Ordem de Lis escrita por synchro


Capítulo 9
O novo rei / O garoto da pintura


Notas iniciais do capítulo

Galera, provavelmente esse é o último capítulo que postarei, pois tem poucas pessoas acompanhando, e quem acompanha na maioria não deixa reviews.

—Edit: vou escrever mais alguns pra postar aqui só pra vocês não ficarem sem nada no final!-



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O sol ainda não havia nascido quando Wilhelm se encaminhava para o salão de reuniões acompanhado de uma pequena guarda.

O corredor em que estavam era iluminado por fracas tochas a cada cinco metros, fazendo as sombras bruxulearem de forma estranha na parede de pedras. O castelo era como uma única formação defensiva, poucas e pequenas janelas, paredes grossas, muitas passagens secretas e afins, e tinha sido feito assim para se defender das guerras que aconteciam há muitos séculos atrás, mas essa funcionalidade já não existia mais. Dessa forma uma segunda muralha foi construída ao redor da primeira, já que esta fora feita muito próxima as instalações palacianas e com pouco espaço para qualquer outra coisa, aumentando a área do castelo e permitindo a construção de jardins, fontes e pérgolas para que as mulheres da nobreza fofocassem fora do castelo.

Os últimos dias haviam sido turbulentos nas redondezas da capital, a notícia do massacre no palácio por alguns espiões gélidos se alastrou rapidamente, e uma fúria pela raça do norte começou a se formar. Multidões se juntaram nos portões do castelo pedindo por uma retaliação.

Com o conselheiro de guerra e general do exército de Mishtalia prometendo uma resposta à altura, todo o povo o apoiava como novo rei, e praticamente forçava o conselho a votar nele. E mesmo que o povo não quisesse, com os membros já comprados no governo aquilo aconteceria de toda forma.

Wilhelm não pensava em si como um governante corrupto, ele queria apenas mostrar a superioridade dos elfos perante as outras raças. Ele queria conquistas, queria dominar o mundo, e o caminho mais rápido para isso era a guerra.

Alguns minutos depois, eles chegaram a porta para a nova vida dele. Deixando a guarda para trás, ele encostou na maçaneta e começou a abrir as portas duplas devagar, sentindo cada momento, cada inspiração enchia seus pulmões com o ar da mudança.

Ele se sentou na cadeira em nível elevado em relação as outras, em uma mesa redonda, com um ar de superioridade e deu início ao discurso.

– Todos nós vamos nos lembrar com carinho de Johannes, nosso antigo rei, e honraremos sua memória. Seus feitos serão lembrados por gerações e serão marcados em nossos livros por tanto tempo quanto possível.

"Sua família governou o reino de Mishtalia por muitas gerações, e deram seu sangue por ele, devemos agradecer por seu filho e a noiva dele conseguirem escapar, mas devo dizer que não temos recursos para procurá-los no momento, pois nossa única preocupação deve ser em assegurar que não hajam outros futuros ataques."

"E assim como rege a tradição e as leis, devemos escolher a próxima família que irá governar a terra dos elfos, e assim eu abro a votação, em segredo, para a nomeação da nova família Mishtalia."

Durante uma hora sussurros ocorreram no salão. É óbvio que aquilo era encenação, mas ele não podia deixar de se sentir excitado e ansioso para ver o resultado, tendo certeza que veria seu nome escrito no mínimo sete vezes ali, confirmando que seria o novo rei e receberia o seu novo sobrenome. O nome Wilhelm de Mishtalia ainda soava incomum ao seus ouvidos, mas ele tinha certeza que se acostumaria, assim como a toda riqueza e beleza daquele palácio.

Ele só tinha certeza de uma coisa, quando fosse rei, pretendia ainda continuar exercendo controle sobre o exército, assim seria um governante com poderes totais, e poderia iniciar seu plano mestre.

Quando todos os papéis já estavam na urna, um representante entrou na sala e contou os nomes.

– A nova família a reger será a família Bloomenveldt, sob o comando de Wilhelm Bloomenveldt. Sua coroação será em quatro dias senhor.

Todos os pensamentos do homem citado se voltaram para a alegria momentânea, e ele soltou o ar que segurava. Suas mãos que antes suavam estavam agora agitadas com a felicidade da notícia, e ele se esgueirou para fora da sala enquanto os outros conselheiros conversavam.

Enquanto ele andava, o representante veio se apresentar formalmente a ele.

– Muito prazer senhor, eu sou Nebulous Vintus, seu acessor, se quiser me manter no cargo.

