Estava chovendo novamente. Aquela velha briga entre o fogo do chão, da fogueira e as lágrimas do céu, da chuva. E a chuva parecia sempre trazer alguém para escutar uma velha história daquela criatura. Mas dessa vez não sou aquilo que conta a história, e sim sobre uma pessoa que passou direto pela clareira do Eremita, como se ela não existisse. Ele a viu, mas o contrário não aconteceu. Era uma garota com botas suspensas pela mão e um guarda-chuva fechado na outra mão, mesmo que estivesse chovendo. Ela poderia até ser chamada de maluca se alguém "comum" a visse naquele estado, ainda mais pelo vestido que usava. Um vestido preto magnífico, digno de festas de gala. Pela aura que emanava, o encapuzado percebeu que era de ligar muito pra as pessoas "comuns", ou coisas, ou fatos. Mas ali estava, andando em meio ao nada, fascinada pela chuva. Não posso lhe contar o porquê, primeiro, porque seria muito poderoso explicar o que exatamente ela pensava ali, se nem mesmo o próprio Eremita que a viu soube dizer. Segundo, porque sou aquilo que conta, e não aquilo que lê pensamentos. Mas acredito que ele imaginou, e que contando sobre isso posso fazer você, para quem conto sobre esta garota, imaginar um pouco também. Quem sabe assim os mundos se conectem e saibamos o que realmente ela queria? Uma garota "anormal", vestida para festa e debaixo de uma chuva, como se estivesse caminhando por um campo de flores. Problemas mentais? Não... Também não era desolação, ou melancolia... O Eremita supôs que a fria chuva lembrasse a fria realidade e turvasse a visão da garota, mas ao mesmo tempo lhe levasse a voar por um mundo de pensamentos e coisas mágicas que ela tanto parecia gostar emanando aquela aura misteriosa. A fria chuva era a calorosa e melhor companheira da garota que andava sem botas e com um guarda chuva. Talvez até mais calorosa que a fogueira que acompanha o Eremita desde o início dos tempos. Ou não...