Em Busca de um Futuro Melhor escrita por Lyttaly
Notas iniciais do capítulo
Ola pessoas o/
Como vocês estão?
O capitulo está saindo hoje porque esse final de semana foi a prova do ENEM e, apesar de eu não ter feito a prova esse ano, eu não queria atrapalhar a concentração de ninguém, okay?
A música sitada no capítulo é: https://www.youtube.com/watch?v=02P2N4lZAvo
Esse é um capitulo importante. Espero que gostem!
Boa leitura o/
(Eu me perco em minha própria mente e não consigo reagir)
Rafael, que dormia no sofá da sala, acordou quando a luz do sol que passava por uma fresta na cortina atingiu seu rosto. Olhou em volta, tentando lembrar-se onde estava. Era muito estranho para ele dormir fora de casa. Por mais que sua casa não fosse o melhor lugar do mundo, em toda a sua vida seu quarto e o quarto de Kali naquela casa foram os únicos lugares em que ele dormiu.
Sentou-se no sofá, espreguiçando-se e coçando os olhos. Sentia-se descansado e desejou ter essa sensação todos os dias.
Foi ao banheiro lavar o rosto. Quando voltou ao andar de baixo, Isabella estava na cozinha preparando o café da manhã. Ficou alguns instantes observando-a. Ela estava com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, com um pijama azul de cetim. Enquanto esperava o café passar na cafeteira, ela ficou olhando para a torneira, perdida em pensamentos.
— O que você tá pensando? – Rafael perguntou enquanto pensava no porquê de estar ali parado observando-a.
— Você me assustou, Rafa! – Isabella se virou com a mão direita em cima do peito.
— Desculpa. – Rafael coçou a cabeça, sem graça.
— Tudo bem. Não tava pensando nada demais. Tô fazendo café, você quer?
Rafael anuiu sentando-se à mesa.
Isabella colocou o café em uma garrafa térmica em cima da mesa, pegando também um bolo de chocolate em uma bandeja verde e colocando-o ao lado da garrafa. Deu uma xícara a Rafael, que se serviu, sentindo-se quase que imediatamente mais acordado pela cafeína.
— Quando foi que você fez esse bolo? Eu não te vi fazendo ele…
— Foi de madrugada. – Isabella respondeu simplesmente, experimentando do café.
— Você não dormiu?
— Dormi. Daí acordei, perdi o sono e vim fazer um bolo pra vocês.
— Nós estamos te fazendo ficar atarefada, né?
— Na verdade não. Eu geralmente durmo pouco mesmo. Sempre fico corrigindo exercícios dos meus alunos durante a madrugada, estudando alguma coisa ou preparando minhas aulas.
— Entendi…
— E você? Dormiu bem?
— Dormi sim. Acho que faz anos que eu não durmo tanto em um só dia. Foi bom.
— Que bom, então. Hoje eu vou falar com a Kali sobre levar ela ao médico amanhã.
— Boa sorte em tentar convencê-la.
— Me convencer de quê? – Kali apareceu na sala ouvindo a última frase de Rafael.
— Vem tomar café da manhã, Kali. – Isabella desconversou.
Kali sentou-se ao lado de Rafael, sentindo um silêncio constrangedor se formar.
— Do que vocês estavam falando?
— Nada de importante. – Isabella respondeu. – Você dormiu bem, Kali?
— Dormi. Mas não muda de assunto Isabella. Eu escutei vocês falando meu nome e quero saber por quê. Principalmente agora que vocês estão claramente tentando esconder essa conversa.
— Toma seu café primeiro e depois a gente conversa. – Isabella disse, passando uma xícara para Kali, que resolveu aceitar.
Comeram conversando sobre aleatoriedades e Kali se deliciou com o bolo de chocolate.
— Vão me contar ou não? – Kali perguntou quando estavam todos na sala assistindo televisão.
— Você lembra que você desmaiou essa semana, né? – Rafael começou falando.
— Sim, e daí?
— Daí que eu fiquei preocupado com isso.
— Eu tô bem, Rafa, é sério.
— Não está.
— O fato é que eu também fiquei preocupada, Kali. – Isabella tomou a palavra. – Conversando com o Rafa, eu decidi que seria uma boa te levar a um médico pra–
— Não. – Kali interrompeu-a.
— Mas nós temos que saber se você está bem.
— Eu não quero ter que dar explicações a ninguém. Um médico perguntaria de onde vem meus arranhões e minhas dores. E eu não vou falar pra ele o motivo. – Kali começou a sentir-se mal por pensar nisso.
— Eu conheço um clínico geral de confiança, Kali, que não vai te fazer perguntas que você não queira responder.
