Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 10
Ser Bonitinho, Inutilidade, Nomear O Gato Dos Outros


Notas iniciais do capítulo

Fala sério, Nyah! Quando eu tenho um surto de criatividade, você decide mudar de servidor? Por quê?! Bom, enfim! Aqui está a Analu com mais um capítulo estranho de 50 Tons de Cinza É Uma Boa Cor (-sóquenão).

Boa Leituuuuura. E nos vemos lá em baixo.



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[POV Sam]

Se eu fiquei feliz ao ver Lieto com aquele idiota do Monochrome? Não! Não fiquei, e sei que ele também não ficou feliz em me ver lá. Saio a passeio, querendo descansar a cabeça um pouco e dou de cara com a menina que eu queria para noiva tomando um cafezinho com um dos caras que eu mais detesto. Ma-ra-vi-lha...

Por não querer vê-la com ele, fico feliz de vê-la aqui, atrás do balcão da livraria, fazendo uma listinha das coisas que vai precisar fazer até o fim de seu expediente.

Percebendo que eu a observava sentado na escada, ela levantou os olhos do papel e perguntou:

– Você não tem nada para fazer, não? Nenhuma lição de casa? Eu até supero o fato de ter que ver você na escola e agora no meu trabalho, mas não abuse da minha calma.

Sorri.

– Eu sou horrível em matemática. Aquelas contas me dão vontade de chorar.

– Eu entendo, mas saiba que ficar me olhando não vai resolver seus problemas. Eu pareço com matemática para você?

– Parece. Você é complicada. E o mundo precisa de você. Precisa saber quem você é. - aquilo estava sendo estranho até para mim...

– ... Pare com isso. - e voltou para seu papel. - Acha que não sei o que está tentando fazer?

– Hã?

– Você quer me deixar constrangida. E quando conseguir, vai ficar fazendo piadas. Você só está esperando que eu faça algo idiota para poder sempre me lembrar disso, não é?

Agora eu definitivamente não estava entendendo nada. Será que tinha alguém fazendo esse tipo de coisa com ela? Porque se tem, eu vou dar um jeito. Não quero ver Lieto triste. Apesar de que quase nunca a vejo com qualquer outra expressão senão indiferença...

Vendo que Lieto não falaria mais nada, levanto um tanto desanimado, fico quieto também. No entanto, não por muito tempo, pois tenho a ideia de perguntar algo que poderia destruir minha relação com essa menina para sempre:

– Lieto, tem namorado?

– Não. - respondeu simplesmente. Nem pareceu se surpreender ou irritar. - E você? Está comprometido?

– ... não...

– Ah, ok.

Em nenhum momento, ela levantou os olhos. É, realmente. Não dá para saber o que se passa na cabeça dessa menina. Depois de ler sua listinha mais uma vez, Lieto a colocou no bolso da calça e pegou um caixa que estava ao lado dela, deixando-a em cima da mesa. Abriu com a ajuda de uma tesoura que estava por ali e começou a tirar os livros. Enquanto olhava-os, ia dizendo "sim", "não", "já li".

– Você lê bastante, uh? - pergunto.

– Leio. Muito, na verdade. Assustadoramente.

– Aposto que já leu algum mais de uma vez.

– Tem um. Está sendo lido pela quinta vez.

– Uau. Gosta mesmo dele, hein?

– É. Aventura, mais romance, mais sangue voando pra todo lado, mais um drama pesado, mais mistérios intermináveis me chamam a atenção.

Não falei nada. Ela parecia ocupada, vendo os nomes dos livros da caixa num caderno pequeno que minha mãe sempre deixava a mão, e colocando o preço dele a lápis na última folha. Ela ficou minutos assim, sem olhar para mim nenhuma vez, enquanto eu não tirava os olhos dela. Lieto era linda, realmente, e ninguém poderia dizer o contrário. Era óbvio. E isso me preocupava. Se eu, que dificilmente me apaixono, estou atirado aos pés dessa menina, quem mais pode estar? Qualquer um. Faço outra pergunta indiscreta, na maior cara de pau, novamente:

– E tipo, você gosta de alguém? Acha alguém... sei lá, bonitinho?

