A Heroína Imperial [HIATUS] escrita por Amaya


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Primeiramente, eu queria pedir desculpas aos leitores da minha fic anterior, a "The Fearless". Eu infelizmente tive de deletá-la.
Os meus motivos? Bem, eu não poderia continuar com ela pois eu estava sem inspiração e com um bloqueio terrível. Eu não conseguia pensar como os personagens, e eu sempre perdia a mão. E também, eu não conseguia desenvolver mais a Annie, que era a personagem principal. Ela estava ficando chata e ridícula com aquele negócio de "vai, não vou, vai, não vou". E foi algo que não pude consertar.

Enfim, voltei com esta fic, que contém os mesmos personagens da história anterior. Annie, Hayley, Larissa, Josh, Carollina, Nathan, Lílian, Tânia, Baltazar... Todos eles (porque eu não consegui me desfazer de ninguém -qqq). Mas em uma versão 2.0 hahahahahaha

Bem, para você que está lendo esta história e não entendeu nada de nada do que eu falei acima, eu tenho um recado pra você: seja bem vindo! E espero que goste da história!

Tenha uma boa leitura e aproveite!



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A Heroína Imperial – Prólogo
A introdução ao verdadeiro pesadelo

Estávamos escondidos fazia uma semana. Eu, encolhida no canto da parede, minhas pernas encolhidas, cruzadas. Apertava minhas mãos uma contra a outra para enxugar o suor. Eu estava suando frio. Meu cabelo grudava no rosto molhado. Minha garganta estava seca. Eu estava faminta. Meus olhos ardiam. Meu coração disparava. Eu estava em alerta, com medo. Minha respiração entrecortada. uma guerra lá fora. Estão matando. Bombardeando. Explodindo tudo em milhões e milhões de cacos. Reduzindo tudo à um monte de cinzas.

Estávamos no porão de casa. Um buraco de rato bem fundo cavado na terra cinza, debaixo de um monte de pedras de concreto ligadas umas as outras. Olhando para o teto, com medo de que arrebentasse, esmagando-nos. Uma prisão.

Essa casa foi construída para que sobrevivêssemos a ataques aéreos. O que acontece com frequência.

Estava no porão, com minha família. Uma criança de cinco anos de idade dormindo sobre o peito da mãe, uma mulher apavorada e um homem que fingia estar tudo bem.

E claro, eu. A isolada. Aquela que não fazia a mínima ideia do porquê daquilo acontecer.

Posso dizer que, hoje, estou mais do que acostumada com isso. Afinal, nasci numa guerra, vivo numa guerra e estou ciente de que vou morrer numa não, não quero morrer, quero paz! Como qualquer outra pessoa nessa pequena e miserável bola flutuante, que antes, me disseram, era azul. Agora, nem mais.

Estávamos no chão, deitados, como se quiséssemos atravessá-lo, como se ele fosse abrigar nossos corpos pequenos, uma casquinha de proteção. Como se ela fosse nos engolir, um abraço acolhedor.

É o que muitos desejam. Queremos nos tornar terra. Queremos que ela nos engula.

Continuamos ali, deitados, nos protegendo daquela chuva de bombas mortíferas, aguardando algum sinal de que poderíamos sair. Nada. Nenhuma sirene, nenhuma palavra saía dos alto falantes do rádio velho que tínhamos ali conosco. Apenas ruídos eram emitidos. Ruídos que significavam que a situação lá fora era alarmante. Aqueles malditos ruídos que nos desesperavam. Céus, por favor, falem alguma coisa. Qualquer coisa. Eu quero que falem. O bombardeio acabou? Está tudo bem? Quando vão parar de guerrear? Quando vão parar de lançar essas bombas mortais? O que fizemos? O que fizemos de errado? O que fizemos contra vocês para merecer isso? Digam-nos! Falem alguma coisa que nos tire desse lugar imundo!

Eram apenas ruídos vazios, perguntas sem resposta alguma.

Uma incógnita.

Fazia tempos que a guerra havia começado. Praticamente, alguns anos depois que nasci. O mundo passou por uma situação complicada. Guerras, guerras e mais guerras levaram a decadência econômica de muitos países. No entanto, depois de tanto caos, surgiu uma pequena fagulha de esperança: a O.O.P, ou Organização da Ordem e Paz. Ela, hoje, é o poder supremo, aquela que estabelece a ordem, a paz. Ela criou uma nova forma de convivência, em busca da boa interação entre os seres humanos, consertando tudo aquilo que estava quebrado. Todos estavam incluídos num sistema de doação nas uniões, onde os países aliavam-se aos outros para trocas de mananciais — água, comida, madeira, roupas —. Vinte e cinco porcento do que os países fabricavam era doado para as respectivas uniões a qual participavam, tendo os países dividido entre si esses mananciais de acordo com a necessidade de cada um, segundo o Tratado. Mas os países que nada podiam doar foram eliminados. Aviões carregados de bombas atravessaram os céus e liquidaram vários deles. Eles liquidaram. Eles eram estéreis, um atraso para a evolução, para o desenvolvimento, era o que dizia a O.O.P.

