Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 6
Alergia dos Infernos, Uma Granada


Notas iniciais do capítulo

A... a Analu demorou um tantinho dessa vez, não foi? De novo... É que foi preciso reescrever esse capítulo umas três vezes, para deixar o "?" mais "ele", e claro, tornar a amada do Armin mais visível. Lieto? Será? SERÁ? Seria uma pena se...



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[POV ?]

Entrei em casa pela porta dos fundos, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Sim, minha mãe tem um sexto sentido do caramba, e logo iria descobrir que eu voltei para casa, mas quanto mais tarde isso acontecer, melhor. Eu só quero ficar uns quinze minutos fingindo que sou a única pessoa no universo.

Ouço um barulho alto vindo a parte da frente da casa, e sei que minha mãe caiu da escada. Para variar. Espero alguns segundos, tentando ouvir algum gemido de dor mais forte, e garantir que não está machucada. Não está. Então, tomo meu caminho para a escada. No segundo andar, vou direto para meu quarto, fecho a porta, atiro a mochila em algum canto aleatório do quarto e me jogo na cama em seguida.

Tento relaxar, mas é impossível. A maldita bagunça ao meu redor não me deixar respirar normalmente.

Bufo. Como podem existir pessoas que vivem no meio do lixo sem enlouquecer? Três dias sem limpeza me fazem subir pelas paredes, que dirá ficar um ano acumulando tranqueiras? Acho que me atirava pela janela.

Levanto da cama e saio catando as roupas atiradas pelo chão. Três camisetas, duas calças, cinco pares de meias e... meu fone de ouvido? Afe. Verifico o que está "reutilizável": duas camisetas e uma calça ainda estão com aparência aceitável. Tanto a camiseta quanto a calça que sobraram estão com aquela manchinha de sorvete de chocolate que não saiu na hora do acidente. Hunf, criança fazendo criancice. As meias se juntam às peças manchadas e o fone vai para a escrivaninha.

Guardo as roupas "aceitáveis", e jogo as sujas ao lado da porta. Depois, recolho os papéis de bala, bolachas recheadas e salgadinhos que estão ao redor da cama e coloco tudo no cestinho de lixo ao lado da mesa. Desta última, retiro dobraduras mal-feitas e todas aquelas "sujeirinhas" de lápis que deixei ali noite passada. Então, passo para a cama. Troco os lençóis, as fronhas e as cobertas, jogando os usados junto ao montinho de roupas. Pego o montinho e desço até a lavanderia, deixando tudo lá. Ali mesmo, pego a vassoura e o espanador. De volta ao quarto, abro as janelas, tiro o pó e varro todo o cômodo, voltando ao andar de baixo para deixar a vassoura e o espanador em seu devido lugar.

Nossa, um quarto limpo é outra coisa. Faz a gente respirar melhor!

Observo meu trabalho magnífico perto da porta, cheio de orgulho. Minha felicidade seria mais longa se não tivesse escutado passos vindo da escada. Virei a cabeça na direção do som e logo vejo minha mãe, parada no começo do corredor, me olhando como se eu fosse um estranho.

– Sam, você... por que está aqui? Era para estar na escola...

– Eu sei, mãe. Desculpe.

– "Desculpe" não vai fazer você passar de ano. - ela se aproximou de mim e olhou para dentro do quarto. - O que está fazendo? L-limpando o quarto?

– Acabei de terminar.

– Mas... agora?

– Mãe.

– Tudo bem, tudo bem... - ela sorriu fraco. - Você... só não queria ir, não é mesmo? Tudo bem, não tem problema... Hum, eu ia... Er... O que você vai, sabe, ficar fazendo?

– Eu não sei.

– Entendo. Hã... eu vou ficar lá em baixo, na loja, caso precise de algo.

– Tudo bem.

Minha mãe vai até a escada e desce. Sem mais. Ela está decepcionada comigo. De novo.

Por tudo que falei antes, você deve ter pensado que sou um filho organizado e responsável, e que apenas faltou aula por estar passando por alguma dificuldade. Não, nada a ver. Sou apenas um cara com um problema respiratório dos infernos que cometeu erros demais e agora não sabe o que fazer. Faltei aula porque não gosto daquelas pessoas, e arrumei o quarto porque preciso respirar. Morrer agora não é uma opção. Não é nada genial, essa ideia.

Procuro pelo quarto algo para fazer. Na estante há três livros novos para ler, na escrivaninha vários desenhos para terminar, e no notebook, há músicas para baixar. O que fazer?

Simples: descer e conversar com a mamãe.

Sentado no último degrau da escada, vejo D. Agatha colocar alguns novos exemplares de livros nas prateleiras para venda. Normalmente, os clientes vêm mais tarde, então ela está bem descansada. Apesar de saber o quanto ela está triste, vou puxar assunto na cara dura:

– Nós deveríamos sair pra almoçar qualquer dia desses, mãe. Ouvi dizer que abriu um novo restaurante muito bom lá perto da estação de trem, e parece que a comida é muito boa.

