Desligamento escrita por Lena Rico, Ana Valentina


Capítulo 22
Capítulo 21




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Durante toda a semana seguinte eu tive pesadelos, mas sempre mantendo o mesmo padrão, via meu pai indo embora, minha mãe chorando atrás da porta fechada do quarto dela, chorando em silêncio para que eu não escutasse. Ál dizendo que nunca mais voltaria suas palavras me golpeando fazendo-me acordar de tanta dor e ficar chorando até dormir novamente e acordar ouvindo-o avisar… “Laura fez isso com você, afaste-se dela”.

Às vezes tinha pesadelos mais fortes que me faziam acordar gritando, preocupada minha mãe vinha ver se eu estava bem, me abraçava e acabava dormindo comigo, ambas espremidas na minha cama de solteiro.

Minha mãe saia para trabalhar e eu ia para o colégio, onde vestia minha máscara e fingia estar tudo bem, inclusive para a Jac, com quem eu trocava poucas palavras no intervalo de uma aula e outra. Laura sorria para mim e dizia que eu era sua melhor amiga, que seríamos assim para sempre, via o jeito que Jac olhava para ela, de forma nada amigável, como se ela soubesse algo sobre Laura e guardasse só para si.

Ao voltar para casa, eu entrava no Facebook para conversar com Laura, estávamos muito focadas em nosso plano e conversávamos sobre ele por algum tempo, até que Danita vinha me chamar para ver filmes e brincar com ela.

A noite jantava mesmo sem ter apetite e usava a máscara com minha família também, ia para o quarto onde adormecia chorando baixinho para minha mãe não me escutar e acordava de madrugada com algum sonho maluco. Estava presa na mesma rotina, parecia um ciclo que nunca teria fim, minha energia estava se esgotando, não tinha cabeça para nada, me sentia presa em um labirinto, correndo desesperada a fim de encontrar a saída que parecia não existir. E quando já estava completamente frustrada pelo tédio e agonia da espera, percebi que já era quinta-feira, um dia antes de nosso plano virar realidade, um dia antes de por todo o esquema em ação. E isso foi o suficiente para minha força retornar, para sentir-me feliz e esperançosa.

Na véspera não tive pesadelo algum, eu nem ao menos dormi, estava ansiosa demais para isso. Passei a noite toda pensando em possíveis falhas que o plano pudesse apresentar e o como deveria agir em tais situações, mas nenhuma das quais imaginei se aproximaram da falha real.

Tudo começara perfeitamente bem. Me arrumei para a aula e dessa vez fui em companhia de Jac, já que Laura não apareceu para irmos juntas, tal como o combinado ela devia estar preparando algo legal para sua mãe. Jac o caminho todo questionou o porque Laura não ia comigo naquele dia, tentei enrolá-la supondo que ela devia ter faltado para fazer qualquer programa fútil e Jac fingiu acreditar alguns metros antes de chegar ao colégio. Pelo visto ela estava torcendo para que eu e Laura tivéssemos brigado.

A aula passou vagarosamente, só conseguia imaginar como Laura estaria se saindo e como seria quando eu entrasse em ação. Mesmo tendo evitado sua presença quando ela veio para o Euphly, tenho de admitir que sua ausência agora faz falta. Na primeira aula pensei que eu e Jac pudéssemos por a conversa em dia, mas acontece que ela parecia muito rancorosa em relação a Laura e sempre dava um jeito de coloca-la nos assuntos.

— Você não é mais legal como quando te conheci… – disse Jaqueline entre uma pequena discussão e outra no meio da aula de biologia.

— Há, tá! Você que se tornou tão rancorosa. Vive criticando a coitada da Laura que você nem ao menos se deu a chance de conhecê-la. Tá certo que eu também não queria andar com ela no começo, mas eu pude ver que ela não é má como imaginei.

— Hum… sim. Então eu que sou ruim? – questionou Jac agressivamente.

— Não foi isso o que eu disse. Não coloque palavras na minha boca! – desde que nos conhecíamos era a primeira vez que ela estava começando a me irritar. Já havíamos tido algumas briguinhas inocentes por causa de animes e jogos, mas nada do tipo.

— Tudo bem. Então o que você quis dizer? Hã?

— Eu apenas disse que você foge da Laura e critica-a como se ela fosse má influência. As vezes chego a pensar que você sabe de algo muito ruim e que por alguma razão está escondendo de mim… – disse olhando seriamente em seus olhos.

— Olha eu não sei de nada. A única coisa que eu sei, é que você está aos poucos virando uma discípula da Laura e que mais cedo ou mais tarde vai se arrepender! – Jac disse com os olhos fixos no meus, porém trêmulos.

— Quer saber? Não sei por que estou discutindo com você, ainda mais hoje. – respondi em tom firme, tentando esconder minha irritação. Ser chamada de discípula da Laura, certamente não era nenhum elogio, ainda mais sabendo como ela era alguém tão superficial e sem conteúdo. Mesmo andando com ela e admirando sua aparência que demonstrava total autocontrole, certamente não pretendia ser como ela, apenas aparência.

Me ajeitei na cadeira, abri um caderno qualquer para fingir que estava estudando, virei-me para trás e coloquei a mão sobre o braço de Roberto, que só agora notei como era forte e de um tom magnificamente dourado. Ele ergueu os olhos do caderno, aparentemente confuso e então perguntei:

— Você poderia me dizer o que é pra fazer? – perguntei com um sorrisinho no canto dos lábios, tentando parecer simpática.

— Sim. É na página trinta e cinco do livro, os exercícios no fim da página. – ele respondeu retribuindo o sorriso.

Me voltei para minha carteira, peguei o livro da mochila e abri na página informada. Olhei para as questões por alguns segundos sem ao menos ler, Jac havia me irritado e eu precisava me acalmar. Chamei a professora e pedi que me explicasse o que era pra fazer.

— Olha só?! O biquinho igual o da Laura. Está agindo igual a ela, tenho certeza que nem leu as questões antes de chamar a Sra. Anderson. – disse Jac dando risadinhas maldosas e olhando para mim.

Respirei fundo e me lembrei de alguns exercícios de meditação que minha professora havia ensinado, decidi meditar antes que perdesse a paciência com Jac. Fechei os olhos e respirei e inspirei três vezes, abri os olhos novamente e prossegui a contagem até me esquecer de tudo, inclusive da contagem, por alguns minutos não pensei em absolutamente nada, até ouvir ecoar o sinal alertando que finalmente as aulas haviam acabado.

Não costumo ser do tipo que não gosta de estudar, mas ultimamente ir para o colégio está se tornando algo robótico e a atitude da Jac não ajudou muito. Sai sozinha com a mochila no ombro esquerdo direto para casa, onde fiquei aguardando até o momento certo para ir encontrar Laura e Margo.


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