A Garota E O Fantasma escrita por LiKaHua


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Esse conto marcou um dos piores momentos do ano passado na minha vida, ainda é difícil lê-lo. A saudade tornou-se branda, mas a dor ainda persiste sob ela, escondida e por mais que eu tente todos os dias ser feliz, sempre faltará nessa felicidade o sorriso e a implicância do David, o meu melhor e único amigo.



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Já passava da meia noite. O silêncio tomava cada cômodo escuro, seus passos eram incertos, duvidosos de querer ou não continuar, aos poucos chegou ao corredor que alcançava a sala foi quando seus olhos se depararam com a figura de preto sentada no sofá, uma aura iluminada rodeava-o, sentiu um tremor passar pelo seu corpo, quando seus sentidos a deixaram, e ela caiu.

Sundown City - Abril de 2012 - Antes

Alissa Dowees entrou pelo corredor da escola, de cara já sendo seguida pelos olhares curiosos dos demais alunos, os coturnos negros pisavam com força sobre o piso de pedra da Tworeland, a calça jeans e a blusa preta do Cannibal Corpse davam-lhe de certa forma mais segurança para ignorar os cochichos insistentes conforme passava, os olhos castanhos, acentuados pelo lápis e sombra preta, fitaram com irritação o garoto parado em frente ao seu armário, que não fez menção de que pretendesse ficar. Os lábios rubros por um batom vinho só se arquearam em um delicado sorriso quando fitaram Deyv, se aproximando pelo corredor. Ele a fitava com carinho, o sorriso em seus lábios, geralmente tão raro, dava-lhe um ar até mais feminino e menos impactante. Ele adorava vê-la sorrir, era uma das poucas coisas que lhe causavam real felicidade. Com cabelos negros compridos, uma roupa completamente preta e uma grossa corrente pendurada nas hastes da calça de brim, Deyv se aproximou de Alissa dando-lhe um abraço fraterno:

– Oi menina! – Sorriu bagunçando-lhe o cabelo.

– Oi chatinho! – Ela respondeu, dando uma tapa na barriga dele.

– Ainda vamos pra praça depois da aula?

– Na quinta aula! – Corrigiu-o.

– Matando aula de novo? – Esboçou um sorriso irônico.

– E eu que culpa tenho se as aulas são um saco e, além do mais, um saco sem importância?! – Esnobou Alissa.

– Sei, você vive dizendo isso, mas nunca tirou menos que nove! – Zombou.

– Só em matemática! – Lembrou-o.

– Isso pode ser superado pelo seu talento com idiomas e sua habilidade em escrita que apenas perde para minha pessoa! – Gabou-se Deyv, inflado de orgulho.

– Encontrei com a modéstia quando vinha pra escola e ela te mandou um beijo! – Caçoou Alissa dando uma risada.

– Aula de que agora?

– Literatura Inglesa, e você?

– Biologia.

– Então vai lá e vê se ainda restou algum neurônio funcionando ai!

– Olha quem fala! Maluca!

Bagunçando o cabelo loiro e ondulado de Alissa, Deyv saiu corredor à fora, rindo. Alissa conhecera Deyv pouco depois que mudaram de turno escolar, os dois empataram no quesito bullying e estilo musical. Ambos eram os únicos amigos um do outro na escola, e andavam sempre juntos. Alissa tinha em Deyv um protetor, um amigo, uma companhia para qualquer momento. Fechando o armário com certa violência ela caminhou até a sala enquanto arrumava os cabelos bagunçados com uma das mãos.

Entrando na sala da antipática professora de Literatura, Alissa, ainda mais antipática que ela, andou até seu lugar e se sentou levantando o olhar para ela com indiferença, a maioria dos alunos não tirava os olhos dela, alguns curiosos, outros, com medo. Por causa do estilo, algumas pessoas acreditavam que Alissa e Deyv tinham pactos demoníacos e andavam em cemitérios, uma visão além de errônea, preconceituosa. Alissa já não se importava mais com isso, por um lado preferia o medo das pessoas aos seus sorrisos sempre tão falsos, ela não confiava em ninguém. Ninguém além de Deyv.

Na quinta aula, os dois se encontraram para fazer o que geralmente faziam para se divertir, ir até a praça da cidade passar o tempo e ver o pôr do sol da grama macia. Lá, eles se encontraram com Karen, a irmã de Alissa e ainda mais apegada a Deyv. Karen era como a irmãzinha caçula que Deyv nunca teve, ele a adorava. Ao vê-lo, a garota de 16 anos correu ao seu encontro abraçando o grandalhão de quase dois metros de altura.

