Bobby conhecia muito bem aqueles sinais e preparou-se para usar o que tinha escondido em seu casaco e no momento certo arriscaria um tudo ou nada. Sophia apareceu no quarto, não parecia tão serena como antes.

- Sophia! – Lana correu de encontro à mulher em busca de proteção contra o caçador.

- Vejo que temos um visitante ilustre aqui. – Sophia sorriu olhando para Bobby.

- Agradeço pelo “ilustre”, mas acho que seu tempo está acabando a julgar pela sua pele, não é? – Bobby continuava a falar de modo a tentar conseguir seu intuito.

- Ah, você se refere a isto? – Sophia apontou para o próprio corpo com desdém. – É apenas uma casca, logo, logo estarei no corpo destinado a mim. E falando nisso querida Lana, você me desobedeceu, estou decepcionado com você.

- Sophy eu só queria acabar com tudo e ficarmos juntas, só nós duas, para sempre lembra? – Lana aproximou-se carinhosamente da índia.

- Sua menina tola e ingênua, não consegue nem ao menos fazer o que te peço. E vamos parar com essa encenação melosa, estou ficando farto disso tudo. – A voz da tão amada Sophia estava diferente e assustadora. Lana deu um passo para trás.

- Co..como assim? Porque está falando desta forma? Eu...eu não estou te entendendo, Soph....

Um forte empurrão foi o que a moça sentiu quando seu corpo chocou-se contra a parede fazendo todo o ar lhe faltar, ficando desnorteada e apavorada com que estava acontecendo. O velho caçador apenas assistia o desenrolar da história pronto a agir a qualquer momento. O livro que Lana carregava com tanto apego caiu-lhe das mãos a poucos passos de onde Bobby estava o coração do caçador estava acelerado, tinha que manter a calma se quisesse salvar a pele de seus meninos daquele mundo surreal.

- Menina estúpida, pensou que era apenas ceifar as vidas dos seus indesejáveis “amigos” e tudo ficaria bem? Agradeço de certa forma a você e ao apego de sua babá por você. Mas lá no fundo você sabia que não era a sua amada Sophia, não é? – a voz tenebrosa do homem no corpo da mulher era assustadora.

- Não...não. Você me enganou esse tempo todo! Como você está usando o corpo de Sophia? – Lana tentava levantar-se após o impacto.

- A índia estava desesperada, seus pais a mandaram embora com uma mão na frente e outra atrás. Como eu disse antes só bastava ela me dizer SIM e ela estaria com você. E ela estava aqui algumas vezes, mas sou mais forte e logo ela soube disso. Mas meu receptáculo não está agüentando tanto poder, por isso quero que Dean Winchester morra e que Sam seja forçado a dizer Sim para mim em troca da vida do irmão. Mas você queria destruir meu verdadeiro receptáculo, sua idiota mimada.

- Quem é você? – dizia a moça soluçando.

- O nome dele é Lúcifer, garota. Você deveria saber que não se brinca com a vida dos outros sem ter uma conseqüência. – Bobby dizia melancolicamente.

- Não preciso de sua piedade, velho! – Lana estava mais uma vez tomada pelo ódio.

- Por isso escolhi você minha jovem, essa sua raiva do mundo me alimenta. Eu precisava de alguém para escrever neste livro. A pele de muitos demônios está nele e o seu poder é mais forte se escrito por uma virgem com gana de poder. E você foi perfeita. Mas estou cansado desta brincadeira e meu tempo está acabando, por isso pegue o maldito livro e escreva a morte do idiota do Dean Winchester.

- Se eu fizer isso, tenho a sua palavra que posso continuar com o livro? – Bobby não pôde acreditar no que ouvia apesar de saber toda a verdade a moça estava querendo um acordo com lúcifer.

- Ora, ora, ora. Afinal das contas você não vai me desapontar. Gostei de você. Certo, pode ficar com o livro. Você fará parte dele – um sorriso maquiavélico brotou de seus lábios ressecados.

- Você está louca menina? Não vê que isso terá conseqüências terríveis para você e a todos aqueles que estiverem ao seu redor? Sua mãe, ele matou sua mãe! – Bobby berrava tentando trazer a moça á realidade e vendo que não conseguiria nada com ela, ele caminhava lentamente até o livro que estava caído ao chão.

- Não adianta velho, ela é minha mais nova alma corrompida. A mãe dela viu minha verdadeira forma e não agüentou. É claro que deixei, já que odeio histeria, isso me irrita.