Na verdade, eles não são uma forma de governo. Cada país tem o seu governo e o regente que o rege, mas todas as leis, todos os tratos, são estabelecidos pela O.O.P. Os governos são apenas uma forma de intermédio. Não marionetes, e sim mediadores. Tudo o que eles quiserem alterar devem recorrer primeiro à Ordem para que seja realizado um consenso. Eles estabelecem a Ordem. Negociam a Paz. Como se ela fosse algo negociável, que possa ser pago numa transação monetária. E tem sido assim desde que eu me lembro.

Desde sempre.

Nosso país, o Brasil, sempre foi fiel ao Tratado, porém, com uma natureza muito explorada e um povo doente, nosso fim já estava previsto.

Hoje somos só oito. Oito países que sobreviveram. China, Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Inglaterra, Itália e Brasil. E parece que mais um vai cair.

Eles estão vindo para nos destruir, eles vêm para nos matar.

Nós somos fracos, somos estéreis, não merecemos a vida.

Somos os próximos.

E quanto mais as horas passavam, era uma tortura. Ninguém aguentava mais estar ali. Estávamos escondidos como ratos, à beira da desgraça. A casa poderia não resistir, o porão poderia ser raso demais. Estamos escondidos em meio às sombras, como as baratas que fogem da luz do sol, presos em nossas próprias casas, dentro de nós mesmos, com medo da luz que emana de lá de fora.

Passamos mais algumas horas, que eu não contei, até que não ouvíssemos barulho algum do lado de fora.

Eles pararam. Finalmente haviam cessado. As bombas pararam de explodir. O chão parou de tremer. Meu coração voltou a bater num ritmo aceitável. Mas o rádio continuava emitindo aqueles malditos ruídos silenciosos. Digam que podemos sair, seus miseráveis! Me deem algum sinal!

Os ruídos do rádio começaram a tornar-se um pequeno e agudo som, até converterem-se em palavras. Eu não conseguia ouvir o que o homem de voz calma e suave dizia. A única coisa que foi-me audível fora a última frase pronunciada pela voz.

— ... Os ataques cessaram. — Saí correndo, procurando a porta de ferro que conduzia à liberdade. Mais exatamente à cozinha.

Assim que a abri, a luz inundou toda a entrada do porão. Ainda era dia. Semicerrei um pouco os meus olhos, pois ainda não havia me acostumado àquele clarão de luz. Eu estava tentando me preparar para isso antes de abrir a porta, mas a luz, ela foi violenta demais com minha visão. É o que acontece quando se fica muito tempo na escuridão. Tudo o que você enxerga é trevas, sombras, e quando você começa a enxergar a luz, você tem de fechar os olhos para que ela não violente aquele restinho de sombras que ainda está em você. Da qual seus olhos não querem se livrar.

Daquele resto de trevas das quais eles não conseguem se livrar.

Tropecei no balde de lixo que estava perto da porta e derrubei todo o conteúdo existente nele. Meu pai, ainda no porão, abriu a porta para o estreito corredor, levando minha irmã para o minúsculo quartinho logo ao lado, apenas por segurança. Ataques aéreos por aqui são quase imprevisíveis.

— Céus, obrigada! — Minha mãe exclamava, choramingando e agradecendo. Ela não parava de agradecer, e suas mãos tremiam. Eu sabia que ela estava nervosa. Ela temia por sua vida, pela vida de sua família. Fomos bombardeados. É muita pressão para uma mãe, que tem sempre que zelar pela proteção de todos. Mesmo que isso signifique ficar extremamente nervosa. Era por todos, afinal, que ela estava naquele estado deplorável.

Caminhei ate o armário, peguei um copo e enchi-o de água gelada. Em seguida retirei o pote de açúcar de seu lugar, bem no canto inferior direito do armário, pegando uma colher e enchendo o copo de vidro com o pozinho cristalizado e misturando com a água. Ela tornou-se um pouco esbranquiçada por causa do açúcar. Quando percebi que estava bem branca, levei até minha mãe, sentada no chão, encolhida, com os joelhos comprimidos contra seu peito. Sua cabeça estava enterrada entre as pernas. Eu ouvia pequenas tomadas de ar e me aproximei mais devagar. Cutuquei-a.

— Mãe? – sussurrei docemente. — Toma, é agua com açúcar. — Mostrei-lhe o copo e sentei-me ao seu lado.

Ela não respondeu nada. Apenas pegou o copo e tomou o líquido em poucos goles rápidos e suaves. A água rasgava a sua garganta. Eu podia ouvir. Ela estava com sede. Afinal, passamos uma semana enfiados dentro de um porão devido a guerra que ocorria do lado de fora das portas de nossa casa.

Ao terminar, ela lambeu os lábios, retirando o açúcar que se depositara ali. Respirou fundo e voltou à sua posição anterior, em movimentos trêmulos e lentos. O cansaço e medo eram evidentes até mesmo no seu modo de respirar. Uma respiração prolongada com entrecortes doloridos mostravam o quanto de medo aquela mulher sentia. O quanto aquelas bombas a perturbavam, seu barulho, tudo o que vinha após todas elas, a visão do mundo quebrado, cinzento e destruído, assim como sua segurança.

