Espelho de Gauss escrita por xoxors


Capítulo 3
Beatles canta na floricultura


Notas iniciais do capítulo

Voltei honeys, desculpem o atraso de novo, minha vida tá uma loucura e tal



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Às vezes o amor não é suficiente, por isso, quando as estrelas brilhavam, ele pensava em Zachy.

Porque o amor dele não foi suficiente para mantê-lo perto, porque nem mesmo um amor como o de Zachy poderia resistir a tamanho sofrimento, afinal, ele era frágil como uma flor, e flores não aguentam indelicadezas e empurrões, ou ela murcha e não há água que a salve.

E foi comprando flores que o viu naquele dia.

Se misturando a elas em uma delicadeza que não havia maneira de existir. Mas era ele, e ele existia. E estava ali. Em 1,64 metros, cabelos loiros brilhantes e dedos manhosos entre os caules.

Mesmo nove meses depois, Zachy ainda era mais bonito do que algum ser humano tinha o direito de ser. Talvez mais bonito ainda. E Zachy ainda era tudo o que não deveria, e Ethan ainda era um apaixonado, mesmo nas noites de sexta e nas tardes de quinta, mesmo na madrugada de sábado e na manhã de domingo. Mesmo na faculdade em plena terça-feira, Zachy ainda pintava sua vida com um vermelho tão intenso quanto as rosas que o garoto tinha na mão. Os dedos ainda eram curtos e a mão ainda era pequena. E seus olhos cinza pareciam uma tempestade.

Que causou uma tempestade em Ethan e o fez se sentir como a casa de Dorothy no olho do furacão. Ele se sentia como um par de sapatos de cristal pequeno demais, pisando por estradas que não conhecia e enfrentando bruxas do Oeste. Mas, então, em um segundo e algumas flores carmesim, e tudo havia sumido. Não havia mais sapato, furacão ou Oeste. Não havia mais caminho desconhecido, vermelho seco ou borboletas mortas.

Tudo era domingo à tardinha e filmes românticos novamente.

E borboletas revoltas que dominavam seu estômago, seu coração e seu cérebro. E suas pernas eram chumbo, mas era tudo tão leve que ele sentia que poderia flutuar junto com o vento, dessa vez na direção certa, porque seu Norte estava a vista. Bem ali a vista. Era só acertar as velas e remar, então navegar por aquele oceano uma vez mais, e mais uma vez de novo, e novamente também, e todos os sinônimos e infinitos.

Mas como poderia? Não depois de tê-lo machucado, não depois de tê-lo traído, não depois de parar de ligar de números estranhos, e, especialmente, não depois de dizer-lhe adeus no dia do Natal. Não depois de tudo isso. Não depois de ele ter lhe deixado por justa causa e justificada.

Ethan estava tão paralisado como uma estátua no Central Park, e, por mais que quisesse ou tentasse, se mover exigia um esforço hercúleo. E nove meses não era, nem de longe, o suficiente para fazê-lo se acostumar com a ausência de Zachy, porque ele ainda enxergava cinza nas noites de luar, e pegava o violão e fazia uma serenata para as estrelas, e algumas pessoas jogavam moedas cinza para ele, e o mundo parecia tão multicor enquanto ele e tudo perto dele era tão monocromático, como se fosse um observador de sua própria vida, que passava e passava e seguia, e ele permanecia ali, fazendo serenata e ouvindo Something em uma velha vitrola, como ele e Zachy costumavam fazer, enquanto ele fumava um cigarro que, naquela época, parecia prateado e brilhante, porque Zachary Evans poderia pintar de arco-íris e felicidade toda sua vida. Porque eles eram o azul o verde e o amarelo, que dava uma cor tão única que era só deles. E agora tudo era cinza, e o seu vermelho era como sangue seco e desbotado.

Zachy parecia com uma pintura do final do século XVIII: delicado, com as rosas na mão. A representação de uma divindade e a idealização de algo tão próximo do perfeito que se tornava incontestável. Era como vê-lo sobre o espelho esférico de Gauss¹.

