Muse

“Só melhoramos se jogarmos com alguém melhor que nós”
Match Point

Capítulo X:

Intenso

Turno: Shikamaru Nara

– Foda-se, mãe!- Não reluto em tacar a porcaria do telefone na parede. Só que aí eu lembrei que já era o terceiro só nessa semana. A escola vai acabar me expulsando por danificar produtos da escola.- Merda...!- Deixo o telefone estilhaçado no carpete do dormitório, entrelaçando as mãos uma na outra e adentro com os dedos na minha raiz oleosa. Os garotos em seus beliches me olhavam pelo canto dos olhos.

– Você deveria parar de tratar a sua mãe desse jeito.- Sasuke saiu do banheiro em passos rápidos, fungando o nariz despercebidamente ao passar por minha pessoa.- Algum dia ela não estará mais aqui.- Ele resgatou sua jaqueta de couro nos braços da cadeira do computador, a vestindo e saindo do dormitório o mais rápido possível. Provavelmente estava atrasado para mais um ménage.

– Queria conseguir pegar mulher igual o Sasuke.- Comentou Kiba sacana, deitando o livro no beliche e palitando os dentes.

– Nunca. O Sasuke é uma máquina de sexo.- Ralhei de certo furioso ainda pela conversa com minha mãe. E conversar sobre como o Sasuke era melhor que todo mundo nessa merda não ajudava muito.- Ele é outro nível.- Acrescentei, andando para lá e para cá pelo dormitório.

– Temos futebol hoje ás 6h, não?- Shino desviou o assunto, nos alertando.

– Que horas são agora?- Perguntei sem ter um relógio por perto.

– 5h40min.- Kiba confirmou olhando no visor de seu celular. Shino desceu de um pulo no beliche de cima, preparando-se para o futebol. Abri o armário, jogando minha blusa para um pedaço qualquer do quarto. Recolhi o uniforme do futebol, junto das ombreiras , cotoveleiras e o capacete. Saímos do dormitório masculino ás pressas. Isso que minha mãe retornou a me ligar no caminho ao campo de futebol. Nem atendi a ligação. Não quero ouvir as mesmas asneiras dela sobre fazer faculdade.

[...]

Turno: Sakura Haruno

Era inexprimível meu rosto quanto ao fim de semana. Naruto não estava em casa no momento; teve que ir ás aulas de futebol. E eu nem sabia que ele gostava disso.

– Não me leve a mau, querida, mas você está um trambolho hoje.- Tsunade chegava com seu rebolado e uma taça de vinho nas mãos.

– Hoje e sempre né, tia?- Cruzei as pernas e as mãos sentada no sofá, olhando meu próprio reflexo na tela da televisão desligada.

– Ah, por favor, não se bajule. Hmph.- Soluçou sentando-se em sua poltrona vermelha, jogando as sandálias ao vento.- Diga, o que está achando da cidade?

– Escola e sapatos, isso foi tudo que eu vi até agora.- Soltei uma risada abafada, descontraída.

– Oh, por que você não me disse antes?- Era nítido; Tsunade havia passado um pouco da conta na bebida, mas ainda tinha seus poucos reflexos de sanidade.- Vejamos, hoje eu tenho um jantar na casa dos Uchihas lá pelas oito, mas acho que podemos fazer algo antes de...- A cortei enquanto ela tentava olhar em seu relógio de pulso, arrastando a manga da blusa com um impulso.

– Espera, de onde você conhece esse nome?- Perguntei obviamente interessada.

– O filho do Fugaku, Sasuke, estuda na escola, dã.- Soltou uma expressão irônica no final, achando que eu iria entender.

– Ok, mas quem é Fugaku?- Insisti querendo respostas.

– O pai do Sasuke.- Riu fina.

– Droga, quero dizer, o que ele é da escola?- Minha paciência já estava no limite.

– Meu chefe, né?- Novamente, levou a taça de vinho a boca, parecendo não se contentar e pegando a garrafa, deixando o líquido rubro descer garganta abaixo.

– Certo, já chega disso.- Levantei-me do sofá toda estampado de Tsunade num impulso, tirando a garrafa dela e a guardando na geladeira sem ela ver.

Subi para o quarto, passando pelo cabelo. Deixei um belo suspiro escapar pelos lábios, enxugando o rosto após o lavar com aquela água quente e revigorante. Então o pai do Sasuke é o dono da escola, sim? Esse garoto... ele esconde algo, disso eu tenho certeza. E mesmo eu dizendo que não iria me envolver em nada problemático este ano, não consigo conter minha curiosidade sobre a família dele.

