Bobby viu a moça e seu pai saírem abraçados de onde estavam sentados com olhar paralisados quando a ambulância colocou o corpo da mulher em um saco preto. Alfredo não agüentou e desatou a chorar compulsivamente, e teve que ser medicado com calmantes. Lana viu o enfermeiro negro aplicar a injeção em seu pai e logo em seguida Alfredo fechou os olhos.

                - Seu pai vai ficar bem moça. E você? Precisa de alguma coisa? – Lana olhou-o e sacudiu negativamente a cabeça.

                O enfermeiro olhou-a compadecido, a garota parecia muito doente e perder a mãe desta forma devia estar sendo difícil. Mas Lana não era a garota inocente que ele achava.

                Tomada por uma sensação de poder abriu o livro e começou a escrever, já havia se cansado dos irmãos Winchesters e resolveu acabar com a vida deles.

                - “Vocês são como baratas, difíceis de matar. Sophia tinha razão, só não entendo sua obsessão pelo jovem Sam.”

                Os olhos de Lana brilharam de raiva ao lembrar do rapaz, não deixaria ele se interpor entre Sophia e ela. E com a perversidade em sua alma deu vida a uma das criaturas mais temidas pelas almas, o Cérbero.

                Bobby viu o enfermeiro deixar a residência, e não perdeu tempo e questionou o jovem.

                - Então, como eles estão? – Bobby sentiu-se um idiota em não ter algo mais criativo a dizer.

                - Administrei um calmante para o Sr. Alfredo, e sua filha está com ele. Coitadinha, deve estar colocando toda sua dor em seu diário e...- o enfermeiro foi interrompido bruscamente.

                - Diário? Ela está escrevendo? – o coração de Bobby acelerou e sua atitude assustou o rapaz.

                - Sim, sim senhor. É comum quando se vive com um trauma como este, expressar sua dor em palavras. – Bobby cortou o assunto, não tinha muito tempo a perder com essa ladainha.

                - Sim...sim. Claro, sofrimento alheio você quer dizer. – o caçador passou a mão pelos cabelos.

                - Como senhor? – o rapaz não estava entendendo a preocupação daquele velho agente.

                - Você trabalhou bem meu rapaz. Agora vá. Ainda tenho que analisar o local da tragédia. Colocarei você em meu relatório como um ótimo socorrista e um futuro psicólogo. – Bobby pegou seu caderninho de anotações e deu uns tapinhas no ombro do jovem que sorria com o elogio.

                - Obrigado Senhor.

                - Certo rapaz, agora vá e me deixe terminar meu serviço. – o enfermeiro saiu satisfeito.

                - Como quiser senhor.

                Bobby entrou na casa após todos saírem, a porta estava destrancada. Certamente a garota estava muito concentrada em suas maldades. O velho caçador não teria outra escolha se a moça não lhe entregasse o maldito livro. Ele não gostaria de machucar uma menina, mas, não teria alternativa caso fosse sua última possibilidade de salvar Dean e Sam daquele mundo repleto de perigo.

                Lana estava absorta em seus pensamentos, escrevia com rapidez e com enorme satisfação quando ela era tele transportada para aquele mundo podendo manipular as pessoas como quisesse. Bobby entrou e engatilhou a sua arma.

                - Por favor, moça, coloque esse livro no chão, ou serei obrigado a atirar em você. Agora! – Lana assustou-se com a ameaça do caçador.

                - Eu...só estou escrevendo. Você é o cara da floresta não é? – Lana havia reconhecido o caçador.

                - Sim, estou aqui para ajudá-la. Esse livro é amaldiçoado. Quando você escreve pessoas inocentes se machucam. Você não é assassina, está apenas sendo manipulado por um ser maligno. Irei te ajudar a...- o caçador foi interrompido pelo som da voz da moça.

                - Maligno? Sophia não é um ser maligno, ela me ama e só quer o meu bem, a minha segurança. Não preciso de sua ajuda.

                - E para isso ela mata pessoas? Assim como sua mãe? Te garanto menina, essa não é a sua babá.

                - Você não entende. Nunca entenderá. Mamãe não agüentou e acabou morrendo. O coração das pessoas pára sabia? – a garota estava irredutível, pelo menos havia parado de escrever.

                - Lana, não é? Sua mãe teve os olhos queimados até os ossos. Já vi como acontece isso e te garanto você não vai gostar de saber. – Bobby tentava clarear a mente da menina.

                - Mentira!– a jovem levantou-se sem se importar com a arma apontada em sua direção.

                - Calminha aí garota. Seu pai não vai gostar de acordar e ver a filha caída ao chão com um buraco na testa. – o caçador não estava brincando.

                Lana soltou uma gargalhada, Bobby sentiu um arrepio pela sua espinha. A jovem estava transtornada, o livro já havia dominado sua alma inocente há muito tempo. Salvação para ela seria ilusão.

                - Não se preocupe. Ele também não me fará falta, tenho um capítulo especial para ele. Qual o seu nome velho?

                - Não sou burro mocinha. Você não escreverá nada sobre mim neste livro, sinto muita pena de ver uma jovem repleta de vida pela frente estar fadada a morte na flor da idade e com sua alma dilacerada.

                - Você é pai dos Winchester? Sabia que o mais jovem está para ser dilacerado por um Cérbero e o cara loiro está com suas horas contadas? Admito que eles sejam fortes e destemidos, ninguém nunca encarou minhas criaturas tão bravamente quanto eles. E vê-los um salvando o outro, se importando um com o outro, me deixa excitada de emoção. São minhas marionetes. Sophia vai ficar brava comigo, pois ela queria se apossar do corpo do mais jovem, disse que ele tem um poder que não pode ser desperdiçado, mas encontraremos outro corpo para ela habitar.

                - Como você é ingênua garota. Primeiramente achei que você escrevia sem saber o que estava acontecendo, pensei que o livro estava te enfeitiçando. Mas agora vejo o quanto você é ruim. O quanto você é IDIOTA! – Bobby engatilhou a espingarda quando percebeu que a moça queria voltar a escrever. Ela apenas parou para olhá-lo com desprezo.

                - Porque não puxa o gatilho velho? Tem medo? Sou mais forte que todos vocês caçadores imundos. Queriam caçar a Sophia? Tirá-la de mim? Ela me contou tudo. Vocês é que são uns IDIOTAS! O jovem Sam não escapará de Cérbero! – Lana voltou a olhar para o livro.

                - Toque neste livro e não saberá o que foi que a atingiu, estou avisando garota! – a voz de Bobby tornara-se tão ameaçadora, que a jovem sentiu a veracidade daquelas palavras proferidas.

                - Ok, e você quer o quê? Quer o livro? – ela sorriu tão perversamente que Bobby podia jurar que naquele corpo não havia nenhum resquício de bondade.

                - Escreva! – Lana arregalou os olhos em um misto de incredulidade.

                - O quê? Quer que eu escreva? – ela sentiu-se perdida e ao mesmo tempo perturbada pelo o olhar firme e decisivo do homem a sua frente.

                - Os faça voltarem! Agora! – Bobby aproximou-se lentamente.

                Naquele momento um vento forte entrou pela janela, o abajur que estava na mesinha caiu ao chão e as lâmpadas começaram a piscar e em seguida a estourarem uma a uma.

                - Sophia está vindo, seu velho! – Lana sorria maquiavelicamente.

                - Você está enganada menina e saberá agora no que você se meteu. – Lana encarou o caçador e o sorriso de antes começou a desmanchar-se de seus lábios.