Bobby sentiu que as coisas estavam fugindo do seu controle, não esperava que Lana fosse tão burra a ponto de compactuar com Lúcifer. Por mais que Bobby conhecia os humanos, menos os entendia.

xxxxxxxxxx

Dean corria esbaforido pela mata para tentar ajudar o irmão, ele sabia que se aquele cão enorme pegasse Sam não haveria chance de sobrevivência. Um bisturi era sua única arma naquele momento quando viu a valise do médico aberta ao chão. O loiro podia ouvir os urros da criatura, sentiu seu coração acelerar mais forte quando se deparou atrás da criatura que se preparava para devorar Sam caído no chão. O Winchester mais velho não mediu conseqüências de seus futuros atos e com uma agilidade incrível subiu no galho de uma enorme figueira, Sam que arrastava o corpo para trás com as pernas não pôde crer em que seus olhos lhe revelavam, tentou evitar a maluquice de Dean.

- Cara, não faça isso! – mas era tarde demais. Dean estava montado na terrível criatura golpeando com toda sua força as investidas das três cabeças que tentavam agarrar suas pernas.

- Hey, aqui seu cão maldito! – Sam tentou fazer com que um deles lhe olhasse para dar tempo ao irmão.

- Sam! Caí fora! Ache um lugar seguro. Vou sair daqui, não estou agüentando. – Dean estava banhado em sangue. Sam não sabia se era só sangue da criatura ou o irmão estava ferido e essa dúvida o dilacerava.

- Eu...- o jovem estava titubeando e com um grito enérgico e autoritário do irmão mais velho, Sam correu para uma árvore centenária.

Dean continuava sua luta, mas estava cansado. Tinha que achar uma solução e rápido ou iria virar comida de cachorro novamente.

- Desta vez não serei ração de nenhum cão do inferno, seu maldito! – o loiro ficou em pé nas costas largas da criatura, mas foi apenas questão de segundos, com todo aquele sangue estava muito escorregadio e o Winchester desequilibrou-se caindo de costas no solo.

- Droga, Dean! Levanta daí, Dean! – Sam viu aterrorizado o irmão não se mexer e a criatura ainda se agitava ferozmente com o intuito de tirar o bisturi que o loiro deixou enterrado em seu dorso.

Sam não perdeu tempo deslizou nos galhos depois pelo tronco da árvore ignorando a dor e os arranhões pelo esforço de manter-se firme para não cair e quebrar o pescoço tinha que manter-se inteiro se quisesse salvar o cabeça dura do irmão.

- Dean...Dean...vamos cara. Levanta homem! – Sam percebendo que seu irmão não voltava a si começou a arrastá-lo para longe das garras da besta.

A criatura estava muito machucada o que a irritou ainda mais. Urros assustadores ecoavam pela floresta. Sam apertou-se junto ao irmão em meio às folhas secas e torcia que o vento estivesse do lado contrário para não denunciar o cheiro de ambos a fera. Para alívio do moreno o cão saiu em disparada como se estivesse correndo para salvar a própria pele. Sam voltou seu olhar para o irmão, uma mancha de sangue chamou sua atenção. O moreno colocou a mão na nuca do loiro e sentiu seus dedos umedecerem com o liquido quente e vermelho.

- Droga Dean...- Sam rasgou um pedaço de sua camisa e enfaixou a cabeça do irmão. Dean parecia uma criança desprotegida e que necessitava de cuidados do irmão.

Sam ouviu as folhas se mexerem, preparou-se para combater qualquer criatura que tentasse atacá-los.

- Vocês estão salvos! – Sam respirou fundo ao ver o médico que se aproximava e com seu instinto já começou a sentir o pulso do loiro e analisar o corte na cabeça. – Ele está bem aparentemente sua pulsação está normal, mas devemos limpar a ferida e fazer um curativo decente para não infeccionar. E a besta de três cabeças? – Gustavo olhava assustado para os lados.

- Fugiu. Esse maluco do meu irmão pulou em cima dele e desferiu vários golpes na criatura com seu bisturi – Sam continuava a falar, mas deixando sua atenção em alerta para qualquer barulho. Neste momento o moreno sentiu os músculos do loiro se retesar em suas coxas, já que Dean estava apoiado nas pernas do caçula. – Dean?

- Sammy...ai..que aconteceu? – Dean tentou levantar-se e não conseguiu sozinho.

- Calma meu jovem – disse o médico pousando sua mão com certa energia no peito do loiro.

- É seu cabeça dura! Fique quieto. Você pensou que era o quê? O Hércules? – Sam agora gritava.

- Calma irmãozinho! Seus gritos parecem bombas explodindo em minha cabeça – o loiro sorriu escondendo a dor que estava sentindo.

