Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 9
Guarda-Chuva, Café, Gat... não, Sam


Notas iniciais do capítulo

Lieto: A Analu foi chamada no Acampamento e deve que sair em missão, mas eu, o Armin e o Sam pegamos emprestado o notebook dela e postamos o capítulo.
Armin: Foi... ela não gosta que mexam no notebook, porque tem algumas imagens yaoi ali que NÃO SÃO DELA, e tal...
Sam: Isso mesmo, idiota. Grita pro mundo que ela tem aquela imagem suspeita de GerIta como papel de parede...
Armin: Há, você falou por mim.
Sam: HÃ?! Ah, saco.
Lieto: Gente, silêncio. Eu acho que ouvi alguma coisa...
Armin e Sam: Oi?
Lieto: Gente, o que é aquilo na porta...

Continua...



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[POV Armin]

O sol não estava brilhando naquela tarde de sábado. O que era estranho, porque em Amoris geralmente está ensolarado. Isso faz a cidade parecer estranha. Se você vai até o último andar de um prédio bem alto, como eu, vai perceber que tudo em Amoris fica coberto por uma sombra estranha. Parece que todo mundo que está na rua não sabe o motivo de estar ali.

Eu estava parado em frente à uma das grandes janelas do shopping. Sim, aquelas janelas que vêm desde o primeiro andar e vão até o último. De lá, eu vi um céu totalmente escuro, com nuvens que pareciam pesar uma tonelada. A cidade, lá em baixo, estava como eu disse: escura. Totalmente escura.

Assustador.

Estava sozinho. Sabia que se contasse a Alexy que estava saindo para ir ao shopping, ele teria pulado do sofá e se arrumado na velocidade da luz. E eu demoraria muito mais, visto que ele passaria em cada loja que visse. No entanto, me dei mal igual. Agora, estava sozinho com uma chuva prestes a desabar. U-hu.

Suspirei e busquei pelo meu celular no bolso do meu hoodie à lá Assassin's Creed, olhando a hora. 15h04min. Estalo a língua. Sei que se chover, vou ter que ligar para minha mãe ou para meu pai, pedindo carona. Definitivamente isso não é muito digno.

Saio da janela e vou andando sem rumo, esperando o que viria a acontecer. Vou até a caixa de mensagens do celular, e busco pelas duas mais antigas. A primeira, é de nove meses atrás.

"Existe um limite saudável para tudo, Armin Monochrome."

É, concordo. Realmente existe, e você, sua criancinha desprotegida, desobedeceu essa regra. Que ridículo! É tipo você deixar uma batata frita cair no chão e perder seis segundos gritando "regra dos cinco segundos!". Bem isso...

Vou mais adiante e busco pela segundo mais velha. Essa, de oito meses atrás.

"Isso é TÃO você... ver o mundo desmoronar ao seu redor e ficar só olhando. Egoísta. Você não está nem aí para o que está acontecendo, não é? Você teve sua chance, e não fez nada com ela. Eu avisei. Você ignorou. Agora, é o fim."

A vontade que tenho ao ler essas duas mensagens é jogar o celular no chão com toda a força, pisar nele até minha perna começar a cair, depois quebrar mais com um machado e por fim, dar um tiro com uma bazuca no que sobrou do aparelho, tamanha a minha raiva. Egoísta? Eu? Olha quem fala. Aquela... aquele pedaço de nada não tem moral para falar de mim. Teve o que mereceu. E merecia muito mais... muito mais...

Ah, esqueça. Não há "mais" para o fim dessa história. O limite foi atingido. Podem existir muitos "E se?", mas nenhum "Entretanto". O final foi escrito no dia em que ela pôs fim a tudo.

