Foi apenas assim que eu me dei conta de que estava parada no meio da arena olhando para a espada. Virei-me para onde vinha a voz e encontrei Percy Jackson esperando minha resposta.

- Ah, vou. Não agora, daqui a pouco, mais pode treinar a vontade.

- Claire Scott, não é? – perguntou me fitando com curiosidade.

- Eu mesma.

- Ouvi falar muito de você – diz.

- Imagino o que você deve ter ouvido. A garota que apoiava Cronos? A garota que podia ter evitado? Ou a que deixou todos morrerem? – falei rapidamente com raiva.

- Na verdade, que você era a namorada de Ethan e que Luke tinha te ensinado a lutar como ele.

        Engoli em seco diante das palavras “namorada de Ethan”. Quem dera ainda fosse isso. Que ele ainda estivesse vivo. Ao meu lado. Ele e Luke. As duas pessoas das quais eu nunca poderia me esquecer disso e nem queria.

- É verdade – digo ficando de costas para que ele não possa ver a minha expressão.

- Eu sinto muito. Pelos dois – posso notar o tom arrependido em voz.

- Todos sentem – respondi ironicamente.

- Eu falo sério. Eu estava lá com eles quando tudo aconteceu.

- Eu sei. Ouvi você contando sobre isso.

- Então você me ouviu falando que no final os dois tinham nos ajudado. Eles foram heróis.

- Foram heróis. Foram, no passado. Pois agora eles estão mortos e eu aqui pareço a única que se lembra disso e que os vê assim.

- Eu os vejo assim. Annabeth também e muitos outros campistas.

- Se os vissem assim nunca teriam me julgado. Nunca teriam os julgado.

- Claire? – Tom chamou.

        Rapidamente ele veio para o meu lado. Tommas não gostava muito de Percy pelo fato de que ele havia derrotado o seu pai há alguns anos.

- Algum problema? – ele perguntou.

- Nenhum – respondi olhando para o filho de Poseidon – Apenas estava conversando com ele.

- Claire, espero que entenda o que eu falei para você e não ache que eu fui o culpado por isso.

- Eu entendi – respondi simplesmente.

- E desculpe qualquer coisa – murmurou.

- Tudo bem – dei de ombros e fiquei de costas para ele e Tom enquanto ia até um daqueles bonecos que colocavam aqui para treinarmos.

        Comecei a treinar com o boneco – que era meio inútil já que ele ficava parado – sentindo os olhos dos dois em mim. Tentando ignorar isso, continuei desferindo os golpes que eu sabia no boneco inútil, mas logo me irritei.

        Impaciência era um dos meus defeitos. Além de impaciente, eu era intolerante e qualquer coisa me irritava. Odiava pessoas apaixonadas pelo simples motivo de me lembrar dele.

        Ethan tinha sido a melhor parte da minha vida. Lembro-me das coisas que ele me prometera que iria acontecer quando o exercito de Cronos derrotassem os deuses. Ele disse que seriamos felizes. Eu e ele. Ethan disse que cuidaria de mim em todos os momentos, mas agora era mais uma promessa na qual ele não poderia mais cumprir.

        Era inevitável não pensar nele e acho que no fundo era bom. Não totalmente, mas as lembranças, o acampamento, tudo me lembrava de que havia sido real e que também tinha acabado.

        Fazia algum tempo que eu estava sentada na praia onde víamos os fogos do dia de Quatro de Julho, fora dessa data a praia não era muito visitada. Apenas pelos casais em busca de algum momento a sós, mas hoje estava vazio e eu fiquei feliz por isso.

        Adorava ficar sozinha. Eu era uma pessoa solitária desde o começo. O fato de ter vindo para cá apenas com seis anos me fazia conhecer quase todos do acampamento, mas não ter amizade. As únicas pessoas que suportaram as minhas patadas, reclamações, lembranças e lágrimas haviam sido Tommas e Lily.

        Acho que Tommas se identificava comigo em certos aspectos. Ele também havia perdido a mãe, mas morava com a avó até ela morrer a dois anos, desde então fica direto aqui no acampamento comigo.

        Já Lily era completamente diferente de nós dois. Era filha de Hécate, linda, querida, simpática, extrovertida e meiga. Por que era nossa amiga? Não faço ideia. Ela ficava no acampamento apenas nas férias, pois morava com seu pai em Nova Iorque e ele evitava ficar longe dela e ela dele.

        E por incrível que pareça eu tinha mais um amigo. Nico, filho de Hades. Eu e ele éramos meio excluídos e por isso ficamos amigos. Nico havia vindo falar comigo depois da batalha no Olimpo para passar um recado de Ethan, ele havia me abraçado – mesmo sem jeito – quando eu comecei a chorar diante das palavras do filho de Nêmesis. Ele havia me ajudado em um momento de fraqueza e desde então eu sabia que podia contar com ele.

        O problema é que eu não gosto de me apegar as pessoas. Eu me apeguei a Luke e ao Ethan e os perdi. Desde então eu ainda tenho essas cicatrizes, que muitos não veem, mas que poucos sabem que existem. Eu sabia que já tinha me apegado a Tom, Lily e Nico, mas era inevitável, os três haviam me ajudado no momento em que eu estava mais frágil. Nem quando minha mãe morreu eu fiquei tão triste como naquele dia.

        Era por isso que eu evitava me aproximar de todos. Apesar de ser julgada pela maioria, tinha aqueles que tentaram falar comigo. Os irmãos Stoll foram uns que tentaram, mas eu os afastei. Afastei todos que tentaram se aproximar de mim. Por medo.

        Muitos achavam que eu culpava Percy por isso. Ele próprio achava isso pelo que eu pude entender na nossa conversa de mais cedo, mas eu não o culpava pelo que havia acontecido. A culpa havia sido toda dos deuses e de Cronos, claro. Os deuses por nos ignorarem completamente e Cronos por ter levado meu “irmão” e meu namorado nessa maldita guerra.

        A ultima lembrança que eu tenho de Luke não é boa. Ele havia me mandado uma mensagem. Dito que era para eu fugir e ir vê-lo perto da fronteira, dizia que tinha algo importante a me dizer. E de fato tinha.

“ - Luke, você não pode fazer isso! – exclamei horrorizada depois que ele tinha me contado do seu plano com Cronos.

- É o único jeito, Claire. Se você nos ajudar ficara tudo tão fácil – disse segurando uma de minhas mãos.

- Eu não posso, Luke. Algo não está certo nisso que você me conta. Não faça isso, por favor – implorei com os olhos marejados.

- Agora é tarde, não posso desistir.

- Luke... – choraminguei e ele sorriu triste.

- Peça para que tudo ocorra bem, maninha. Quando vencermos eu volto aqui para te buscar, eu e o Ethan – secou as lágrimas que escorriam de meus olhos e me abraçou.” 

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