– Sim, sim, tudo bem. – Wilhelm nem mesmo prestava atenção ao que o homem falava, só se distraia enquanto caminhava para chegar em seu quarto e nem ao menos fazia questão de ligar as palavras que lhe eram dirigidas.

– Senhor, você deve se preparar para a chegada de nobres de todo o reino para cortejá–lo depois da coroação e também o senhor deve decidir se continuará com os mesmos conselheiros, e ainda deve fazer alguns discursos para acalmar a população, que ainda está revoltada com o que aconteceu.

– Pode deixar que irei fazer isso assim que o próximo dia amanhecer, mas o discurso terá de ficar para daqui a três dias, até lá arranje tudo. – O seu semblante parecia mais sério, como se pensasse em algo importante. Seus longos dedos foram até os cabelos loiros e os colocaram para longo do rosto, assim dando visão total de seus belos olhos azuis. Seu nariz formava uma leve curva para cima, mas isso apenas lhe dava uma aparência mais jovial e feroz, como um guerreiro, e essa era a natureza dos elfos. Seu sentimento de superioridade os havia afundado num complexo de superioridade, e esse sentimento os levara a guerras por anos, e com a ajuda da magia, num complexo ritual, eles transformaram seus corpos.

Com a união de cada gota de energia da comunidade élfica, numa floresta em uma lua de sangue, todos os elfos recitaram um feitiço que havia sido preparado por

anos. E assim por uma noite eles apenas esperaram, e no raiar do dia no interior de cada corpo uma dor teve início. Essa dor durou até o novo luar, e somente os fortes agüentaram, mas também tiveram uma recompensa. Suas faces agora eram tão belas que estonteavam os inimigos, seus corpos eram pequenos e corcundas, mas mais ágeis que qualquer outro ser na natureza e os braços e dedos se alongaram, assim poderiam agarrar objetos com mais destreza e facilidade.

Enquanto o novo rei-ainda-não-coroado pensava sobre a história de seu povo, percebeu que passou reto pela entrada de seu quarto, e teve de dar meia volta.

O Quarto Real era enorme, mas ao mesmo tempo modesto. Seu tamanho era devido a uma pequena biblioteca que ocupava metade do espaço do quarto, e fora isso ainda existiam três mesas de estudo, todas empilhadas com livros que o antigo rei estava lendo antes de seu "acidente", encoberto com uma história bem planejada por uma invasão de espiões gélidos, que passaram pelas zonas de guerra e se infiltraram no país, andando até a capital e entrando no palácio durante a noite e matando todos os que ali estavam.

Além disso existiam ainda um armário grande numa das paredes, uma outra parede com espelhos, uma grande cama no centro, um estande para armadura, com uma armadura de placa completa reluzindo na cor de ouro nela.

Ele andou até uma das mesas de estudo perto da biblioteca e remexeu nela até encontrar o local onde deixara um livro em especial, na capa do livro constava apenas "Novos Horizontes". Assim que garantiu que o livro ainda estivesse ali e em segurança, ele procurou um segundo livro, um livro que ele daria a vida para proteger, e no segundo livro, ele procurou uma página especial.

Com uma faca na mão, ele abriu um corte no lado esquerdo de seu peito, quase sobre o coração e então começou a recitar uma canção, e entre vogais ditas profundamente e em um estado de transe, seus olhos e dedos emitiam uma luz branca, e assim ele colocou três dedos dentro do corte até ao lado do coração, e lá encontrou o órgão que havia lido sobre, uma pequena massa dura e lisa, e com os dedos começou a acariciá–la, como o livro especificava.

–//–

Quando avistaram a ilha, a reação foi de surpresa, realmente era enorme, e ainda maior era a torre que se erguia no centro. Enquanto o capitão e seu irmão, que agora tinha permissão para ficar no convés, observavam aquilo, Jay e Tiemon chegaram também.

– E então Jägger, está pronto para abandonar toda sua antiga vida? – Tiemon o perguntou, enquanto encostava no mastro.

– Não, mas esse foi o acordo não é? Eu vou poder viver minha vida, mas com vocês, então eu aceito, é melhor do que ter que criar armas para meu irmão, e além disso, se eu tiver acesso aos livros que essa escola deve ter, eu vou poder desenvolver muitas outras coisas. – Sua cara não era de tristeza, nem mesmo de felicidade, mas ele olhava o horizonte, como se o pôr do sol fosse algo realmente novo e fascinante, e

talvez fosse, para alguém que não costuma sair de sua oficina ou notar a própria existência.