7h eu já estava me arrumando, enquanto Tsunade dormia com o rosto marcado na poltrona. Eu iria nesse jantar mesmo que fosse um evento de negócios. Se havia algo que Sasori desgostava em mim, era a minha curiosidade. Minha capacidade de possuir tanto interesse. Ele tem um jeito estranho, ele seria o tipo de cara que chamaria a atenção e iria passar o rodo em todas as garotas do colégio. No entanto, o que eu vejo é totalmente diferente; ele passa e todos parecem o temer. Eu só não vejo isso em Naruto e em seus novos amigos. E é por isso; pelo Naruto, que irei investigar isso mais á fundo.

– Acorda tia, você precisa ir no jantar da família Uchiha!- Gritei do andar superior, o que pelos saltos subindo os degraus da escada, atingi meu desejo de acordar Tsunade.

– Droga, já estou atrasa...- Ela,chegando á porta do meu quarto toda esbaforida, me olha da cabeça aos pés e fala.- Onde você vai?- Cruzou os braços sacana e eu respondi mais marota ainda.

– Com você, claro.- Dei uma remexida nos cabelos, deixando-os bagunçados do jeito que eu gostava. Retoquei rapidamente o batom róseo puxado para o vermelho no espelho.

– Como assim, criatura?- Arqueou a sobrancelha.

– Ué, quero conhecer um pouco dessa cidade no caminho.- Ela pareceu não se contentar, enquanto eu passava o rímel deixando meus cílios no mais perfeito volume.- Ah, vamos lá, estou morrendo de tédio.- Virei segurando nas mãos da loira, quase implorando. E então ela pareceu desistir.

– Certo certo.- Antes de sair do quarto, Tsunade lançou uma piscadela para mim. Terminei de me arrumar, puxando as meias 7/8 e ajeitando a saia de renda branca e preta. Eu estava descontraída e elegante ao mesmo tempo, dando a camisa social branca esse toque fino especial. Prendi meus cabelos – o que foi uma conquista para mim, pois eles já estavam mais uns dois dedos depois do ombro – com meus palitos japoneses vermelhos. Alguns fios caíram ao lado da franja propositalmente, o que ficou muito bom.

– Preciso aderir esse estilo á minha lista.- Dei uma rodada, me elogiando no espelho. Era raro minha auto-estima estar tão alta.

– Vamos Sakura, não quero me atrasar mais do que já estou.- Tsunade passava pelo meu quarto mexendo em sua bolsa freneticamente. Ao apagar as luzes do quarto e descer as escadas, encontro Naruto vendo um filme na televisão.

– Naruto? Por que não avisou que havia chegado?- Perguntei ao pé da escada e ele virou-se do sofá para falar comigo.

– Desculpe, vocês pareciam muito entretidas na arrumação.- Coçou a cabeça com um sorriso amarelo nos lábios.- Mas aonde vão?

– Casa dos Uchihas, o pai do Sasuke é o dono do colégio sabia?- Perguntei mesmo imaginando que ele saberia a resposta.

– Na verdade sim. Mas por que você vai?- Deu ênfase no você e eu torci os lábios. Não queria admitir que estava investigando a vida do Uchiha.

– Quero conhecer um pouco a cidade pelo caminho.- Sorri grandiosamente.

– Vocês voltam que horas?- Já estava ficando inoportuno as perguntas de Naruto, revirei os olhos de costas ao mesmo, arrumando minha bolsa.

– Não muito tarde, afinal, tratamos o toque de recolher como um filho, não é Sakura?- Eu percebi o olhar assassino de Tsunade para mim. Não é minha culpa se havia transito na estrada e que eu fui atacada por uma criatura que até agora penso ter sido apenas um pesadelo. Concedi com a cabeça e acenei um tchau para Naruto no sofá. Depois pegamos a Ferrari antiga de Tsunade e pé na tábua.

Anoitecia tarde no Maine; percebi isso nesses dias. A paisagem mais a frente ficava magnífica com o sol no seu último resquício de luz. Aquela mistura de rosa, vermelho, amarelo e laranja com a plantação conífera atrás até parecia cena de cinema. Atravessamos boa parte da cidade toda iluminada com seus variados outdoors coloridos.

[...]

