Darkness to Kill escrita por Quaeso


Capítulo 9
Prazer Mademoiselle!


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novooo gente!! Desculpa por não ter postado no final de 2013, mas é que fiquei doente e sabem como é fim de ano... Uma atolação danada. Bem espero que neste ano que se segue possamos continuar tendo nossa ótima relação de autor e leitor!! Chega de conversa e...
Boa leitura!!!!



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Fiquei sem entender nada até o Jake tirar o lenço que estava em volta dos meus olhos. Tive que piscar algumas vezes para acostumar as pupilas á claridade intensa. Pelo que havia entendido eu estava no meio do... Nada. Definitivamente. Varri os olhos a procura de qualquer habitação, ou qualquer pessoa e a única coisa que encontrei foi uma casa, caindo aos pedaços logo á frente, onde uma caminhonete preta estava estacionada.

— Chegamos? — Perguntei irônica.

— O que foi? Não gostou?

— É bem... Rústica — Ironizei novamente — É aqui onde leva suas sequestradas? Pobres mulheres sem defesa.

— Você deveria medir suas palavras — Disse me encarando no banco do motorista.— Sequestrador ou não... Eu posso fazer muitas coisas com e em você.

— Ah... Mostrando suas garras é? Tarado.

— Pelo visto eu acho que preciso provar para mostrar que estou falando sério — Dizendo isso ele se aproximou de mim que ainda estava algemada e segurou minha mão livre para eu não me afastar.

— Para! — Falei, mas ele continuou se aproximando e só parou quando sua boca encostou minha nuca — Para... — Repeti dessa vez com menor intensidade, e completamente desconcentrada quando ele simplesmente começou a morder de leve minha orelha. Senti vontade de me matar por começar a gostar daquilo. Como é que alguém pode gostar de algo saído da mente suja de um tarado, sequestrador, e talvez estuprador? Devia estar completamente maluca. Pela minha pele deu para perceber que um sorriso travesso havia se formado nos lábios dele. Percebendo que eu não protestava mais, ele se afastou e me encarou com os olhos brilhando de diversão.

— Viu? — Disse sério — Eu posso muito bem encarnar qualquer uma das qualidades que você gosta de me intitular.

— Você é só um tarado... — Respondi trêmula e continuei em pensamento: Muito bonito.

— Que seja —Suspirou — Me chame como desejar.

— Tarado.

Ele suspirou novamente.

— Vamos.

Antes de eu pode protestar ele já havia saído e fechado a porta do jipe. E segundos depois apareceu ao meu lado abrindo a porta. Rapidamente ele abriu as algemas e me soltou. Assim que fez isso tentei acertar o meu joelho na barriga dele, mas fui interrompida por seu outro braço que bloqueava sem nenhum esforço minha tentativa de fuga.

— Faça um favor a si mesma e evite fazer esse tipo de coisa com eles.

— Eles? — Falei receosa — De quem exatamente você está falando?

Jake “o tarado” simplesmente deu de ombros.

— O quê? — Exaltei-me — Você não sabe quem “eles” são? Que tipo de psicopata tarado você é?

— Tanto faz... Só quero me livrar de você.

— Se livrar? — Falei irritada — Com quem você acha que está falando?

— Aha! Eu sabia que o poder da família Dophes subiria a sua cabeça.

— Hã? — Fiz uma expressão de nojo — Só estou dizendo eu sou uma mulher e você um garoto malcriado. Portanto é uma luta desigual.

Com o clima tenso e meio cômico no ar, Jake riu.

— É disso que você está falando? — riu — Eu achei que estava se referindo ao fato de ser filha do durão Sr. Dophes.

— Até parece... — Disse meio depressiva — Que eu vou usar “ele” como desculpa para você não me ferir.

O clima antes cômico agora estava deprimente, mas foi só o Jake abrir a boca para mudar tudo.

— E que papo é esse que você é uma mulher e eu um garoto malcriado?

— É um fato óbvio! — Respondi agressiva, esquecendo por um instante em que confusão havia me metido.

— Pelo o que eu sei você só tem 17 anos...

— Falou o maduro! — Ri com raiva.

— Não vou revelar minha idade se é o que quer saber.

— Pareceu um velho agora.

Antes de ele poder retrucar uma voz masculina nos interrompeu.

— Do que os pombinhos estão rindo?

