Meses atrás - Parte 1

Eram 06h30min da manhã quando o despertador do quarto do casal Knight começou a tocar bem alto, ecoando por toco o cômodo. Laura resmungou preguiçosamente, se dando ao trabalho de esticar o braço e desligar o aparelho infernal.

—Que merda... Essa droga fica tocando mais cedo... – Reclamou a morena, se sentando na cama, esfregava os olhos para espantar o sono. Olhava para o lado da cama, tendo a visão apenas dos lençóis vazios e bem mais arrumados que o seu lado. Era sinal de que Tony não havia ido dormir com ela como havia prometido. – Tenho certeza de que você passou a noite enfiado nos papéis do trabalho... De novo...

Apertando as têmporas com as pontas, Laura se levantava da cama, seguindo em direção à suíte, tirando sua camisola, logo entrando no chuveiro. Nos primeiros cinco minutos, ela deixou a água escorrer, molhando todo seu corpo. Tinha a impressão de que a água levava embora todas as suas preocupações. Apenas tinha, pois não era nem um pouco fácil não pensar nisso.

Dez minutos depois, Laura já havia terminado seu habitual banho de todas as manhãs, seguia para o guarda roupa, o abrindo e pegando a roupa que já havia deixado separada no dia anterior antes de se deitar. Vestiu sua calça social preta, sua camisa bege clara, dobrando as mangas até seus cotovelos, seus scarpins preto. Eram seus sapatos favoritos. Fez uma leve maquiagem, pegou o casaco, que fazia conjunto com a calça, colocou sobre o braço, saindo de seu quarto e seguindo até o quarto da filha.

***

Mais uma vez, Alice havia adormecido sobre seus cadernos e livros da escola. Ela estava mais do que empenhada nos estudos para poder fazer a prova da Universidade Técnica de Arquitetura da Geórgia e fazer seu curso de Arquitetura, o qual tanto sonha. Sabia que para isso, precisava estudar muito. E foi exatamente isso que ela fazer durante quase cinco meses sem parar. Só descansava alguns poucos finais de semana e feriados.

Laura abria a porta do quarto da filha com cuidado, já tendo a visão esperada: Alice totalmente esparramada sobre a cama, bem em cima dos livros e cadernos da escola.

“Ela está mesmo se esforçando.”, pensou a morena, sentindo um grande orgulho dela, se aproximando devagar na cama da filha, se sentando na mesma e depositando um beijo em seus cabelos ruivos.

—Hey. É hora de acordar, meu amor. Você ainda tem escola essa semana.

—Hum... – Resmungou Alice, virando o corpo devagar na direção de Laura, abrindo os olhos devagar e com preguiça. – Que horas são?

—São 06h50min da manhã.

—Ainda é cedo... – Diz com uma voz sonolenta, abrindo os olhos após esfregar os mesmos.

—Sim e sua aula começa as 08h30min. Vai, levanta, tome um banho, só não demore que eu vou acordar o seu irmão para ir em seguida.

—Okay... – Relutante, Alice se levanta da cama, seguindo para o banheiro.

***

A coberta e os dois travesseiros estavam jogados ao chão, juntamente um ursinho e um cachorrinho de pelúcia. Já Brandon, estava deitado todo torto, com a cabeça pendida na borda da cama. Ele não parava quieto, nem mesmo quando está dormindo.

Quando Laura entrou no quarto, se deparando com essa cena, não se conteve e deixou escapar um baixo riso, se aproximando e pegando o filho no colo e enchendo o rosto dele de beijinhos e cócegas. Isso o acordou.

—Argh! Mamãe, para com isso! – Reclamou o menino rindo, com uma carinha de sono bem fofa, fazendo o coração da morena se derreter todo.

—Bom dia meu príncipe! – Diz parando com as cócegas e os beijos, o ajeitando para que ele se sente em seu colo. – Dormiu bem?

—Sim! Muitíssimo bem! – Respondeu ele todo sorridente.

—Que bom, meu amor. Agora, pegue sua roupa de escola e vai já para o banho. Sua irmã já deve ter saído.

—Está bem. – Se levantava do colo da mãe, indo ao guarda roupa, pegando um dos conjuntos de seu uniforme e segue para a saída do quarto, em direção ao banheiro.

No mesmo instante, Alice saia do banheiro, já vestida com o seu uniforme e com uma toalha enrolada em seus cabelos.

—Bom dia Bran. – Cumprimentou um pouco mais desperta.

—Bom dia Alice.

***

No andar debaixo da casa, se encontrava um Tony sentado e dormindo sobre a mesa de jantar, bem em cima de alguns papéis. Eram os documentos do seu trabalho que ele decidiu levar pra terminar em casa. Porém, acabou caindo no sono sobre eles mais uma vez.

Laura desceu as escadas, o encontrando naquela posição desconfortável e suspirou fundo.