Suspiro e sorrio como sempre, tentando mostrar para quem quer que fosse que eu estava perfeitamente bem... Falando assim, parece tão estereotipado... bom, deixando isso de lado, segui meu caminho, olhando para os lados, procurando por alguma coisa que eu não sabia o que era. Talvez algo interessante? Infelizmente, mesmo o shopping se torna um lugar chato quando chove. Dei uma passeada geral e sabendo que não encontraria nada de bom por ali, fui até a entrada, na intenção de ligar para casa. Ainda não havia começado a chover, mas sinceramente, levar um raio na cabeça não deve ser bom, então achei melhor prevenir. Parei ali, no saguão, e busquei por meu celular. Disquei, mas desliguei logo em seguida, ao ver alguém um pouco mais afastada.

Caminhei até ela. Vestida com um casaco de camurça marrom, calças azuis bem escuras e botas também marrons, olhava para o nada, com um guarda-chuva na mão. Pude ver que murmurava algo para si mesma. Seus cabelos loiros e finos estava desengonçadamente trançados e colocados por cima do ombro. A franja ainda quase tapava o rosto, o que era uma pena.

– Oi, oi, srta. Pudim! - cumprimentei. Ela não pareceu me notar. Agitei a mão em frente ao seus olhos. - Heeeeeey, Lieto! Está aí?

Viver no passado traz apenas boas lembranças.– disse, subitamente, aparentemente ainda me ignorando. - Mas qual o benefício de algo assim? Ninguém vive de lembranças, assim como ninguém vive de amor.

– ... Lieto?!

Se focar sua vida no passado fosse bom, certamente nós não teríamos emprego, Neela...

Cara, o que é isso? Lieto Cinnamon está possuída por algum espírito da filosofia? Isso tá me assustando. E quem é Neela? Com os olhos um tanto arregalados, dou uma balançadinha nela, chamando-a novamente. Dessa vez, Lieto me olha, sorri (SORRI?!) e diz:

– Só um instantinho, tá? Quero ver se decorei mesmo. Hum... Ah, valeu, Monochrome! - dessa vez, ela ficou irritada. - Agora me perdi! Espero que esteja feliz!

– O que era aquilo? - ignorei sua afirmação. - Tá dando uma volta?

Lieto me olhou, como se também quisesse perguntar aquilo, mas ficou quieta. Apenas confirmou com a cabeça.

O destino é bem estranho. Parece que sempre me encontro com essa loira, nos lugares mais improváveis. E isso não me desagrada. Lieto é uma menina adorável, e ficaria muito feliz se ela dissesse alto "É, Armin é meu amigo. Ou coisa assim...", porque é isso que eu quero. Não tenho taaaaantos amigos assim, e ela parece ser alguém bem legal. Mesmo que sua expressão não diga isso. Apesar de ser mais baixa que eu, o olhar frio que ela lança às vezes assusta. Acho isso sarcástico, por isso a acho interessante.

Naquele momento, um trovão foi ouvido, e pingos começaram a cair. Pingos pesados demais. Por um momento, Lieto pareceu querer abrir o guarda-chuva, mas voltou atrás.

– Droga... não esperava que fossem tão violentas... agora vou ter que ficar.

– Hã?

– O que está fazendo aqui?

– Eu... nada, na verdade. Ia ligar para meus pais, para me darem uma carona de volta, mas... aí vi você, e resolvi te encher o saco.

– Venha. - ela pegou minha mão e saiu me puxando para a escada rolante.

– Aonde vamos?

– Até o Holy Coffee.

– Mas eu não tenho dinheiro! - sim, era apenas uma desculpa.

– Mas eu tenho.

– De novo isso? - mas já era tarde demais. Ambos já estávamos subindo. E ela ainda não tinha largado minha mão... - Sério, por que você insiste em pegar coisas para mim?

– Pensei que... talvez você mudasse meu apelido. "Srta. Pudim" é constrangedor. E solte minha mão.

– Você é que está segurando.

– Que seja. - ela a soltou, violentamente, como se realmente eu estivesse apertando-a. - Vamos, você é a única alma viva que eu conheço por aqui. Não vai fazer mal, vai?

Sorri. É por isso que gosto de Lieto: não se encontra alguém bizarro como ela em toda esquina.

