Cinza É Uma Boa Cor. escrita por Analu


Capítulo 5
O Garoto do Parque, o Garoto da Sala


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem, tudo bem. A Analu demorou um pouco para postar esse capítulo. O que impediu: 1) Escola. 2) Falta de ânimo. 3) No dia fatídico, faltou luz.
Enfim, aproveitando, a Analu quer agradecer os comentários. É bem animador recebê-los logo na primeira história postada ^^
Nos vemos lá em baixo.



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[POV Lieto]

Durante todo o fim de semana, me ocupei em arrumar as coisas no apartamento. Apesar dos poucos móveis, estava perfeitamente habitável. Tirei as coisas das malas, fui ao mercado, brinquei com o gato ainda sem nome e morri de tédio.

Nunca quis tanto que uma segunda-feira chegasse.

Eu não contei à Rosalya ou a qualquer um sobre minha mudança. Queria fazer uma surpresinha. Sabia que Rosa ficaria furiosa por ser enganada assim, mas as reações dela são tão hilárias que a ideia parecia boa. Se ela não tentasse me matar, claro.

Acordei cedo na segunda (mais cedo do que o normal), tomei banho, escovei os dentes, quase não decidi o que vestir e lutei com meu cabelo, que por fim ficou solto. Então, antes de sair, passei os olhos pelo apartamento, chegando se estava tudo ok. Havia comida e água para o gato, nada na tomada, nada que pudesse explodir, e a chave da porta estava ali comigo. Pois bem, eu já podia ir.

Saí caminhando despreocupadamente pela rua, com a bolsa no ombro, onde se encontravam os materiais escolares necessários (isso inclui os cadernos usados na escola anterior, cuja matéria antiga e nova foi separada por um folha especial, com a mensagem "O dinheiro está escondido no..."), e sempre olhando para os lados, reparando nas poucas coisas que mudaram. O dia estava ensolarados e agradável, parecia feliz. Adolescentes passavam por mim correndo, provavelmente indo para a escola, e algumas "tias de academia" saíam de suas casas para correr ou passear com o cachorro.

Um dia perfeitamente normal, na minha visão de mundo.

Para chegar à Sweet Amoris, havia três opções: gastar dinheiro com o ônibus, dar a volta por um parque que havia logo ali na frente, o que levava alguns minutos, pois o lugar era enorme, ou então atravessá-lo, o que poupava tempo. Como estava disposta a caminhar, principalmente em lugares com grama, me decidi pela terceira opção. Atravessei o portão e fui seguindo o caminho pela "estradinha" que cortava o parque.

Brinquei muito naquele lugar quando era menor. Nos dias de verão, a turma toda e eu nos reuníamos debaixo de uma enorme árvore que existe ali, e ficávamos passando o tempo, comendo ou brincando. Era algo realmente agradável. Gostaria de ter oito anos de novo... Paro para suspirar um instante.

Fiquei ali sozinha por poucos segundo, pois ouvi atrás de mim alguns passos. Me viro para saber quem é, e dou de cara com um garoto. Loiro, de cabelo nos ombros, sem franja, e olhos cinzas/pretos; camiseta branca, jeans para lá de surrado e tênis vermelho; mochila no ombro, expressão muito, muito séria e mãos nos bolsos da calça.

– Também tá indo para a Sweet Amoris? - pergunta ele.

Olho desconfiada para o cara. É sério, por que rapazes estranhos que não me conhecem simplesmente vão chegando e falando comigo? Será que ele é outro tarado por garotas transparentes? Oh, piedade, não...

– Desculpe, mas... eu te conheço? - responder uma pergunta com outra pergunta me irrita, mas foi inevitável.

– Não. Eu também não te conheço. Não sei seu nome, sua idade, onde mora ou qual sua banda preferida, e nem me vem ao caso saber. Eu só fiz uma simples pergunta, e seria muito educado da sua parte me responder, já que respondi a sua pergunta.

Parece justo.

– Ok. É, estou indo para a Sweet Amoris. Satisfeito?

– Muito, agradeço. Agora, sei que você não é mal-educada: é mal-aprendida.

Deus enquanto me criava deve ter pensado que seria divertido fazer essas piadinhas comigo. Jogar um monte de pessoas estranhas na minha vida e dizer "Tudo bem, os panacas estão aí. Agora se vira." O que eu fiz para merecer isso...?

