha burra, ele não é-

– Claro, claro, vamos sim! – disse Sensei, fazendo Kamizaki congelar por alguns instantes. – Mas antes disso, vamos brincar de outra coisa...

“Xeque-mate, rapariga”, pensou ele. Era uma última aposta. Era suicida, mas era aquilo ou morrer congelado. E não ia demorar muito pra a segunda opção acontecer.

Sensei levantou com a ajuda da “filha”, tirou as botas, pegou uma com a mão que ainda funcionava e olhou para a diva dourada, com uma expressão irônica.

– Então, papi, vamo brincar de quê?

– Sabe o que é, bebê... Sua mãe foi uma menina má esse tempo todo...

– Filha, não escute esse idiota. É mentira! Seja lá o que ele vá dizer, é mentira. Você é burra sim, mas acreditar no que um desconhecido diz é demais.

– ... e aí esse tempo todo ela também me deu um gelo. Mesmo agora, na sua frente, ela insiste que eu sou um desconhecido, um qualquer. Pode isso, filhota? A mami sempre faz isso, por isso eu fui embora. Eu cansei, sabe? Mas eu voltei, tive vontade de ver você, e se estava tudo bem. Desculpe a demora... E agora que eu voltei ela continua assim, me dando um gelo. Pode?

– Filho da...

– Filho da minha mãe, sua sogra, que você também tratava mal. Que os deuses a tenham. Eu sei, você odiava ela, mas ela já se foi, não precisa continuar com esse rancor no coração.

– Que triste, papi... mas... do que vamos brincar exatamente?

– Vamos brincar de... família titanic! É tipo um pega pega, um toca gelo... Eu e você contra a mami, porque ela merece ser punida. Ela foi muito má. Então nós vamos bater nela até quebrarmos esse iceberg que ela é, ou então ela vai nos congelar.

– E eu vou ajudar o papi?

– Claro... Ou você quer ajudar ela?

– Não, eu vou ajudar o papi.

– Vai sim.

“Você não sabe o quanto...”

– Você vai me trair? Sua... sua... Olha aqui, seu manipulador, você não vai me vencer, mesmo com a ajuda dela. O meu gelo é absoluto. Qualquer tentativa de derretê-lo é suicida. Fique avisado.

– Tudo bem. Seja lá quem ganhar, fica em família. Você é Kamizaki, eu sou Kamikaze, e ela é... Black Ice?

– Ice Black Diamonds Premium Edition!

– Isso, isso... Então, rapariga do gelo, eu vou te dar uma lição de amor fraternal. E filha, eu vou te ensinar como quebrar o gelo da mami poderosa. Pre-para!

Sensei colou o braço inutilizado ao corpo, girou a bota pelos cadarços e lançou na direção de Kamizaki com o resto da força que ainda possuía. A dourada rebateu o ataque com uma bolsinha que estava até então em seu ombro. O ataque deu tempo suficiente para Hiyannoga correr em direção à mãe e tentar acertá-la com suas Black Diamonds. Kamizaki se afastou de forma eficiente, pulando graciosamente para trás.

– Eu já disse, não disse? Nem juntos vocês podem me vencer. Eu alcancei o gelo absoluto. Vocês não podem me fazer nem ao menos derramar um pingo de suor com vocês.

– Então se fizemos você derramar uma gota de suor nós ganhamos? – disse Sensei, sorrindo, pegando a outra bota do mesmo jeito.

– E quem disse que eu aceito esses seus acordos medíocres?

– Aiai mami, você é sempre do contra também, hein... É por isso que o papi saiu de casa... – soltou Hiyannoga.

– Exatamente. Ela sempre foi assim, sabe... – disse, mantendo com muito esforço o tom triste e o controle da vontade de gargalhar – ela finge que não se importa com a mesmice do mundo, mas na verdade é tudo um mecanismo de defesa porque ninguém aguenta essa estranheza dela.

