Havia chegado a hora do casamento inevitável. Bem, eu o queria, porém estava achando aquilo tudo meio ruim, Parecia uma pressão. Pensei que nunca fosse descobrir o que alguém sentia antes de se casar, mas este dia chegou e eu estava preparada, afinal, para mim, era apenas um título, como eu iria usá-lo, dependia de mim.

  Eu ficava olhando para o vestido em mim e ficava me perguntando se era realmente aquilo que eu queria. Era o que eu queria, mas como sempre, eu estava pensando demais, de novo.

  Sam e  a minha mãe haviam ido buscar flores direto da organização, novinhas em folha, que eu mesma tinha cultivado. Na organização me apresentaram várias técnicas de cultivo interessantes e as violetas e rosas cresciam impressionantemente bem naquele lugar. E eu fiquei lembrando dos dias que eu passava na estufa.

  Fui até a janela e vi o vasto gramado. Abri-a. Senti uma brisa fraca em meu rosto. O céu estava quase negro. E o ambiente estava hostil. Parecia que alguém lá em cima ia chorar. A pouca brisa me deixou abafada. Eu estava seca, de repente. Lembrei que iria entrar sem o meu pai na igreja. Engoli em seco. Para não chorar. Eu não poderia não se lembrar dele. Mas também não poderia chorar. Fechei a janela novamente. O quarto continuou abafado. Fui até o espelho. Meus cabelos estavam ondulados nas pontas, e a minhas franja pouca estava em minha testa. Meus olhos estavam muito mais verdes depois da maquiagem negra que Sam colocou neles. Eu parecia muito com uma grega. Não era só o vestido. O penteado era grego. Meus cabelos estavam altos na fronte e os cachos desciam por meus ombros. Meu véu não era muito grande. Na parte de baixo o vestido era muito alto. Apesar de ser grego. No busto ele tinha apenas alças que se entrelaçavam abaixo dos seios e nas costas. Douradas. O vestido era bege, bem claro, quase branco. Aliás, meio marfim.

  Fechei os olhos e balancei a cabeça, saindo do meu devaneio. Sam e minha mãe voltaram, com as flores nas mãos. Colocaram em cima da cama. E ficaram me fitando, estranhamente abismadas.

--- Você pensou que pudesse vê-la assim? –Sam perguntou, olhando para a minha mãe, com orgulho. Como se dissesse: “Foi eu que a fiz assim”

--- É mesmo... Minha Lottie! Você está linda. -Minha mãe gritou meu nome tirando-me mais ainda de qualquer devaneio que poderia restar.

  Os olhinhos dela faiscavam.

  Estava em pé olhando o vazio enquanto pensava, minha mãe olhava-me surpresa. Sua expressão era estranha. Sam estava radiante.

--- Lottie, quero um vestido igual ao seu quando for me casar! -Sam disse, com o seu entusiasmo inquebrável.

--- Vocês acham mesmo que fiquei bem neste vestido? -Perguntei, ansiosa. Na verdade, queria mais era saber se eu estava pelo menos apresentável. Para que Peter não se arrependesse do que estava fazendo.

--- Sim, filha. Você sabe que, aqui neste quarto, estão as pessoas mais sinceras que você conhece. -Ambas sorriram, sarcasticamente.

  Andei até o espelho grande que havia em meu quarto e olhei para ele, tentando achar um defeito para corrigir.

  Sei que era super estranho que a noiva perguntasse algo do tipo, porém eu era um noiva que passou uns tempos afastada de quem ia organizar o seu casamento. Bem, eu não pedi para casar, então, disse a Peter que ele fizesse como quiser. Ele, por sua vez, chamou todos os seus amigos para ajudá-lo. Amigos estes que ainda não iam bem com a minha cara. Eu disse logo a ele que não ia ajudar em nada. Sempre odiei organizar festas ou comandar estas comemorações. Dá muito trabalho. Todos, com exceção de Frida ficaram fora, preparando algo para o tal casamento. Acho que este salão grego nem mesmo estava apto para que acontecesse o evento. Mas Jolie e seu pai devem ter feito questão de arrumá-lo. Norma e Christopher, com certeza estavam no exterior comprando a trabalho. Mas, talvez comprassem coisas para o casamento. 

--- O quê? -Minha mãe quase saltou da cama -Não sabe a hora?

--- Calma, Aghata, -Sam sorriu - ela não preparou nada, nós todos é quem fizemos tudo.

  Ela ficou só aqui, enfurnada neste quarto. Às vezes saia e ficava andando por ai com o Peter, mas nem percebeu que o tempo passava.

--- Hum... -Mamãe ficou meio intrigada, mas logo abriu um sorriso, demonstrando que me conhecia, e sabia, portanto, que eu era bem capaz de fazê-lo.

--- Vai ser daqui a uma hora. Você não vai casar a noite. -Sam disse, apontando o dedo indicador para mim.

--- Às quatro horas da tarde? -Perguntei. Estava mesmo fazendo aquelas perguntas óbvias que eu tanto abominava. Talvez fosse o nervosismo.

 Faltando mais ou menos meia hora, Sam e minha mãe foram para a Limusine... Eu disse para elas me esperarem. Fiquei olhando no espelho. Por uns segundos. Olhei para a janela. Um chuvisco começou a cair.

  “Oh não...” Pensei.

  Desci rápido e fui até a limusine correndo para não molhar-me muito. Mas ainda estava um pouco molhada. Apesar do guarda-chuva que levei. Era vermelho. Tão bonito... Porém pequeno.

  Quando cheguei, tive que subir as escadas do salão grego. Eu tinha que me molhar. Fui com o guarda-chuva pequenino. A parte de baixo do meu vestido estava um pouco molhada. Minha mãe e Sam entrariam depois. Eu entraria sozinha mesmo. Mas que casamento estranho. Não era numa igreja, era num salão grego, a noiva entrava sozinha...

  Larguei o guarda-chuva pelo chão e olhei para todos, na porta do salão. Eles, tão distraídos, enfim notaram a presença da noiva meio molhada e, também distraída na entrada.

  Não deu tempo de olhar para Peter. Fiquei olhando para todos que estavam cochichando sem parar enquanto a chuva molhava o teto do salão. E eu estava olhando para eles, meio distraída ainda. De repente, a marcha nupcial começou a tocar.

Algumas imagens para inspirar. aushauhsuahs