Em Busca de um Futuro Melhor escrita por Lyttaly


Capítulo 19
18


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoas o/
Desculpem a demora pra postar esse capitulo. Eu tive alguns imprevistos e deu nisso.
Eu quero agradecer a vocês porque essa história atingiu 1000 visualizações nesse meio tempo. Obrigada de verdade a todos que estão acompanhando e favoritando!
Esse capitulo é bem leve. Finalmente um capitulo leve pra essa historia neh?
Eu espero que vocês gostem!
Boa leitura o/



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(… e talvez você consiga voltar a rir.)

A garçonete voltou alguns minutos depois, trazendo o pedido. Kali e Felipe haviam ficado todo esse tempo em silêncio, observando o movimento na rua.

— Por que você pediu Coca-Cola? – Kali perguntou quando a garçonete foi embora.

— Não me diga que nunca tomou sorvete com Coca-Cola! – Felipe fingiu surpresa.

— Não! Por que faria isso? – Kali olhou-o espantada.

Felipe abriu a garrafa de Coca-Cola e encheu seu copo de sorvete com o refrigerante e Kali pegou seu sorvete começando a comer enquanto observava o que Felipe fazia.

— Hum! Delicioso! – Felipe exclamou de olhos fechados quando experimentou um pouco do sorvete. – É sério, você devia experimentar!

— Não, isso é estranho!

Kali continuou comendo seu sorvete enquanto observava Felipe, que fazia uma expressão de deleite.

— Tem certeza que não quer? – Felipe perguntou, vendo que Kali olhava-o curiosa.

— Não… – Kali respondeu sem muita convicção.

— Certeza? Porque você parece querer experimentar.

Kali não respondeu. Ficaram alguns instantes em silêncio até Felipe pegar um pouco de sorvete na colher, levantando-a na frente da boca de Kali.

— Experimenta. – Felipe falou.

Kali pensou por alguns instantes até que decidiu abrir a boca, um pouco contrariada por ter que engolir mais uma vez o seu orgulho diante de Felipe naquele dia. Sentiu o sabor do sorvete e o gás do refrigerante na boca. Era uma mistura estranha, mas realmente gostosa.

— É bom, não é? – Felipe sorriu vitorioso.

— Okay! Você venceu! – Kali revirou os olhos, voltando a tomar seu sorvete.

— Quer pôr Coca-Cola aí?

Kali afirmou com a cabeça e Felipe encheu a taça dela de refrigerante.

— De onde tirou essa ideia de misturar os dois?

— Você nunca ouviu falar em Vaca Preta?

— Vaca Preta?

— É o nome do sorvete misturado com refrigerante de cola.

Kali começou a rir descontroladamente quando Felipe falou isso, quase se engasgando com o sorvete e Felipe surpreendeu-se quando viu Kali rir.

“Ela fica linda quando ri…” Felipe pensou enquanto olhava-a com os cotovelos em cima da mesa e a cabeça apoiada nas mãos. Ele sorria com cara de bobo enquanto Kali chorava de rir.

— Por que Vaca Preta? – Kali perguntou, depois de alguns minutos, enquanto secava as lágrimas do rosto.

— Acho que é porque o sorvete é feito de leite de vaca e o refrigerante é quase preto.

— É. Faz sentido. – Kali voltou a tomar o sorvete. – Mas você há de concordar comigo que esse nome é hilário. – Kali voltou a rir.

— Você tem razão! – Felipe riu junto com ela.

— Combinação estranhamente gostosa. – Kali pensou alto.

— Meu irmão que me ensinou a tomar sorvete com cola, nos tempos em que ele era um cara legal.

— Você amava seu irmão, né?

— Sim… – Felipe respondeu nostálgico. – Ele era a referência masculina que eu tinha quando eu era criança. Ele era meu herói… – Felipe suspirou.

— Sinto muito. Deve ter sido difícil ver seu irmão mudar da noite pro dia.

— Sim, foi. Mas, apesar de tudo o que aconteceu, eu nunca deixei de amar meu irmão. Eu sempre lembro das coisas boas e de como ele me olhava arrependido quando tava sóbrio. Se ele nunca tivesse se envolvido com drogas, ele continuaria a ser meu herói de infância. Eu sei disso.

— Hum. E como seu pai faleceu? Se você quiser contar, é claro.