– E daí que ninguém me quer? Eu não preciso deles. Eu atingi o gelo absoluto justamente pra isso. Eu não preciso de vocês dois também. Morra de uma vez, e leve essa ingrata junto! – disse ela, dando bolsadas atrás de bolsadas em Sensei, que se defendia como podia, mas sentia pouco a pouco o corpo congelar, seja pela temperatura do lugar, seja pelo golpes da bolsa em si, que parecia uma pedra de gelo. – Ela nunca vai atingir o gelo absoluto. Ela não sabe o que é passar pelo que eu passei, sofrendo todos os dias por querer ser diferente, por querer mostrar que é legal não ser igual a todos. Ninguém quis entender que é nas diferenças que nós somos iguais. Ficavam o tempo todo rindo de mim, me chacoteando e chicoteando. Pra que eu preciso de gente assim? Eu não preciso de ninguém. Só de manter o gelo absoluto!

– Pobre Kamizaki Frost... Você acha mesmo que atingiu o gelo absoluto? – disse Sensei, segurando de repente a bolsa da divassa. – Você não chegou nem perto. Você acha que é tão diferente assim? Você acha mesmo que é tão isolada assim? Você se cegou com o seu friozinho de merda, bicha burra. Você não tem ideia do que é viver sozinho a vida toda, sendo o único a acreditar no que você acredita, e com todo mundo te chamando de louco, mesmo você sabendo que fala a verdade. Você não sabe o que é viver com a sensação eterna que é o único de sua raça, mesmo vendo outros parecidos com você o dia inteiro. Você se acha isolada do resto do mundo, Kamizaki? Você foi acolhida em um lugar que, diferenças a parte, existem pelo menos 11 pessoas parecidas com você, em situações parecidas com a sua. Não existe ninguém na minha situação. Ninguém! E se existe alguém com uma situação pelo menos parecida, eu ainda não encontrei. Talvez estejamos todos sozinhos, no fim das contas. Se pararmos pra olhar, a situação de ninguém é igual ou tão parecida assim. E mesmo assim eles se juntam. Mesmo com tantas diferenças, nem eu estou isolado do mundo. Mesmo sem saber de onde vim, pra onde vou, e porque diabos estou aqui falando isso pra você. Eu só sigo em frente porque de algum modo sinto que não devo ficar parado se quero descobrir alguma coisa, mesmo sem saber que coisa é que devo descobrir. E ainda tenho que aguentar tudo isso sozinho, porque nunca sei se tenho com quem contar. Quando tenho, não sei por quanto tempo os terei. Muitos me ajudaram, e muito, mas não posso esperar nada deles. Eles podem sumir a qualquer instante, como já sumiram: sem deixar vestígios. E não posso em nenhum momento reclamar, porque algum idiota, seja um deus, um destino ou talvez um escritor qualquer ou qualquer coisa do tipo inventou de que eu seria uma espécie de herói maluco solitário que teve um passado bizarro, um presente tão bizarro quanto, um futuro pelo que visto mais bizarro ainda. Um alguém que do nada vai mudar o universo em algum momento da vida, ou ser doido de achar que vai tentar e conseguir, e só aí, talvez, quem sabe, um dia encontre alguma graça na vida depois de tanta desgraça. E enquanto isso eu tenho que ser essa criatura séria, supostamente ética até que eu tenha que quebrá-la para me safar, íntegra, e forte. Bizarramente fria, que nem eu sei como. Fria a ponto de (do nada!) arrumar uma estratégia maluca e suicida, mas friamente calculada. Meu ombro tá pior que quando eu tinha que escrever no quadro a semana toda. E eu não posso gritar um ai. Eu só posso ganhar. Só pude fazer qualquer coisa pra passar por você, pra depois passar por cima da maldita bicha que ainda vai vir, e se for preciso, passar por cima de quem manda nessa porra toda pra conseguir uma maldita informação que eu nem sei se vai servir pra alguma coisa. E o melhor de tudo: sem saber pra quê nem porque me meti nessa maluquice inteira, nem se realmente sou doido como todos adoram dizer ou se tudo isso tá realmente acontecendo. Tudo isso com o maior sangue frio do universo. Ou é isso, ou eu morro. De dor, de frio, de porrada, de remorso, de dúvida, de uma topada no dedinho... de qualquer coisa. Até de espirrar com os olhos abertos, se brincar. Não duvido de mais nada nesse mundo. Só sei que enquanto estamos vivos, precisamos continuar, seja lá o que diabos for, mas precisamos. Então eu tenho que continuar infinitamente a bater e matar e bater e deixar quase morto tudo que está à minha volta. Até sei fazer outras coisas, mas parece que o mundo quer que eu me resuma a isso... Então enquanto tiver um braço, uma perna, ou alguma outra parte do corpo funcionando, vou bater e matar e bater e deixar quase morto o que se opor a mim. É a única coisa que aprendi a fazer realmente bem. E não, não me orgulho disso. Seria muito melhor ser um velho professor em paz. Ser... sei lá, qualquer outra coisa que tivesse o mínimo de contato social verdadeiro com o mundo lá fora e vivesse em paz consigo mesmo. Você alcançou mesmo a porra do gelo absoluto? Então eu alcancei e me tornei uma tempestade de granizo absoluto, Kamizaki Frost!

