Ordem de Lis escrita por synchro


Capítulo 10
Palestras


Notas iniciais do capítulo

Eu tinha muito mais escrito, mas decidi colocar só essas duas partes, espero que não se irritem.
Sim, eu voltei a postar aqui, mas só porque se eu não postar, acabo não escrevendo, então, eu amo muito voces, pois me levam a escrever, beijões.



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O dia amanheceu calmo. A luz matinal inundava o quarto de Jay, aquecendo o ambiente. A garota acordou e trocou de roupa, se preparando para o primeiro dia no curso.

Assim que abriu a porta do quarto, o cheiro de comida invadiu seu olfato e a fez perceber como estava com fome. Se forçou a andar até uma cadeira e se servir com várias porções de vegetais e alguns filetes de carne. Quase não comera desde o dia da batalha, e lembrar disso fez seus pensamentos voltarem para o barco, e para sua irmã, então para a promessa que fizera com Tiemon, e no capitão do navio negro.

– Está bom? – Uma voz perguntou a sua esquerda.

Jay se assustou e pulou na cadeira, quase derrubando a mesa em sua frente, mas logo percebeu que era Jägger e se acalmou.

– Ah, sim, a comida está muito boa. Desculpe minha reação, mas eu estava lembrando daquele dia e acabei achando que estava acontecendo de novo. – Ela se ajeitou na cadeira mais uma vez. – Foi você quem preparou? – Ela olhou para a refeição.

–Sim, depois que você sabe montar projetos complexos de engenharia e experimentos químicos, cozinhar parece coisa de criança. – Ele se explicou.

– Entendo, você algum dia já pensou que estaria aqui? – Ela mudou o assunto.

– Na verdade, são poucas as pessoas que detém o conhecimento sobre esse lugar, mas com uma guerra prestes a estourar, de acordo com informações da colônia de Averir, a Ordem decidiu divulgar a sabedoria e aderir mais membros em suas casas. Apesar de eu considerar isso algo bom, pensa que prejudicará a perfeita linhagem sanguínea que eles estudavam.

– Como assim linhagem sanguínea perfeita? – Ela estava mais intrigada com o assunto, deixando a comida de lado.

– As famílias tradicionais da Ordem vêm de uma longa linhagem, que, diferentemente dos ancestrais normais de Ahu, formaram uma aliança para proteger o conhecimento. Eles não se afastaram de seu interior, mas foram afastados, graças a grande presença mágica que aqui existe e ao mais poderoso mago humano a explorar essas terras antes mesmo de qualquer outro ser da mesma espécie pisar aqui, Graifer'Mahu. De acordo com a lenda da Flor de Sangue, suas magias foram seladas, mas se descobriu recentemente que traços dela ainda estão livres, e desde então os membros procuram uma forma de romper esse selo, e serem os primeiros humanos em mais de mil anos a usar magia.

– Incrível, então antes disso seria quase impossível para meu irmão e a mim entrarem nas mais altas classes aqui né?

– Sim, mas aprecio que tenham me dado a oportunidade, mesmo contra minha vontade total, de estar aqui. – A expressão dele ficou nostálgica e seu olhar se perdeu em algum ponto do céu através da janela. – Eu e John sempre fomos diferentes, mesmo quando ainda éramos crianças. Enquanto eu gostava de ficar em casa e estudar, ele ia para as ruas com seus amigos para disputar quem roubava mais dos andantes. Então um dia ele roubou um pirata e acabou sendo pego, por isso o pirata o tomou como escravo e o fez trabalhar nos mares.

"Eu só fui ver meu irmão cinco anos depois. Quando ele voltou, só sabia falar do mar, e sua grande paixão pelo mesmo, e eu já tinha minha própria oficina, que estava sob o serviço do rei."

"John estava frio e bruto, como um verdadeiro marujo, e eu apenas via relances de sua humanidade quando estava no comando do navio."

Jägger se virou para olhá-la e avançou até a mesa, sentando-se na cadeira que ficava na frente da de Jay.

"Eu o ajudava com melhorias para o barco e com armamentos sempre que podia, mas quando John soube que meu melhor projeto era de exclusividade do exército real, foi até minha oficina exigir explicações, dizendo que não era assim que irmãos deveriam agir."

"Então ele me seqüestrou e roubou um protótipo da arma, mas, como protótipo, não estava completo. Depois de um tempo percebi que ele não estava de brincadeira e me mataria para ter aquela arma, então evolui o seu exemplar para uma arma completa."

– Ah, foi dessa forma que ele conseguiu aquele canhão. – Ela deduziu.

– Sim, ele até mesmo reconstruiu minha oficina no seu armazém no porto da cidade, assim eu trabalharia em terra firme. Eu tentei resistir a ele, mas você já sabe o que aconteceu, já que praticamente me forçou a, depois de ter completado a arma, ainda montá-la pra ele.

O semblante dela ficou frio.

– Se eu não tivesse feito isso, todos nós estaríamos no fundo do mar, tenha mais respeito e talvez eu comece a respeitar você, mas por enquanto, não se esqueça que na família Lockhart, não são apenas os homens a serem treinados na arte da guerra.

