A Cúmplice. escrita por Larinha


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Aí está, desculpe a demora, eu não estou conseguindo formar parágrafos direito. Qualquer coisa, é só falar. Beijos, bom capítulo.



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Após a estranha conversa, Ana dormira. Mas o tempo passou extremamente devagar depois de ter acordado. Ela poderia jurar que os ponteiros do relógio simplesmente não andavam, e ainda riam da cara dela que sempre bufava cada vez que olhava o relógio e via que ainda era cedo. Felizmente, no momento em que ela parou para ler um livro que ela tinha abandonado, o tempo resolvera colaborar. Na verdade, passou mais rápido do que ela esperava. Quando se deu conta, já eram seis horas da noite e ela tinha de se arrumar para a fogueira. Mas não demorou muito para procurar algo para vestir, decidiu por um simples short preto e uma blusa cinza, obviamente de manga longa, e um all star branco.

O único problema foi achar o celular, não estava em absolutamente lugar nenhum. Olhou na mala, nas gavetas, nas bolsas penduradas no cabide, nos bolsos das calças, praticamente tudo; mas ele não estava em nenhum desses lugares. Se havia algo que não tinha orgulho de ser, era possessiva e viciada. O celular era uma parte dela, se fosse para qualquer lugar sem ele, ficaria fora de seu estado normal. – Se é que Ana possuía um estado normal.

Poderia ser resquício de um trauma devido ao que aconteceu da última vez que estivera sem um celular.

Flashback

“Ela tinha dezesseis, na época em que ainda morava com seu pai, e estava na rua às três da manhã. Voltava de uma festa e não havia levado o celular porque tinha descarregado; um grande erro. Assim que passara perto da biblioteca municipal, avistou na esquina um grupo de garotos que provavelmente não estavam fazendo algo de bom. Ela desviou para a outra calçada, mas eles perceberam. Foram atrás dela e lhe pediram o celular, era um assalto. Quando ela disse que não estava com ele, o mais velho a agarrou por trás enquanto o líder arrancou-lhe a bolsa da mão. Após revirá-la como doido, e não achar nenhum pertence de valor, apenas começou a rir. – O que assustou a garota em um nível muito alto. – Ele pôs a bolsa de volta no pulso dela e começou a olhá-la de baixo para cima.

— E então? O que tiraremos dela? – O moreno a frente de Ana tinha um sorriso diabólico no rosto. – Não é de se jogar fora... Quem vai primeiro?

Não era a forma mais óbvia de dizer que ela seria estuprada, mas entendeu ali mesmo. E de fato seria, se alguém com um capuz não tivesse surgido na mesma hora em que o loiro do grupo ia começar. Ele chegou por de trás e deu um soco no líder, que após se recuperar, tentara dar uma rasteira para trás e acabou caindo. E após ter cuidado de todos, incluindo o mais forte que a segurava desde o primeiro momento, ele apenas deu um sorriso e foi embora. Ela não sabia quem ele era por causa do capuz que o tapava, e nem o porquê dele tê-la salvado, mas sabia que devia sua vida a ele. E também sabia que se estivesse com o celular, talvez aquilo não tivesse acontecido.”

Ana se pegou relembrando daquele traumático fato, mas voltou à realidade quando seu alarme no abajur tocou, avisando que horas eram. Não aceitou o fato do celular ter sumido até dar sete e meia e ouvir alguém batendo na porta do quarto. Ao ver o relógio, soltou um suspiro e cedeu. Pegou sua bolsa, onde estava tudo, menos o celular, e foi para a porta. Ao abri-la, deu de cara com Connor.

— Oi! – Ele disse com uma grande excitação na voz. – Eu pensei que poderia te acompanhar até a fogueira...

“Será que ele virou um stalker?” – Pensou Ana. Até porque, aquilo começara a ficar cansativo. Desde o término do namoro ele não largava do pé dela, e isso a irritava profundamente. Ela ignorou o fato dele estar vestido sofisticadamente, apenas para uma visita normal à fogueira, e lhe lançou um olhar um tanto amargo.

— E em que lugar, planeta, ou galáxia você achou que isso seria possível? – Ana se virou e fechou a porta do quarto. Ao mesmo tempo em que trancava a fechadura, pode ouvir que havia mais uma pessoa chegando perto dos dois. Ela se virou e pôs o dedo indicador no peito dele enquanto via Lucas parar ao lado. – Connor, meu querido, vamos agir como adultos. Nós jamais daremos certo, contente-se com isso.