Café não é minha bebida preferida. Prefiro refrigerante. Por isso, comprei um pãozinho doce e sentei com Lieto na mesa que ela escolheu de qualquer jeito. Ela estava ocupada e feliz com seu copinho de café.

– Eu sabia que você tinha dinheiro. - comentou. - Você não pode me enganar.

– Srta. Café faz vidências! Descubra seu futuro por apenas um pudim!

– Engraçadinho. - ela virou o rosto para o lado. - Mudando de assunto... você vai ao passeio com o professor Faraize?

– Eu nem li o bilhete. - confessei mexendo no pãozinho. - Mas vamos para o meio do mato?

– Não é mato. Digo, não somente mato. Nós vamos para lá estudar aquele monte de pedras históricas, e isso é supostamente interessante, e vai valer uma nota bem alta. Além disso, vamos morrer de tédio em um ônibus cheio de gente, e junto conosco estarão mais duas turmas. Vai ter muito sol, mosquitos e pessoas bocejando.

– Interessante.

– Eu vou porque preciso de uma notinha extra, visto que nenhum professor tem uma opinião exatamente formada sobre mim, e também porque sei tudo sobre aquele lugar.

– Sabe?

– Minha mãe... ela leciona história humana em uma faculdade, e já me falou daquele lugar. Ela mesma disse que não tem nada muito interessante lá. Por isso, estou desconfiada da escolha de passeio.

– Sua mãe é professora de universidade? Legal.

– É... ela está em outra Área¹ agora, mas vai voltar no fim do ano. Prometeu me visitar. Está viajando com uma equipe e tudo mais. Estudando sei lá o quê... foi um dos motivos por eu ter ficado com meu pai... ok, eu não vou falar da minha vida. E sua mãe, faz o quê?

– Ela é pintora. Faz vários quadros para exposição. - mordi o pão. - E meu pai é Designe de Interiores.

– Legal. Pais artistas, que chique.

– Hunf, nem tanto. Eu me sinto humilhado por não saber desenhar bem.

Lieto riu abertamente. Nossa, que sorriso lindo. Gostaria de acordar com um desses todo dia. Despertador melhor não há. Tá certo, Armin. Volta para a Terra.

– Eu não tenho a menor ideia do que quero fazer no futuro. - ela admite. - Tenho a impressão de que pessoas como eu não consegue trabalho. Tipo, o que eu sei fazer de bom?

– Seja atriz. Você decora textos... aliás, o que era aquilo que estava falando?

– Uma parte de Forgery An Empire.

– De novo esse livro. É tão bom assim?

– Divino. Já li quatro vezes e estou lendo de novo.

– Eu vou comprar.

– SÉRIO?!

– Não... quer dizer, eu estou ficando curioso. Você fala desse livro como se fosse sua vida. - sorri. - E eu nem sei sobre o que é.

Lieto abriu a boca para responder, mas parou. Ficou olhando para trás de mim, e sussurrou um "oi". Me virei para ver que estava ali.

Um cara loiro de madeixas levemente compridas e expressão mau-humorada tinha uma latinha de refrigerante na mão. Olhava de Lieto para mim e de mim para Lieto com aquele olhos cinzas/pretos, parecendo estar vendo um crime acontecer e não podendo fazer nada. Ele então falou, não demonstrando a raiva que era notável em seu olhar:

– E aí?

Lieto apoiou o rosto na mão.

– Tem certeza que não está me seguindo?

– Tenho. Oi, cara. - ele disse, se dirigindo a mim.

– Oi, Sam.

Fiquei incomodado com a presença daquele cara ali. Desde o começo do ano, tenho problemas com ele. Não como o resto da sala, que quer matá-lo por ser estraga prazeres, mas sim porque... ele me incomoda. Ele me incomoda, simplesmente. E não tenho um bom motivo para isso.

Mas agora eu tenho.


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Notas finais do capítulo

Analu: (*amarrando os três com uma corda*) Sobre as imagens de GerIta, eu nem sei do que eles estão falando. ~Hue, ~Hue!