A noite em Ligthcity estava como qualquer outra noite, fria por causa de sua altitude, além de conturbada e barulhenta, como qualquer cidade grande poderia apresentar. Um senhor, velho, o qual todos chamavam somente de faxineiro, andava por uma praça olhando as várias pessoas que encaravam o vento e o frio para voltar para casa, Essas pessoas mal sabem o que ocorre por entre suas vidas fúteis. Bom, preciso me apressar se quiser ver o show de meus pupilos.

Não muito longe dali Matt chegava com Bob na pizzaria onde ocorreria a confraternização. Estava muito alegre e curtindo bastante, pois também iria conhecer os pais de Beatriz nesta noite, Até que um dia depois de tanto tempo ela me deixou conhecer seus pais... Espero que não fiquem muito fascinados por mim. Quando entraram, ele a viu e foi direto ao seu encontro.

- Oi meu anjo, está aqui há muito tempo?

- Não, vim há uns minutos... Como foi o treino? Cansou-se muito?

- Até que não. Você sabe os outros jogadores não conseguem me acompanhar, duvido muito que me cansem. E seus pais? Achei que iria conhecê-los.

- Calma, minha mãe vai vir nos buscar lembra... Daí vai conhecê-la.

Matt já esperava algo assim. Eles se sentaram com os outros, que já haviam pedido.

Enquanto isso, Kille terminava seu ultimo desenho deitado. Seu quarto era simples, cama no centro de uma das paredes com um armário ao lado, enquanto havia uma mesa com um computador simples e matérias básicos de desenhos que ele ganhara de Dora no inicio do ano. Ao terminar o que demonstrava ser um homem acorrentado, olhou para a noite por fora da janela que ficava de frente para sua cama e que estava aberta. Pode ver a lua, cheia e reluzente, pareando por trás das nuvens, Como eu queria estar no seu lugar, só tendo que me preocupar com asteroides.  Quando de repente um gato preto pulou a janela, acompanhado de um gélido vento sinistro.

- Cara, você bem que poderia avisar antes de chegar – disse Kille se dirigindo ao gato. Ele era familiar, sempre aparecia em seu quarto principalmente quando tinha pesadelos. Kille chegava a se referir a ele como amigo, o que deixava Dora furiosa já que ela não suportava ver o gato dentro do quarto do jovem.

O gato pulou na cama de Kille e ficou olhando diretamente para ele, parecia o encarar como se quisesse ler sua mente ou algo assim, Kille inicialmente fica surpreso, mas depois se controla, sorrindo, e se prepara para tira-lo. De repente algo o assusta, os olhos passando a subir até restar apenas uma grande bola branca em ambos os lados. O jovem fica pasmo e então começa a perceber que as costas do animal estavam se erguendo, quase como se estivessem se dilacerando.

O que tá rolando aqui?!

De repente um rasgo enorme abre nas costas do negro bichano, desde seu pescoço até o inicio do rabo, e algo que parecia ser um homem sem pele com a vermelhidão fosca da carne viva e um rombo no crânio, tudo isso junto a garras que mais pareciam navalhas saem do gato.

Rapidamente, Kille tenta se levantar e correr, estava sozinho no apartamento não poderia pedir ajuda, porém ainda de pé na cama foi segurado pelo monstro com uma das garras, enquanto o mesmo erguia a outra enquanto falava.

- Prepare-se para ir para o Inferno pirralho.

Nem esperando terminar de dizer, o monstro foi logo enfiando a outra garra no peito de Kille. Soltando um urro muito alto, o garoto deixou-se levar por uma escuridão que fizera em seus olhos e apagou rapidamente.

Indo parar num lugar estranho, Kille percebe que está nada mais nada a menos que em seus sonhos. Flutuando, foi até um homem que estava sendo torturado por seres parecidos com o que enfrentou em seu quarto, porém dessa vez este falou com ele.

- Filho, parece que te acharam.

- Filho?! Eu sou seu filho? Quem é você? Como assim me acharam? Quem era o desgraçado que me furou no meu quarto?