— Eu disse que ela não ia aceitar amigo. – Disse Lucas batendo, um pouco forte demais, no ombro de Connor. E então ele puxou Ana pelo braço. – Já que seu convite falhou, eu levo a senhorita simpatia aqui.

Lucas Wilson estava elegante como sempre. O pai dele, que estranhamente é o arquiinimigo do pai de Ana por ser o ex de Roberta, era um tanto excêntrico. O filho acabou herdando aquilo também. Ele era do primeiro casamento de John Wilson, a mãe morrera quando tinha apenas sete anos, e foi por isso que ele e Ana se tornaram amigos. Partilhavam os mesmos sentimentos, desejos e situações. E dividiam Victória com paz.

O caminho até a fogueira não fora nada silencioso, havia pessoas gritando por todo lado. Nos corredores, alguns alunos estavam sentados nos bancos e olhando para o relógio esperando o toque de recolher, que só tocaria dali a duas horas. Quando chegaram ao lado de fora do edifício, puderam avistar a luz do fogo de longe. Eles deram uma caminhada silenciosa até o final da trilha que levava ao quase “acampamento”.

Havia poucas pessoas lá, felizmente o encontro era somente para quem a Ana de fato conhecia. A única coisa que a deixou um pouco apreensiva foi quando procurava um lugar para sentar em volta da fogueira e vira Jéssica pondo um marshmellow na boca de Ethan em uma demonstração de amor e fofura. Teve pena da garota que provavelmente levaria um fora na mesma noite pelo homem que achava que seria seu futuro marido.

Quase todos conversavam sobre o que tinham feito durante as férias, o que resolveram da vida e os estágios que não deram certo. Mas Ana, por algum motivo, não se sentia confortável naquele meio. Talvez fosse porque a cada vez que olhava para o seu braço, se lembrava do que todos lhe disseram há exato três meses atrás. – Tirou o pensamento de sua mente no mesmo momento que Victória se levantou e deu um grito pro alto, significava que ela ia dizer alguma coisa de importante, que na verdade não tinha importância nenhuma.

Ela deu a volta na fogueira inteira duas vezes, saltitante e praticamente dançando no ritmo do fogo, que balançava pra o lado e para o outro totalmente hipnotizante. Ela passava a mão no ombro de cada um para poder fazê-los ficarem quietos. Parou quando chegou a Lucas pela segunda vez, sentou a seu lado e esperou o silêncio que ainda não havia dominado o ambiente.

— Vocês estão se perguntando o porquê de terem sido chamados aqui. – Era para ser uma pergunta, mas como Victória falou acabou soando como se fosse uma afirmação. – Não há motivo concreto, eu só queria reuni-los e promover novas amizades. Por isso, vou começar a trocá-los de lugar.

Victória se levantou e começou a puxar pessoas e fazê-las sentarem em outra parte da grama espessa. – A amizade delas não fazia sentido, eram completamente opostas. Victória, na verdade, era o raio de sol na vida de Ana. Um ponto positivo a qual ela podia se agarrar em meio seus pensamentos depressivos e negros. A loira era simplesmente uma máquina de alegrias, era um escape para morena.

Bem, alegria na maioria das vezes. Mas não naquela. Entre todas as pessoas presentes, ela puxou exatamente quem Ana não queria sentar do lado. Victória nem a deixou reclamar ou dar um motivo justo, apenas a empurrou e a fez sentar ao lado do namorado de sua irmã.

— O destino está tentando nos manter unidos. – Disse com um sorriso no rosto e olhando para ela.

— É por isso que minha citação favorita é “Desconfie do destino.” – Ele deu uma risada curta. Ana começou a seguir a amiga, que ainda trocava pessoas de lugares, com os olhos – Eu tento ser simpática, divertida, ou descontraída, mas não consigo. Esse é o trabalho de Victória...

— De fato ela é um raio de sol. – Disse ele. – Mas esse é o seu jeito, sua personalidade, não se sinta pior por isso. A única coisa ruim em você é que se mete nos assuntos dos outros.

— Foi você quem abriu a boca. – Disse Ana rispidamente. Ele estava bem aproximado dela, sentado com as pernas como um índio e as mãos em cima dos joelhos. – Não pedi nada, só fiz um comentário. Talvez devesse pensar duas vezes antes de desabafar com uma garota qualquer.

Vestia uma blusa preta de gola V e uma calça jeans escura que Ana não conseguia definir a cor, porque sua vista ainda não havia se acostumado com a escuridão da noite, nem mesmo com a fogueira acesa a nem mesmo um metro de distância. Ele estendeu as mãos em direção a fogueira com o olha fixo às chamas. Os dois ficaram em silêncio por um minuto, ouvindo as conversas paralelas ao lado. Às vezes mudavam de posição, às vezes encaravam o vazio. Mas ambos não se atreviam a lançar o olhar ao redor por algum motivo.