– Não seja tão rude com nosso hóspede, ele pode não gostar da estadia. Ops, ele está preso a nós, quase me esqueci. – Tiemon se apresentou na sala como um lorde, em roupas ricamente detalhadas e com uma postura impecável. – Jay, temos que ir para a classe, eu recebi uma carta que nossos materiais estão lá, pois nem todos têm o necessário. Jägger, o único lugar que pode ir é a biblioteca, e nada mais.

Enquanto o irmão se dirigia para a porta rapidamente, a garota tomou um gole de água para engolir o que estava na boca e quase caiu ao tropeção na mesa quando corria para alcançar o irmão. No momento que ela saia do apartamento, o engenheiro encarava os céus pela janela novamente.

O garoto que se assimilava a pintura que ela vira no dia anterior esperava com uma pasta na mão em frente ao elevador.

– Bom dia. – Meu irmão o cumprimentou normalmente. – Vai para as aulas? – A pergunta pareceria óbvia numa escola comum, mas ali existia muito mais do que apenas classes de aula, tinha bibliotecas, campos de pesquisa e muito mais.

– Ah, bom dia para vocês, são da Ordem de Lis também? – O garoto olhou para nós enquanto segurava a corda que avisaria ao empregado, que ficava dentro do elevador, em qual andar ele deveria parar.

– Não, somos apenas estudantes comuns, você tem sorte de estar no grupo. Nosso plano é tentar entrar também. – Jay falou mais rápida que o irmão.

– Eu estou nela pois meu pai faz parte também, venham, vamos.

A plataforma chegou na frente deles, e eles pularam nela com pressa. Os três desceram sem trocar mais nenhuma palavra, somente discretos olhares da garota para ele, e por fim um rápido até logo na hora que se separaram no térreo. As salas eram bem divididas, se você fosse, do hall principal, para a direita, sairia no jardim das classes da ordem; para a esquerda, no jardim das classes dos comuns; para o fundo, uma abertura para além da torre se dava, com colinas e florestas, além de uma pequena clareira que continha as casas dos membros mais importantes do lugar.

Irmão e irmã foram para suas primeiras aulas, que coincidentemente eram juntas e focavam uma palestra de apresentação com o diretor da Academia, Ani'Mahu.

–//–

Set estava perdido no meio de tantos prédios. Tinha sido informado que a palestra seria no salão formal da Ordem, mas para ele nenhum dos que via o parecia ser.

Se concentrando na onde a maior parte das pessoas se aglomeravam e as seguiu. Num dos mais simples prédios do lugar, ele seguiu várias pessoas, e acabou descobrindo que, por dentro, nada existia além de um espaço vazio e uma escada para o subsolo.

Ele a desceu por vários lances, junto com os outros, até chegar numa porta grande, que ocupava toda a parede em sua frente. Eram duas portas gêmeas, em um arco ogival, em seu centro se encontrava entalhada a figura de uma árvore tão alta que seu último galho acabava além da extensão da porta, tocando o teto.

Set cruzou a porta e andou até o centro do hall. Essa era uma das dicas de Altiv, agir como se tudo que estivesse acontecendo fosse normal para ele, para que sua família não passasse vergonha, mesmo que o pai não o tenha ensinado nada do que deveria ter ensinado. Nos dias que tiveram antes das aulas o tutor o dera algumas informações sobre o que estava acontecendo.

E foi assim que ele ficou, perdido no centro do ambiente, sem ter com quem falar, afinal não tinha nenhum conhecido ali. Se refugiou no único lugar que sobrou, seus pensamentos. Colocou a pasta que segurava na mão sobre o chão e divagou sobre como tudo passara da preocupação de não agradar o pai com a plantação no fundo de casa com ir para uma escola que lhe ensinaria a esquecer tudo que já aprendera em sua vida e a criar novos valores e conhecimentos.

Foi assim que não conseguiu ver a garota que vinha em sua direção, e nem ela o viu pela falta de atenção, pois sentia que seu vestido tinha alguma coisa errada, mas não entendia o que era.

Dessa forma a batida foi inevitável, e no centro do salão o corpo dos dois se chocou, despertando Set de seus pensamentos enquanto era jogado ao chão e a fazendo reparar na beleza do garoto moreno e forte que estava em sua frente. A primeira coisa que ele viu foram os longos fios vermelho-vivos que formavam o cabelo dela, pareciam uma brasa que estava incerta se devia queimar para impressionar ou destruir aqueles que a olhavam. Os olhos dela eram amêndoas levemente repuxadas, dando uma impressão de força a garota, a íris era azul anil, levando a beleza para a pele clara da garota, completamente perfeita.

Ele se levantou hipnotizado por todo o anjo que se encontrava parado à sua frente, e perdeu as palavras quando ela o abraçou.

– Ai meu deus, me desculpe, eu não estava prestando atenção. – Set sentiu o sangue subir para seu rosto e ouviu o riso dela. Um riso leve e macio, como seda que acariciava sua pele. – Perdão novamente, mas seu rosto ficou muito engraçado com essa cara de bobo e esse tom vermelho. Eu sou Bianchi, estou no terceiro ano aqui, muito prazer. – Ela se soltou dele e estendeu a mão, que ele apertou brecemente. – A propósito, eu estava vindo pegar uma bebida e acabei tropeçando em você.

