A Heroína Imperial [HIATUS] escrita por Amaya


Capítulo 7
Capítulo 06: Ergam suas espadas, dissipem a névoa cinzenta


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à capista maravilhosa que fez a nova capa para a história e nova leitora, a Madlyn, também dedico à leitora extremamente fofa Soph-chan, leitora do Social Spirit e a Lady Holland B que fez a primeira recomendação da fic, e uma ótima recomendação, por sinal. Obrigada, meninas! Vocês são deveras incríveis!

Escrevi este capítulo escutando "Immortal", de Marina and the Diamonds e "Le Petit Mort" de Coeur de Pirate.

Tenham uma boa leitura! Aproveitem o capítulo!



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A Heroína Imperial — Capítulo 06
Ergam suas espadas, dissipem a névoa cinzenta!

Algumas horas mais tarde, estávamos todos reunidos à mesa da cozinha, tomando nosso café e conversando, como de costume. Há uma atmosfera calma e brilhante ao nosso redor, fazendo com que eu possa tomar meu café com mais tranquilidade. Rindo e conversando sobre coisas inúteis, como apostas de mudança climática ou quem levou um tombo na neve. Minha mãe continua a me fitar com aquele olhar de preocupação, o que não me chama a atenção por ser algo extremamente comum, principalmente se você levar em conta o que aconteceu há algumas horas. Tudo está maravilhoso, como sempre desejei que fosse. Como acontecia nos lanches de domingo, em que todos sentavam-se no quintal para tomar suco de laranja e comer bolinhos feitos por mamãe.

Uma atmosfera agradável.

Toda a tranquilidade e serenidade que antes me fora negligenciada nesses últimos dias estão sendo recompensadas.

Minha irmã pergunta se podemos ir lá fora para tomar o ar da manhã, todos concordam. Todos chegamos à conclusão de que necessitamos um pouco dos raios solares matinais.

(...)

Passamos horas rindo e conversando lá fora, tanto que decidimos almoçar por lá. Estendi a toalha no chão enquanto minha mãe colocava as panelas quentes no pano xadrez. Larissa ajudava minha mãe a carregar os utensílios de dentro de casa e trazê-los para o quintal, e meu pai pendura-se no telhado para consertar o buraco no teto que se abriu esta manhã, resultado do último bombardeio ocorrido na última semana, falta de parafusos suficientes e operário experiente.

— Como está, querida? — Papai grita de cima do telhado à minha mãe, apontando-lhe a telha recém-colocada em seu lugar.

— Adam, está ótimo, agora por favor, venha comer —implora mamãe.

— Alice, estou quase terminando...

— Adam. Por favor — diz minha mãe, lenta e mortal como um iceberg. Ele começa a descer do telhado, bufando.

— Mais alguns segundos e sua cabeça iria ser cortada fora, papai — digo, brincando quando ele senta-se num dos quadrados do pano recentemente lavado, exalando um cheiro doce de sabão caseiro.

— Quanta delicadeza, Annie. Isso não é coisa de menininha educada — responde ele, apertando minha bochecha. Empurro sua mão para longe do meu rosto. Como resultado, a pele da minha bochecha estica e é solta bruscamente, de maneira que alguns segundos depois, começa a arder.

— Certo, certo. Peguem seus pratos e vamos comer! — Minha mãe quase cantarola, feliz.

Começamos a comer a refeição básica: feijão, arroz branco e uma suculenta carne que desmancha na boca a cada mordida.

A cada garfada no prato, tenho vontade de comer outra e outra, tanto que em menos de dez minutos já raspo o prato com a colher, lambendo os resquícios de caldo de feijão. Todos riem de minha voracidade, apesar de todos terem feito o mesmo.

Recolhemos os pratos e entramos dentro de casa, ainda conversando e rindo de coisas tolas. Começo a lavar a louça, enquanto Larissa as enxuga. Puxo logo conversa:

— Sabe, miudinha, você tem estado meio sozinha esses dias. — Tiro uma mecha de cabelo que foge do coque amarrado no topo de minha cabeça, quase a puxar todos os fios, causando uma dor na raíz dos cabelos. Movo-a para detrás da orelha enquanto lavo mais um talher.