— Você não entende, Isabela! Não dá! Eu não consigo! – Kali levantou-se do sofá sentindo seus olhos marejarem, mas segurou o choro. – Sabe o quanto eu sinto vergonha de ter meu corpo todo marcado? Por que você acha que eu uso sempre roupas compridas? Eu não quero que ninguém me veja assim. E quer saber? Eu até prefiro estar doente, porque assim, se eu morrer, eu vou ter algum descanso na minha vida. Seria melhor–
Kali interrompeu-se, de repente sentindo-se tonta e voltando a sentar-se no sofá. Colocou a mão sobre o peito, sentindo o ar faltar. Sua respiração ficou pesada. Sentia-se sufocar. Estava com medo, muito medo, um medo que nunca sentiu antes, nem na presença de seus agressores. Sentiu o estômago revirar e seu corpo tremia. Tentava controlar-se, mas não conseguia.
— Kali! O que tá acontecendo?!– Rafael perguntou aflito.
— Ela tá tendo um ataque de pânico! – Isabella disse tentando manter a calma para se lembrar o que deveria fazer em uma situação dessa.
Rafael pegou algumas folhas que estavam em cima da mesa de centro para abanar na frente de Kali, que já suava frio.
A campainha tocou. Isabella foi rapidamente atender já imaginando quem seria.
— Felipe! – Isabella exclamou quando abriu a porta. – Ainda bem! A Kali tá tendo um ataque de pânico, vem! – Isabella puxou-o para dentro da casa, sentindo-se aliviada por ele estar ali.
— Saiam da sala. – Felipe pediu, tirando a jaqueta que vestia e aproximando-se de Kali.
— Por quê? – Rafael perguntou ainda preocupado com a irmã. Nunca tinha acontecido algo do tipo com Kali e ele nunca havia visto alguém tendo um ataque de pânico.
— Vocês dois estão muito aflitos e isso não vai ajudar a Kali agora. – Felipe explicou o mais calmo que a situação permitia. – Eu preciso que vocês saiam.
— Vamos, Rafa. – Isabella puxou-o. Relutante, Rafael acompanhou-a para o segundo andar da casa.
— Kali, – Felipe ajoelhou-se na frente de Kali, segurando suas mãos. – olha pra mim.
Kali não o escutou de primeira. Não conseguia concentrar-se. Sua mente pensava várias coisas ao mesmo tempo que estavam apavorando-a. Queria se livrar desse sentimento, mas não conseguia. Lágrimas de desespero saíam de seus olhos.
Estava apavorada. Era o pior medo que já havia sentido: o medo de sentir medo.
Ela estava com medo de ter medo das pessoas julgarem-na, ao mesmo tempo em que estava com medo de sentir medo do escuro. Eram medos aleatórios que não tinham relação com nada concreto em sua vida, ou que eram diretamente ligados a ela.
Por um instante sentiu que enlouqueceria e, então, sentiu medo disso.
— Kali, olha pra mim. – Felipe segurou sua mão com mais firmeza, tentando mais uma vez chamar a atenção da garota.
Kali sentia a pressão em sua mão e ouvia a voz de Felipe, mas ainda não conseguia concentrar-se.
Sentiu medo de esquecer do amor de seus pais e medo de dormir e não acordar mais.
Sentiu medo de voltar para a escola e as pessoas descobrirem sobre os seus problemas.
Sentiu medo de apanhar de novo e de desmaiar mais uma vez.
Sentiu medo de perder Rafael e de que Victor aparecesse na sua frente e a machucasse.
Sentiu medo de se engasgar enquanto comia e de cair da cama enquanto dormia.
Sentiu medo de sentir medo de qualquer coisa.
Não sentia mais o ar. Seu corpo suava e sua cabeça latejava. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas e sentia como se seu estômago e seus pulmões estivessem sendo pressionados por algo pesado.
— Kali, olha pra mim. – Felipe disse firmemente uma terceira vez.
Kali finalmente o viu, encontrando seus olhos que a encaravam firmes.
— Isso, foca em mim. – Felipe continuou com a voz calma e firme.– Escuta só a minha voz, entendeu? – Kali assentiu. – Não há nada pra ter medo aqui. Está sentindo minha mão? – Kali olhou para as suas mãos, sentindo o toque de Felipe mais intensamente. – Olha pra mim. – Kali voltou a olhá-lo. – Se concentre na minha voz e no meu toque. Essas coisas são reais, consegue sentir?
—Con... sigo... –Kali disse com dificuldade por conta da respiração descompassada.
— Inspira e expira. – Felipe disse, inspirando e expirando devagar e Kali tentou repetir o ato. – Isso. Mais uma vez só que mais devagar. Inspira... expira... Mais uma vez, inspira... expira...
Felipe repetiu isso durante algum tempo até a respiração de Kali se normalizar.
— Isso. Continua respirando.
Felipe soltou uma das mãos de Kali pegando o celular e os fones de ouvido em seu bolso da jaqueta que estava em cima do sofá ao lado de Kali. Conectou o fone no celular e colocou os auscultadores nas orelhas de Kali.
— Escuta a música. Se concentre nela, okay?