Aportar na ilha foi relativamente fácil, devido ao grande número de locais livres e poucos navios ali. Enquanto desciam pela prancha foram instruídos a passar pela banca de inspeção para poderem entrar.

Jay carregava sua própria mala, mas quando John perguntou se eles queriam levar a mala de Niela, que ainda estava no navio, ela desabou no chão e começou a chorar novamente. Seu irmão lentamente se aproximou e a segurou pelos ombros, levantando-a e acenando para o capitão positivamente. Depois de entregar o resto do pagamento ao capitão, eles partiram.

Em alguns minutos Jay, Tiemon e Jägger estavam numa das grandes mesas com suas malas sendo abertas e com uma mulher lhes dirigindo perguntas.

– Família?

– Lockharts. – Ela procurou pelo nome na lista.

– Tudo bem, pagamento prévio, três pessoas, ótimo. Qual o intuito em entrar para academia?

– Aprender o que puderem nos ensinar e tentar entrar para Ordem de Lis. – Ela fez algumas anotações.

– Tudo bem, se estiverem limpos podem entrar. – Por último ela entregou a cada um uma pequena autorização carimbada.

Eles andaram até onde suas bolsas esperavam por eles, e assim que foram pegá-las, viram que suas armas estavam sob a posse dos trabalhadores dali.

– Sabemos que são nobres, mas isso fica conosco até termos garantia que não vão arranjar confusão.

– Tudo bem. – Eles pegaram suas sacolas e andaram até os grandes portões, que se abriram magnificamente e então andaram até a base daquela estrutura de proporções gigantescas feita em gelo.

Os três entraram sem saber o que fazer, mas foram atendidos prontamente por uma moça que os guiou até o balcão principal daquele lugar.

Enquanto Tiemon falava com alguém atrás do balcão, Jay deixou suas malas no chão e foi olhar aquele local. Era lindo, inteiramente em um azul claro como o céu, mas não dava frio nela, apenas uma sensação de conforto, apesar de arrepiar sua pele. Tinha colunas a cada doze passos, ela contou, eram colunas grossas, que precisariam de no mínimo quatro pessoas para abraçá–la completamente.

As paredes tinham imagens de grandes cavaleiros com armaduras brilhantes montados em cavalos negros também com armaduras brilhantes, tinham imagens de jovens donzelas sorrindo, e imagens de velhos barbudos debruçados sobre montanhas de pergaminhos, mas o que impressionou a garota foi uma imagem de um garoto sorridente, jovem e moreno, que emitia luz de suas mãos, a imagem parecia tão real que ela imaginou que se encostasse na parede, seria sugada para aquele mundo.

Foi quando ela percebeu que alguém a chamava. Era seu irmão, e ele a apressava para irem a algum lugar que ela não conseguia ver.

A garota que os recebeu voltou a acompanhá-los.

– Eu vou lhes explicar como subir e descer nessa estrutura. – Ela apontou para o elevador.

No primeiro momento Jay se assustou, afinal o chão abaixo de seus pés estava se movendo, mas então ela percebeu como aquilo era relaxante, e apenas aproveitou e esperou que seu irmão estivesse entendendo as coisas que aquela mulher falava, pois ela mesma não entedia nada. Então Jay viu-a puxar uma alavanca e o movimento parou. Tiemon apressou-a para sair daquele lugar e entrar no chão sólido que estava em sua frente, e ela teve que rapidamente puxar sua bagagem e pular para frente, antes que o elevador começasse a descer subitamente.

– Andar noventa e oito, aqui estamos nós. – Seu irmão pegou uma chave e foi para uma das portas daquele andar, e enquanto os dois homens entravam no apartamento, ela olhava para onde uma das portas se abrira e revelava uma garota linda, com cabelos prateados e pele alva, as duas se olharam por alguns momentos, até que algo mais estranho ainda chamou a atenção de Jay.

Dentro daquela porta, mais ao fundo, estava um garoto moreno, e ela pode jurar que ele era o garoto da pintura que ela vira mais cedo.

–//–

– Set, acho que acabamos de descobrir quem são nossos vizinhos. – Inarin disse a ele, após fechar a porta.

– E como eles eram? Eu só consegui ver uma garota baixinha, e ela me olhava estranho. – Ele perguntou. – Ah, esquece, nossas aulas começam amanhã, provavelmente vamos nos conhecer melhor.


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