Alguma música tocava dentro da floricultura e ele estava tão perto que poderia ouvir. Tudo parecia alegre e florido e Something tocava. Beatles era sua banda favorita e a de Zachy também, mas ele gostava mais de Because e Zachy de Something, e era algo na forma como ele se movia e porque o céu é azul e faz chorar. E duas músicas juntas pareciam tão bonitas como nunca antes foi capaz de achar. E agora queria se bater, porque antes Because e Something nunca poderiam se misturar, nunca, mas elas pareciam tão bem juntas que dava vontade de chorar porque o céu é azul, ou o céu é azul e lhe dava vontade de chorar. E Zachy estava ali comprando flores e isso lhe dava vontade de chorar, de soluçar, até.

Todas as músicas românticas que ouviu ao longo de sua vida tomaram forma no instante que Zachy foi embora, e tudo fazia sentido, até mesmo o fato de ser músico e não saber amar, e suas poesias ficarem cada vez maiores e mais cinza e seca também fazia mais sentido do que conseguiria suportar, porque sem Zachy tudo era assim em sua vida. E nove meses já haviam se passado e ele ainda não conseguia dividir a cama com ninguém por uma noite inteira, e nas festas, ele ainda procurava garotos que, depois de três doses de vodca e duas de tequila, se parecessem com o ex (maldito prefixo de final!) namorado.

Ele estava ali agora, Something tocava e ele ainda fazia serenatas para a lua com um violão velho, um cigarro e um conhaque. E, nas noites de sexta e tardes de sábado e tardinhas de domingo com filmes de romance, todos os seus erros pareciam lhe perseguir pelos espelhos com a sua cara embriagada refletida, e quando ia dormir, o cigarro quase apagado ainda espiralava uma fumaça acinzentada que tomava toda a sua alma, principalmente nas noites de sexta, tardes de sábado e tardinhas de domingo com filme de romance, um vinho barato e seu líquido branco.

Seus olhos se encontravam e ele ainda estava paralisado. Se pudesse escolher, teria se arrumado direito; teria se arrumado mais, e colocado uma cara melhor na face, talvez uma que não demonstrasse embriaguez fosse mais indicada, e sem as bolsas arroxeadas abaixo dos olhos das noites sem dormir e manhãs de ressaca onde precisava pegar a própria aspirina, e as paredes tinham trezes tons de um branco monocromático que refletia Zachy em cada uma delas.

Exatamente como seus olhos refletiam os dele agora. Seria um momento lindo se não fosse tão triste, e ele tinha vontade de se jogar aos pés de Zachy e pedir perdão com quantas flores sua alma romântica-do-século-XVIII exigisse, porque flores e filmes no domingo eram mais baratos que Campari e vinho seco como a sua alma, no fim das contas.

O rosto de Evans congelou em surpresa quando viu o ex (maldito prefixo de final!)namorado. Pareceu notar seu estado levemente embriagado e meio que sem cor, transparente como a vodca que tinha bebido mais cedo. Então seus olhos emitiram um brilho desaprovador, e ele negou com a cabeça uma vez. Ele parecia tão adorável com as rosas na mão e elas realçavam sua inocência nunca perdida, mesmo depois de tudo que sofreu com seu pai e com Ethan. Ele parecia mais adorável que as rosas e tudo parecia cantar de amor como Beatles cantava ‘alguma coisa’ na floricultura.

E, no fim das contas, ele o amava como o vermelho. Intenso, expressivo, carmesim. Mesmo que Zachy tivesse juntado o punhado de rosas vermelhas e, após pagar ao florista com notas e um sorriso, ele tivesse saído sem olhar; apesar dos olhos cinza estarem mais escuros e molhados. Mesmo que não tivesse acenado um comprimento.

Ele ainda o amava como o vermelho. Intenso, expressivo, carmesim. E ponto final.


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Notas finais do capítulo

¹Espelho esférico de Gauss – sob condições específicas, diminui a aberração esférica e as imagens são mais nítidas. A gente aprende isso em reflexão da luz em física, e como eu sou uma aluna negligente em física, só sei isso, então quem tiver curiosidade, só pesquisar.
a fic agora tem trailer, muito obrigada a exotcsel (socialspirit)por ter feito essa coisa linda
https://www.youtube.com/watch?v=v75JSLNI3X4&feature=youtu.be



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