Não demoramos a chegar. Seria um clichê bem típico se eu dissesse que aquele Uchiha morava numa mansão? Tudo bem que eu achava a casa da Tsunade grande, mas não era uma mansão né? E era bem aterrorizante devo dizer, com portões pontiagudos e compridos. Até pude identificar uma estufa, a horta particular da família provavelmente. Assim paramos bem em frente da porta dupla que dava á casa. Um segurança abriu a porta de Tsunade, e um outro fez o mesmo ato, podendo descer os meus saltos no assoalho.

– Tsunade, que saudades!- Virei-me arrumando a bolsa no ombro para ver quem falava com Tsunade. Caminhei até a família na porta da frente, me mantendo um pouco afastada para não parecer inoportuna. Deduzir ser a mãe do Uchiha.- Há quanto tempo que não a vejo, puxa vida. Até tentei alguma fez ou outra passar no colégio porém estou tão atolada de trabalho!-Ela parecia uma pessoa nomrla; no entanto, o Fugaku, que era dono da escola e pai de Sasuke. Sua expressão era séria e carrancuda.

– Ah, que isso Mikoto! Agora estou aqui e iremos aproveitar, sim?- As duas pareciam bem próximas com as suas piscadelas e apertos de mão.

– Bom, vamos entrar não?- Fugaku mudou seu semblante, lançando um olhar do qual eu não entendi a Mikoto.- Não podemos ficar aqui fora para sempre.- Pude perceber ele dar uma boa olhada ao redor da casa, até que entramos naquele enorme casarão. Rondei meus olhos pela casa toda quente, bem decorada e cheia de retratos de família. Não imaginava isso pela fachada da mansão. Não mesmo.

– E você é...?- Logo quando nos sentamos numa roda de sofás finos, Mikoto se referiu a mim o que eu demorei para perceber por estar muitos entretida em encontrar algo estranho na casa.

– Ah, me desculpe Mikoto-san, eu sou Sakura Haruno.- Cumprimentei Mikoto com um sorriso mais falso nos lábios que eu podia criar.

– Você é colega do meu Sasuke-kun?- Mãe protetora, já imaginava.

– Não estudamos na mesma sala, mas o meu amigo, Naruto, é bem próximo dele.- Lhe expliquei.

– Ah sim...- Mikoto parecia raciocinar algo, até que neste instante desce um rapaz do qual eu não conhecia. Ele era parecido com o Sasuke, porém tinha um toque mais elegante e parecia mais madura. Seus cabelos eram relativamente compridos, presos em um rabo de cavalo baixo. Interessante.- Sakura-san, este é meu outro filho, Itachi, irmão do Sasuke.- Subi uma sobrancelha sem disfarçar. Não sabia que Sasuke possuía um irmão.

– Colega do Sasuke?- Itachi se aproximou de nossa roda de bate-papo. Era inevitável não se atrair pelo seu jeito galã.

– Mais ou menos...- Relaxei os ombros, pregando os olhos no chão, de certo envergonhada pela fineza do rapaz.

– Bom, acho melhor eu chamar o último membro para o jantar, sim?- Mikoto levantou-se e muito imprevisto, soltou um berro clamando o filho mais novo.

– SASUKE, VEM JANTAR!- Bem assim.

O Uchiha mais novo chegou como uma bala na sala de estar. Eu já estava posta á mesa, ao lado de Tsunade e Mikoto. Itachi se sentava perante mim, apoiando um braço no encosto da cadeira. Ele queria se exibir para mim, é isso?

– Sakura?- Sasuke brilhou seus olhos nos meus. Sorri gentil.- O que faz aqui?- Não sabia como reagir a esta pergunta, no entanto, Mikoto já respondera por mim.

– Você é louco de falar assim com uma convidada, Sasuke Uchiha? Sente-se agora!- O moreno revirou os olhos, enquanto eu e Itachi riamos baixinho disfarçando.

Fazia um tempo que eu não me sentava em uma mesa tão chique, cheia de pessoas animadas com sorrisos gostosos no rosto. Fugaku ainda me olhava torto; provavelmente ele é o recebedor das fichas no colégio e agora desconfia de mim. Algumas trocas de olhares entre Itachi, irmão de Sasuke. Eu me sentia desconfortável alí, cutucando a comida sem fome alguma. Porém, minha mente curiosa voltou a iluminar e o meu objetivo de ter vindo para esta casa fez com que eu enunciasse um baixo “Com licença”, tirando o guardanapo do colo e repousando na mesa. Mikoto me indicou o banheiro gentilmente. Subi as escadas mantendo os ouvidos alerta, com medo de que alguém estivesse me seguindo. Contornei os olhos famintos pelo corredor, em busca do quarto de Sasuke. Uma porta entre aberta no final do corredor me chamou a atenção.