– E ai cabeludo safado! – Brincou.

– Fala, pirralha! – Riu Deyv, rodopiando a garota.

– Que bom que chegaram, pensei que não vinham mais! – Reclamou Karen.

– A sua babá aqui já estava preocupada com você! – Zombou Deyv, apontando para Alissa.

Alissa mostrou a língua para ele que começou a rir. Os três se sentaram na grama e Deyv tirou de dentro do bolso o celular, colocando-o para tocar uma das bandas que os três mais gostavam. Sirenia. Mais especificamente, a música In a Maninca. Alissa era dotada de uma voz lírica notável e Deyv de quatro tipos de guturais diferentes; Karen era aprendiz de Deyv a fazer gutural, embora fosse muito tímida. Os três gostavam de passar algum tempo cantando, Alissa ficava com as vozes líricas e Deyv e Karen com as vozes masculinas de gutural.

Deyv era um garoto bom, trabalhava para sustentar a filha de alguns meses e a esposa, Danna, de 18 anos. Mesmo assim, por trás dessa bondade havia uma vida difícil que ele e o irmão, Dennys, enfrentavam. O "pai". Que era não apenas alcoólatra, mas sem os mínimos escrúpulos. Ele havia sumido há alguns meses e deixado Deyv e a família em paz. A mãe de Deyv era doméstica e trabalhava na casa de uma família rica. Os pais de Alissa e Karen eram de classe média também. A mãe, Tamytha, era merendeira e o pai, Jordan, autônomo.

Ainda na noite daquele dia, haveria um festival na escola onde a banda de um amigo de Deyv e Alissa se apresentaria, mas apenas Karen foi. Alissa decidiu ficar em casa, pois tinha um trabalho para terminar e queria ver Justin, seu namorado, ainda àquela noite. Karen foi com Suzan, uma de suas melhores amigas. Elas e Deyv se divertiram ao som das bandas de rock que tocaram no pequeno evento da cidade nem saberiam eles que aquela seria sua última noite juntos.

Nas semanas que seguiram Deyv não apareceu na escola, preocupada com o sumiço do melhor amigo, Alissa tentou ligar para ele sem sucesso. Logo um dos amigos do rock lhe manda uma mensagem:

"Cabelo morreu mesmo"

Cabelo era o apelido de Deyv, por conta das longas madeixas negras que tinha. Mais tarde, Alissa e Karen se depararam com a verdade, Deyv estava morto. Alissa não conseguia sentir o chão sob seus pés, seu coração parecia perdido em algum lugar longínquo, preso no mais tenebroso inferno, as lágrimas que percorriam seu rosto eram como ácido, cada batida do seu coração era como uma punhalada no peito. Karen passou mal, Alissa se fez de forte para ajudar a irmã, tentou acalmá-la de todas as maneiras possíveis, não entendia o que aconteceu, como era possível? Por quê?

A noite fora tortuosa para as irmãs, mas até que Karen conseguiu dormir depois que a irmã fez-lhe um chá forte. Alissa, no entanto, estava inquieta, não conseguia dormir, o choro sufocado parecia estrangular-lhe, o corpo inteiro estava mole como se estivesse entorpecida, não importava em quantas posições deitasse, a dor que sentia só aumentava gradativamente. Foi nesse momento que ela ouviu, era um barulho de panelas vindo da cozinha, provavelmente o gato entrara de novo, pensou, levantando-se e calçando o chinelo para verificar. Ao chegar à cozinha não viu nada diferente, tudo permanecia igual, quando sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha e virou-se bruscamente, mas também não havia nada. Já passava da meia noite. O silêncio tomava cada cômodo escuro, seus passos eram incertos, duvidosos de querer ou não continuar, aos poucos chegou ao corredor que alcançava a sala foi quando seus olhos se depararam com a figura de preto sentada no sofá, uma aura iluminada rodeava-o, como se emanasse dele.

– Ah, Deyv é você! – Sussurrou com alívio, para não acordar os pais. - Quer parar de fazer barulho? Estamos tentando dormir!

Falou normalmente, como costumava falar com o amigo, feliz em vê-lo como se fosse um dia comum de aula. Foi quando relembrou o acontecido àquele dia, Deyv estava morto! Ela o olhou novamente, ele sorria para ela como sempre, um brilho estranho estava emanando dele, sentiu um tremor passar pelo seu corpo, seus olhos arregalados fitavam a figura à sua frente, não podia ser... nesse momento, seus sentidos a deixaram, e ela caiu.


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