Tic-tac escrita por Acácia


Capítulo 10
Tac


Notas iniciais do capítulo

Oi :3
Boa leitura



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M.,

Está tudo bem agora. Eu e a Rô nos beijamos mais vezes, nos amamos e não dói. Não dói enquanto não lembro que dói, a Rô ocupa a minha cabeça.

As pessoas da minha sala falam sobre nós duas. Não me importo, Maitê, eu a amo. O amor é mais importante do que a sexualidade.

Ai, Maitê.

Estou tão feliz que não me importo com você ou a Sarah, mesmo que ela seja linda e o seu amor tão grande. Perdoe-me. Veja bem: aquela noite consumiu toda a minha vida e preencheu-me de loucura e amor e paixão e alegria e Rô. Nós saímos para uma festa às onze horas, lá só tinha bebida e drogas, Maitê, fiz tudo que a Rô me disse pra fazer: ela me fez tomar gim com limão e fumei maconha. Ficamos felizes.

Tudo ficou roxo e amarelo e eu ri, a Rô riu, os amigos da Rô riram. Beijei muito mais gente e a Rô também. Ela me disse que sob efeito de drogas somos de todo mundo, concordei e nos amamos. Maitê, a Rô é maluca, diz que me ama, me sufoca e me liberta. É um amor bom. Nos amamos, ela disse. Sim, nos amamos.

Depois, fomos para um parque, com uns amigos, tiramos a roupa e tomamos banho de fonte. Teve mais maconha pra mim, e pra eles, pó branco e seringas. Éramos livres.

Nos beijamos, nunca foi tão bom. A água da fonte era fria e me agarrei nela. Tocava uma música ruim, dançávamos, molhadas. Rodopiei até cansar, e quando cansava, tinha a maconha. O mundo era nosso, Maitê. Pela primeira vez senti que estava vivendo.

Por um momento, eu era a fonte. Entupida e seca. Adolescentes chegaram e me desentupiram, agora a água escorre, fria, caudalosa, como a vida entupida em mim. Maitê, a metáfora soa muito feia? Nem sempre os sentimentos são bonitos, mas louca pela droga esse pareceu, sempre parece.

Ainda estou sob efeito, estou sempre, a Rô me deu um pouco de erva e um isqueiro. Fumo sempre que preciso, sempre preciso quando estou longe dela, perto também.

Maitê! Maitê! Eu a amo.

Nós fizemos amor. Na fonte. Quando vi, todos tinham ido embora, e ela me beijou. Dessa vez, foi calmo.

O beijo foi calmo, como se o que viesse a seguir fosse óbvio. Ela me deitou na fonte, fiquei metade submersa, e deitou em cima de mim, nos beijamos.

Aquela foi a noite dos beijos.

A beijei da cabeça aos pés e ela me beijou também. Os nossos corpos eram perfeitos colados. Deixei que a Rô me conhecesse inteira.

Sinto que, como você, amarei a Rô durante toda a minha vida, e depois. A amarei além, além do amor.

Hoje é segunda, e, como já disse, as pessoas da escola comentam. São estúpidas, não entendem o que é o amor. Como eu e a Rô entendemos. Como você e a Sarah devem entender.

Minha Maitê, entendo que não possa viver sem a sua amada. Que a distância te corte. Te salvarei dessa dor, Maitê.

E, enquanto a Rô existir, ela vai ser a única que poderá causar a minha morte. Não fique sentida, mas como eu não posso te matar (só a Sarah pode), você não pode me matar. Somos imunes uma a outra, sua causa é externa a mim, entende?

De tudo, o meu amor não é insano. Nunca chegou a ser. Nunca mataria a minha Rô.

Vou dormir na casa dela hoje, nos amaremos de novo.

Maitê, nos amaremos até o fim. Até que doa e a maconha acabe e as seringas não façam mais efeito. E o meu relógio pare de bater. O pêndulo do relógio agora é o meu coração.

Quando voltei da fonte, o escutei de novo. Tinha me esquecido. Doeu. O meu amor doeu quando me lembrei do tempo, que anula a eternidade e mesmo assim faz com que ela exista.

O tic-tac foi transferido para o meu coração. Sinto que morrerei em breve, Maitê. Me espere.

Tenho medo da morte agora que tenho a Rô. Nosso infinito acabaria, a leveza ficaria pesada e eu não gostaria que ela ficasse viva sem mim, talvez ela me esquecesse. O nosso amor, Maitê, duraria a eternidade para ela? Tenho medo de ficar sozinha e do esquecimento, estou assustada porque não posso entrar na cabeça da Rô e sei que ela me ama porque eu sou bonita, só por isso, Maitê, a minha beleza vai acabar um dia. Não quero que o nosso amor acabe.

Você tem medo que a sua Sarah tenha te esquecido?

Maitê, estou delirando. Vou pegar um ônibus e ir pra casa da Rô, ela é a minha droga, vai substituir o meu delírio real por um imaginário e vai ficar tudo bem. A fantasia sempre é melhor.

Espero que esteja tudo bem com você, e que os dias estejam passando rápido.

Acácia


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Notas finais do capítulo

Espero(amos) que tenha gostado