— É — responde ela. — Você quase não conversa mais comigo. — Ela me olha de relance, sorrindo maleficamente. Empurro seu rosto de volta para os pratos, enchendo seu rosto de sabão.

— Não fala isso. Eu converso sim. Estou conversando agora — retruco, indiferente.

— Agora! — Ela joga água em mim repetidas vezes, sem nunca parar, fazendo-me gargalhar.

— Miúda — provoco-a quando para, o que só faz com que ela jogue mais água em mim. Começamos uma guerra, jogando água no rosto uma da outra, espalhando sabão por toda a cozinha, molhando o chão e encharcando nossas roupas. Uma doce sensação de alegria toma conta de todo o meu ser, fazendo com que eu sorria em demasia, a ponto de rasgar todos os cantos de meu rosto. Uma sensação boa, apenas. Sensações boas são indescritíveis. De tão boas que são, você não pode definir um significado exato para elas, nomeá-la com palavras, formar belas frases com sua definição. E se um dia fizeres isso, será a ponto de repensar e formar novamente toda a frase, porque sempre será insuficiente para definir a sensação maravilhosa que toma conta do coração por inteiro, intensificando suas batidas, energizando seu corpo, eletrificando todo o seu sistema. Isso reflete-se em um pequeno sorriso. É tudo o que posso dizer.

Rimos alto, até chamarmos a atenção de minha mãe, que vem com uma vassoura na mão, provavelmente estava a varrer a casa. Ela nos olha, olha as janelas, nossas roupas. Seus olhos focam em coisas distintas ao seu redor, mudando de foco tão rapidamente que torna-se algo estranho olhar sua reação e um tanto engraçado. Paramos imediatamente e recuamos cada vez mais, até que sintamos o metal frio da pia. Eu a fito. Há algo mais em seus olhos. Mais do que confusão ou irritação.

Diversão, talvez?

— Meninas, comportem-se! — Minha mãe grita, arregalando os olhos, contudo prende um sorriso, o que não lhe dá um ar muito sério, fazendo seus berros não valerem de nada. Jogo água nela também. Espero sua reação e apenas observo enquanto ela larga a vassoura, pega a esponja de minha mão e esfrega no meu cabelo. Logo, estou ainda mais molhada e com o cabelo cheio de sabão. Observo enquanto todas se contorcem de rir, jogando água umas nas outras e me deixo levar pelo momento e tempo.

(...)


Continuamos brincando, berrando e nos divertindo até decidirmos levar nossas tarefas a sério. Mamãe para de rir e tira uma mecha grudada em seu rosto, passando-a para trás da orelha. Em seguida apanha a vassoura e com ela aponta para nós.

— Fiquem espertas. Eu vou voltar — ameaça. E depois sai rindo, agarrando a vassoura e saindo do cômodo.

Viro-me para Larissa e consigo capturar um belo sorriso.

Faz tempo que não conversamos.

Sim, querida. Faz tempo.

— Prometo arranjar uma companhia que te dê atenção com mais frequência — digo, encostada na pia, me sentindo um tanto culpada por não ter pensado direito nela nessa semana.

Seus braços erguem-se e laçam minha cintura. Seus cabelos molhados não me são incômodo. Puxo-a para mim e a aperto cada vez mais forte.

Fecho meus olhos enquanto continuamos agarradas. Como mamãe estava agarrada a ela naquele dia. Naquele dia em que queríamos virar terra. Em que queríamos fundir-nos com o concreto que nos servia de chão, que arranhava nossas costas. Naquele dia em que percebi que o pesadelo era real.

Sou sua casquinha de proteção.

Eu a protejo do mundo.

Sua cabeça ergue-se e acaricio seus cabelos. Seus olhos refletem toda a sua compreensão e carinho.

— Annie, não preciso de uma outra companhia. Você de irmã já tá ótimo, não preciso de outra irmã irritante— brinca ela, mostrando a língua. Então outro sorriso. Faço uma cara raivosa e começo a ranger os dentes, como um cão. Ela cai na gargalhada.

— Você é uma péssima atriz, Annie.

— Irritante e péssima atriz — finjo estar pensando —, o que mais eu sou? — Seguro meu queixo, alisando um bigode inexistente em minha face. Olho para ela, divertida.

— Uma ótima companhia — responde sorrindo. Ergo uma sobrancelha. Por seguinte a puxo, prendendo-a com meu braço, faço um punho e o esfrego em seus cabelos, bagunçando o penteado mal feito que fiz.

Eis a doçura de uma criança. Ah se os homens fossem iguais as crianças! Tão doces e nobres. Seus corações tão puros, livres de toda infelicidade e maldade. Suas palavras sábias, sua voz livre de toda a malícia, sua sinceridade e pureza que são tão agradáveis, exemplo para nós, adultos e já amadurecidos, cujo espírito infantil foi perdido nas adversidades que a vida nos impõe. Hoje nenhum de nós é assim. No entanto, há uma sombria semelhança entre crianças e adultos: ambos gostam de brincar. Brincar de guerra. Crianças com suas espadas de madeira, o vilão e o mocinho, o bem e o mal. Clamam por justiça, algo da qual não fazem ideia o quão difícil é conseguir. Adultos com armas de fogo, canhões, mísseis e a língua, a mais voraz de todas as armas. Quão fácil é destituir os ideais de um povo apenas com poucas palavras pronunciadas! Quão fácil é matar uma pessoa com apenas o pronunciar de uma sílaba! As palavras são, em suma, a maior arma do ser humano, pois foi por elas que o povo deixou-se levar por ideias que não as suas e hoje são apenas seres submissos e miseráveis. Cacos frágeis de vidro, estilhaçados, espalhados pelo chão. Nós ferimos os outros quando pisam sob nós, é uma forma de defesa. Então aquele que te pisa varre-te e joga-te no lixo.

Entretanto, ainda há uma sutil diferença entre os dois: crianças jamais machucariam umas às outras.

Então, quem vence a guerra?

— Eu só preciso de você. — Larissa completa, fazendo surgir um pequeno sorriso em meus lábios. Logo, outro pensamento me acomete, privando-me de todos os sorrisos e devaneios, todos aqueles que tiram-me de minha triste realidade. Que me faz ficar rígida em meu lugar. É um desejo profundo. Eu só preciso que esteja segura.

Me culpo por deixar que todos esses pensamentos tomem conta de mim, mas devido as circunstâncias é algo que não posso evitar. Não posso evitar pensar se estaremos vivos amanhã, se teremos comida, se nossa casa continuará resistindo. Afinal, ela já caiu uma vez. Foi há três anos atrás. Um ataque. Estávamos no porão. As bombas choveram. Havia luta nas ruas. Eles estavam matando, atirando. Gritos abafados, quebrados pelas paredes, gritos que ricocheteavam e voltavam cada vez mais intensos, perturbando-nos, gritos que ecoavam apenas em nossas mentes, gritos de socorro. Ela desabou. A casa. Ficamos bem, mas perdemos tudo. O Governo nos indenizou e tudo continuou como se nada houvesse acontecido. Apenas reconstruímos nossa casa com o dinheiro da indenização, sofrendo penúrias, tendo de trabalhar ainda mais para conseguir manter a família. Roupas, comida. Tudo virou pó, perdeu-se sob o concreto e hoje está enterrado sob nossos pés.

Quem poderia me reconfortar dizendo que isso jamais acontecerá novamente? Quem poderia me reconfortar dizendo que vamos sobreviver e que toda esta guerra acabará? Que toda a injustiça terá fim?

Ninguém.

Ah, somos seres subjugados por outros seres como nós. Seres imperfeitos que, em sua total imperfeição e egoísmo, acham que devem julgar quem deve morrer ou não. Como se fossem deuses.

Não somos crianças.

Não se pode se enganar por muito tempo.

Somos tolos.

Tolos porque deixamos que nos matem a cada dia.

Tolos porque não revidamos. Deixamos que nossos amigos e amados morram, sendo que podemos fazer alguma coisa. Para estes, a única opção é refugiar-se nas sombras, ocultando-se entre a nebulosidade das nuvens cinzentas que os rodeiam. Todos têm medo.

Medo de morrer. Afinal, ninguém é imortal.

Ninguém é imortal, apenas na memória daqueles que sobrevivem. Memórias são imortais até o instante em que você para de respirar. Afinal, quem lembrar-se-ia de mim se não houvesse mais ninguém vivo para manter-me imortal em suas lembranças?