Ele tentou falar algo, mas as palavras simplesmente não saiam de sua boca.

Quando finalmente balbuciou algum ininteligível, ela o cortou.

– Ah, recomendo que coloque seu anel logo, para não ser confundido com algum do lado de "lá" perdido. Foi um prazer, nos vemos por aí. – Ela se virou e andou até uma roda de meninas a poucos metros dali, e, com os olhares fulminantes das outras garotas o encarando, percebeu que olhava para Bianchi de forma nada elegante.

Parou para se lembrar de que ela se referira a um anel, mas ele não se recordava de nenhum, mas conseguiu alcançar na memória a frase do tutor "Se precisar de algo, procure na mala, eu vou colocar tudo que precisa aqui.", sua mão se enfiou por dentro da pasta no chão até se fechar em uma forma circular feita de metal, ele puxou para fora.

Assim que viu o anel, ficou espantado. Era ricamente detalhado, e por cima tinha um brasão na forma de um cajado com o topo se abrindo numa rosa vermelha, com o fundo totalmente verde.

Set colocou o anel no dedo e reparou que todos os outros ali também possuíam um. Quando pensou em perguntar a alguém sobre o que significavam, foi interrompido por uma voz grave que vinha do fundo do lugar.

A multidão se deslocou de forma disforme para lá e Set acabou sendo levado junto.

– Silêncio, silêncio. – Aos poucos o barulho foi parando e ele conseguiu ver o dono da voz. O homem devia estar com quase cinqüenta anos, seu rosto tinha o ar de uma pessoa forte, mas mostrava sinais de que a idade já o estava vencendo. Fios brancos pintavam uma cabeça que já fora um dia tingida de preto, e seus músculos se tornavam lentamente flácidos, embora nenhum desses problemas o impedissem de estar ali com uma armadura completa no corpo e um sorriso no rosto.

– Sejam todos bem–vindos a mais um ano nessa ilha, meu nome é
Reinlard, sou o Explorador Sênior aqui, um cargo relativamente importante, porém estou aqui hoje para lhes introduzir a esse mundo e deixar os veteranos a par de nossos avanços.

"Aos novos alunos, uma de nossas tradições sempre foi deixar um veterano escolher um de vocês para auxiliar no aprendizado."

Ele respirou um momento e se sentou.

"Por isso, venham até a frente, e os veteranos que não quiserem ficar, já podem ir para seus dormitórios e tirar o dia de folga."

Set viu vários alunos mais velhos saindo por algumas portas que ele não percebera antes, mas nenhuma delas tão bela quanto a pela qual ele entrara.

Seguindo o conselho de Altiv para manter a aparência, ele se encaminhou para a frente do palco e ficou no meio de uma fila de jovens que tinham entre treze e dezessete anos, ele mediu em uma olhada. Todos tinham olhares anciosos.

– Devido a situação atual, fomos obrigados a permitir a entrada de mais algumas famílias na Ordem, vocês serão informados amanhã sobre elas. E também fomos obrigados a permitir a entrada de alunos muito mais jovens, pelo que podem ver. Mais algumas vagas podem ser abertas no futuro, então aqueles que ficarem sem um protegido, não se sintam tristes.

Ele olhou para os novos alunos e então para os antigos.

– Lembrem–se, apesar de serem da Ordem, grande parte deles não foi informada de nada por toda sua vida, então se escolherem alguém, estejam preparados para serem pacientes e ensinar com cuidado.

A vontade do Mahu era simplesmente sair de perto daqueles loucos e nadar pelo mar até não agüentar mais, mas seu medo o impedia, como a muitos outros ali. Um garoto ao lado dele tremia e segurava os punhos fechados na calça.

– Acho que eu vou ficar com você, posso? – A voz doce entrou por seus ouvidos de novo e ele reconheceu Bianchi sem nem mesmo precisar olhar para ela. Por fim compreendeu que ela estava dizendo que o escolheria para ajudar nas aulas.

– Ah, sim. Mas eu sou exatamente o tipo que Reinlard falou, um sabe-nada, tudo bem?

– Claro. – Bianchi pegou a mão dele e olhou para o anel. ela perdeu o sorriso por um momento, mas logo ele voltou ainda maior. – E a cada hora minha sorte aumenta.

– Oh? – Set olhou para o próprio anel, e ela voltou a falar.

– Eu não quero ficar presa aqui o dia todo, já ouvi esse discurso três vezes, e não planejo uma quarta. Te ensinarei o básico hoje e depois vamos aproveitar os lugares lindos dessa fortaleza sem muralhas.


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Notas finais do capítulo

Por favor, se você está lendo, deixe um review, nem que seja um "estou lendo", mas diga pra mim que você está ai, obrigado.
É claro que eu vou te amar muito mais se você postar um review enorme, mas eu ñ vou saber como responbder u.u



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