Contos do Eremita escrita por Dija Darkdija


Capítulo 2
Equilibre os opostos


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, reescrito e respostado. Boa leitura!



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Suspirou. Como em algumas poucas ocasiões como essa, apenas suspirou. Achava interessante observar um pouco a humanidade, apesar de extremamente cansativo. Mas cansaço era algo que não conseguia mais sentir. Ser algo a parte do mundo como ele por certo lhe trazia desvantagens, mas já haviam sido superadas e ignoradas há bastante tempo.

Você está com frio? Uma fogueira e uma história poderão lhe aquecer o coração. Com calor? Sem problemas, a chuva virá em breve. Talvez não... não posso ter certeza. Sou apenas aquilo que conta. Dessa vez, lhes conto sobre aquele que espera.

– Olá filhote... o que o traz aqui? – perguntou ele, cordial como sempre, com uma voz tão velha e rouca que parecia ter ficado sem uso por eternidades. Do outro lado da fogueira, havia um menino. Aparentemente podiam ver-se facilmente, apesar dele não afastar seu capuz em momento nenhum e o menino não se aproximar muito.

O menino não soube responder à pergunta. Na verdade, os que chegam até ele nunca sabem, ou sempre respondem quase a mesma coisa. Não é falta de criatividade, é uma espécie de... Visão padronizada? Por que não respondem "o destino" ou algo do tipo pelo menos? Ele, o que espera, se perguntava sempre, mas nunca soube. Nunca saberemos.

Era uma das poucas coisas que o irritava, se é que isso era uma sensação possível para ele. Voltando ao garoto: como os outros...acabou balbuciando "é....eu tava andando, e por coincidência parei aqui."

– Não existe coincidência ou acaso, caro filhote. Existe o destino, o inevitável, a força maior, como você prefira chamar. O que existe é isso, e nada mais. – respondeu-lhe.

– E como você sabe disso? – perguntou o menino. O encapuzado achou particularmente engraçado o tom e a expressão facial que acompanharam a pergunta. Ou, pelo menos, achou o mais próximo dessa sensação que ainda podia sentir.

Apesar de não poder se mostrar feliz diante daquilo, acabou percebendo que era um bom filhote para ser ensinado sobre as estranhas coisas que nos rodeiam. O garoto, impaciente como a maioria dos garotos da sua idade, indagou novamente:

– E quem é você? Algum mago ou bruxo ou alguma coisa assim?

Sim, era aquilo que sempre lhe perguntavam. E era aquilo uma das poucas coisas que o faziam rir, ou o mais próximo disso que poderia. Dessa vez, não fez nada além de responder:

– Como sei? E quem disse que sei de algo? Apenas acredito que sei. E você, no que acredita? Quem sou? Não sei quem sou. Dizem que um velho professor-aprendiz, dizem que um eremita... Dizem muitas coisas. E você, filhote, o que diz?

– Sei lá... E o que você quer comigo?

–Nada. E você, o que quer andando sem rumo à procura de algo?

–Não interessa... – foi o que o menino disse, pensando em ir embora. E estranhamente, uma gota de chuva o parou. Uma pequenina gota de chuva teve a força de parar o todo poderoso... menino. Caiu em frente a ele. Outra, mais uma. Outras mais, e estava formada uma chuva fina. Deu pra perceber que o garoto teria algum potencial. Deu meia volta e se aproximou. Sentou-se de frente ao encapuzado e pôs-se a observar a fogueira que os separava por alguns instantes.

– O que mais queres perguntar, filhote de humano?

– Não entendo... a água está caindo sobre a fogueira, mas ela não diminui!

– Então a sua pergunta é "por que a fogueira não diminui", correto? Por que ela e a chuva estão em equilíbrio.

– Como assim “em equilíbrio”? Mas é fogo e água! A água deveria apagar o fogo, não?

– Sim, são fogo e água. Todas as coisas têm seus opostos, e aí estão os opostos fogo e água. Porém, no equilíbrio certo os opostos não tendem a se destruir. Isso só acontece quando um dos elementos está lá em demasia. Se eu adicionar mais fogo, a água evaporará totalmente. Se eu adicionar mais água, ela apagará o fogo. Mantendo-se o equilíbrio têm-se um benefício para ambos os opostos. Todo aspecto, elemento e sentimento tem seu oposto, com o qual deve ser equilibrado. Se não existir o oposto para manter o equilíbrio, ação se converte em destruição.

Após essas palavras, o garoto se levantou e saiu correndo. Era o esperado desde o início. Segundo o que espera, “humanos correm como loucos da chuva purificadora que traz o equilíbrio ao seu fogo interior por puro medo de serem apagados”.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram do Eremita? O que vocês fariam no lugar do menino?



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