Kamizaki não soube o que responder. Hiyannoga também não soube o que dizer. Ambas ficaram completamente congeladas pelo desabafo. E não fisicamente, porque a temperatura nunca as incomodou. Estavam congeladas emocionalmente, de um modo que nunca foram congeladas antes. Apanharam como nunca haviam apanhado na vida: moralmente. Aquela pessoa era diferente de tudo e todos, e não precisava alardear aquilo para ninguém. Era diferente, e se aceitava, e tentava lidar com aquilo, mesmo que não soubesse bem como. Aquele homem era ao mesmo tempo mais quente e mais frio do que tudo que já haviam presenciado.

– ... Filha... Eu perdi. Vamos brincar no gelo seco? De montaria... né? O papi precisa ir ali resolver algumas coisas. Aliás, eu preciso te contar uma coisa sobre ele... – disse Kamizaki, tocando o ombro machucado de Sensei, que o sentiu congelar até ficar dormente. Depois disso, pegou a filha pela mão e a levou para um canto escuro da casa.

Na porta de saída estavam as coisas de Sensei. Entre elas, o caderno. Intacto.


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Notas finais do capítulo

- Kamizaki Frost é inspirada em Hizaki, guitarrista da banda japonesa Versailles, e Camus de Aquário.
— Hiyannoga é inspirada em Rihanna, cantora pop, e Hyoga de Cisne.
— Hizaki é Aquariano (aê, acertei um signo na sorte! Uhu!)
— Rihanna é do signo de Peixes (quase, quase...)

Esse foi um dos capítulo mais trabalhosos. Tanto é que eu tive que ter uma ideia tão boa, mas tão boa que ele acabou sendo um dos maiores. Tava muito travado de sair. Primeiro porque eu não achava nada bom pra parodiar o Camus. Eu nem gosto muito dele (desculpem, mas gosto é gosto), nem via brechas boas para trabalhar a paródia. O nome é complicado de arrumar trocadilhos, o outro cavaleiro se chama "Dégel", pior ainda. E o Camus é uma figura séria demais. E eu tava quase desesperando... até que surgiu essa ideia. Achei feliz, porque faltava uma "diva japa", e acho que o Hizaki representa muito bem. Ele é extremamente feminino, e muito bom no que faz, acho que resume divassa em uma foto. E aí depois eu acabei incluindo a parte da Rihanna, porque vi que não podia deixar ela de fora quando já tinha colocado a Beyoncé e outras tantas famosas. Acabou que mesmo com o esforço extra algumas ainda ficaram de fora, mas desculpem, não consegui um jeito bom de encaixar todas as divas do pop nas paródias. São muitas, e lembrando que a ideia era um trocadilho do nome com o nome da celebridade. E bem... é isso. O Sensei deu uma lição de moral enorme na bicha geladaney, e ela que se achava a geleira foi quem acabou congelada no final. E vocês, o que acharam? Ficaram com pena do Sensei? Tentando entender porque ele falou aquilo tudo? Gostaram do capítulo? E da Kamizaki? Sim? Não? Por que? É só deixar nos comentários.

Agradeço mais uma vez a leitura atenta de vocês, e espero que continuem acompanhando, porque estamos na reta final. Na próxima semana...

A última das divassas douradas, a mais andrógina de todas. Será que Sensei aguenta mais uma luta?

As Divassas do Zodíaco, Capítulo 18: Hermaphrodite.

Até lá! o/



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