– É? Quem sabe, qualquer dia...

– Apesar de que gosto da sua comida.

– Sei.

– Mãe, alguma vez nós tivemos qualquer contato com uma menina loira, de olhos verdes, e não muito alta?

– Sam, existem várias meninas assim.

– Tá, mas tipo... é que hoje, eu encontrei uma menina assim, no parque, em frente à escola. E tive a impressão de que já a vi antes, mas não lembro onde.

– Como eu disse, há tantas meninas assim. - ela sorriu e foi para o balcão, anotando algumas coisas e reorganizando alguns pedidos. - Você pode ter encontrado alguma menina assim no shopping, no parque, no cinema, na lanchonete... assim como meninas loiras de olhos verdes são comuns, meninos como você também são.

– Iguais a mim não. Eu sou único e espetacular.

– E modesto.

– E altamente fabuloso em tudo que faz.

– Menos em matemática.

– Menos em matemática. - concordei.

Rimos levemente. Minha mãe tem uma aura mágica, totalmente mágica. Parece uma fada. Ela faz você se sentir bem sem qualquer tipo de esforço. Merecia uma vida melhor, com toda a certeza. Mas as coisas são assim, e muitas vezes não podemos fazer nada para evitar. Se eu pudesse, levaria minha mãe para um lugar lindo, onde ela não precisasse se preocupar, mas não dá. Mal posso ir até o outro lado da cidade de ônibus, já que quase nunca tenho dinheiro. Uh, que trágico, não?

O telefone tocou e minha mãe atendeu. Ouço ela falar com alguém, enquanto brinco com os dedos. Ela não falou o nome, mas sei quem é só por uma única frase:

– Então sua gripe está melhor?

É Lilith do outro lado da linha. Lilith Alguma Coisa, nunca soube seu sobrenome. Ela é aluna da Sweet Amoris, da turma 1-C, e sempre vem até a loja procurar livros. Sei pouco sobre ela. Apenas seu primeiro nome, sua turma, que gosta de ler e que pegou uma gripe forte, por isso esteve longe da escola por uma semana, aproximadamente. Eu até diria que ela é bonitinha. Tem cabelos ruivos (laranja mesmo!), olhos castanhos, algumas sardas muito fofas e um um sorriso lindo. Lindo.

– Sim, sim, eu imagino. - minha mãe continua. - Vai querer To Be Broken, então? Pois bem... pronto, anotei. - ela ri. Lilith é muito engraçadinha. - Sim, ele... É, ele não foi hoje. - Hã? Agora o assunto sou eu? - Quer falar com ele? - Comigo? - Sim, eu vou passar. - EU NÃO POSSO FALAR COM ELA!

– Oi. - atendo.

Oi, Sam. – diz ela, e em seguida tosse. - Você está bem?

– Estou respirando. Ou tentando, pelo menos. Nem vou te perguntar. É óbvio.

Ah, sim... que droga. E... Você não tem remédio para essa alergia?

– Sim, mas não posso tomar tipo, agora. Preciso estar bem ruim.

Que chato... Bem, me diz: está acontecendo algo na escola e eu não estou... – tosse. - ...sabendo?

– Nada. Perguntei para seus colegas idiotas e pelo que me falaram, não houve provas ou trabalhos marcados. Ah, e disseram que o "professor Last fez acontecer", na última sexta-feira.

Não brinca! Eu perdi!

– Perdeu o quê?

Nada, nada... Sam, posso pedir um favor?

– É... pode.

Se você FOR à escola amanhã... diga pra... PRESTA ATENÇÃO: diga pra Íris que vou levar o caderno dela na quinta, ok?

– Dizer pra Íris, seja essa quem for, que você vai levar o casaco quinta. Ok, eu falo.

A conversa continuou por mais algum tempo. Lilith é muito simpática e fácil de conviver, mas conversa pelos cotovelos. Precisei dar uma desculpa aleatória para poder desligar. Doente ou não, ela sempre tem alguma novidade.

Minha mãe ficava me olhando de forma estranha e sorrindo, como se eu estivesse marcando um encontro ou coisa parecida. Bem, não. Eu realmente não pretendo sair com a Lilith.

Por fim, acabei prometendo algo que não queria. Odeio a turma 1-C. Odeio. Lá está cheio de pessoas que eu quero ficar bem longe. São um bando de panacas, todos eles. E mais: eles me odeiam também. Mas no fim, vou ter que entrar naquela sala horrível e falar com uma tal que nem sei quem é. Ótimo. Muito, MUITO ótimo.

[POV Armin]

O dia passou rápido. No intervalo, a grande maioria dos alunos da 1-C rodearam Lieto, falando diversas coisas, e a coitada não sabia nem quem responder primeiro. Aparentemente, todos a conheciam de algum lugar, e era muito querida. Aqueles que eram novos ali, como Alexy e eu, ficamos apenas observando, nos perguntando o que estava acontecendo. Por fim, Alexy se aproximou e sentou ao meu lado, no banco em que eu estava.

