Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 129
Cap.129: O motivo de dividir.


Notas iniciais do capítulo

Triste, triste, triste.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/144938/chapter/129

Apenas não podia crer no que estava vendo. Era como uma surpresa ruim. Acordar. Acordar e ver as coisas.


Os primeiros raios de sol começavam a despontar no grande e imenso horizonte cheio de fagulhas brilhantes. Este sol maldito me banhava o rosto diretamente devido a brisa que afastava a cortina. O céu rosado me dava ânsia de vômito. Mais um dia. Mais um dia frio. Onde eu me sentiria a única coisa viva no mundo.


E então a minha esperança era sugada por mais este dia. Cada gota de esperança era arrasada por cada fagulha que fazia o novo dia nascer. O novo dia, que levava mais um dia de esperança fracassada. Como se o fato de o sol nascer outra vez esgotasse cada milímetro de mim que ainda tinha esperança.


Abri os olhos, não querendo abri-los. Eu nunca mais queria acordar e me sentir daquela maneira. Como se você nem tivesse mais objetivos. Como se nem precisasse mais acordar. Porque, mesmo que tivesse pesadelos, seria melhor do que a realidade. Porque não havia ninguém com quem você podia contar para arrancar seu coração doente e defeituoso. Ninguém tinha coragem de morrer por você. De sentir a dor. Ninguém se atreveria a contrariar o destino.


Ninguém se atreveria a te dar toda atenção que precisava. Não havia atenção que pudesse tirar de você toda a sua dor e desesperança. Ninguém podia te ajudar.


Então eu acordei. Então eu levantei. E eu fui viver. Sobreviver.


E a praia estava toda iluminada pelo sol intensamente fraco do amanhecer.

Eu estava na praia. Olhando para o horizonte rosado e o sol quase escondido. O vento embalava meus cabelos em sua sintonia. Nostálgico.


Era ali que eu ficava, sempre ao amanhecer. Olhando as luzes fracas e quase empalidecidas daquela força ainda fraca que era o primórdio do dia.


Todos os dias. Todos os dias eu acordava, bem mais cedo. Ia até a praia. Rezava lá. Chorava lá. Para que Kurt não pudesse me ver. Sentava na areia e olhava com os olhos lacrimosos para o céu. Lamentava interiormente de forma intensa.


Era como um filme triste. Em que uma idiota chorava para ninguém. Sem trilha sonora. Era seco. Só a brisa fraca. E o barulho das ondas. E os sussurros dela. E suas lágrimas molhando a areia já molhada...


Foi a única vez em que a idiota viu alguém àquela hora naquele lugar. Ela olhou para frente, depois de molhar a terra e seu rosto com suas pesadas lágrimas.


A primeira sensação que tive, foi de vergonha. Eu jamais, nunca, em hipótese alguma queria que alguém me visse ali chorando. Mas quando olhei bem, não parecia alguém que eu conhecia. E quando olhei de perto, vi que era ele.


Não acreditei no que meus olhos viam. Não conseguia acreditar. O torpor me tomava. Era tudo o que eu queria, tudo pelo que a criança idiota tinha chorado. Pelos seus dias bons de volta. Pelo alguém que era o único que podia curá-la. Desde sempre. Desde que tudo tinha acontecido.


Ele tinha seus cabelos de anjo um pouco mais curtos. No pescoço. Ele se aproximava de mim cada vez mais, e cada vez mais eu achava que não era real. Ele já era tão lindo normalmente, que naquela luz do sol e com aquela roupa toda branca ele parecia uma visão.


A raiva corrompeu meus sistemas. Eu não conseguia ter compaixão. Eu havia esperado. E esperado. Sim, eu era egoísta. Eu sofrera. E eu não queria desculpas.


Ele falou, interrompendo meu devaneio. E a ilusão deu lugar a realidade.

–-- Só estava cumprindo ordens. –Foi tudo o que ele me disse, quando fiquei abismada olhando para os seus cabelos reluzentes a luz do sol.


Meus olhos o fitaram, incrédulos. Minha boca amargou e uma queimação pareceu dar-se em meu estômago e em meu coração. Como uma corrosão súbita em tristeza angústia e raiva.


Não conseguia assimilar direito a situação. Eu não queria acreditar no que estava vendo. Ele era tão lindo. Era o meu Peter. Depois de tanto tempo. Era ele. Era o que eu tinha desejado por todo o tempo. E agora ele havia voltado me apunhalando. Ele havia voltado arrancando qualquer felicidade que eu poderia ter, com aquelas palavras incisivas.


Com o que ele disse, barulho das ondas pareceu ser ouvido com mais intensidade pelos meus ouvidos incrédulos. Eu apenas não queria mais ouvir nada do que ele tinha para me dizer. Quatro anos, tinha sido o tempo que ele me deixou anoitecer. Quatro anos, trezentos e sessenta e cinco ou trezentos e sessenta e seis dias vezes quatro, anoitecendo e amanhecendo à noite.


Era sempre noite no meu cérebro. Era sempre noite no meu coração. Meu cérebro sempre pensava em quando chegasse à pior hora do dia. A hora de dormir.


Meu coração nem aspirava mais nada. Por isso pensava que era sempre noite. A noite, que era a pior hora do dia. É claro que Kurt ainda me mantinha viva. Era apenas ele.

–-- Peter. Você vai me fazer odiá-lo. –Disse eu, odiosamente apunhalada.