Kali assentiu e Felipe deu play na música Remember Me – Ether, voltando a segurar a mão de Kali. Kali concentrou-se na música, ainda olhando para Felipe e sentindo o seu aperto firme em suas mãos. O medo foi, aos poucos, indo embora enquanto ouvia a música, que se repetiu várias vezes.
Felipe sentou-se ao seu lado sem deixar de olhá-la serenamente e segurar suas mãos firmemente. Minutos se passaram e o cansaço atingiu Kali, fazendo-a fechar os olhos e aconchegar-se em Felipe sem ao menos perceber. Em pouco tempo já dormia serenamente.
No andar de cima, no quarto, Rafael andava de um lado para o outro ansioso enquanto Isabella estava sentada na cama de solteiro roendo as unhas.
— Acho que a gente devia descer. – Disse Rafael pela décima vez, parando de andar.
— Já disse que não é uma boa ideia. – Isabella respondeu.
— Mas do que adianta ficar aqui sem fazer nada?
— Confia no Felipe, Rafa. – Isabella falou firme.
—Como eu vou confiar em alguém que conheci há menos de uma semana?
Isabella levantou-se, ficando próxima a Rafael, fitando-o seriamente. Notou a diferença de altura entre eles. O menino, apesar de mais novo, era mais alto que ela. Isabella pensou como poderia passar confiança suficiente a ele para que se acalmasse. Era apenas alguns anos mais velha que ele, mas sentia-se imatura. Sua vida havia sido relativamente calma e fácil, quase utópica ela achava. Nunca passou dificuldades financeiras nem problemas de saúde. Nunca perdeu alguém próximo a ela ou precisou tomar decisões difíceis. Sempre teve tudo o que quis, tanto materialmente quanto emocionalmente. Nunca teve que enfrentar problemas reais até conhecer Rafael e perceber como a vida pode ser cruel. Foi quando ela deixou de ser a pessoa ignorante sobre a vida como ela de fato é e passou a valorizar o que tinha.
Rafael teve que amadurecer cedo, sem poder aproveitar sua adolescência normalmente. Quando Isabela conversou com ele, percebeu que ele não tinha a mentalidade de um garoto de 17 anos e sim a de um homem com seus 20 e poucos anos. Por isso sentia-se inferiorizada perto dele. Mas, naquele momento tentou esquecer-se disso e se concentrar em acalmá-lo.
— Então confie em mim. – Disse firmemente. – Você me conhece. Consegue confiar em mim?
— Sim... – Rafael respondeu. – Mas por que você confia tanto no Felipe?
— Isso é uma longa história... – Isabella voltou a sentar-se na cama.
— Que você não vai me contar, certo? – Rafael sentou-se ao seu lado, mais calmo agora.
— É que, na verdade, eu não posso contar.
— Tem a ver com todo esse mistério sobre a vida do Felipe?
— É... Tem sim. E sem a permissão dele eu não posso dizer nada. Pelo menos não por enquanto.
— Entendi...
Ficaram alguns minutos em silêncio até que ouviram passos do lado de fora do quarto. Rafael levantou-se rapidamente, indo para fora do quarto e encontrando Felipe carregando Kali no colo.
— Ela tá bem? – Rafael perguntou, aproximando-se.
—Shiu! Ela tá dormindo. – Felipe respondeu com a voz baixa.
Ele andou até o quarto, colocando Kali na cama tentando ao máximo não fazer movimentos bruscos. Rafael o ajudou a deitar Kali na cama enquanto Isabella fechava as cortinas blackout da janela. Quando Kali estava acomodada, todos saíram do quarto em silêncio indo para a sala.
Rafael estava curioso para saber o que tinha acontecido, mas, antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Felipe disse:
— A Kali teve um ataque de pânico. Quando isso acontece o melhor é manter a calma pra que a pessoa não piore. Vocês estavam apavorados, por isso pedi que saíssem de perto. Quando uma pessoa tem um ataque de pânico é porque ela está extremamente ansiosa e então começa a ficar com medo de tudo, até do próprio medo. Ela não consegue se acalmar e começa a perder o controle, fica com dificuldade de respirar, com tremores e pode até mesmo desmaiar. Isso tudo é muito estressante e por isso ela tá dormindo agora. O que eu fiz só resolveu a situação imediata. Só que isso pode voltar a acontecer. O melhor pra ela é ter um acompanhamento psicológico pra tratar a ansiedade.
— Nós não temos condições pra isso. – Rafael disse, preocupado com a possibilidade de aquilo acontecer de novo. – Mas, como você sabe de tudo isso?
— Eu já vi isso acontecer várias vezes no meu trabalho.
— Trabalho? Você trabalha? Em quê?
— Eu sou detetive da polícia federal.
— O quê?! – Rafael olhou espantado para Isabella que não tinha nenhum sinal de surpresa. – Você sabia disso Isabella? – Ela apenas assentiu.
— Rafael, – Felipe disse calmamente. – está na hora de você saber quem sou eu de verdade.
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E então? Esperavam por isso?
O que estão achando?
Se você leu até aqui #obrigada^^