Tic-tac escrita por Acácia


Capítulo 12
Tac.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Meu amor,

Não posso te ajudar.

Não posso porque estou morrendo também, Maitê.

Matei a Joana. Vê como estou morrendo? Matei o relógio.

Matei a Rô. Ela me matou.

Maitê. Minha querida, eu te amava, como disse que amaria, e dói que eu te ame assim. Maitê, o nosso amor a gente inventou, ele nunca existiu, existiu por uma semana, e mesmo assim eu te amo. Por te amar, acabei te matando também. Matei tudo, meu amor.

A minha Rô, a razão do nada e do tudo, foi embora. Foi embora com uma menina chamada Curtis que sabe falar e rir, fugiram pra Bélgica. Minha Rô fugiu. Foi embora. Me deixou um bilhete. Maitê, puta que pariu, ela me deixou um bilhete do lado da sua cama. Ela foi embora depois de nos amarmos de novo. De nos amarmos na cama. Eu a beijei, ela me amou.

–Te amo, Acácia, chérie.

Maitê, a Rô era a morte.

Vê? Está vendo? Ela era a morta. A morte. Ela me matou, ela queria me matar. Eu devia tê-la matado. Eu a amo. Maitê. Eu te amo. Amo a Rô. Quero matá-la. Quis sugar a sua alma e devia ter feito isso logo.

Eu a amo.

A amo e dói, dói porque ela me deixou antes mesmo de o amor esfriar. Antes mesmo de brigarmos, antes mesmo de ficarmos feias e velhas. Antes dos meus cabelos ficarem brancos e os meus seios caírem. Se isso acontecesse, seria plausível o fim, o abandono.

Maitê, meu amor, não posso viver sem a Rô.

A Rô. A Sarah.

Maitê, a Rô me matou. Deixou seringas. Injetei todas na veia. Todas as sete que estavam cheias e todo o líquido que tinha na casa. Morrerei na casa dela. Com os pais dela no quarto ao lado.

Rô, o meu amor, o meu amor, minha vida inteira, escolheu se chapar com outra. Com gringos. Ela os matará também. Ela é a morte. Minha Rô, o meu amor.

Estávamos no ponto.

De nos amarmos até nos matarmos. A Rô, o meu declínio, desmoronei. Ela me matou, eu não a matei. Não é justo.

Não é, Maitê.

Não é.

Ela foi se chapar com outra. Ela me amava. Sei que amava.

– Acácia.

–Te amo, chérie.

Ma belle.

Maitê.

As seringas. Eu pude me chapar. Me chapar com o amor e com o tempo.

Matei o relógio mas não o tempo.

Tic-tac-tic-tac o relógio quebrou mas o tempo não parou.

Eu preciso que pare. Eu preciso parar. Tenho que morrer.

A amarei até o fim. Estou amando até o fim.

Me chapei com o amor com o tempo com a Rô, eles precisam parar de existir. É uma crise que nunca vai acabar, uma história igual a sua. Quem nós somos, Maitê? Quem nós fomos?

Eu não sei quem nós fomos, Maitê, mas nós éramos uma só. Pequenos elos de uma corrente, presas a tanta coisa. Presas a nós mesmas, a nossas nuances, nossas alucinações, loucuras, animais de estimação e nossos amores. Nós éramos presas e éramos a corrente.

Por que fomos nos conhecer? Por que fomos amar desse jeito? Por que sustentamos a corrente e não a arrebentamos?

Sempre surgirão novas perguntas, meu amor, elas vão nos sufocar pra sempre e morreremos de qualquer jeito. Suas perguntas não-respondidas pela Sarah, as minhas não-respondidas pela Rô.

Obrigada por me sustentar na corrente da vida por um tempo de amor e felicidade.

Maitê, me desculpe.

Me desculpe pelos picos de ternura e depois incitar sua tristeza e loucura.

Me desculpe por não ter te ajudado e ter te ajudado a morrer, Acácia é uma flor venenosa, vê?, no final foi tudo uma grande metáfora. Você não precisava do veneno dos pêssegos e sim do meu.

Desculpe-me.

Beijei o fim desde o começo. Beijei a Rô. E mesmo que terminasse assim de novo, me despiria na fonte, me chaparia e a amaria.

Por que depois de tudo, Maitê, a única coisa que está além, além do amor é o fim.

Por que a Rô fez com que a vida valesse a pena. E, afinal, é ela quem faz que a morte valha.

(P.S: Mando os pêssegos, finalmente, roubei dinheiro da Rô)

(P.S.S:Overdose pra nós duas, Maitê, overdose de amor).

Final.

Feliz.

Acácia, sua flor.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.