–-- Vou voltar. Você já passou muito tempo me esperando. Agora estou aqui. Sabe que estou vivo. Então agora vou embora. –Ele continuou em sua lógica. Estava frio e constante.


–-- Pare com isso! –Gritei, enquanto as ondas fortíssimas calavam a minha boca com o barulho que faziam.

Finalmente tinha chegado o momento em que eu ia gritar com ele.

–-- Não estou fazendo nada que possa me arrepender. –Disse ele, devagar. –Onde está o meu filho?! –Perguntou ele, indiferente.

–-- Você está fingindo! O que você tem? –Perguntei, arrogantemente. Não queria falar nada, antes de ele me esclarecer tudo.

–-- Você quer a verdade? –Perguntou-me ele, sorrindo amargamente.

–-- Não. Quero apenas que você vá embora sem me dizer nada e quero continuar a não saber por que você é tão idiota e me deixou este tempo todo e agora que voltou, quer ir embora. –Respondi, gritando.

Nós estávamos parados, a uns cinco metros um do outro. As ondas da praia banhavam meus pés e os dele. Estávamos frente a frente. Nenhum dos dois andava. Nenhum dos dois podia acreditar no que estava vendo. Depois de tudo. Depois de tantas coisas. Todos dois eram apenas dois desconhecidos.

–-- Por que, então você acha que fui para a guerra? –Perguntou-me ele, estranhamente risonho.

–-- Por que você estava cumprindo ordens. –Disse eu, secamente, fazendo uma imitação capenga dele.

–-- Viu? Por isso eu quero ir embora. Você não me conhece. Você não me entendeu. Mas fico grato por ter esperado até hoje. E... Eu amo você.

Seus olhos que tentavam, com uma força absurda, serem frios, descongelaram por um segundo confortante ao meu coração.

–-- Mas você não me entendeu... E... –Ele se perdia, finalmente –Além disso... Lottie. É perigoso demais. Você... Eu não vou suportar –Interrompi-o.

–-- Peter... Eu não entendo. Se... Você... Desculpe-me. –Sorri, sem jeito.

Meus olhos queriam chorar.

Depois de tanto tempo... Eu... Sonhava com este dia. O dia em que eu poderia abraçá-lo. Em que poderia dizer: “Finalmente, você está aqui.” O dia em que eu poderia chorar com ele e saber que era o último de nossos sofrimentos. Tão longos e tão turbulentos. O último. Sim. Era isso o que ele estava querendo dizer.
–-- Você fez isso porque queria sair de vez do seu compromisso com a organização? Fez isso também, porque queria que nós ficássemos livres. Ficássemos livres daquele lugar. Com a ida a guerra, você está livre. Foi por Kurt... E por mim. Era isso o que tinha em mente! –Exclamei eu, ainda aturdida por ele estar me fazendo passar por aquilo.

–-- Sim, era. Mas, do que adianta? Lottie... Descobri que nada adianta. Eu sou apenas um reles bloco de notas da organização. Eu posso sair de lá. Mas os inimigos da organização sempre vão querer a minha cabeça. Fora dela, eu e vocês... –Ele ficou tenso quando mencionou a mim e ao Kurt. –Eu e vocês corremos sério perigo. Quanto menos inimigos souberem. Quanto menos eles souberem sobre você e Kurt... Será melhor.

Ele fez uma cara de dor. Que doeu em mim.

–-- Não é bom ter um pai destes... –Ele continuou, enquanto eu ficava calada, absorta, entorpecida. –Era melhor que Kurt crescesse e se acostumasse com a idéia de não ter um pai, já que eu sou nocivo. Por isso fiquei o mais longe possível. Por isso não escrevi. Ele... É tão novo. Não quero que tenha estas preocupações... –Ele sentou-se, de repente, na areia.

Senti que ele estava chorando. Corri até ele. Meu rosto tinha uma expressão de indagação.

–-- Por que sempre faz isso? –Perguntei.

–-- Porque eu odeio obrigar você e Kurt a passarem por algo que me diz respeito. Que foi uma má sorte minha. Eu não quero que você fique assim. Não quero que se preocupe. Porque eu passei por isso. Não quero que todos ao meu redor sejam penalizados. –Ele murmurou, enquanto as lágrimas caiam em seu rosto –E... Oh, Deus, só ele sabe o quanto eu o peço para poder viver em paz com você, Charllottie. Mas eu não posso. Eu sou indigno. Desafortunado. Renegado.

Eu estava de pé, olhando para ele, intensamente. Meus cabelos chicoteavam o vento e vice versa. Sorri, enquanto chorava. Odiava fazê-lo. Mas Peter nunca me deixava escolha. A sua dor era sempre a minha. E as suas lágrimas, sempre as minhas. E ele sempre se tornava mais forte quando eu chorava. Porque ele entendia que tudo se resumia a dividir a dor.

Sentei-me ao seu lado. Recostei minha cabeça em seu ombro.

–-- O Teddy está morto. –Disse ele, soturnamente.

Da guerra ele parecia ter voltado com o dom de me apunhalar. Ele não esperava que eu digerisse, para me empurrar outra coisa. Estava me matando cada vez que uma chama pequena, medíocre e simplória de esperança surgia em meu interior.

Fiquei apenas olhando a areia. Meus olhos ardiam. E quando, finalmente, as lágrimas estavam ficando secas, elas se desdobraram em centenas de gotas redondas molhando a areia, juntamente com a água do mar.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

T.T



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ich Liebe Dich." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.