Sua tez estava pálida, suas mãos tinham as juntas esbranquiçadas, provavelmente ela estava com as mãos cerradas, seus olhos perdidos, seu corpo tremia, ela fungava, e seus cabelos vermelhos balançavam com a brisa que entrava pela janela da cozinha.

Tomei o copo de suas mãos e coloquei-o ao meu lado. Então a abracei.

— Vai ficar tudo bem, mamãe — parei de falar. Movi uma das mechas do meu cabelo para trás da orelha. — Vai ficar tudo bem. Não chora — sussurrei ao seu ouvido mais uma vez, esboçando um leve sorriso. Não tinha ânimo para sorrir de verdade. Tínhamos sido bombardeados. Ela estava em estado de choque. Eu estava.

Ela olhou para mim com um olhar triste e assustado. Então, ela afundou sua cabeça no meu pescoço e começou a soluçar novamente. Eu a abracei mais apertado e continuei murmurando, de um modo que só ela pudesse ouvir:

— Vai ficar tudo bem mamãe, estamos todos bem. Estamos bem. Não tem mais nada lá fora.

Estamos vivos. Ah, quão inocente eu era! Estamos bem. Estamos vivos.

Mas talvez seja só por pouco tempo. Afinal, você morre todos os dias quando se está numa guerra ascendente. Suas esperanças morrem, sua coragem, suas forças, sua luz. Sobra apenas uma carcaça de seres amedrontados e frágeis. Apenas uma bomba basta para fazê-los estilhaçarem-se, lançando pequenos cacos em todos os lugares, ferindo quem se atreve a estar ali naquele instante. E não temos escolha.

Isso já não é um estado deplorável?

Isso já não é estar a um passo para uma queda em um abismo sem fim? Um abismo escuro.

Isso já não é a morte?

Eu era tão inocente, sempre pensei que isso iria acabar de uma hora para a outra, que tudo estava escuro, mas que a luz do sol, que surge no horizonte, iluminaria todos os caminhos. Os buracos e pedras estão visíveis agora. Podemos pulá-los. E eu achei que sempre fosse assim. Que a luz do sol era eterna. Que ela sumiria alguma hora, mas retornaria em grande triunfo e esplendor. E que tudo ficaria bem. Ela era eterna.

Mas o sol é um traidor.

Era o que eu pensava antigamente. A morte não se resume apenas a passar uma semana no porão escondidos de uma chuva de bombas. Mas para uma criança, isso é terrivelmente assustador.

Agora eu sei que a morte é mais do que isso. A morte é algo tão natural como respirar. A vida é feita de contrários, apenas para dar equilíbrio. Trevas, luz; frio e calor; vida e morte. Morrer é apenas uma forma que os céus encontraram de manter a vida em curso, de fazer com que o homem não viva em ócio, para que quando chegasse o seu fim, pudesse deixar um legado de lições para gerações futuras, para que não cometessem os mesmos erros que ele. A morte é vida. Mas a vida não é a morte. Eu cresci, amadureci. Eu tenho consciência do que está acontecendo comigo agora. Eu entendo o meio em que vivo, e porque as pessoas tem tanto medo. Porque chovem bombas quase toda semana. Porque as pessoas fecham os olhos e não os abrem mais. Eu cresci. A morte tem um significado novo pra mim. E por mais natural que seja, ela ainda me assusta. A guerra faz parte de mim. A morte me espera.

Isso foi há anos atrás.

Isso foi quando tudo era tão irreal.

Quando tudo era um pesadelo. E eu iria acordar; mais cedo ou mais tarde.

Mas não é verdade. Hoje, é pior do que isso.

A guerra é real. E eu faço parte dela.

E a verdade é evidente; como um clarão, como a luz do sol.

Iluminando todos os caminhos, e sumindo quando mais precisamos dela.

Mas eu sei: a verdade sempre volta, triunfante e em ascendendo em glória.

E a guerra afunda em trevas, caindo num abismo sem fim, de onde não há retorno.

É a minha introdução à guerra, quando eu amadureci e percebi que as minhas responsabilidades eram maiores do que pareciam ser. Eu sentia algo tão dolorido dentro de mim. Sabia que deveria tentar protegê-los o quanto eu pudesse. Eu devia. Era minha obrigação proteger as pessoas que mais amo nesse mundo. Então, planejei minha própria vida e minha própria morte. Contudo, uma criança de sete anos não poderia fazer isso.

Mas talvez uma garota de dezessete possa.

É a minha introdução ao verdadeiro pesadelo. O pesadelo de criança era real.

E eu faço parte dele.


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Notas finais do capítulo

Yelyah! O que acharam deste prólogo? Espero que tenham gostado!

*Quaisquer erros presentes nessa história, por favor me avise para que eu possa corrigir!*,

[Atualização]: Capítulo atualizado em 05/04/15

Obrigada por ler e até a próxima!