– Nem sei quem ela é, mas parece legal! - sorriu. - Acho que vou falar com ela depois!

– Eu a conheço, pelo menos um pouco. - retribui o sorriso dele.

– É? - Alexy se impressionou um pouco. - Como? Desde quando? Por que não me contou?

– Certo... o nome dela é Lieto, tem um gato de estimação super fofo e sem nome, e mora num prédio aqui perto. Conheci ela quando fui comprar meu novo The Sims. Acabei brincando com o gato dela, e tal...

– Legal! E falou com ela, então? Ela parece simpática!

– Olha... - ri contido. - Aí depende do ponto de vista.

– Hein?

Não respondi. Fiquei apenas olhando para ela, ali, no meio de tantas pessoas, e sorrindo. Finalmente um sorriso. Lindo, lindo.

Ok, sei o que você está pensando: "Ah, que legal! Armin está apaixonado!". Nããão... Não, por favor. Eu apenas a achei bonita, e ela realmente é. Todo mundo deve pensar isso. Ela é bem estranha, na verdade. Parece delicada, frágil, mas é durona, e, é notável, sabe que deve desconfiar de estranhos que se aproximam rápido demais. É independente. É difícil. É muito interessante.

– ... Armin? Ouviu o que eu disse? - Alexy abanou a mão em frente aos meus olhos.

– Hein? Ah, o que foi?

– Ainda está na Terra? - ele riu. - Escutou, pelo menos um pouco do que eu disse?

– Eu... não, foi mal. Do que estava falando?

Alexy ficou me lançando um sorriso consolador (?), quietinho. Parecia estar esperando minha ficha cair, mas ela não caiu. Assim, ficamos nos encarando por talvez um minuto, e não aguentado mais olhar pra minha versão de cabelos azuis, e prevendo o motivo daqui, soltei um pouco irritado:

– Do que estava falando, meu Deus? E aliás, que sorriso é esse?

– ...! - ele se distanciou um pouco, mas depois voltou para seu lugar e bufou. - Você esqueceu, não é? Mês que vem...

Ah, não. Essa conversa de novo não.

– Alexy, por favor...

– Armin, você não pode fingir que nada aconteceu! Você sabe muito que --

– Chega. - levantei irritado. - Isso é problema meu, Alexy. Quanto aquilo tudo aconteceu, você estava namorando muito bem. Mas, por algum motivo, deixou tudo desmoronar junto comigo. Acha que isso não me chateou?

– Mas...!

– "Mas" droga nenhuma! Viva sua vida, Alexy, e me deixe viver a minha. - e saí, ouvindo os pedidos de desculpas atrás de mim.

Mas Alexy não me seguiu.

Passei por Lieto e seus "fãs" (sem querer ser irônico ou coisa parecida), e dei uma rápida olhada para ela. Tão parecidas... espero que ela não seja uma granada humana, como aquela outra. Se for, todos em volta dela serão os muitos feridos de sua guerra interna.

Porque sim, só de olhar para aqueles olhos verdes podemos perceber o quanto sua mente é tempestuosa.

Sorrindo daquela forma tranquila, quem poderia o dizer, não?

É, eu também pensei que ela não era uma granada. E no fim, ela explodiu no momento errado, de forma errada, e atingiu as pessoas erradas.

Tão egoísta. Só pensou nela mesma.

Afe, esqueça tudo que acabou de ler. Nada disso realmente aconteceu, foi apenas um sonho ruim, depois de uma longa maratona de GTA. Entendeu? Nada-disso-aconteceu.

Afasto-me cada vez mais do lugar de antes, chegando em um canto deserto da escola (isso é um milagre). Fica atrás da quadra de esportes, e só é visitado durante a Ed. Física ou durante os jogos. No mais, é um lugar abandonado. Perfeito.

Sento no chão, tirando o PSP do bolso, e começo a jogar. Fico ali por vários minutos, sem companhia. Às vezes, ficar sozinho acalma mais rápido do que várias pessoas te oferecendo chá. Sei disso melhor do que ninguém. Na época da Granada, eu me afastei de todo mundo, e praticamente não sorria. Só voltei ao (quase) normal depois de alguns meses, mas eu não era mais o mesmo. Eu deixei de ser o Armin do baseball pra me tornar o Armin do videogame.

Meio patético.

Não sei quanto tempo se passou, mas volto à realidade quando sinto alguém sentar ao meu lado, e em seguida falar, com a voz super calma:

– Armin, não é? Tem algo para me falar?

Soltou um "he" e sorrio.

– Gosta de jogar PSP?


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Notas finais do capítulo

... se a LIETO FOSSE CONVERSAR COM O ARMIN!! Oh, God. No próximo, vamos ter uma conversa bizarra e... wow, estou animada. As coisas vãoo se tornar mais "lecais" daqui pra frente. Ah, mais uma coisa: SAM é MEU. Se bem que... argh, esquece. É spoiler.