Sorri vitoriosa.

– Uchiha mais novo.- Deixei a porta do mesmo jeito que estava, apreciando aquele aconchegante ninho. Cores vibrantes me chamavam a atenção na paredes; rubro, castanho, e bege. Mantive meus lábios crispados, procurando algo que me revelasse quem era Sasuke Uchiha. Nas prateleiras de livros, clássicos empoeirados e pouca literatura moderna. Parecia tudo em ordem, como se ele nem dormisse ali. Possuía uma sacada igual a minha, só que era só dele. Uma pequena varandinha. Sentei de costas em sua cama, sentindo o perfume dele inalar as minhas narinas, pela pressão do meu corpo.

– Eu só durmo aqui nos fins de semana.- Virei-me repentinamente para a porta. Ele estava ali, recostado ao rádio que fora ligado de imediato. De pronto me levantei, incomodada.

– Me desculpe.- Mantive os braços juntos frente ao corpo.

– Eu gostaria de dormir mais aqui, se não fosse pelo meu pai que me atochou num dormitório do colégio.- O moreno a passos curtos e demorados, resvalou os dedos pela estante de livros, como se soubesse que eu havia passado por ali.

– Entendo.- Um sorriso frouxo brotava em meus lábios, apreciando a música que tocava. Era serena, num sofrimento de timbre agudo. Só poderia ser Robert Pattinson cantando.

– Você gosta de dançar?- Ele se virou, me pegando desprevenida com sua pergunta.

– Não, não...- Neguei.

– Vamos. Deixe a música te levar.- Sua mão se ergueu perante a mim; ele sabia que eu estava gostando daquela música. De certo, acanhada, lhe apertei a mão, tentando camuflar minha tremedeira. Seu outro braço manteve-se na altura de minha cintura, a restringindo com certa ousadia. Percebi isso ao fitar o resquício de maliciosidade nos olhos e lábios sacanas. Mas logo ele voltou a sua postura de antes, dançando comigo em um ritmo lento. Os passos iam e voltavam ; como as ondas do mar, comentou Sasuke. Meus olhos se mantiveram nos seus, que verificava de minuto e minuto a porta. Aquele ônix, tão abrangentes...

– Quem é você, Sasuke?- As palavras saíram de minha boca e sua atenção se voltara a mim. Um breve e apoquento instante se passara; seus pensamentos pareciam formular uma resposta adequada a minha pergunta sem querer.

– Eu sou tudo e nada.- Seu murmúrio lamentável, trouxe consigo um beijo delicado em minha bochecha. Acompanhei a cabeleira morena deixando o quarto, deixando-me ali, mais curiosa ainda.

As horas passaram rápido; eu e Tsunade nos despedimos naturalmente dos Uchihas. Itachi me deu um forte abraço, e por cima de seu ombro pude ver o Uchiha sentado na escada de sua casa. Seus olhos cruzaram com os meus, o que fez eu fecha-los e depois, acenar para o resto da família. Deixamos a mansão apressadas. Não poderíamos burlar o toque de recolher mais uma vez.

Tsunade cantarolava as músicas do rádio um pouco bêbada. Sim, ela estava bêbada e dirigindo. Por sorte, já estávamos chegando em casa, adentrando as ruas recortadas.

– É por isso que eu adoro sábado! Só acontece coisas interessantes e divertidas!- O refrão foi o estopim da loira; sua voz desafinada invadia o carro, enquanto eu apenas olhava para a janela do carro. E num desastrosa virada de olhos, pude ver pelo pára-brisa o que Tsunade, por estar concentrada em sua música não viu. Um monstro de estrutura gigantesca, quase três metros eu diria. Carregava com sigo uma espécie de marreta amedrontadora.

– Tsunade!- Ao ouvir seu nome, a loira acorda de seu mundo musical e freia o carro de forma brusca, girando pelo piso escorregadio da estrada e capotando em uma velocidade absurda. Minha cabeça bate no porta luvas neste terrível momento, me levando a um desmaio lento. Era possível identificar o monstro caminhar á passos pesados até o carro, mesmo com a minha visão embaçada. No entanto, aquela monstruosidade de um olho só fora detida por outra criatura de asas cinzentas. Lutei para continuar acordada, porém, o único resquício de imagem finalizara-se dando lugar a densa escuridão.

* * *

This indecision got me climbing up the wall
I've been cheating gravity and waiting on the fall

Foo Fighters – Trecho de Rope