Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 9
Cap. 9: Crepúsculo.


Notas iniciais do capítulo

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--- Você quer morrer?


  Ele olhava pela janela as plantas sob o sol fraquíssimo que iluminava aquela bela manhã.


  Peter estava com os cabelos amarrados, um ar cansado, os olhos com olheiras. Ele suspirou pesadamente.

--- Tud- Fui interrompida.


--- Eu sabia por sua cara de ódio totalmente perceptiva que você estava mentindo sobre estar convencida de que sua vida ainda valeria a pena. – Eu semicerrei meus olhos querendo bater nele por ele parecer presunçoso sobre as minhas atitudes.


  Silêncio infernal se fez por uns cinco segundos.


  A minha vergonha só não era maior que a minha raiva. Mas no fundo eu sentia nojo de mim por desistir tão facilmente. Mas não importava mais. Porque para mim havia acabado. A doença era a chance que o destino me dera de acabar com todo o sofrimento. No fundo eu, em meu espírito cético estava crente de que estava já morta há tempos.


--- Uma pessoa no seu estado, - Continuou ele, de súbito - está sujeita e não falar a verdade... –Nessa hora, ele me olhou com um olhar sofrido, como se soubesse exatamente pelo que eu estava passando. - Eu analisei cada movimento seu naquela noite. Por isso voltei a sua casa com a desculpa de ter deixado algo muito importante em seu quarto. –Peter andou pela sala, sentando-se na cama, perto de mim. - Já estava tarde, então eu precisava de uma desculpa. Quando percebi que seu quarto estava trancado, eu logo arrombei a porta, pois deduzia o que estava acontecendo ali. –Ele me olhou, suspirando.


--- Charllottie... –Ele fechou os olhos e franziu as sobrancelhas.


  Um vento gelado me correu o rosto.


--- Não corrompa sua alma por causa de uma coisa dessas...


--- Uma co- Fui novamente interrompida.


  Em outra ocasião eu apenas subiria o tom de voz e falaria grossamente que ele não era ninguém para dar opiniões sobre mim e o meu jeito de viver. Mas seu rosto e sua voz eram imponentes e petrificantes.


--- Eu ainda não acabei... – Olhou-me, circunspecto.


Não que eu não tivesse vontade de interceptá-lo. Mas Peter tinha consigo um olhar amistoso que me deixava respeitosamente calada.


--- Você... Você ama Joe...

  Aqui algo dentro de mim deu um solavanco. Foi como se eu voltasse no tempo numa vez em que fiz uma cirurgia no pé e sentia e ouvia a linha costurando meu couro. As pontadas, o barulho, a gastura. Tudo em um miserável segundo.


--- O que mais quer é vê-lo. Antes que a sua doença possa...


  Engoli em seco.


--- Não, não, não fale. – Ele disse a me ver abrir a boca. –Se for isso, eu e Sam o procuraremos e traremos de volta pra você. Eu prometo. Eu prometo até por ela.  Mas, em troca disso, eu pedirei algo.


--- Eu sabia. Todos sempre querem algo em troca. –Disse, apática.


--- Não quero que se suicide.


--- Que absurdo... –Revirei os olhos – mas eu aceito. –Disse.   --- Então, vamos embora daqui. –Disse ele, levantando-se, rapidamente.   --- O quê?! Você está ficando doido?   --- Você está num hospício não está querendo fazer loucuras? Não merece estar aqui.     Sorri, impressionada comigo mesma.   --- Onde está minha mãe?
--- Foi embora há algum tempo. Ela não suportava ficar neste lugar. –Peter disse olhando-me como se eu fosse a culpada de tudo. E era verdade.   --- Você quase teve uma hemorragia. O que fez foi realmente insano, perigoso e você foi até o hospital, até te trazerem para cá. Mas precisamos sair daqui, pois nós dois sabemos bem que você não é louca. Está ocupando espaço.   --- Peter, talvez seja melhor para mim ficar.   --- Não o é. Eu sei que você quer muito morrer aqui. Mas eu vou levar você embora. Depois sua mãe acerta as coisas com o pessoal daqui.   --- Mas...   --- Seja razoável.   --- Tudo bem.
  Peter me ajudou a tirar a camisa de força que se enrolava em mim e nós andamos até a recepção passando por pessoas dos mais variados tipos.     Enquanto isso me lembrava de meu pai. Naquele hospital. Esse era o motivo de eu odiar hospitais. Na última vez que o havia visto, vi minha mãe correndo até a sala onde ele estava e os médicos fechando a porta na minha cara, quando tentei entrar.     Não tive últimas palavras com ele. Não vi seu olhar antes de ele ser completamente sem vida. Sem alma para ter um olhar.     Olhava a porta com um nome no alto. “UTI”. Era uma criança de cabelos compridos e vestidinho de menina rica olhando assustadoramente para aquela porta. Não tinha medo daquele lugar. Eu odiava que me proibissem de ver meu pai. Porque eu era de um tamanho menor que o deles. Em minha concepção eu tinha muito mais massa no cérebro que qualquer um deles...      Quando acordei vi algo estranho. Uma mulher era um gato. Miava com um tom tão fino que teria estourado meus tímpanos se estivesse muito perto dela. Um homem velho puxou meu braço, enquanto Peter me puxava na direção oposta. O velho dizia que era Kurt Cobain. Tinha longos cabelos loiros. De repente desapareceu na pressa em que eu corria.     De repente me perguntei porque só haviam doidos circulando...     Quando chegamos à recepção, todos os guardas, enfermeiras e atendentes estavam “dormindo”.   --- Me diga...   --- Dizer o que? Precisamos ir.   --- Mas o que você fez? O que você... É? –Perguntei, indignada.   De súbito, puxei meu braço que era envolvido por ele.   --- Se eles acordarem. Você pode ficar aqui até a sua morte. Vai tomar remédios para doida. Vai conviver com eles. Vai ficar num hospital. Onde provavelmente você não gostaria de ficar. Com seu câncer lhe comendo. Com todos os doentes ao seu redor. Sem sua mãe. Sem Sam. Sem Joe. –Peter disse, cruelmente.     Engoli em seco, deixei-o tomar meu braço novamente.