Memórias são imortais, não eternas. Mas só porque você é imortal, não significa que não possa ser assassinado.

Ainda agarrada a ela, sussurro como se estivesse chorando:

— Você enxuga a cozinha — digo, olhando para o último copo limpo e a pilha de louça para enxugar. Sorrio e saio correndo, encharcando a cozinha com cada passo meu.

— Annie! Annie volta aqui! Não é justo!

— Tenho de trabalhar! A louça é sua! — Grito. E então desapareço ao subir as escadas, tropeçando nos degraus de madeira empoeirada. Subo ao quarto e procuro minha velha toalha suja, com alguns rasgos e remendos antigos. Enxugo-me e ando até o extremo do cômodo, de encontro com minhas gastas botas. Após calçá-las, pego minha bolsa com os materiais e sigo escada abaixo para mais um dia de trabalho.

— Annie! Annie volta aqui! Eu não vou limpar a cozinha sozinha! — Ouço Larissa gritar. Cubro a boca com as mãos para suprir minhas risadas, com medo de que ela me encontre. Não duvido que ela venha com uma vassoura para tentar me convencer a ajudá-la a enxugar a cozinha. A imagem de Larissa com um gato molhado esgueirando-se por entre os móveis da casa em total silêncio a me procurar me faz querer rir, entretanto sei que tenho de manter o silêncio para não ser atacada por um gato molhado armado.

Assim que saio de casa, fechando a porta cuidadosamente, apenas fazendo quase que inaudíveis ruídos, balanço a cabeça para os lados e chuto um montinho de terra apenas por prazer. Preciso trabalhar.

(...)

Quinze minutos de caminhada, três encomendas. Camisas para remendar, botões para pôr em seu devido lugar. Jornadeando pela destruída e sempre em reforma estrada de concreto que acende todas as sensações que meu tato pode suportar, queimando minha pele através do solado velho das botas de tão quente que está, continuo a procurar meus clientes fieis, indo de porta em porta em busca de renda.

Analiso o céu anormalmente azul, livre de nuvens escuras. O clima absurdamente quente e abafado. A terra escura dos jardins de três tons de marrom distintos, salpicados com pequenos pontos verde de grama, de longe parecendo tão macia e leitosa à luz do sol, incitando a vontade de fazer deitar-me sobre a terra e sujar minhas roupas, tal como uma criança. O dia está estranhamente belo ou talvez sejam apenas os meus olhos. Meu dia foi agradável, a alegria predominante, eu tinha de ver as coisas com novos olhos. Não posso evitar sorrir a todo instante, com uma estranha animação para trabalhar que jamais tive.

Involuntariamente começo a formular várias frases em minha mente e a recitá-las a cada passo que dou, como se estivesse lendo uma pequena poesia:

O céu claro está

A névoa cinza que nos rodeava já se dissipou

Não há aves negras a voar

Somente a alegria a pairar

Voando entre as árvores

Abraçando cada flor

Cada vez mais reluzente

Em seu grande esplendor.

Toda a dor, a aflição

O que nos atingia

Já se entregou

Ao raiar do dia

Os raios do sol

A iluminar nossos corações

Dissipou toda a névoa

Que nos rodeou.

Bem, parece que Larissa tem uma letra para sua canção de ninar. Como meu combustível, a canção impulsiona o meu caminhar, fazendo-me andar com os raios do sol, fazendo-me sorrir. Abro os braços e deixo que ele me queime. Piso no chão cada vez mais determinada, cada vez mais invencível. Sinto-me como se estivesse voando, cada vez mais alto, mais longe do chão, feliz, pois não há nenhuma nuvem negra no céu que atrapalhe minha visão. Não existe tristeza, não existe dor, nem aflição. Sou inatingível, inquebrável, inabalável, invencível. Eu posso voar. Eu posso resistir ao sol. Eu deixo que ele me queime.

(...)

O ar esfriou um pouco, mas ainda está abafado. Tenho mais três encomendas de roupas e alguns trocados no bolso, o suficiente para comprar dois quilos de arroz ou feijão. Isso me faz sorrir.

Em minha caminhada, já em seus trinta minutos, tenho de passar pelo Departamento Militarista, que desperta indesejáveis memórias em mim, fazendo-me estremecer ao passar, de longe, em frente à sua porta. Contudo, lembro-me da canção e tento continuar meu caminho, ainda invencível, mas é impossível não espiar. O grande edifício em forma de caixa forma uma enorme sombra no meio da paisagem tomada pelo amarelo cegante dos raios solares. As telhas perfeitamente encaixadas formando uma sombra simétrica que une-se ao chão de concreto cinza. Toda a sobriedade e perfeição da obra me dão arrepios. Tudo aqui me dá, na verdade. As ruas são perfeitamente retas, não há lombadas. A terra dos quintais das casas extremamente macia e fofa, grãos que escorregam pelas mãos sem muita dificuldade. Casas exatamente iguais, todas num leve tom de azul com pinceladas de branco nas janelas e portas. Telhados perfeitamente simétricos, com direito a uma antena de televisão. Uma pequena escada de concreto que dá acesso a porta da frente. Dois quartos, um banheiro, uma cozinha, uma sala, um porão e um quarto reserva, sendo o último cômodo um presentinho especial para nós como forma de refugiar-nos em nossas casas dos ataques aéreos.

Em frente à grande caixa cinzenta posso analisar a longa fila de senhores candidatos à soldados na guerra. Segundo o noticiário, há tropas da O.O.P navegando em águas brasileiras, ao norte do décimo sexto estado, no Nordeste do país.

Há senhores necessitando de dinheiro para sustentar suas famílias. Não existem marinheiros suficientes para lutar. Una o útil ao (des)agradável. Por que não aproveitar?

A fila é quase de dobrar a esquina, com cerca de 150 homens e algumas poucas mulheres debaixo do sol escaldante, prontos para arriscarem suas vidas para salvar outras vidas.

Será que como o de Bruna este esforço é reconhecido?

Outra qualidade notável nas crianças é que sempre há espaço em seus corações para um novo amigo ou amiga, apesar de terem um coração tão pequeno, mas sempre disposto a abrigar qualquer um que queiram. Um coração que suporta todos.

Quando seus amigos choram, seu coração torna-se irrequieto, estão sempre dispostos a arrancar sorrisos, a sacrificar-se pelo outro, defendendo-o de todos os males que o rodeiam. Eles erguem suas espadas, juntos, como um só e lutam contra o mal, criam uma fantasia, um mundinho onde todos são felizes, onde a princesa sempre é salva pelo príncipe, que está sempre disposto a fazer qualquer sacrifício por sua amada. Lutam contra dragões e bruxas, o herói sempre fazendo seus sacrifícios e sofrendo penúrias para que tudo termine bem no final.

Muitas destas crianças estão aqui nesta enorme fila, expostos ao sol, raios penetrantes que rasgam a pele e queimam-na.

Eles têm um coração pequeno demais. Um coração que suporta demais, por isso estão aqui.

Para sacrificarem-se uns pelos outros. Por todos aqueles que amam.

Os gritos chamam minha atenção. Recuo, assustada. Minhas mãos prontas para me defender, meu corpo em estado de alerta, pronto para fugir. A cena é perturbadora.

Há uma arma, um oficial, pessoas a gritar, uma porta trancada e escoltada.

Há um homem, um oficial, uma arma apontada para o homem no chão, mãos levantadas em sinal de rendição. As pessoas gritam, o homem grita, o oficial grita, todos gritam. Eu grito. Eu grito. Eu grito.

Antes que possa perceber o ocorrido, corro e entro no meio da multidão, jogando o meu corpo na frente do homem bem na hora em que o oficial efetua o disparo.

E então tudo o que vejo é indistinto, indecifrável. Então tudo torna-se escuridão.

E então, tudo o que sinto é dor.

E que meu coração é maior do que posso suportar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! E por favor, quaisquer erros que tenham encontrado aqui, me avisem o quanto antes para que eu possa corrigi-los.
Muito obrigada pela leitura e espero que realmente tenham gostado. Críticas, opiniões, sugestões? Podem comentar que responderei com todo o carinho.
Ademais, até o próximo capítulo, pessoal! Abraços!