– Achar bonitinho é fácil. Gostar da pessoa é que é difícil. O que é belo é para ser visto, e achar alguém bonito não quer dizer nada.

– Uhum.

– Tipo você, por exemplo.

– Quê?

Lieto parou o que estava fazendo e olhou na minha direção. Com um tom calmo, completou:
– Eu acho você bonito, mas não significa que eu goste de você daquela forma.

Minha cara deve ter virado um pimentão. Um leve arrepio subiu pela minha espinha. Como ela conseguia admitir algo assim na maior tranquilidade, parecendo estar falando do tempo!? Não havia nenhum tonzinho rosado em seu rosto! Como pode?!

– Tem outros garotos que eu acho bonitos também, só para você não se sentir tipo, tão especial. Mas não se esqueça, você é bonito, Sam. E várias garotas acham isso.

Ah, bem, Lieto... eu não quero nenhuma delas. Gostaria de falar isso em alto e bom som, mas acho que já fui inconveniente demais por hoje. RIDÍCULO demais por hoje.

Finjo não estar me importando muito com o comentário dela e levanto, me espreguiçando em seguida. Decido que estou muito ousado, e por isso, preciso de um balde de água fria, chamado "lição de casa de matemática". Subo a escada e vou em direção ao meu quarto. Quando já estou com o caderno, lápis e borracha em mãos, e bem confortável na cadeira da escrivaninha, ouço Lieto falando lá embaixo, bem alto, para que eu ouça:

– Deve estar achando que sou idiota.

– Hã? - respondo no mesmo volume.

– ... Nada. Esquece.

– Agora fala.

– Nada, já disse. E se insistir, vou aí te dar um tapa na cara.

Solto o ar com força pelo nariz. Fiquei quieto dessa vez, mas não menos curioso.

[POV Lieto]

Só para esclarecer meus horários: entro na escola às 7 da manhã, e saio de lá às 2 da tarde, de segunda à sexta. Nas segundas, quartas e sextas, eu trabalho na livraria da Agatha, das 3 da tarde à 7 da noite.

Quanto ao meu salário, digo: ganho $30,00 por dia. Ou seja, ao fim da semana, tenho $90,00 no bolso, e ao fim do mês, $360,00. Acho o salário bem justo. Meu apartamento foi comprado, então estou livre do aluguel. Além disso, meu pai, para ferir meu orgulho de emancipada, envia $300,00 por mês. Sendo assim, eu me viro com $660,00.

Agora que você sabe essas coisinhas, pode entender por que eu voltava tão tranquila para casa naquela noite.

Eu andava calma pelas ruas até que movimentadas e bem iluminadas, com destino ao meu apartamento. O clima estava agradável, quente mas não abafado; eram os últimos sinais de verão, pois agora, quase no fim de julho, deveríamos estar no outono. As pessoas riam nos barzinhos amigáveis, tomando sucos ou até cervejas, outras passavam sozinhas ou acompanhadas, falando ou não no telefone, segurando ou não sacolas... uma noite viva.

Tudo isso me fez sorrir sozinha. Eu gostava de ambientes assim. Agora, além de calma, eu estava feliz. Não via coisas assim em Aimer; lá, parecia que todos estavam sempre atrasados, irritados e prontos para espancar alguém. Aqui nunca foi assim, e é por isso que amo tanto esta cidade.

Quando estava quase saindo do centro da cidade, vejo, na frente do que parece ser uma lanchonete, Kim e seus dois irmãos, Andrew e Gregory, também chamados pelos conhecidos como Andy e Greg. Os três conversavam e tomavam refrigerantes. Quando cheguei mais perto, Kim me viu e gesticulou para que eu me aproximasse:

– Hey, Lieto!

– Oi, gente. - cumprimentei todo mundo. - Tão fazendo o quê?

– Tá muito calor em casa. Então, o pai liberou uma grana e disse para gente sair e comprar uns refris. - Greg explicou. Era bem parecido com Kim, mas tinhas olhos castanhos bem claros. Ele tinha onze ou doze anos, e quer desesperadamente crescer para ser igual ao seu irmão mais velho. Uma fofura de menino.