— Eu não tenho problemas com isso. Já faz muito tempo. Nem me lembro muito bem dele, na verdade. Ele morreu de infarto. Em um dia estava trabalhando normalmente e no outro já estávamos enterrando ele. Foi de repente. Ele simplesmente passou mal de madrugada, foi pro hospital e não voltou mais. Acho que foi por ter sido tão repentino que minha mãe entrou em depressão. Meu pai só tinha 50 anos e acho que foi difícil pra ela…

— Isso me faz lembrar: quando nos conhecemos, você me disse que tinha vindo pra Belo Horizonte porque seu pai foi transferido pra cá e que sua mãe era superprotetora e por isso você carregava uma caixa de curativos na mochila.

Felipe coçou a cabeça ficando sem graça por lembrar-se da mentira que contara.

— Por que mentiu sobre eles?

— Desculpa por essa mentira. Na verdade é isso que eu conto pras pessoas quando as conheço. Não gosto de falar dessa parte da minha vida pra ninguém. Você é a única pessoa além do meu terapeuta que sabe dessa parte da minha vida.

— Por que me contou isso?

— Eu senti que podia confiar em você. – Felipe sorriu em cumplicidade.

Ficaram alguns minutos em silêncio enquanto terminavam de tomar o sorvete.

— Não me lembro muito bem dos meus pais. – Kali quebrou o silêncio quando terminou de comer. – Mas, lembro muito bem do dia em que morreram. Foi minha culpa, sabe? – Kali olhou para Felipe dando um sorriso triste.

— Por que sua culpa?

— Eu insisti em ir em um zoológico. Insisti tanto e por tantos dias que eles simplesmente decidiram me levar. Por causa disso sofremos um acidente e eles morreram.

— Você não tem culpa.

— É claro que tenho. – Kali deu de ombros. – Eu tive muito tempo pra pensar sobre isso e essa é a conclusão a que cheguei: eu fui a culpada pela morte dos meus pais.

— Você só tem culpa da morte de alguém se é você quem puxa o gatilho.

Kali pensou um pouco no que Felipe disse.

— Eu não puxei o gatinho. – Refutou – Não tava dirigindo a caminhonete que bateu no nosso carro, mas por minha causa estávamos naquele cruzamento.

— Estamos todos sujeitos ao imprevisto, Kali. Não fique se achando, porque você não foge à regra.

Kali ficou em silêncio, pensando nas palavras de Felipe. Sempre teve certeza de que era culpada pela morte de seus pais, mas aquelas palavras e a firmeza com que Felipe as dizia fizeram-na duvidar disso e sentiu-se aliviada depois de tanto tempo sob o peso dessa culpa.

E mais uma vez, naquele dia, permitiu-se sorrir.

***

— Onde a Kah tá? – Rafael perguntou quando chegou à sala e não viu a irmã.

— Eles foram dar uma volta. – Isabella, que estava assistindo televisão deitada no sofá, disse, sentando-se quando viu Rafael.

— Eles? – Rafael disse, sentando-se ao lado direito de Isabella, que olhava para a televisão.

— Felipe e Kali.

— Eles foram dar uma volta juntos?

— Foi o que eu disse.

— E a Kali foi de livre e espontânea vontade?

— Por incrível que pareça, sim.

— Quem diria…

— Pois é…

— Desculpa ter te incomodado essa noite.

— Não foi incômodo nenhum, você sabe.

— Obrigado por cuidar da Kah por mim.

— Eu queria poder fazer mais…

— Você já faz o bastante, Isabella.

— E você dormiu bem? – Isabella preguntou olhando para Rafael.

— Dormi. Me sinto até mais descansado. Parece que dormir em um ambiente diferente me fez bem.

— Se eu pudesse traria vocês pra morarem comigo.

— Ainda somos menores de idade e se você fizesse isso com certeza a Célia não te deixaria em paz. Afinal, ela não vai querer perder o dinheiro que ela tira de mim.

— Tem razão… – Isabela respondeu pensativa. – Você acha que ela vai sair do hospital logo?

— Não sei. – Rafael suspirou. – Seria crueldade minha desejar que ela nunca saia de lá?

— Não sei. Se for o caso, eu também sou cruel. – Isabella sorriu-lhe e Rafael retribuiu com um sorriso pensativo. – Você tá bem?

— Eu só estou preocupado ainda com o fato da Kah ter desmaiado no outro dia…

— Qual foi a última vez que ela foi ao médico?

— Meu pai ainda tava vivo.