Como ainda estava sentada no banco vi pela vidraça do jipe. Era um homem alto e ruivo. De aparência muito esbelta. Seu ruivo era bem claro, e parecia ser natural. Uma barba rala e mal feita o deixava muito sexy. Ele era tão bonito quanto o Jake. Vestia uma blusa cinza customizada com um gatinho desenhado e por baixo uma camiseta branca de manga longa. Estava encostado na parede da casa. Parecia uma pessoa relaxada e muito... Estranha.

O Jake rapidamente se aprumou e me tirou do carro.

— Era pra você ter chegado ONTEM. — Brigou irritado.

— Tive imprevistos... — Falou como se a droga do meu acidente fosse um imprevisto.

— Essa é a garota?

— Inteira e com todos os pedaços.

— Duvido que o hímen dela ainda esteja inteiro. — Brincou o ruivo.

— Muito engraçado — Murmurei pra mim mesma.

— De maneira nenhuma... Eu acho. — Disse o Jake olhando pra mim com se fosse eu quem devesse responder a essa pergunta indelicada.

— O que foi? — perguntei concentrando meu olhar numa placa ao longe que dizia “Área privada”. Ótimo mais um lugar desértico, onde não passa nem alma penada, pensei exausta. Meu corpo ainda doía apesar do “descanso” que tive.

— Enfim... Não me importa — Disse o ruivo. — Você deve ser o... Jake, né?

— Me chame como quiser...

— Ou Jaikinho, como preferir — Dirigi minha voz para o outro de madeixas vermelhas.

Esse começou a rir, uma risada irônica e confesso que senti vontade de soltar uma gargalhada. O que seria realmente estranho na minha situação, já que estava rodeada de caras... Bonitos... E tarados. Realmente quantos problemas.

Jake se manteve imóvel sem mudar a fisionomia do seu rosto. Ele estava sério.

— Gostei de você. — Falou o ruivo. — Você é a... a.

Suspirei. Aqueles eram os piores sequestradores de todos os tempos. Pesquisaram a minha vida inteira e nem sabiam o meu primeiro nome.

Jake começou a andar e me levou junto em direção ao homem. Enquanto andava me lembrei de algo que ele dissera: “Faça um favor a si mesma e evite fazer esse tipo de coisa com eles.” Ele havia dito eles, mas só tinha visto um. Onde estava o outro?

O ruivo estava encostado no umbral da porta e assim que cheguei mais perto pude perceber que ele devia ser modelo uma parte do dia enquanto na outra praticava seu hobby: Sequestrar mocinhas. Ele era muito bonito. No momento que fiquei á frente dele, este fez uma gentil mesura se curvando diante de mim e dizendo:

— Me chamo Sam Shawler. — Ainda curvado perguntou — Como deveria chama-lá?

— A.. — Minha vontade era de falar umas poucas e boas para eles, mas diante de tanta educação me senti na obrigação de ser educada — Annie.

— Muito prazer mademoiselle. — Ele tinha pegado minha mão e a beijado. Ok, pensei ou ele é do século passado ou está tirando uma com a minha cara.

— Tá... Para com isso. — E rapidamente eu tirei minha mão.

— Essa humilde casa é onde a senhorita vai ficar. — Disse apontando para trás de si.

— Como assim eu vou ficar aqui?

— São as ordens minha querida — Respondeu Sam, olhando de soslaio para dentro da casa. — Estamos aqui somente para cumpri-las, como meros lacaios.

— Quem ordenou que fizessem isso? — Perguntei irritada, criando uma limitada lista de pessoas na minha cabeça. — Quem poderia querer algo assim?

— Minha jovem, perguntar isso para mim é a mesma coisa que perguntar para um contrabandista quem é o seu chefe.

Percebendo meu desinteresse em algo que não fosse quem era o mandante, ele continuou.

— Um contrabandista sabe de muitas coisas e deve guardar segredo. Sua lei é uma fé inviolável e rígida. — Sam andava de um lado para o outro e parecia estar se divertindo muito. —A primeira qualidade de um trapaceiro é a lealdade.

— Muito interessante, mas... — Comecei, porém fui interrompida.

— Vou lhe contar uma história.

— A qual é... — Sussurrei para o Jake, que apenas olhou para o lado desinteressado.

— Um juiz um dia apanhou um contrabandista, e a sua obrigação era obrigá-lo a declarar quem era o seu caixa de fundos. O contrabandista por sua vez não o fez. O caixa de fundos era o juiz. Dos dois cúmplices, juiz e contrabandista, o primeiro deveria cumprir a lei aos olhos de todos e ordenar a tortura, a qual o segundo resistia para cumprir o juramento.

— Realmente é uma história comovente, mas...

— “Les travailleurs de la mer”. — Falou Jake me surpreendendo.

— Sim, sim... — Sorriu Sam, mostrando um alinhamento perfeito de dentes brancos — “Os trabalhadores do mar” para quem não sabe francês. Que raridade encontrar alguém que tenha lido Victor Hugo.

Eu era a única que não estava sintonizada na mesma estação que aqueles dois.

— Isso é um romance? — Perguntei.

— Sim — Responderam mutuamente — Algum problema?

— Nenhum... — Segurei o riso. Aqueles eram literalmente os sequestradores mais estranhos do universo. Qual é... eles liam romances franceses?

— Sou francês por parte de mãe, sabia? — Disse Sam.

— Ah... Mais é claro que eu sei disso — Soltei furiosa. A Sophia precisava de mim e lá estava eu, tendo uma conversa super cabeça com dois idiotas. — Se não for pedir muito para as duas mademoiselles, eu gostaria de me retirar. — Já estava começando a sair do lugar quando alguém puxou minha mão para dentro da casa. Não era o Jake e nem o Sam. Demorei para perceber que em poucos segundos o outro cara tinha me imobilizado. Deixando-me com os dois braços presos atrás de mim. A casa por dentro era muito escura, não tanto por causa da luz que escapava pela porta aberta. Soltei um gritinho estranho quando algo irreconhecivelmente peludo passou correndo sobre os meus pés. A fisionomia de Sam e Jake apareceu na porta. Sam ria alto enquanto Jake apenas olhava desinteressado.

— Perdoe-me Annie por estes... Aposentos, mas foi o único lugar longe o suficiente. — Disse o ruivo.

— Você poderia me soltar? — Perguntei ao homem que me segurava por trás e quem eu ainda não tinha visto.

Este não respondeu.

— Ele não pode falar — Disse Sam — A muito tempo atrás teve sua língua cortada por um mafioso. Chama-se Pooh.

— Pooh? — Repeti, insegura de que tinha ouvido certo.

— Sim. Ele gosta muito de “Ursinho Pooh” e como ninguém nunca soube o nome verdadeiro dele, o apelidei de Pooh.

— Ata... — Respondi, tendo em mente que na primeira oportunidade que surgisse sairia correndo. Qual é... Um tarado que lia romance, um ruivo maluco que gostava de gatos, e outro que além de ter tido sua língua arrancada por ninguém menos que um mafioso, se chamava Pooh. Estava a ponto de pirar, se me dissessem naquele momento que eles pertenciam ao circo de Solei, não acharia estranho. Se nada daquilo tivesse acontecido comigo, naquele momento provavelmente já estaria em Camden. Não aguentava mais aquela palhaçada.

— Já chega disso — Sussurrei pro vazio — A troco de que estão fazendo isso?

— Trabalho é trabalho — Me encarou friamente Jake, que estava encostado na porta com os braços cruzados. Ele parecia ter uma dor tão grande no olhar — Apenas conte tudo o que sabe... E talvez possa ir embora.

— E o que diabos eu deveria saber?

Sam se aproximou e apertou dolorosamente forte minhas bochechas. Parecia outra pessoa.

— Estou perdendo a paciência com você... E se está mesmo a fim de saber a verdade vou dizê-la.

— Não precisa falar... — Jake tentou pará-lo.

— Vou contar — Interrompeu raivoso — Nossas ordens senhorita Annie são bem específicas: Matar você sem deixar rastros.

— O quê? — Perguntei assustada — Você só pode estar brincando... Quem iria querer minha morte?

— O seu pai — Respondeu Jake, olhando para o horizonte manchado com um céu nublado. Ele evitava meu olhar de pura dor.

Algo dentro de mim simplesmente ruiu e um vazio tomou conta. Sempre soube que ele me odiava, mas não a ponto de praticar tamanha atrocidade. Por quê?

— Nossa que engraçado isso... — Ri. Uma risada sem o menor vestígio de humor. Apenas dor. Era preferível colocar um sorriso á uma lágrima no rosto. — Meu próprio pai me quer morta.


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Notas finais do capítulo

Sou apaixonada pelo Victor Hugo e por isso fiz essa pequena homenagem para ele!! E sim... Recomendo muiiito o livro que eu citei : "Os trabalhadores do mar".... Bom não esqueçam de comentar e opinarem sobre tudo o que estiver acontecendo na história.
Ps. Amo quando ganho um daqueles comentário gigantes... Por isso façam-me feliz.



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