“Quando você vai aprender a não trazer o trabalho para casa?”, pensou ela se aproximando dele e depositando um beijo suave em sua bochecha.

—Amor? Amor acorda. – Ela o chamou baixinho, sussurrando em seu ouvido. – Vai, são 07h06min. Levanta e vai tomar banho, eu vou fazer o café da manhã para você e para as crianças.

—Hum... –Resmungou Tony, acordando aos poucos e se espreguiçando. Alguns ossos estralaram. – Bom dia, meu amor.

—Não há como negar, sua filha puxou mesmo a você. – Diz ela rindo baixo, seguindo para a cozinha.

—Ela dormiu sobre os livros de novo? – Perguntou ele, já de pé e seguindo a esposa.

—Sim, ela dormiu e deve ter dormido tarde novamente. – Respondia, enquanto pegava as coisas para fazer o café da família.

—Pelo menos ela dormiu mais tarde por uma boa causa. – Diz Tony, escorando sobre o batente da porta, observando Laura.

—Eu sei disso, mas eu acho que ela tem que “pegar leve”, sabe? Não me entenda mal, estou muito feliz e orgulhosa de ver ela se esforçando para entrar na universidade, mas descansar a mente também é bom. Ela acorda quase todos os dias com dor de cabeça, estou ficando preocupada. – Dizia com a voz um pouco alterada.

—Okay, okay. Tenha calma. Eu vou conversar com ela depois, okay? – Diz Tony, abraçando a esposa por trás, dando um beijo em seu pescoço. Laura assente, se sentindo um pouco mais tranquila. – Eu vou tomar banho e venho tomar café com você e as crianças.

***

Eram exatamente 07h37min.

Todos os Knights estavam sentados à mesa, desfrutando de seus determinados cafés da manhã. Laura bebia uma xícara de café com leite e comia uma torrada com geleia de morango. Tony bebia seu habitual café preto, juntamente com alguns biscoitos de água e sal. Alice comia uma torrada com geleia e pasta de amendoim com leite achocolatado. E Brandon comia uma tigela de cereal com leite.

Era apenas mais um dia normal nessa família... Até que Tony decidiu ligar a TV no canal de notícias.

—(...) E mais uma vez, a polícia se envolveu em outra onda de morte. Os cidadãos inconformados marcham em protestos pelas ruas de grandes cidades, como Nova York, Los Angeles, Chicago e entre muitas outras. (...) Muitas mortes estão acontecendo por todo o país. (...) Há um aumento de tiroteio nas últimas 48 horas e a polícia não quis comentar o caso. (...) As pessoas agem como se isso não mudasse, mas na verdade muda sim. Isso é uma catástrofe quase como os eventos bíblicos. (...) Pode ser decretado Lei Marcial...

—Mamãe? Papai? – Chamou Brandon.

Os dois viram seus rostos na direção do filho.

—Diga filho. – Falou Tony.

—O que é Lei Marcial?

Tony e Laura se entreolham por alguns segundos antes de responderem a inocente pergunta do menino.

—Lei Marcial é quando todas as leis das autoridades civis do país serão substituídas por leis militares.

—Mas o que isso significa?

Antes que Tony continuasse, Laura respondeu primeiro.

—Significa que temos que sair agora. É quase 07h46min e estamos atrasados. Terminem de comer, subam para escovar os dentes, peguem seu material e vão para o carro. Agora.

Mesmo bufando, Brandon se levantou da mesa, colocou sua tigela vazia na pia, juntamente com Alice, que colocava seu prato e copo.

—Mãe?

—Sim, filha?

—Tem dipirona ou algum outro remédio para dor de cabeça? - Laura pega um comprimido de dipirona e entrega para a filha. Ela já esperava por isso. – Obrigada.

—Logo vai passar, okay?

A ruiva assente que sim, indo escovar os dentes e pegar seu material. Brandon ia logo atrás dela.

***

07h58min.

Todos já estavam prontos para irem para saírem... Exceto Tony, que ficou distraído com as notícias que eram transmitidas. Não sabia o porquê, mas estava sentindo um mau pressentimento, como se algo estivesse errado. Ele não sabia explicar aquela sensação, sentimento... Tinha a impressão de que alguma coisa ruim iria acontecer.

—Tony? Amor?

Seus pensamentos foram atrapalhados pelos chamados da esposa.

—Oi. Oi. Desculpa-me, eu estava... Distraído... – Respondeu meio envergonhado e sem jeito.

—Está tudo bem, amor. Mas temos que ir e estamos atrasados e ainda temos que deixar as crianças na escola.

—Claro! Claro! Vamos logo!

Tony desligou a TV e seguiu para o carro com Laura. Seus dois filhos já estavam dentro do veículo, apenas esperando por eles.

Mesmo durante o trajeto e conversas entre sua família, Tony não conseguia parar de pensar nas notícias que viu. Tantos protestos, tantas mortes... Tinha a estranha sensação de que aquilo era apenas o começo de algo grande.