– Isso aí. - Andy concordou. - E nem era para estar calor. Eu preferia ficar em casa, mas o ar condicionado lá estragou e o pai tá protelando o conserto. - ele se abanou com a camiseta. - Que saco.

– Tá voltando do teu emprego agora? - Kim perguntou, colocando o canudinho na boca.

– É.

– E tá indo para casa?

– Isso.

– Ah. - Kim olhou para baixo, parecendo pensativa. - Tipo, tinha uma coisa que eu sei que precisava te falar, mas eu esqueci o que era...

– Tudo bem, me fala amanhã. - eu disse, já me preparando para ir embora.

– Não! Não, era algo sobre hoje...

– Deixa, Kim. Não é nada sério, é? Se fosse, você lembraria.

– ... - Kim pareceu ponderar minhas palavras, e por fim, fez um gesto de indiferença. - Tá, tá, volta pra casa. Não deve ser nada, mesmo.

Acenei para os três e segui meu caminho. Na verdade, eu até fiquei curiosa sobre o que Kim queria me falar, mas a vontade de chegar em casa era ainda maior. Minhas pernas pesavam bastante, e cara, eu queria me atirar debaixo do chuveiro. Por isso, fui o mais rápido que podia. Cheguei na frente do prédio já pegando os chaves na bolsa.

Então... qual não foi minha surpresa ao encontrar Armin Monochrome sentado na escada do prédio?

– Mas... o que está fazendo aqui?! - pergunto, não acreditando.

Armin levantou os olhos do livro que estava lendo (!!) e olhou para mim, abrindo um grande sorriso logo depois.

– Ah, finalmente. Estou aqui desde às 5 da tarde!

– O quê? Meu Deus, como assim? Duas horas aí sentado? O porteiro não falou nada?

– Bem... - ele levantou, assim que passei por ele na escada, e começou a me seguir até a porta de entrada. - Eu entrei e perguntei para ele sobre você, e ele disse que ainda não estava em casa. Daí sentei ali e continuei lendo.

– Hã... - fiquei sem palavras quanto àquilo. - Tá, o que... o que você veio fazer aqui, Armin?

– Te agradecer.

– ... Pelo quê?

– Por ler coisas tão incríveis. - ele mostrou a capa do livro. Cinza desbotado, com engrenagens mais escuras por toda a capa e letras pretas e "pesadas" como título.

– Forgery... Ah, cara!, Forgery An Empire? Você comprou?!

– É! - ele riu. - Eu disse que estava pensando nisso, não? Comprei naquele dia em que nos vimos no shopping, logo depois que você foi para casa sozinha. Passei na livraria que tem no shopping mesmo e "plim".

– Nunca iria imaginar algo assim. - tudo bem, eu estava realmente surpresa. Então, me dei conta de que Armin estava ali me esperando duas horas seguidas, e que, por isso, o mínimo que eu poderia fazer era convidá-lo para entrar. Foi o que fiz. - Você... quer subir?

– Posso?

– Entra, antes que eu me arrependa.

Não falamos nada enquanto subíamos a escada. Armin parecia estranhamente animado. Quando abri a porta, encontrei o gato dormindo no sofá, na almofada que eu deixei para ele mesmo. Ele miou, e veio ao nosso encontro, se enroscando em nossas pernas e ronronando.

– E aí, carinha? - Armin fez um cafuné em sua cabeça. - Ainda tá sem nome?

– Miow, miow. - digo, deixando a bolsa ao lado do sofá. - Tradução: "Sim, sim."

– Que chato, hein, carinha?

Dessa vez o gato miou.

– Quer algo para beber, comer, algo assim? - ofereço. - Tem algumas porcarias na geladeira e armários.

– Tem Doritos?

– Tem.

– Serve.

Negando com a cabeça, fui até o armário e peguei o Doritos, abrindo o saco e pegando um punhado, oferendo depois para o moreno. Ele mexia o pé rapidamente, sentando no sofá, pois o gato pulava sobre ele, querendo brincar. Armin parecia uma criança. Ele pegou alguns "triângulos saborosos" e riu novamente.

– Ah, eu AMO Doritos. É a melhor porcaria do mundo.

