Ser filha de Zeus não é algo de que eu me orgulhe. Não apenas pelo fato de odiar meu pai. Sim, eu odeio meu próprio pai. Assim como o resto de minha “família”. A única coisa que eles tinham me trazido de bom tinha sido Ethan, Luke, Lily e Tommas meus melhores amigos.

Eu tinha dezesseis anos. Há dez “morava” aqui no Acampamento Meio-Sangue. Com seis anos eu havia sido trazida para cá. Via semideus atrás de semideus saindo pela fronteira do acampamento em missões e apenas alguns voltavam vivos.

Conheci vários semideuses, todos tinham uma visão diferente sobre os deuses e consequentemente sobre o acampamento, mas com quem eu mais me identifiquei foi com Luke e Ethan. Eles me entendiam. Sabiam como era ser ignorado por seus pais.

Zeus havia levado anos até me proclamar, tanto que fui apenas proclamada aos quinze anos, ou seja, há apenas alguns meses atrás, mas Luke sabia de quem eu era filha e me contou isso.

Luke me contou dos seus planos com Cronos e eu o entendia, mesmo não querendo o ajudar, o que de fato o magoou, mas ele sabia o porquê de tudo. Não queria que Ethan tivesse aceitado ajuda-los. Ele deveria ter ficado aqui no acampamento, junto comigo e agora estaria vivo.

O filho de Hermes foi meu primeiro amigo aqui, ele cuidava de mim quando eu era pequena demais para ficar em segurança no chalé de Hermes, impedia que os mais velhos me roubassem ou fizessem brincadeiras sem graça comigo. Ele era meu irmão mais velho e tinha me ensinado a lutar como ele e me dito que um dia eu seria tão boa ou melhor que ele, era apenas por isso que eu não tinha decidido fugir ainda. Aqui eu tinha lembranças deles.

Ethan era tímido, sempre com seu olhar calculista observando tudo e todos, mas nunca mentia e sabia quando alguém fazia isso. Acho que era por ser filho de Nêmesis. Não suportava injustiça, foi por isso que se juntou a Luke e Cronos.

Mas ele foi o único garoto que eu amei. E ele também me amou, antes de Cronos mata-lo, como conta o filho de Poseidon, Percy. Ele havia prometido que ajudaria o exercito de Cronos a tomar o Olimpo e depois ficaríamos bem, melhor do que bem, juntos.

Muitos aqui não acreditam que eu não ajudei Cronos, o que é verdade. Eu não ajudei Cronos, nem eles. Apenas fiquei no Acampamento junto com Argos enquanto eles morriam. Enquanto ele morria. Eu era julgada até hoje por isso, menos por Tommas e Lily, que sabiam a verdade.

É difícil sair do chalé e encontrar todos os olhares acusatórios que eles dirigem a mim, mas eles não entendem. Não foram eles que perderam a mãe, o irmão - mesmo que Luke não fosse de meu irmão de sangue - e o garoto que amava. No fundo eu sabia que Cronos é quem havia sido culpado por isso, por tudo isso, mas não mudava a ideia que eu tinha dos deuses.

Thalia, minha meia-irmã também sabia sobre isso, afinal, ela também amava Luke, o amava do mesmo jeito que eu amo o Ethan, ela me entende, mas me condena por não ter ido ajuda-los. Diz que assim eu poderia ter evitado a morte de Ethan. Tento não me sentir culpada sempre que me lembro disso, será que o que ela diz é verdade? Que eu podia mesmo ter evitado a morte dele?

– Hey – Tom disse entrando no chalé.

– Oi – digo apenas.

– Você não vai treinar hoje?

– Acabei de acordar – admiti e ele riu.

– E não foi lá no chalé ainda por quê?

Tommas Anderson era filho de Ares. Lindo com seus cabelos ruivos e olhos castanhos. Ele era alto e musculoso. Tinha, com toda a certeza, mais de 1,85 com apenas dezesseis anos. Além disso, era extremamente orgulhoso, com personalidade forte e quando entrava em uma batalha nunca era para perder. Não tinha muita paciência com as pessoas e isso me incluía, mas ele ainda era o idiota do meu melhor amigo.

– Estou com sono – reclamei.

– Você sempre está com sono. Deveria ser filha de Morfeu.

– Você pode sair do chalé para que eu possa me arrumar em paz?

– Grossa como sempre – disse antes de sair do chalé.

Levantei-me sem nenhuma vontade. Antes não havia nenhuma cama ou beliche no quarto, então Thalia dormia em um saco de dormir, mas depois que eu fui proclamada colocaram um beliche para que ficássemos mais confortáveis.

Escolhi uma roupa para ir treinar e consequentemente passar o dia. Peguei um camisete colorido, um short jeans um pouco curto, meu vans preto. Verifiquei se o colar que Ethan havia me dado estava certo, já que o pingente sempre saia do lugar, mas dessa vez estava certo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e terminei minha higiene matinal. Depois eu saí do chalé e encontrei Tom escorado em uma das paredes.

– Demorou – ele reclamou impaciente.

– Me esperou por que quis – devolvi enquanto revirava os olhos.

Por mais estranho que se pareça, nossa amizade era exatamente assim. Não tinha aquelas coisas de: “eu amo você, meu melhor amigo para sempre”, não, era apenas um filho de Ares e uma filha de Zeus frustrada e com raiva de todos.

Ele foi se sentar junto aos irmãos e eu me sentei sozinha na mesa de Zeus, como sempre. Nem Thalia quando estava aqui se sentava comigo, já que agora ela era uma caçadora.

Pedi um suco de laranja e bacon com ovos, meu favorito. Comi rapidamente e fui para o lugar onde eu e Tommas treinávamos juntos, peguei minha espada, um presente de Ethan, um dos presentes dele. Na lâmina de bronze celestial estava escrito εκδίκηση e a tradução era automática. Revenge. Vingança.

Com o tempo, aprendi a ignorar os olhares raivosos, de ódio e rancor que os campistas lançavam para mim. Eles me culpavam por não tê-los ajudado e ainda por cima ter apoiado Luke e Ethan, mesmo não totalmente. Eles também me culpavam por terem perdido irmãos, amigos e alguns até namorados, como se isso fosse culpa minha. Como se eu também não tivesse perdido alguém eu amava. Como se não tivesse perdidos eles.

– Você vai treinar? – alguém me perguntou.

Foi apenas assim que eu me dei conta de que estava parada no meio da arena olhando para a espada. Virei-me para onde vinha a voz e encontrei Percy Jackson esperando minha resposta.