– Nós nunca... nos vimos antes, eu acho. Ou nos vimos? - ele pergunta, repentinamente.

– Não. Posso garantir que não.

– ... Eu tinha certeza...

– Eu tenho certeza que nunca tinha te visto antes. Eu lembraria dessa cara estranha.

– Ok, ok. Talvez seja aquela pancada na cabeça que levei ontem...

– ... P-pancada?!

– Ai, ai... - o garoto soltou o ar. - Eu não quero ir para a escola hoje... Ah, você não deveria ir? Vai se atrasar. O sinal de entrada nas aulas acabou de tocar, se meu ouvido não me enganou.

Paro de respirar um pouco, até processar a informação. Assim que entendi bem o que estava acontecendo, saio correndo pela estada, com destino ao portão que fica de frente para a escola. Olha só que maravilha, aquele cara estranho me distraiu por alguns míseros três minutos e eu consigo me atrasar. Atravesso a rua correndo (eu sei que é perigoso, ok?), e entro no prédio da escola.

Há poucos estudantes ali no corredor, ainda pegando suas coisas nos armários. Fui informada, dias atrás, que ao chegar na escola, deveria passar na sala dos representantes para pegar minha folha de horários, então, fui direto até ela. Não era nem um pouco difícil de achar, visto que a porta está logo ali, no corredor principal, com uma placa bem grande grudada à ela, onde diz "Sala dos Representantes". Tarefa fácil.

Abro a porta e coloca a cabeça para dentro. Era uma sala de tamanho normal, com um círculo de mesas no meio, cheio de armários de metal e algumas folhas jogadas em cima das mesas. Dentro da sala, estava uma mulher de cabelos pretos, compridos e meio ondulados, com vários papéis nas mão, e resmungando algumas coisas quaisquer.

– Hum... com licença... - digo. Ela olha para mim. - Eu sou aluna nova, e me disseram para passar aqui antes de ir para a aula...

– Aluna nova? Pois sim, eu já vou... - ela olhou para um dos papéis na mão esquerda. - AH! ESPERA AÍ! Você é Lieto Cinnamon, não é? - se aproximou, mostrando-me minha ficha de inscrição (o papel), onde havia uma foto minha. Se é que aquela criatura sou eu mesma..

– Sim, sou eu. Você é... professora?

– Isso! Olivia Belladona, professora de ciências e escrava da direção da escola no que diz respeito à sala de representantes. - ela riu. - Estava meio que esperando você, Lieto. Toma, aqui estão as folha que você vai precisar. Turma 1-C, sala 9. Sua turma provavelmente já está toda lá...

Suspiro resignada. Minha vida é demais. Coisas assim me acontecem o tempo, e eu, por amor ao mundo, deveria ficar feliz? Pois é. Trágico, não?

– Bem, então eu vou indo. Obrigada pela ajuda, professora Oli... - quando eu ia abrir a porta para sair, alguém do lado de fora a abriu antes de mim. Dei com a cara na madeira e meio que fui jogada na parede ao lado. Então, entrou um homem gritando.

– OLIVIA! QUE NEGÓCIO É ESSE DE MUDAR AQUELA PESTE PARA A MINHA TURMA NO TERCEIRO PERÍODO?!

– Bom dia para você também, Alan. Saiba que acabou de dar com a porta no rosto de uma aluna nova. Lieto, você está bem?

– Uh... sim. Minha cara está inteira. Até, professora Olivia. Até... Sr. - vou saindo de fininho de trás da porta. Dou uma rápida olhadinha por cima do ombro, e vejo que meu agressor tem cara de Don Juan. Parece com meu pai, só que aparenta idade adequada para usar topete com gel.

Me dirijo até a escada, em busca da sala 9. Enquanto subo os degraus, posso escutar uma discussão vindo da sala dos representantes. Não conseguia entender direito o que os professores diziam, mas a última coisa que ouvi foi a professora gritando "Nem tente!".

Vai entender.

[POV Armin]

Sweet Amoris tem uma aura de escola mágica e especial, mas na realidade, tem aulas tão chatas quanto uma escola normal. Matemática não é exceção. Todas aqueles números supostamente me darão um futuro, mas eu não consigo acreditar nisso. Aliás, tenho uma dúvida: as letras. As letras já complicavam minha vida em gramática, o que diabos elas foram fazer em matemática?!