- Desculpa. Temos que achar um local para passarmos a noite – Sam analisava o local.

- Sam...a profecia da Banshee...é hoje...eu estou ferrado – Dean realmente estava nervoso com a possibilidade de morrer novamente.

- Eu sei. Droga! Vamos vou ajudar você a levantar-se. Isso bem devagar, calma respire fundo e apóie-se em mim.

O loiro sentiu o mundo girando sob seus pés e teve apoio do irmão para voltar a si e readquirir o equilíbrio novamente. Os três caminhavam lentamente e bem a frente dos três a criatura reapareceu com ferocidade. Estavam perdidos.

Não havia como correr ou escapar.

Para espanto dos três a criatura estava pegando fogo e correndo loucamente pela mata. Algo não estava certo, não era só a criatura a floresta inteira estava em chamas e ao longe viram uma espécie de luz muito intensa se formando, era um portal.

- Sam olha aquilo! – Dean ergueu os braços indicando o que via para o irmão caçula.

- É um portal! É a saída deste inferno! – Sam gritava, pois os sons dos animais mitológicos ecoavam pela floresta inteira.

Os três começaram a andar o mais rápido possível em direção do portal que se abrira de alguma forma.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Lana gritou em desespero ao ver o velho caçador colocar fogo no livro que agora estava em chamas, a moça tentou salvar o livro, porém assustou-se ao se aproximar.

- Deus! – ela gritou ao ouvir murmúrios e lamentações que saíam do livro, bem como, a silhueta de um rosto disforme e o cheiro de carne queimada invadindo o quarto.

Uma luz forte formou-se no instante em que vários espíritos deixavam o livro, formando uma espécie de portal. Lúcifer que ocupava o corpo da índia precisava trocar de corpo, sua casca temporária estava se deteriorando rapidamente. Usando seus poderes atirou o caçador contra a parede, fazendo com que os pertences de Bobby fossem atirados aos cantos do quarto de Lana. Bobby apenas sorriu, havia conseguido ficar fora dos olhares dos dois enquanto com uma rapidez incrível atirou contra o livro a garrafa com óleo sagrado. Ele havia feito mais duas daquelas garrafas, queria jogar contra lúcifer. Sabia que não iria matá-lo, mas ganharia tempo o suficiente para sair com seus garotos e procurarem proteção. Infelizmente não ocorreu como ele deseja. Teve uma escolha, uma chance e não desperdiçou o momento que lhe era favorável. Mas agora sentia a pressão do poder de lúcifer em seus ossos.

Lana estava louca implorava ao ser das trevas que acabasse com o caçador que destruíra seu livro e seus sonhos de ser a “justiceira” dos pecadores que a importunassem. Lúcifer andou vagarosamente até a sua presa.

- Seu velho enxerido. Deveria ficar em seu lugar morrendo de cirrose. E, no entanto ousa me desafiar? – lentamente seguia sua trajetória, queria desfrutar o medo do caçador, mas para sua frustração só encontrou um sorriso desafiador.

- Não é a toa que Deus te mandou lá para baixo. Um anjo caído. E ainda não aprendeu nada com a lição imposta a você. – Bobby percebeu o olhar de fúria de lúcifer.

- Acabe com ele Sophia! – gritou a garota ajoelhada no chão com lágrimas escorrendo pela sua face.

Lana não percebeu que ao seu redor vários espíritos esperavam uma oportunidade de atacá-la, lúcifer apenas sorriu para a criatura sem valor em prantos. Voltou seu olhar para o livro que agora formava um monte de carne humana e foi criando uma forma de um cão demoníaco. Bobby de imediato entendeu o que estava para acontecer.

- Fuja garota! Agora! Corra e tente salvar sua vida. – o caçador tentava sair daquela pressão que o poder de lúcifer exercia sobre ele.

- Eu, fugir? Sou a escolhida seu velho, sei que terei proteção. – Lana soltou uma gargalhada.

- Tenho pena de você, tão jovem e burra. Que um dia você possa encontrar a paz. – Bobby estremeceu ao ouvir o urro do animal que se formava.

A moça sentiu uma enorme sombra atrás de si, virou-se de imediato assustada com a gosma que caiu sobre sua cabeça. Todo seu corpo emitiu o sinal de perigo um enorme cão estava olhando-a e no lugar de seus olhos havia um profundo abismo negro. Lana tentou buscar proteção ao lado de lúcifer esse apenas sorriu.

- Você disse que me protegeria! Tire esse animal nojento de perto de mim! – a garota exigia energicamente.