--- Para onde vamos?
--- Você vai ver.   x.x.x
 Andávamos pelas ruas e todos nos olhavam como se fossemos alienígenas.     Estava muito branca e estava vestindo uma roupa de hospital até os tornozelos o que cobria as minhas cicatrizes nas pernas, do dia anterior. As mangas longas do vestido também cobriam os meus braços também cheios de cicatrizes. Mas meu rosto ainda tinha algumas, nada cicatrizadas, que havia visto num espelho enquanto fugíamos do hospital...     Lembrava-se de como meu rosto estava e ficava impressionada com o que eu tinha feito comigo. Isso porque jamais em minha vida, tinha me descontrolado. E as adversidades estavam conseguindo o impossível. E quanto mais eu constatava que estava perdendo as forças, mais eu as perdia. E quando via as cicatrizes, (embora fracas por eu ter tido medo e ter apenas levemente pressionado a tesoura contra meu rosto), quando eu memorizava elas... Tudo ficava escuro.     Ao som das folhas, as poucas pessoas passavam e me viam, com expressões assustadas. Aqueles rostos passavam em câmera lenta, mas era como se só Peter existisse. Exatamente para me escandalizar. Ele era completamente normal, nas vestimentas, mas parecia divino, sob a luz do sol. Com a singeleza de seu olhas agora tão perdido na dor, mas a rudeza de seus traços bonitos de príncipe, rei. Seu contraste comigo quase dava medo.     Era algo belo e limpo, junto com algo cansado e feio. Algo que se arrastava com apenas um braço a puxá-lo. Algo que não tinha olhar. Só um corpo seco. Hostilmente caído.     Meus cabelos eram picotados. Pretos. Lisos, brilhantes. Voavam enquanto eu olhava o solo com as folhas secas, desanimada. Meus braços doíam, com as feridas ainda abertas. Mas pelo menos tinham curativos. E parara de sangrar. Naquela noite o sangue parecia não ter fim...      E eu gostava de como ele nada se importava com os olhares.     Mas nada importava. Era a única verdade...     De repente, em meio a minha apatia, ele parou. Estávamos na praia. No crepúsculo.     Perguntava como aquilo tinha ficado tão bonito, de repente.   --- Exato. Cinco e trinta e sete. –Ele olhava o horizonte satisfeito.     Olhei-o, obtusa. Bufei e sentei-me na areia. Nada podia estragar mais meu belo visual de funeral.   --- Peter preciso te perguntar algo. –Disse, fitando o chão.
--- Diz. –Ele falou olhando o alto.     Sentou-se na areia.

--- Por que está fazendo isso? –Perguntei, com medo da resposta.     Ele olhou o sol de frente, sorrindo tristemente. Engoliu em seco.
--- Por Sam, por sua mãe... E... Por você. –Olhou-me nos olhos.     A luz do sol sob seus olhos me cegou por um instante e não pude vê-lo. Olhei para o chão novamente.
--- Ah... –Disse, sem veemência.
--- É um desafio para mim... –Disse-me, percebendo meu ceticismo.   --- Ah. Por favor... –Disse, irritada.
--- Só quero provar algo para mim mesmo. No fundo sou egoísta por querer vê-la bem. Quero provar que ainda há chances sempre, de alguém começar de novo.

--- Vai se decepcionar. –Disse eu, categoricamente.     Apesar de ficar chocada e impressionada com o motivo real de ele estar me ajudando, o motivo que ele dizia ser, ainda não conseguia acreditar. Ele passava amor no que fazia. Empatia.     Meus cabelos chicoteavam meu rosto com a brisa forte.
--- A lógica e a razão me permitem dizer que você pode ficar boa. É somente leucemia. Muitas pessoas sobrevivem... –Ele disse, com um ar de desdém que me deu aversão, por um instante.
--- Mas a minha vida é tão... Vazia, agora. Sinto como se essa doença estivesse levando todas as forças acumuladas da Charllottie. A Charllottie que nem dá a mínima para quase nada neste mundo. É como se fosse o motivo que eu queria para deixar de existir.
--- Se íamos filosofar, devia ter me dito antes... –Ele riu.   --- Ora, para quê, neste mundo, você traria uma doente a beira da morte e desistência para este lugar? –Sorri, um pouco. Mas ainda era ao meu bom e velho sarcasmo.   --- Tem razão... –Disse ele, olhando o horizonte.   --- Mortos-vivos podem sobreviver bem, eu sei. Acredito...   --- Isso quer dizer: “Amo minha vida e não me deixarei morrer. Nem me suicidarei”? –Ele riu.
--- Posso dormir no seu ombro mais uma vez? –Mudei de assunto, bruscamente.
--- Pode. – Ele disse calmamente. Pareceu não querer mais saber...
 De repente foi como se algo esquentasse em meu peito. Como uma faísca num gélido inverno. Uma esperança. Mas ela se acabou logo, porque a Charllottie sempre volta.

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Notas finais do capítulo

Charllottie fala sarcasmo fluente...



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