A Heroína Imperial [HIATUS] escrita por Amaya


Capítulo 8
Capítulo Bônus: Bolsos repletos de pedras


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Capítulo especial saindo do forno! É sob o ponto de vista de um novo personagem, então a narração que antes encontrávamos nos pontos de vista da Annie pode não estar presente aqui por serem dois personagens de personalidades diferentes, então a visão é diferente também. Espero que este capítulo possa resolver muitas dúvidas de vocês, principalmente em relação ao Nicolas, que tem dado muitos nós em nossas cabeças, não? XD

Pois é, espero que gostem tanto deste capítulo quanto eu gostei dele. Espero que gostem do novo personagem também (e dos outros) e, por favor, não me matem. XD

Este capítulo foi escrito ao som de Florence + The Machine com "How Big, How Blue, How Beautiful". Espero que gostem e aproveitem bem a leitura! *-*



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A Heroína Imperial
Capítulo Bônus: Bolsos repletos de pedras

Todos parados em nossos lugares, cada um em nossa posição, observando o tumulto que se forma. Escondidos por entre os prédios, refugiados nas sombras, apenas observamos.

Quanta vergonha, quanta humilhação. Ninguém merece. Ninguém merece sofrer de tal maneira. Ninguém merece ter uma arma apontada para sua própria cabeça, expor-se ao sol escaldante por algo que poderia lhe custar a própria vida. Mas as pessoas os fazem, por amor àqueles que amam, pela vida de cada um deles. Pelas suas próprias. O que é totalmente compreensível. Quem gostaria de ver seus próprios filhos desfalecendo a cada dia? Que pai gostaria de ver seus filhos magricelas, com as costelas ossudas à mostra? Eu também teria feito o mesmo, se fosse eu. Eu o faria, se fosse eu. Mas não sou.

Meu trabalho é outro. Meu trabalho é observar, meu trabalho é segui-la, estudá-la. Compreender cada uma de suas ações e ver se ela está apta. Ver se ela está apta a estar conosco e a trabalhar conosco. E eu sei que ela está pronta. Sei que ela pode. E a certeza disse cresce cada vez mais em mim quando a vejo correr por entre a multidão e atirar-se ao chão, recebendo o disparo da bala do civil.

— Toupeira? Responda, Toupeira! — Pressiono o pequeno comunicador que encaixa-se dentro de meu canal auricular, apenas o silêncio até que sou respondida:

— Comandante, Toupeira na escuta — responde.

— Você sabe o que fazer — digo. E então ela desliga. Vejo as duas silhuetas alongadas pela luz do sol saírem da bruma e locomoverem-se rapidamente até o local do acidente, aplicando os primeiros socorros em nossa pequena ave.

— Nathan? — digo, sem tirar meu foco das três silhuetas que alongam-se e piscam sobre a paisagem amarelada e cegante.

— Comandante? — responde ele. Ouço o solado de suas botas de borracha arrastarem-se num som contínuo e curto pelo chão, indicando que ele estava de costas para mim e deu um pequeno giro ao ouvir meu chamado.

— Mande uma mensagem para Baltazar. Fale sobre o ocorrido. Diga que ela está pronta. — sorrio, ainda sem tirar minha atenção das três.

— Sim, senhora — responde ele. Pequenos bip's são emitidos por um dispositivo e sei que a mensagem fora enviada. Poucos segundos depois, o meu dispositivo escondido em minha bota vibra e então sei que obtive uma resposta. Retiro o pequeno dispositivo em forma de gota de seu lugar e leio a mensagem de Baltazar, sorrindo.

Ninguém duvidava disso, querida.
Apenas certifique-se de que ela ficará bem, sim?
Tome cuidado.

Vejo, pelo que parece, Carollina a falar com Gerard, que efetuou o disparo. Ligo o dispositivo em meu ouvido, conseguindo capturar parte da conversa dos dois. Carollina tenta convencê-lo de que devem levá-la a um hospital com urgência, porém o oficial negligencia, afirmando em tom rude que ela era uma rebelde que interferira na edificação da lei.

As pessoas afastam-se como se tivessem nojo do corpo estirado ao chão. Ou seria apenas medo? Medo de chegar perto? Medo de ter o mesmo destino? Não sei. Talvez pudesse entender melhor se visse suas faces, mas tudo o que vejo são traços rabiscados tremeluzindo à luz do sol.

Desligo o dispositivo e tento conectar-me com Josh, que, suponho, deve estar a poucos metros de distância.

—Josh? — Ouço apenas ruídos, sem resposta alguma. Tento mais uma vez, mas em vão. — Josh, está me escutando? Josh? — Meu coração começa a bater forte, pego-me pensando se acontecera alguma coisa com ele. Abomino todas as hipóteses, incluindo a de que ele poderia estar bem, apenas tentando não me agarrar a alguma coisa que pudesse me destruir, preparando-me para o que fosse; uma notícia boa ou ruim, eu estaria pronta para qualquer que fosse, sem sentir nada, sem pensar nada, apenas para dar espaço para o choque que sentiria. Ou talvez não.

Minhas pernas sacolejam, estou em posição fetal escondida sob um telhado de um condomínio abandonado, acobertada pelas heras murchas e amareladas. Mudo de posição para encontrar mais equilíbrio, apoiando meu joelho no chão, mantendo meu corpo ereto. Meu coração volta a bater num ritmo razoável quando ouço um suspiro e um "oi" quase inaudível do outro lado.

— Oi? — Digo entre dentes. — Onde você estava? Por que tanta demora em responder?

— Desculpe-me. Meu comunicador deu problema. — Josh responde lentamente, tentando adaptar-se à língua portuguesa. Dou um suspiro, irritada.

— Tudo bem. Certifique-se de que ela ficará bem.

— Quer que eu a acompanhe até o hospital?

— Não. Quero que certifique-se que ela será levada ao hospital. Ainda não é hora de atuar.

— Certo, Comandante. — Ele infatiza o "comandante", o som soa abafado, o que me leva a pensar que ele sorri enquanto fala. Baixo minha cabeça e dou um leve sorriso. Garoto difícil, desde pequeno. Sempre foi difícil de se cuidar. Lembro-me das ciladas em que nos metíamos, de como ele sempre me culpava. Eu sempre deixava que isso acontecesse. Não me importava, mas hoje percebo que deveria. Talvez se ele tivesse levado mais tapas de mim seria menos rude hoje.

Carollina finalmente convenceu o oficial a levar Annie para um hospital. Enquanto alguns oficiais saem do prédio do Departamento Militarista para ajudar a levar Annie para dentro de um tanque militar, Carollina e Tânia distanciam-se cada vez mais, de maneira sorrateira, caminhando para longe. Quando as vejo sumir do meio da multidão e voltarem a seus esconderijos silenciosamente pergunto como ela está.

— O tiro quase atingiu a clavícula direita — diz Tânia, rindo, como de costume. — Nada demais. Mas ela estava bem assustada. Ainda estava consciente quando chegamos lá. Ela estava com os olhos fechados.

— Estava chorando? — pergunto.

— O bom é que não. A visão dela escureceu um pouco, mas nada passou de um susto. Deve ter sido a adrenalina. Ela ficará bem. Nada pelo qual nenhum de nós não tenha passado — completa.

— Entendido, Toupeira. Desligando — anuncio. E então encerro. Há apenas uns poucos segundos de descanso antes que outra voz ressoe em minha cabeça. Dessa vez é um homem. E ele parece um tanto apreensivo. Reviro meus olhos. Tento tornar minha posição mais agradável mudando de perna para usar como apoio. Sinto meus ossos estalarem-se e esticarem-se depois de um longo período de desconforto.

— Como ela está? — pergunta ele.

— Calma, recruta. A tua amiguinha está bem. Só levou um tiro — respondo calmamente, ainda tentando acostumar-me à entonação não existente em minha língua nativa.

— Um tiro que poderia ter a matado, não é, Hayley? — diz Nicolas, num tom rude, contudo consigo detectar nervosismo em sua voz. Apoio meu cotovelo em uma das pernas, com a mão direita no queixo e a outra no ouvido a pressionar o comunicador.

— Óbvio que poderia tê-la matado. Mas não matou. Calma, Nick. Annie está bem, Josh está encarregado de certificar-se de que ela foi encaminhada ao hospital. Já chegamos a um veredicto. — Ele suspira, sinto seu nervosismo dissipando-se aos poucos.

— Continuo a achar esses testes meio perigosos — desabafa mais uma vez.

— Ah — soo indiferente —, Gerard é um atirador por excelência. Ele não erra. Annie está bem, está viva. Tânia me disse. Agora fique quieto, garoto. Não vá fazer nenhuma burrada. Está me entendendo?

— Sim, comandante. Só fiquei preocupado de ter acontecido algo mais grave. Nós não podemos perdê-la. — Suspiro mais uma vez. Ele tem razão. Annie é uma peça importante em nossa obra, não podemos falhar, não podemos perdê-la. Ela é essencial para nós.

— Claro, recruta. Não podemos perdê-la. E não vamos. Prometo-te. — Ele desliga. Levanto-me e começo a andar em direção a saída do prédio. Nathan e eu descemos a velha escada de metal do terraço até o último andar para buscar nossos uniformes de civil. Vestimo-nos e caminhamos sorrateiramente pelas ruas, mesmo com os uniformes civis, nos misturando com a paisagem até nos encontrarmos com todos os outros em nosso ponto de encontro.

A árvore de nossa pequena ave. De nossa pequena ave carnívora. Pronta para voar. Pronta para atacar.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam da Hayley? Eu acho a Hayley meio biruta e muito rígida, mas né, eu só acho... :v

Então? Gostaram do capítulo? Se sim levanta a mão! o/ Hahaha, brincadeira. Se gostou, deixa um comentário dando sugestões, criticando ou até pra puxar papo, nem que seja um "oi". Isso vale para vocês, fantasminhas, sei que estão aí. ò.ó

*Quaisquer erros que tenham encontrado aqui, por favor, me avisem o quanto antes para que eu possa corrigir!"

Até a próxima! Abraços