Nirvana Rosemberg é uma boa professora. Não tem voz monótona, é educada e explica bem, mas sua matéria não deixa de ser um saco. Ela mesma concorda com isso. Quando não entendemos algo, e pedimos sua ajuda, ela sempre diz, depois de explicar: "Sei que matemática é realmente chata, mas se esforce, ok?" Já ouvi essa frase tantas vezes nos últimos seis meses que até perdi a conta.

Havíamos acabado de chegar na sala, e a Rosemberg entregou uma folha cheia de expressões numéricas bizarras para cada um, dizendo que queria tudo aquilo pronto na próxima aula, que seria daqui a dois dias. Eu tenho bastante respeito pela professora, mas definitivamente me deu vontade de chutar a cara dela naquele momento. É uma droga, tudo isso.

Olhei para os lados e vi todo mundo abrindo o caderno, com algumas exceções (como por exemplo, Castiel, Lars ou mesmo Ambre), se preparando mentalmente para resolver aquelas monstruosidades em forma de contas. Decidi que seria uma das exceções. Matemática para mim é o inferno grudado em papel. Fico impressionado por saber a tabuada - ou quase toda. Não sei como consegui passar de ano durante toda a minha vida.

Abro o caderno igualmente, mas dobro a folha e jogo-a no meio do caderno, sem me importar em pegá-la depois. Pego a caneta, vou atá a última folha e arrisco o textinho:

"Se fosse preciso, eu jogaria todos os meus jogos fora; atiraria meu notebook pela janela; queimaria meus livros de Assassin's Creed; enforcaria o cachorro histérico do meu vizinho com os fios do meu controle, e enterraria o controle sem fio; eu comeria verduras e passaria o dia correndo debaixo de sol quente; eu faria todas essas loucuras para te ver de novo. Mas veja só, nada disso fiz, e você voltou. Como dizer a você, afinal, o que desejo dizer, sem parecer ridículo? - Seja minha player 2 - é diferente demais? Talvez você só precise de um abraço? Mas você sabe, eu sempre fui um tanto transparente para você. Uma troca de olhares já lhe disse tudo o que eu não consegui? Palavras são desnecessária para você, não? Você, minha pequena, vive em um mundo de silêncio."

Hum... a inspiração estava totalmente ali, até que eu resolvi escrever. Fiquei olhando para aquelas palavras tão... argh, eu nem sei como classificá-las.

No fim, escrita também não é meu forte. Acho que só sirvo para jogar, mesmo.

Estava totalmente distraído com aquilo, até que houve uma batida na porta. Rosemberg solta um "pode entrar", e a figura do outro lado se revela.

Ah, Deus.

– Eu... com licença. Acho que me atrasei um pouco. - e dá uma risadinha.

Houve um arquejo quase geral na sala, e logo em seguida, meninas gritam e garotos sorriem e soltam sons de satisfação. Vários alunos se levantam e vão até ela, que parece meio desconfortável com o abraço coletivo. Olho para a professora, em busca de respostas, mas ela parece tão confusa quanto eu. Dá uma olhada na lista de chamada, em busca do nome da recém-chegada, e murmura um "ah..." ao encontrá-lo.

– Bem vinda, srta. Sou sua professora de matemática, Nirvana Rosemberg.

– Uhnf... - ela se esforça para sair do abraço. Dá uma arrumada no cabelo, que não surtiu muito efeito, e continua. - Olá. Prazer em conhecer, professora.

– Finalmente a ocupante daquela carteira na terceira fileira chegou. - Rosemberg brinca, e coloca o cabelo loiro para cima do ombro. - Pode se sentar.

– Sim.

As meninas continuam agitadas, querendo aprofundar a conversa, mas seu barato logo é cortado pela folha de exercícios. Ainda assim, é possível ouvir comentários abafados sobre a volta da loira.

Ao sentar-se, ela olha diretamente para mim. Seu olhar diz "Você por aqui, hein? Quer trocar algumas ideias depois?". Ao receber meu aceno positivo em resposta, ela olha para a folha monstruosa que lhe foi entregue, pega o caderno e começa a resolver as expressões imediatamente.

Sorrio. Lieto Cinnamon não precisa de palavras para dizer qualquer coisa. Igual à uma certa alguém...


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Notas finais do capítulo

Temos três professores na trama, um novo loiro estranho e que vai... uh, isso é spoiler. Talvez no próximo capítulo tenha o POV desse maluco matador de aula O/ Até a próxima, docinhos de chuchu!