Tic-tac escrita por Acácia


Capítulo 11
Tic


Notas iniciais do capítulo

Enquanto editava o capítulo, chorei, sou mole (Acácia)
A Cristal espera que você se emocione também
:3 Boa leitura



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Acácia,

Meu anjo,

A Sarah me esqueceu com certeza, não tenho a menor dúvida.

É o meu cérebro que guarda as coisas, não o dela.

Meu coração também, infelizmente.

Meu amor, meu comportamento e a minha existência é um infortúnio e, no geral, eu gosto de ser mal tratada.

Não maltratada, mas tratada mal.

Não sei se consegue ver a diferença.

Quando eu amava, eu amava os atrasos, sim.

Eu amava ficar esperando, eu adorava as fases da espera, amava ficar sozinha em um café sem fazer meu pedido porque nós marcamos e ela chegaria em pouco tempo.

Amava o relógio mostrando que ela deveria ter chegado há meia hora, e talvez ela tenha ido ao lugar errado.

Talvez eu estivesse no lugar errado então revia mentalmente toda a conversa, pra ter certeza de que não me enganei.

E aí bum, mais dez minutos, ela estava presa no trânsito.

Mais dez minutos e eu me sentia uma idiota só por ter saído de casa.

Mais dez minutos e eu já a odiava, ensaiava frases espinhentas pra gritar com ela.

E mais dez minutos, ela chegava. Feliz e linda, eu me esquecia da espera.

Mas estou esperando por ela, inconscientemente, isso corta um pouco.

Eu me apaixono pela estupidez. Verdade.

Eu não gosto do carinho, me irrita, o carinho da minha colega de cela me irrita quando ela mata aranhas por mim.

E me irrita ela ter me contado que não ouve nenhum relógio, que não tem tic-tac nenhum.

Eu escuto todo o tempo.

Levanto e ele está lá, eu grito pra acordar e acordo. E levanto e o barulho está lá, e eu tenho que acordar cinquenta vezes, e continuo dormindo, e não consigo gritar.

O tempo pesa em mim e eu queria ser você. Ter a insanidade boa e poder viver.

Não posso viver porque minha cabeça não funciona bem e porque matei meu irmão, matei meu irmão porque minha cabeça não funciona bem e por isso não posso viver. Entende? É um ciclo, como as doze horas do relógio.

Dá a volta e é tudo igual, mais uma volta, mais uma volta, mais um tique, mais um taque, um tique, um taque, um tique, um taque, tique, taque, tique-taque, tiquetaquetiquetaque tiquetaquetiquetaque.

E me acordo mais 49 vezes, pra continuar dormindo, ouvindo e amando.

Amar é uma droga, o tempo é uma droga, mas só são ruins se você não puder se chapar com eles, ter uma overdose, sentir a leveza de estar em um universo paralelo que, por incrível que pareça, é bom.

Estou em abstinência. Estou no desejo, estou não tendo.

Minha loucura é diferente e parece que meu único plano de vida que dará certo vai ser morrer.

Acho que vivo pra isso. Parece um tique, um taque, um tique-taque. Mas é só um vem, um logo, vem-logo e a morte está lá de braços abertos, pronta pra me deixar leve.

Estou sofrendo.

Você tem razão, não pode me matar, eu não posso te matar, mas a Sarah não pode me matar, é algo que só eu posso fazer por mim mesma e eu escolhi sim, fazer isso.

Não sou especial, não faço diferença, entende? Ela já me esqueceu, eu já envelheci, eu já mudei demais pra ser amada por ela.

Não como você e Rô, vocês estão no ponto.

Já está tarde pra mim, não pude ser minha Marilyn, entende? Ela morreu na hora certa, por isso é lembrada.

Se fosse velha e gorda, enrugada, não seria um ícone.

Ela morreu quando todos ainda a amavam.

Ninguém me ama.

Eu achava que deveria continuar viva por estar sendo amada e, pelo amor, porque por ele valia a pena continuar viva.

Mas o amor também morreu, infelizmente só nos outros.

O meu amor eu mesma tenho que matar, e só vou matar a minha metade porque não posso matar a Sarah.

Consegue entender aonde vai a minha loucura?

Tique-taque, tique-taque, silêncio.

Ela só vai parar de me chamar quando eu for.

Espero que pra você seja diferente, que ela te pegue de surpresa e que você seja feliz, que possa se chapar até o fim, beijar até o fim ao invés de, enfim, beijar o fim.

Um brinde ao meu final e ao seu feliz.

Final feliz pra gente Acácia.

Me ajude anjo.

Me ajude.

Adeus,

Maitê.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler