POV Percy

Acordei com a luz do sol batendo em meu rosto. Lentamente fui abrindo os olhos. Eu estava sentado em uma cadeira na sacada do meu quarto. Lembro de não conseguir dormir a noite passada e então vim aqui pra fora tomar um ar e pensar um pouco. Acho que acabei pegando no sono por aqui mesmo. Tentei levantar. Minhas costas doíam, minha cabeça latejava e meus olhos ardiam. Finalmente tomei coragem e levantei. Ao entrar no quarto dei de cara com Thalia parada na porta, olhando com uma careta para o quarto “arrumado.”

– Mas o que aconteceu aqui? – perguntou ela apontando para bagunça na sua frente. A garota colocou a mão no nariz, tampando-o. – tem um bicho aqui?

Eu estava com uma dor de cabeça tão forte que nem me dei ao trabalho de responder. Fechei a porta da varanda, e as cortinas, pois a luz estava incomodando os meus olhos.

– Morto! – ela completou. – porque vivo já tem você! Enfim, não vim aqui para bater papo com você. Não gosto de perder meu precioso tempo com seres como... Você! Mas, tem alguém que quer falar com você.

Thalia então estendeu o telefone que estava em sua mão, e eu até então não havia notado. Ela não quis dizer quem era. Apenas deixou o telefone e saiu. Mas quem será?

– Alô – respondi com a voz sonolenta. Não sei o porquê, mas senti algo. Era como s eu tivesse lembrado alguma lembrança que eu estivera bloqueando há muito tempo. Certa tristeza me invadiu. A voz do outro lado deu um suspirou e finalmente respondeu.

– Percy? – a voz saiu quase como um sussurro. Era como se a pessoa do outro lado estivesse abafando um soluço.

– Ah... Quem é? – perguntei. Algo me dizia que eu sabia quem era, no entanto não conseguia reconhecer a voz.

– Deuses! Eu... Eu achei que não conseguiria falar com você. Eu pensei que... Pensei que nunca falaria comigo. – era uma mulher. Isso eu podia ter certeza pela voz, mas quem?

– Certo... Acho que se eu ao menos soubesse quem está falando ficaria mais fácil, não?

– Acho que você sabe querido! – como assim, eu sei? Alguém liga para minha casa, não diz quem é e ainda diz que eu sei quem é! Eu por acaso tenho cara de vidente?

Eu não sabia o que responder. Não sabia quem estava do outro lado da linha e não queria ser grosseiro. “Acho que você sabe querido” foi então que me caiu a ficha. Eu então senti uma raiva me subir. Uma vontade de dizer boas verdades a mulher do telefone. Como ela ainda tem a coragem de ligar?

– O que você quer? – gritei – Não acha que já causou muita coisa, não?

– Eu só quero falar com você. É meu filho.

– Não, não sou! Deixei de ser desde o dia em que você saiu pela porta e disse que nunca mais voltaria. Desde então eu apaguei você da minha cabeça. Esqueci que um dia você já viveu aqui, perto de todos nós. Deixe-nos em paz. Agora que estamos todos bem, na verdade ótimos, sem você.

Tomado pela raiva desliguei o telefone, antes que dissesse coisas piores. Sentei-me na minha cama e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas rapidamente a enxuguei. Eu não iria chorar por essa mulher.

Levantei e fui até o banheiro para tomar um banho e tentar esfriar um pouco a cabeça.

Por que ela resolveu voltar? Por que agora? O que ela quer? Não acha que pode ir embora e voltar assim, não é? E o Tyson? Ela não faz idéia do quanto foi difícil para o meu pai criá-lo sozinho, mas ele fez e muito bem. Ela não tem direito de voltar, não agora!

Saí do banheiro e vesti uma roupa qualquer. A cabeça ainda doía. Na verdade, parecia que estava doendo ainda mais agora. Desci para tomar uma xícara de café pra ver se passava.

Não tinha ninguém em casa. Estava tudo em um silêncio muito estranho. Coisa que era raro. Fui até a cozinha e para o meu azar não tinha café.

– Legal, sem café. – disse batendo na cafeteira.

Peguei minha carteira, um óculos escuro para proteger os meus olhos, já que eles ainda ardiam e minhas chaves e sai. Não muito longe de onde eu morava havia uma pequena cafeteria. Não levei nem dez minutos para chegar lá. O lugar não estava muito cheio. Apenas algumas mesas ocupadas.

Uma perto da porta com uma senhora que aparentava ter entre uns 57 ou 58. Ela não estava sozinha. Ao seu lado havia dois garotos que não deveriam ter mais de dez anos. Em outra mesa havia um casal. E na outra uma garota de cabelos loiros. Eu não pude ver o seu rosto, pois ela estava com um livro na frente. Pensei em Annabeth. Com seus cabelos dourados e cacheados bagunçados em um rabo-de-cavalo. Seus olhos cinzentos como o mar (N/A: eu sei que vocês vão dizer que os filhos de Poseidon que tem olhos da cor do mar, mas em o senhor dos anéis o povo de Dol Amroth tinham olhos cinzentos como o mar que eram meio esbranquiçadas e davam a impressão de serem cinzentas, então...) vidrados quando concentrados em algo. Sacudi a cabeça e fui para a mesa mais distante das outras. Uma bem no fundo da loja. Pedi um expresso e voltei a me sentar.

POV Poseidon

Em casa num sábado à tarde. Sentei-me no sofá e dei uma zapeada na tevê. Não passava nada, pelo menos que fosse interessante. Comecei a andar pela casa. Bianca havia levado Tyson para passear. Percy estava trancado no quarto. Provavelmente dormindo e tão cedo não acordará.

Olhei para o meu relógio. Peguei minhas chaves e saí de casa. Não levou muito tempo e eu já estava em East Village. Estacionei o carro em frente a uma casa não tão grande, e nem tão pequena. Era perfeita para a quantidade de gente que vivia nela. Não era muito diferente das outras lá. Toquei a campainha. Não levou nem dois minutos e um par de olhos cinzentos me encarava.

– Ah... Encosto! – disse Athena ao abrir a porta e dar de cara comigo.

– Também morro de amores por você, Atheninha – disse em um tom irônico. Sem que ela convidasse, entrei em sua casa. Era um lugar agradável. Coisa que era difícil de acreditar, já que uma megera morava ali.

– O que você quer? – ela perguntou em seu modo “educado” de sempre. - E não me chame de Atheninha!

– Ah, não sei! Só deu vontade de aparecer aqui, mas agora a vontade já foi embora. Peste!

Em cima da estante haviam fotos de Athena. Algumas da Annabeth. Incrível como ela se parece com a mãe quando mais nova. O mesmo brilho insano no olhar, coisa de gente doida! Só espero que ela não tenha o mesmo gênio que a mãe, porque... Coitado do Percy. Não, espera... Eles terminaram, não? Espera... Eles namoraram? Ah, sei lá! Tinham fotos de outro garoto também. Ele tinha os cabelos claros, assim como Annabeth. Seus olhos cinzentos como os de Athena, mas ele tinha os traços do Frederick.

– Pois então, não há nada de impedindo – disse Athena abrindo a porta e apontando para a mesma.

– Tá, eu vou embora! – respondi e me encaminhei para porta. – nem sei mesmo porque vim, não queria!

Saí. Antes que eu tivesse decido as escadas de entrada, Athena fechou a porta. Mal-educada!

POV Athena

Mas esse barbas de alga é mesmo um abusado. Primeiro vem até a minha casa sem ser convidado. Depois invade sem eu permitir. E ainda me insulta! Argh!

Depois de bisbilhotar o que não era da conta dele, o coloquei pra fora. Mas que atrevimento desse ser abominável. Eu o odeio com todas as minhas forças!

A campainha tocou mais uma vez. Annabeth esquecera a chave? Fui até a porta e a abri. Para a minha infelicidade haviam dois olhos verdes me olhando com um sorriso malicioso nos lábios.

– Ah, mas eu mereço... – antes que eu pudesse terminar, Poseidon me beijou. Um beijo um tanto selvagem. Com o pé ele fechou a porta e continuou a me beijar. Suas mãos corriam pelas minhas costas, coisa que me dava arrepios. O que?! – o que você pensa que está fazendo? – perguntei ao sermos interrompidos pela falta de ar, mas ainda continuávamos abraçados.

– Beijando a pessoa mais chata que eu conheço – ele respondeu.

– Só para esclarecer – respondi. – e mais uma coisa, chata é a senhora sua mãe.

Poseidon deu um sorriso e voltou a me beijar. Ele me jogou no sofá, mas outra vez fomos interrompidos, desta vez pelo seu celular. Poseidon tateou o bolso, finalmente achou o celular e o atendeu.

– Alô – disse ele impaciente, e ainda me beijando. Não sei sobre o que estavam falando, mas ele não parecia prestar muita atenção. – Ah... Eu não sei, acho que ele disse algo sobre uma cafeteria perto de casa, só isso? Tchau!

Ele então voltou a sua atenção pra mim, mas acho que ainda não havia desligado o celular.

– Espera... Quem é? – ele perguntou, colocando o celular no ouvido outra vez, mas acho que a pessoa do outro lado já havia desligado – Ah, tanto faz!

POV Percy

Ainda sentado em uma mesa isolada de uma cafeteria quase vazia em West Village, eu brincava com palitos. A garota loira fechou o livro que estava lendo, e levantou-se. Ela não era nem de longe parecida com a Annabeth. Era uma magricela, parecia um graveto ambulante. Ou talvez eu que estivesse exagerando um pouco.

Fiquei ali olhando para a senhora com as duas crianças, eles brincavam e riam. Distraí-me vendo-os se divertindo como uma família feliz. Depois de ficar ali por alguns minutos, resolvi ir embora, mas quando estava prestes a me levantar uma moça alta e esguia parou na minha frente. Ele tinha cabelos longos e escuros. Seus olhos eram de um castanho quase dourado. Eu diria que ela está na casa dos quarenta e tantos. Reconheci o resto que tanto fizera mim e ao meu pai sofrer.

– Percy? – ela estendeu a mão para tocar em meu rosto, mas eu a afastei.

– O que você quer aqui? Por que você voltou? – perguntei, quase gritando. – você acha que o que fez foi pouco?

– Percy, tente me escutar...

– Não!Nada que você diga vai fazer diferença agora. Quando você nos deixou nem sequer pensou em mim, Tyson, ou até mesmo no meu pai. Como você acha que ele ficou? Arrasado! Some!Some daqui o quanto antes!

– Percy, meu filho, me desculpa se eu te fiz sofrer, a você e o seu irmão. Mas eu precisava ir, eu não podia continuar com o seu pai. Não do jeito que vivíamos!

– Ah, e então você pensou: “Divorcio é coisa do passado, agora a moda é ir embora sem dar satisfações alguma, deixá-los sem amparo.” Claro, eu entendo! – ironizei.

Já sentia a mesma raiva que sentira quando descobri sobre o Lee. A vontade que eu tinha era de... De...

Levantei-me abruptamente, quase derrubando a cadeira.

– Só mais uma coisa – disse virando-me em sua direção. – não ouse chegar perto do Tyson, nem em sonho, ou então eu não respondo por mim.

Saí da cafeteria. Senti o meu sangue correr fervendo pelas minhas veias. Eu estava com raiva, muito raiva, mas, além disso, havia alguma outra coisa, eu só não conseguia descobri o que era. Alguma outra coisa dentro de mim que eu não conseguia discernir.

Escutei uma voz ao longe me chamar, mas reconheci, mas não era uma que me deixava feliz. Aquele traidor, miserável, ser que eu preferia nunca mais ver na minha frente, e com a raiva de eu estava o mataria, então tentei me controlar.

– Percy! Por favor, espera! – gritou Lee. Não parei e nem sequer olhei para trás. – Percy, nós somos quase como irmãos, você não pode simplesmente jogar toda a nossa amizade fora.

– Amizade? Você não tem limites, e eu aturava isso porque como você disse éramos quase como irmão, mas agora, agora você exagerou Lee!

– Eu... Eu sei que errei, e agora me dou conta disso. Se eu pudesse voltar no tempo, teria feito tudo diferente. Eu percebi a garota incrível que é a Annabeth, e o tamanho da idiotice que fiz e por isso que estou de procurando, além claro, do fato de que eu gostaria de voltar a falar com o meu melhor amigo!

Lee falou tudo em um fôlego só. Então agora percebeu a garota incrível que ela é? Depois de tanto a magoar, mas foi então que uma coisa me passou: “é por isso que estou te procurando” O que ele quis dizer com isso? Ele não quer...? Ah, não!

– Eu preciso da sua ajuda, Percy. Eu sei que você pode me ajudar. Eu... Gostaria de me desculpar com a Annabeth, gostaria de... De fazer as coisas certes dessa vez. Quando nós tivemos o... “Lance”, não posso mentir e dizer que não senti nada por ele. A garota mexeu um pouco comigo, e... Eu quero reparar o que fiz e... Acho que percebi agora que sinto algo por ela, e preciso da sua ajuda!

– O que? – por um momento aquelas palavras rodaram em minha mente. Eu não conseguia acreditar que depois de tudo que o canalha fez, ainda tem coragem de vir me procurar para ajudá-lo a se reaproximar da Annabeth. – Você acha mesmo que depois do que fez ela vai te perdoar? Ela não quer nem olhar na sua cara, Lee! E com razão seu idiota! Você acha mesmo que eu ainda te ajudaria com isso? O que te fez pensar isso?

– Percy, eu sei que você está com raiva de mim, e com razão, mas eu sei porquê você me ajudaria. Eu estou falando a verdade, eu realmente acho que posso fazê-la feliz, reparar o erro - ele dizia tudo muito rápido, mas eu conseguia entender. Eu estava com raiva dele, e sei que magoou a Annabeth, mas, ele me parecia estar sendo sincero. – e você sabe que ela é louca por mim. Você gosta dela, não é? Então quer vê-la feliz, e você sabe que a Annie ainda gosta de mim. Já ouviu aquele ditado: “se ama deixe livre” – Lee parou e parecia pensar em algo. Não posso negar que o que ele dizia fazia sentido. Apesar de tudo que o imbecil fez, ainda gosta dele. É ele que ela quer. Eu já fiz de tudo para que ela o esquecesse, que me desse uma chance de provar que nem todos são idiotas, mas mesmo assim, de nada adiantou. – ou algo parecido.

– Eu... Eu vou te ajudar! – disse por fim. Não seria fácil. – Você está certo. Apesar de ser um canalha, imbecil, idiota, não prestar, bem, ainda assim ela é ingênua o suficiente para gostar de você. Mas é como dizem, não podemos mandar no nosso coração. Eu vou te ajudar!