— Isso não é bom. Talvez eu possa levar ela no médico segunda-feira depois das aulas.

— Não sei se ela vai querer. Ir ao médico significa que alguém vai ver as marcas no corpo dela e ela não vai gostar disso.

— Eu conheço um médico de confiança que não vai perturbar ela com isso.

— Bem, se você conseguir convencer ela a ir…

— Okay, vou tentar. – Isabella sorriu. – Eu preciso fazer o almoço. Você acha que a Kali gosta de lasanha?

— Claro! Ela vai amar! Faz muito tempo que não comemos lasanha!

— Então vai ser o prato de hoje! – Isabella disse animada, levantando-se do sofá.

— Vamos lá, eu te ajudo. – Rafael levantou-se também.

— E por acaso você sabe cozinhar, Rafa?

— Eu tenho um restaurante italiano famoso, você não sabia? – Rafael brincou.

— Bobo. – Isabella disse, rindo e puxando Rafael para a cozinha. – Vamos, então, fazer a lasanha antes que eles cheguem.

***

Kali e Felipe chegaram quando o almoço já estava pronto. Enquanto conversavam, Isabella insistiu que Kali e Rafael passassem mais aquela noite em sua casa e eles resolveram ficar.

Quando a noite chegou, Kali estava no quarto onde dormiu anteriormente olhando para o diário tentando decidir se valia a pena escrever. Nas vezes que havia escrito ali terminara chorando e não gostava de chorar. Depois de muita hesitação pegou uma caneta e começou a escrever.

“Hoje foi mais um dia fora do comum. Por que isso está acontecendo tanto?

Hoje, depois de não sei quanto tempo, eu ri. E não foi um riso forçado, foi espontâneo. Na verdade tava mais pra uma gargalhada.

Eu estava com Felipe numa sorveteria. Eu nunca achei que entraria em um lugar tão chique como aquele. Também não achei que um dia voltaria a tomar sorvete… ou comer pizza. E em menos de dois dias eu fiz as duas coisas!

Felipe me proporcionou as duas coisas…

Ele é de fato estranho. Ao mesmo tempo que ele me mostra que guarda segredos, ele também me passa confiança.

Confiança… Só senti isso com Rafael até hoje. Não confiava em ninguém além dele desde a morte do tio Marcos. Mas o Felipe me fez sentir isso. Ele me fez rir também; ele me fez bem…

Ele me apresentou à vaca-preta que é basicamente sorvete e refrigerante de cola. É delicioso!

Eu confiei tanto nele que simplesmente contei a ele sobre o acidente que matou meus pais. Sempre me senti culpada por isso, mas hoje ele me disse uma coisa que me fez pensar: eu só tenho culpa da morte de alguém se eu puxar o gatilho. Eu não sou culpada pelo imprevisto. É algo tão simples e tão óbvio, mas que eu nunca tinha pensado sobre. E pensar nisso agora me deixa tão mais leve… O peso da culpa não está mais em mim.

Se eu não tivesse insistido em ir ao zoológico não teríamos sofrido um acidente, mas eu não estava dirigindo aquela caminhonete.

Eu não tenho culpa… Eu não fujo à regra do imprevisto…

Isso é bom… Esse sentimento de leveza. O Felipe tirou um peso de mim e eu vou ser eternamente grata a ele por isso.

Por que estou pensando nele agora? Eu devia estar pensado em Célia que está no hospital ou em como o Rafa está. Ou se estamos incomodando a Isabella por ficar na casa dela…

Mas não estou conseguindo me preocupar com nada disso agora.

Quando foi que me senti tão despreocupada assim?

Não lembro… Só sei que desde que Felipe foi embora hoje à tarde eu lembro da nossa ida à sorveteria e em como foi divertido.

Estou me sentindo uma criança agora que ficou feliz em tomar um sorvete.

Só queria que esse dia não acabasse, porque esse sentimento vai embora junto com ele e não sei se um dia ele volta.

Eu não queria perder isso mais uma vez…”

Kali fechou o diário. Um sorriso apareceu em seu rosto e, depois de muito tempo, teve uma noite de sono sem pesadelos, podendo, assim, descansar um pouco finalmente.


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Notas finais do capítulo

Quero saber o que vocês estão achando da historia.
Leitores fantasmas, eu sei que vocês estão ai. Apareçam!
Até semana que vem gente o/
Se você leu até aqui #obrigada^^



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