Sem muito enrolar, o homem que parecia estar sofrendo muito com suas torturas, o olhou nos olhos e disse.

- Em suas mãos há dois pequenos bastões com emblemas. Não tenho tempo para explicar, mas você precisa voltar. Use a espada que aparecerá quando um o demônio te ameaçar novamente e entregue o outro ao seu irmão, Matt, ele está na pizzaria e também corre perigo. Não se esqueça de que a espada te ensinará a usá-la.

Depois disso tudo os olhos de Kille escureceram novamente. Quando veio a si, estava de frente para o demônio torturador que tinha uma de suas garras enfiadas em seu peito, dentro de seu quarto, mas não sentia dor. Sentiu que segurava algo, quando olhou para sua mão esquerda viu o mesmo bastão com emblema que seu pai lhe entregara, olhou para a outra mão e também havia um, mas este brilhava e queimava. Foi então que ele se lembrou e ao mesmo tempo tudo aconteceu. O de sua mão direita se transformou em uma longa espada afiada e flamejante, parecia que o fogo a materializara em sua mão. O demônio que agora se espantara tanto por Kille ainda estar vivo quanto por ele armado em sua mão percebera também que uma grande energia emanava do garoto.

- Ainda não morreu Kille... Vou arrancar sua cabeça então! – Ele levantou a outra mão laminada e se preparou para descê-la.

Sem pensar duas vezes, em um passo de impulso, Kille ergue e desce rapidamente o braço direito com a espada cortando totalmente o braço do monstro. O demônio se afasta descendo da cama e gemendo, enquanto o jovem vê o braço em seu peito se desfazer em uma fumaça.

- Que droga! – Olhou novamente para seu peito e o ferimento sumira – Por que não estou com o corpo furado?!

- Você vai morrer filho do Sem Nome! – Gritou o demônio enquanto pulava na direção de Kille.

O jovem ergue a espada apavorado fazendo o demônio cair diretamente com seu peito enfiado nela. Se esforçando para mantê-la no ar, Kille ergue a espada fazendo o torturador gritar e gemer de dor cada vez mais até se desfazer em fumaça como seu braço. O jovem cai na cama sentado e fica se perguntando, O que rolou aqui? Lembrou-se do que seu pai disse: que Matt era seu irmão e precisava de ajuda, percebeu que teria de ir ao seu encontro na pizzaria, pegou o skate, a jaqueta e saiu rapidamente, Vou me ferrar, mas algo me diz que preciso fazer isso.

Dora estava no ônibus quando se deparou com uma cena apavorante em sua mente se formou: Kille lutando com um demônio torturador e o vencendo, Matt na pizzaria com outro demônio o atacando. Percebeu que tudo estava começando a acontecer como previsto, e que já era hora de chamar aquele que há muito tempo a procurou. Puxou o celular, discou o número e se pôs a esperar ser atendida.

O faxineiro acabara de deixar a sacada de um prédio e agora se movimentava por uma das calçadas da cidade, Não acredito no que aconteceu, devia ter previsto equívocos. Virou para um beco e pôs-se a olhar para uma parede  que barrava o continuar de seu caminho.

Preciso ir ao próximo local, só que mais rápido dessa vez. Se houver outra falha, terei de corrigi-la pessoalmente.

Após vinte minutos de skate, e ainda tentando entender tudo o que aconteceu em seu quarto, Kille chega a pizzaria torcendo para que tudo seja um pesadelo e para que ele acorde logo. Para ao lado e imagina o tanto de pessoas que poderia estar lá dentro, Não é uma boa coisa eu entrar aí, se ele corre perigo eu não deveria chamar a polícia?! Olhou ao redor e não viu ninguém, subiu no skate para voltar quando ouviu um grito.

- AHHHH!!!

Kille se vira e salta do skate correndo na direção da porta. Ele segura firmemente o bastão de emblema vermelho e se prepara para o que estiver lá dentro. Ao entrar algo o espanta.