Tudo estava bem até Ana quebrar o “silêncio”:

— Se você soubesse o que eles sabem, não tentaria se aproximar. – Foi quase um sussurro. Apenas quase. Felizmente, só ele ouviu. – Tenho quase certeza que todos aqui acham que sou desequilibrada ou suicida. Os únicos que não pensam assim são Lucas e seu irmão.

— Você me repreendeu, mas está desabafando com um cara qualquer. – Disse ele, com um sorriso triste nos olhos. – Nenhum de nós dois está no clima de fogueira e risadas, não é mesmo? Vou falar com Jéssica e já volto.

As palavras dele não foram tão surpreendentes, pois era verdade. Ela tinha mais facilidade de desabafar com um “estranho” do que com o próprio psiquiatra.

Ela percebeu que Ethan puxara Jéssica para longe, e a menina agarrou seu braço com força e o seguiu. Foram para longe do resto do grupo, um pouco perto do edifício, mas não longe o suficiente para Ana não entender o que diziam. – Ethan dissera que eles precisavam conversar. E foi naquela hora que o coração de Ana começou a bater mais rápido, até o momento em que ela achou que iria parar. Pensou em todas as palavras que poderiam ser ditas à garota naquele momento, e em qual estado ela ficaria. Pensou se caso ela não tivesse conhecido Ethan, eles poderiam até se casar.

Teriam uma casa grande e confortável, com filhos bonitinhos e perfeitos. Ele teria um emprego fixo naquela faculdade, e ela seria uma renomada empresária e todas achariam que eles eram a família ideal. Mas ambos seriam infelizes, não é? Um relacionamento de fachada, assim como era o de seus pais antigamente. – Era engraçado como Ana pensava que aquele pudesse ter sido o motivo do suicídio de sua mãe, que ela não gostava da vida que tinha. Talvez fosse porque Elizabeth sempre ficava impressionada com quando alguma amiga vinha e lhe mostrava um pingente que ganhara do marido, e ela quase não sabia mais como era a sensação de ganhar alguma coisa. Talvez fosse porque Elliot chegava tarde demais em casa, e ela suspeitava que ele estivesse tendo um caso. Havia várias hipóteses que uma garota de nove anos jamais poderia suspeitar. Mas agora ela não poderia saber, sua mãe morrera a longos anos atrás.

As palavras que vieram a seguir cortaram os devaneios de Ana, e fizeram seu corpo tremer. – Virou-se em direção do casal e viu Jéssica com o dedo indicador pressionando o bolso da blusa de Ethan, as palavras saíam cuspidas de sua boca e não faziam efeito nenhum no homem a sua frente. Mesmo quando as lágrimas começaram a sair dos olhos da menina loira.

Após dizer tudo que pensava, Jéssica apenas se retirou. Ninguém a seguiu, pois no mesmo momento, Victória disse que ela precisava de espaço. Parece que a irmã já sabia de tudo o que acontecia ali, e simplesmente não se espantava.

Ethan sentou ao lado de Ana novamente, dessa vez chamando Victória para perto dos dois. A pergunta a seguir deixou a garota de blusa longa extremamente confusa, e ao mesmo tempo aliviada por outra pessoa pensar como ela.

— Satisfeitas? – Disse Ele. Victória assentiu, mas Ana não fez nada. – Acabou. Finalmente acabou.

— Pensei que não tivesse mais coragem. Fiz essa fogueira só para você acabar com essa palhaçada, apanharia se não tivesse feito.

— Então... Você já sabia? – Disse Ana. – Você pensava que os dois estavam em relacionamento forçado? Concordava com ele?

Ambos ficaram quietos por um minuto, até ela responder.

— Jéssica precisa aprender que não existe príncipe encantado. Muito menos um professor frustrado que só pensa nele mesmo e a engana como se fosse otária.

— Eu jamais a enganei, Victória. – O tom de voz dele mudara rapidamente, muito mais grosso. – Ela estava enganando a si mesma. Com licença, não estou me sentido bem.

— Eu muito menos. – Ana se levantou primeiro, e saiu em disparada em direção ao dormitório. Mesmo não tendo culpa de nada, aquela conversa estava lhe dando náuseas, e a falta de preocupação de sua amiga com os sentimentos da irmã lhe davam enxaqueca.


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Notas finais do capítulo

Em breve as coisas irão esquentar, aguardem.