– É bom mesmo. - concordo, sentando ao lado dele no sofá, colocando o saco entre nós dois. Pego o controle da TV e ligo, deixando num canal qualquer. - Você só veio aqui para isso?

– É claro! Por que mais eu viria?

– Eu não sei... - fiquei me sentindo meia idiota por ter feito a pergunta. O que exatamente Armin faria aqui, não é?

– Capítulo 5. - ele disse.

– Hã?

– Eu estou no capítulo 5. - ele diz, batendo com um dedo da mão limpa no livro, que estava ao seu lado, junto com a mochila escolar preta dele. -Na parte em que o Wieder percebe que o Verlorene desapareceu de casa.

– Ah. Ah!, então você já conheceu a Neela, que eu falei lá no shopping.

– Ahã. E ela é chata pra caramba.

– E muito inútil, se me permite dizer.

– Ela não é inútil. Só perdidamente apaixonada.

– Isso faz dela alguém inútil. - certo, agora eu peguei pesado.

Armin ficou quieto. Ele não me olhou, nem questionou o que eu falei. Apenas continuou mexendo o pé, comendo Doritos e olhando para a tela da TV, que nessa hora passava uma propaganda enganosa de yogurt emagrecedor. Ficamos assim por loooooongos minutos, no completo silêncio. Comecei a pensar se não tinha estragado completamente a conversa com aquele comentário idiota. Já estava prestes a pedir desculpas quando Armin soltou, mais para si do que para mim:

– Amar não torna ninguém inútil. O que nos torna inúteis somos nós mesmos.

Fiquei um tanto impressionada com aquela frase digna de um livro. Tanto que não me mexi nem um pouquinho. E talvez eu não tivesse me mexido se não fosse pelo celular de Armin começar a tocar dentro da mochila, trazendo nós dois para a realidade. Ele pegou o aparelho e atendeu:

– Alô? Oi, mãe. É. Não, eu tô na casa... tá, tá, uhum, tudo bem. Tá certo. Tchau, mãe.

– Preocupada? - indaguei.

– É. O Alexy chegar antes de mim é sinal de perigo lá em casa. Bom, eu vou indo então. Tudo bem?

– Claro. Eu te acompanho até lá em baixo.

– Valeu. - eu abri a porta e saímos. - Tchau, René. - ele acenou para o gatinho.
René? Só o que me falta é ele ter escolhido o nome do gato... Só perguntei quando chegamos na rua.

– René? Sério? VOCÊ nomeou o MEU gato? Qual é o seu problema? E por que "René"?

– Sim, é sério. - ele Sorriu, com S maiúsculo. - Sim, nomeei seu gato. Não tenho problemas. E "René" por causa do seu personagem preferido. O nome dele é Verlorene. Verlo...RENE. VerloRENÉ.

Suspirei, arqueando uma sobrancelha. Aquilo ainda parecia retardado demais para mim.

– Tchau, srta. Café. Nos vemos amanhã. - ele disse. Esperava que acenasse e tomasse seu caminho, mas não.

Ele tinha que me abraçar. Claro...

– He, he. Você é tão pequeninha, quase some no meu abraço.

– Você é ridículo.

– Eu sei. Isso não é de todo ruim.

– Vá se ferrar, Monochrome.


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Notas finais do capítulo

Armin safado... que feio, Armin... ~Hue,~Hue. A para quem achou estranho nome do gato da Lieto (como ela mesma, que está socando o meu ombro desde que escrevi o final do capítulo), só digo: esse foi o nome que o ARMIN deu. Não significa que a dona dele aceitou isso!

E... Hey, Sam. Tá se dando bem, não? Às vezes dá vontade de entrar no apartamento da Lieto, matá-la enquanto está dormindo e pegar o lugar dela. ~HUE~HUE~HUE! (*risada maligna*)

Lieto: Há, foi isso que eu disse nas notas finais do capítulo 8! E você disse que--
Analu: Eu disse que o SAM não era um psicopata. Não falei de mim.
Lieto: Você é doente.
Analu: NÃO, EU SOU A DONA DO SAM! (*outra risada maligna*)