- Cale essa maldita boca, garota estúpida! Você queria ficar com o livro, e além do mais eu prometi que você faria parte dele. Estou cumprindo o trato. – a garota sentiu seu corpo sendo puxado violentamente, seus gritos de dor e terror ecoavam pela casa. O cão dilacerava as pernas da moça que esperneava a cada ataque das presas e garras da fera. Seu corpo ensangüentado rastejava até lúcifer, seus olhos expressavam agora o quanto havia sido boba em acreditar em finais felizes. Lana enxergou os espíritos que riam dela e ouvia agora as inúmeras gargalhadas.

- Ah! Ah! Ah! Estamos esperando por você doce Lana. – disse um deles deliciando-se com o horror estampado na face da moça.

- Por favor...piedade. – continuava arrastando-se até lúcifer. O cão então pulou em cima dela e levantou-a abocanhando sua garganta.

Bobby viu os olhos dela nos dele e nos seguintes instantes a fera devorou-a e sumiu como por encanto. Lúcifer sorriu novamente e voltou a se concentrar totalmente no caçador indefeso, era hora de acabar com o velho.

- Sua hora chegou homem! Deixarei você ver minha verdadeira forma e se conseguir ficar vivo o deixarei sair daqui. Mas isso não irá acontecer. – Bobby fechou os olhos quando sentiu um clarão aproximando-se.

- Hey Lúcifer! – aquela voz chamando por ele o espantou.

Lúcifer virou-se imediatamente e sentiu no mesmo instante seu corpo sendo queimado por aquele óleo sagrado. Sam pegou uma segunda garrafa e atirou contra o ser das trevas novamente.

- Malditos! Vocês pagarão por essa afronta! – e desapareceu.

Bobby caiu da parede, Sam correu para ajudá-lo.

- Você está bem Bobby? – Sam segurava-o pelo braço.

- Moleques! Nunca estive melhor. Como é bom vê-los. – e ergueu a sobrancelha vendo o médico segurando Dean.

- Antes que você pergunte. Eu estou bem. Relaxa. – Dean dizia sorrindo.

Um estouro chamou a atenção dos quatro amigos, a casa estava em chamas. Correram até a porta que estava trancada. Bobby correu até o quarto novamente enquanto Sam e o doutor tentavam derrubar a porta.

- Bobby! Aonde você vai? Está tudo em chamas, volte aqui! – gritava Dean sem conseguir manter-se em pé sozinho.

Bobby não perdeu tempo respondendo, correu até a cama do pai de Lana. Parte do forro estava desabando e por pouco não atingiu Alfredo. O velho caçador preparou-se para carregá-lo até a saída, foi então que o caçador entendeu que era tarde demais para o homem que estava com os olhos queimados. Obra de Lúcifer provavelmente.

- Droga! – o caçador saiu em disparada.

Sam quebrou a janela enorme de vidro, com o oxigênio o fogo alastrou-se rapidamente.

- Todos para fora, agora! – Sam pegou o irmão e todos saíram antes da enorme explosão.

Os quatro ficaram caídos no chão com o violento impacto. Mas estavam a salvos, pelo menos por enquanto.

A ambulância e os bombeiros chegaram em poucos minutos e o médico levantou-se dando as devidas orientações aos seus conhecidos. Dean foi colocado em uma maca e já estava recebendo os primeiros cuidados médicos. Sam e Bobby entraram na ambulância, pois também passariam por uma avaliação médica devido à inalação de fumaça. Gustavo acenou para eles e agradeceu. Jamais esqueceria sua louca aventura. Jamais contaria a alguém o que lhe sucedera, nem ele creditava no que havia acontecido e muito menos entendido. Mas estava feliz por ter uma segunda chance de viver e não perderia essa oportunidade.

- Hey Bobby! Quero agradecer por ter nos salvado. Acho que você tem muitas coisas a nos contar. – Dean tentava manter-se acordado, estava muito cansado.

- É Bobby, estaríamos naquele mundo das bestas e a essa altura mortos. Obrigado, mesmo.

- Mais tarde contarei a vocês dois todos os fatos ocorridos, agora quero colocar essa minha carcaça nesta maca e dormir. Meus ossos parecem terem sido esmagados. Vocês também salvaram minha pele, estamos quites. Mas teremos que manter os olhos abertos. Lúcifer voltará furioso e você Sam terá que ter força a nunca dizer SIM a este monstro.

- Quanto a isso Bobby. Pode ficar despreocupado. – Sam sorriu com confiança.

Dean apenas deixou a cabeça repousar, estava preocupado com a segurança do irmão. Mas jamais desistiria dele e sabia que Sam também não desistiria e retribuiu o sorriso entregando-se a momentânea segurança.